MEMÓRIA
DO FESTIVALE PRIMEIRA PARTE: MEU BATIZADO
Por Lucas Aguilar
Lucas
Aguilar Natural de Araçuaí, formado em História, apaixonado pela cultura
popular do Jequitinhonha, em especial o canto coral. Atuou em sua cidade no
Grupo Teatral Vozes, no Coral Nossa Senhora do Rosário e Coral Trovadores do
Vale. Funcionário público, da rede educação, tenta manter viva e ascender na
nova geração o amor pela arte e pela cultura da região. Dentro do movimento
cultural do Vale, participou de diversos Encontros de Cultura Popular e em
diversas edições do FESTIVALE. Foi diretor da FECAJE exercendo as funções de
Diretor Administrativo por duas gestões e Diretor Executivo adjunto.
Conheci
o FESTIVALE e o coletivo de pessoas que atuavam em sua organização em 1995. Foi
o ano da festa se aportar no alto Vale, na cidade de Carbonita, terra fria
cercada pela monocultura de eucalipto. Não tive o prazer de participar do
evento, apenas ouvi as tantas histórias que sucedem o seu acontecimento e
animam as rodas de conversa. Em julho daquele ano estive com o Grupo Teatral
Vozes, de Araçuaí, participando do Festival de Teatro de Minas Gerais, o
FESTIMINAS, em Belo Horizonte. Neste mesmo ano me ingressei no coro do Coral
Nossa Senhora do Rosário. Foi juntamente no Coral do Rosário que recebi o
convite do Sr. Nilton Ferreira de Souza, o saudoso “Curió”, para participar de
um encontro sobre cultura. Adolescente, fui sempre curioso, gostava de
participar, estar junto. Venci as amarras familiares, e naquele fim de ano me
enveredei em meu primeiro Encontro de Cultura Popular, promovido pela FECAJE.
Na época a referência era apenas “encontrão”. Fui, no primeiro de tantos, em um
dos tantos que aconteceu na vizinha Virgem da Lapa. Tudo para mim era novo, um
pouco estranho porque não costumava me ausentar muito de casa. Sempre fui
tímido, apesar de não aparentar, e naquele final de semana conheci pessoas
diferentes, em idéias e estilos, e que, com altivez, erguia a voz para falar
sobre cultura no Jequitinhonha. Estava sempre próximo aos araçuaienses
presentes: Maja, Nilton Curió e Tião Artesão.
O
encontro era dirigido pelo Presidente da
FECAJE, Marcos Gobira, ladeado do meu conterrâneo Vanderley Nicolau, na época
residindo em Salto da Divisa. Estava sempre por perto, na mesa dirigente, o
virgolapense Dim Martins e Wiliam de Pedra Azul. Confesso que a familiaridade
com os nomes chegou com tempo, e não foi fruto desse
primeiro momento. Como era comum naquela época, o encontro posterior a um
FESTIVALE servia para avaliar o passado e início da organização do próximo. A
reunião foi quase toda tomada pela dita avaliação. Com o passar dos anos a
gente aprende que entre pontos positivos e pontos negativos faz-se a máxima que
“todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Em um FESTIVALE é certeiro que
aquele momento tido como ruim para alguém, sempre foi para outro. A avaliação
foi longa, cansativa, mas serviu para me entrosar entre os partícipes.
No
decorrer do encontro foi anunciada a cidade sede do próximo FESTIVALE. Mais uma
vez Jequitinhonha, no baixo Vale. Dividiu-se comissões de trabalho para começar
os preparativos da festa. Impulsionado por meu tutor, o Curió, dei meu nome
para ajudar comissão do FESTIVAL de música.
No
ano seguinte me batizei na força imanente do FESTIVALE. Conheci a cidade de Jequitinhonha
e fiquei maravilhado! O formato da festa era grande, mais de uma semana. Mais
uma vez estava sob os cuidados de Nilton Curió, acompanhado de uma leva de
jovens de Araçuaí. Alguns, como eu, experimentando pela primeira vez o
FESTIVALE: Preta, Néia, Luciano Silveira, Elizabeth, Inês da Assunção, Maja,
Tião Artesão, faziam parte de nossa trupe festivaleira. Para mim, tudo era
festa! Nem posso dizer que realmente ajudei na organização como tinha proposto.
Apesar da boa vontade, os participantes, velhos de guerra, já eram pragmáticos
nas tarefas e pouco paravam para orientar os mais jovens. Como não fiz oficina,
fiquei o tempo todo entre as barracas de artesanato, ajudando no que fosse
possível.
Pouco
me lembro dos bastidores do FESTIVALE de Jequitinhonha, mas tenho em mente as
discussões sobre a campanha S.O.S Tombo da fumaça. Lembro-me de ter participado
de uma discussão sobre o assunto no Hotel à beira-rio (que não me recordo o
nome). A noite, eu e meus conterrâneos batíamos perna pela orla, espiando as
barracas (não era comum termos dinheiro) e conhecendo pessoas dos lugares
presente aquele ano. Durante o dia, eu virava criança atrás do boi. Não perdi
nenhum. Entre os momentos gostosos que guardo na memória, o cortejo pelas ruas
da oficina de “Brinquedos e Brincadeiras”. Por onde o mestre Adelsinho passava
com sua “chusma de menino” enchia os olhos de novos e velhos. As birutas
coloridas e barangandões multicoloridos, é uma fotografia que guardo com muito
esmero.
O
FESTIVALE de 96 terminou para mim de forma triste. Fui um dos acometido pelo
surto de disenteria que houve no final do evento. Não esperei o encerramento e
aproveitei a primeira carona que apareceu. Valeu a pena ter vivenciado aquele
primeiro que deixou o gostinho de quero mais.
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