sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

CONHECENDO O JEQUI – Filho de Itinga comanda chacina no Espírito Santo em 1897

 

Santa Teresa - ES - Foto: Internet sem data da foto ou autoria

Jagunçada de Barracão: chacina em Santa Teresa completa  em 2021 completará 124 anos, também conhecida como "Revolta do Calhau", o fato histórico transformou a pequena cidade em cenário de derramamento de sangue.

E o comandante desta chacina foi o filho de Itinga, no médio Vale do Jequitinhonha, nas Minas Gerais, José Rodrigues dos Santos, conhecido como “ Zé Calhau”, ele chegou no Espírito Santo por volta de 1892 a 1893 e fixou residência  em Santa Julia, onde é hoje São Joaquim do Canãa.

Em 01 de novembro 1897, movido pelo Racismo, vingança e intolerância, ele comanda a chacina, no interior de Santa Teresa, região Serrana do Espírito Santo. A chacina, que ficou conhecida como “Jagunçada de Barracão” , Após promover a Chacina de Barracão, Zé Calhau se tornou um dos criminosos mais procurados do Espírito Santo, vindo a ser morto em 1899 em Santa Joana, hoje Município de Itaguaçu, durante uma diligência comandada pela subdelegado Apolinário José de Oliveira.

Essa pesquisa histórica é do professor e Historiador Francisco Roldi Guariz, da cidade de Santa Teresa/ES.

Para entenderem a história e as motivações da chacina leiam a  matéria abaixo publicada originalmente  em 2017 no site:

https://www.gazetaonline.com.br/especiais/capixapedia/2017/11/jaguncada-de-barracao-chacina-em-santa-teresa-completa-120-anos-1014105917.htm

Assistam também ao documentário produzido pela TV Aribiri e pelo professor Roldi Guariz.

Link do documentário:  https://www.youtube.com/watch?v=ZcGLskSHU9c

 


A HISTÓRIA DA CHACINA

 

O cenário do derramamento de sangue foi o distrito de São João de Petrópolis, popularmente conhecido na época como Barracão de Petrópolis. Além de mortes, durante o período da jagunçada, foram registradas agressões, saques e incêndios a prédios públicos e residências.

A cidade de Santa Teresa havia sido fundada alguns anos antes, em 1875, por imigrantes do Norte da Itália. De acordo com o professor de História Francisco Roldi Guariz, a motivação da jagunçada seria a vingança pelo assassinato de um brasileiro, de Minas Gerais, chamado João Rodrigues, por um italiano.

“A jagunçada, a meu ver, resultou de choques étnicos e culturais entre os dois grupos: os italianos e os brasileiros. A intolerância, a desconfiança recíproca e o racismo latente na sociedade, transmitido aos colonos, foram os fatores responsáveis pela eclosão do massacre ocorrido há 120 anos. Em meados de outubro, o mineiro João Rodrigues foi assassinado em Barracão por um italiano identificado pelo nome de ‘Biazzo’. Os amigos do morto apontaram o culpado ao subdelegado José Luiz Vivaldi, também imigrante italiano”.

Após analisar o caso, o capitão Vivaldi inocentou o acusado de assassinato, revoltando os companheiros da vítima. Inconformados, e capitaneados por um mineiro chamado José Rodrigues dos Santos, o “Zé Calhau”, um bando de cerca de 30 pessoas declarou vingança contra os italianos.

Motivados pela raiva, na madrugada entre os dias dois e três de novembro de 1897, foram assassinadas 11 pessoas e incendiados prédios públicos e residências.

Após a jagunçada, de acordo com o historiador Francisco Roldi, “Zé Calhau” se tornou um dos criminosos mais procurados do Espírito Santo. “Ele morreu em 1899, durante uma diligência policial realizada em Santa Joanna, no atual município de Itaguaçu, pelo subdelegado Apolinário José d’Oliveira. Houve uma troca de tiros e, na contenda, Calhau foi morto”, finalizou.

 

AS VÍTIMAS

De acordo com o professor, os bandidos mataram José Benetti e feriram João Frecchiami e Isidoro Antônio da Silva. Além de Benetti, também executaram José Perini, João Vilascchi, sogro de Pagani, e João Batista Vivaldi, pai do capitão José Luiz Vivaldi.

Ainda em Barracão, a sogra do professor Antônio Tironi foi atingida no braço direito durante um tiroteio realizado contra sua residência, sendo a única mulher ferida pelo bando. As demais vítimas eram brasileiras, todas naturais de Minas: João Paulo da Silva, casado com Maria Luchinni, Cassiano Germano da Motta, Elias de Souza Pimenta e um tal de João, vulgo “Não pode”, empregado da família Galimberti. Entre os bandidos, houve três baixas.

“Estas foram as principais vítimas, mas não as únicas, pois outras casas foram saqueadas. Além disso, o cartório de Barracão foi incendiado, de modo que os documentos anteriores à jagunçada foram destruídos”, afirma o professor.

O capitão Vivaldi foi espancado e apunhalado pelos criminosos. Um deles, acreditando que o capitão estava morto, decidiu decepar uma orelha dele. Vivaldi, no entanto, desviou do golpe.

Diante da reação inesperada do capitão, o matador apontou uma arma em direção ao seu rosto e atirou. Em seguida, os bandidos se retiraram. Porém, o capitão sobreviveu ao disparo, que mascou sem que o atirador percebesse. “Vivaldi, então, foi retirado às pressas do sobrado, e levado para uma gruta. Apesar dos vários ferimentos sofridos, viveu ainda durante muitos anos, vindo a morrer em 1941, aos 80 anos”, afirma o professor de História.

 

OS DESCENDENTES DO CONFLITO

O professor Francisco Roldi Guariz entrevistou alguns descendentes do conflito para sua pesquisa acadêmica. Para Maria Auxiliadora Vivaldi Tononi, 73 anos, bisneta do capitão Vivaldi, e Francisco Paulo da Silva, 79 anos, falecido em 2012, neto do mineiro João Paulo da Silva, o racismo foi o principal fator responsável pela eclosão da jagunçada.

O lavrador aposentado Ayres Perini, 78 anos, neto do sapateiro italiano José Perini, disse ao professor: “Vovô foi morto pelos bandidos em sua residência, em Barracão. Na época, meu pai (Victorio Perini) era um bebê com apenas seis meses de vida”.

Sua avó, Virgínia Bordin, casou-se novamente em 1905 com Lourenço Galetti, que também havia ficado viúvo. Ayres contou a Francisco que Lourenço quase se transformou numa das vítimas dos jagunços: “O nono Lourenço estava na fazenda do Pagani no dia do ataque. Ele só conseguiu escapar dos bandidos porque se escondeu debaixo de umas cangalhas, algumas delas foram reviradas pelos jagunços. E completou: “O nono teve sorte”.

 

 

Estamos tentando obter mais informações sobre o “ Zé Calhau”, para conhecer melhor sua história, caso você tenha ouvido falar sobre ele, faça contato: jospinto25@yahoo.com.br  ou deixe mensagem aqui no blog.


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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Palavra e voz: a mulher na produção literária

 

 A leitora ", óleo sobre tela de Auguste Renoir, 1875



                                           

E não desejo que as mulheres tenham poder sobre os homens, e sim sobre elas mesmas.

Mary Wollstonecraft

 

Escrevo quando e porque sou mulher. Agora porque posso, hoje porque preciso. A literatura de autoria feminina é um assunto que me buscou. Não sei se ler e escrever sobre o feminismo me fez notar com mais clareza os machismos nossos de cada dia. Inclusive os meus. Mas sei, sem dúvida, que me torna uma mulher nova, mais minha, mais toda, mais conjunta, mais d’outra.

É preciso compreender o processo histórico que trouxe a mulher até aqui. A produção literária está atrelada ao complexo caminho de ser mulher num mundo de patriarcado, num cenário em que, há nem tantos anos assim, as mulheres sequer tinham o direito de ler. As mulheres foram silenciadas e diminuídas por anos, e isso não seria diferente num espaço que se baseia em se expressar.

Em toda a história, a exclusão das mulheres sempre foi amplamente semeada, tanto nos direitos básicos que lhes eram negados, como ao voto e escolha de matrimônio, quanto na questão da alfabetização e do estudo, restringindo-as apenas à vida familiar. Em relação à escrita, a atividade possuía apenas fins de etiqueta, sendo incentivada somente entre mulheres da elite. Revela-se, então, o desnivelamento entre a literatura escrita por mulheres e a escrita por homens — enquanto estes majoritariamente conseguiam escrever e publicar suas obras, a elas isso era negado e, muitas vezes, até proibido. Com isso, o isolamento sistemático das suas obras do cânone literário é regra, apenas com raras exceções. (Capelli et al, 2018, p. __)

Estar à frente do Movimento dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha trouxe situações que me alertaram a problematizar o universo literário: a pouca representatividade das mulheres nos encontros e nas obras de nosso acervo. Só depois de conhecer um pouco da história é possível perceber porque não temos numerosas referências femininas na literatura nacional, porque nenhuma mulher foi homenageada na Noite Literária do FESTIVALE.

Constância Duarte (2003) mostra que grande causa do desconhecimento e do preconceito com o feminismo passa pelo fato de que ele seja pouco contado. Mas eu não estaria agora escrevendo esse texto, não fosse por aquelas que antes de mim lutaram por direitos nossos. Buscar conhecer é uma opção que nos aparta da limitação de pensamento, do achismo e do preconceito.

Felizmente o caminho percorrido permite que hoje as mulheres já possam falar de si, e não mais como o ‘não homem’, mas como um ser, humano, próprio, com suas angústias, lutas e alegrias. A realidade da mulher começa a mudar na medida em que elas procuram voz, ao reivindicar direitos à educação, à cidadania, à livre expressão.  A literatura é um desses espaços em que a luta se faz possível e presente.

 

REFERÊNCIAS

 

Capelli, Anna; BARREIROS, Isabela; OKIDA, Laura; BALDOCCHI, Marina Baldocchi. Onde estão as Clarices? mulheres na literatura brasileira. Faculdade Cásper Líbero. Jul /2018.

DUARTE, Constância Lima. Feminismo e literatura no Brasil. Estud. av.,  São Paulo,  v. 17, n. 49, p. 151-172,  Dec.  2003 .  

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Agenda

O projeto Leia Mulheres de Araçuaí esse mês discute a obra Éramos Felizes, de Eliane Rocha, uma itinguense que discute questões ligadas à felicidade, ao amor e à superação de nossas perdas. Dia 2 de março, às 19h, via google meet.

Baixe o livro aqui: https://www.blogdeherena.com/copia-a-morte-nossa-de-cada-dia

Interessados em participar podem enviar mensagem para herenabarcelos@gmail.com


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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Esta faltando amor

 


Está faltando amor no mundo. A dimensão de cada ser em construção da sua existência, aprende que o amor é a medida de todas as coisas. A vida segue, as pessoas crescem e o amor desaparece. A frieza, o egoísmo e o desejo em ser "melhores" nos impedem de amar.

A sociedade imediatista não concebe um ser por amor, porque as famílias se desestruturam e perdeu a dimensão do amar. E as relações que deviam brotar do amor, vem de outros sentimentos nocivos, capazes de danificar a estrutura construída pelos atos de amor. Tudo que somos a base é amar é como se o amor fosse parte do DNA do ser.

Quando precisamos olhar para as pessoas com o coração, desperta em nós o amor Ágape, amor que nos faz sentir a dor do outro, nos faz entrar na necessidade do outro. A caridade, tão escassa das nossas vivências.

O amor filia, a dimensão que alimenta os relacionamentos e constrói em nós o sentido de família, de uma dimensão incalculável, que quando esse amor não cabe na família derrama para outras situações e  chamamos de amigos.

E o Eros, amor que promove a busca do desejo do outro como propósito de um relacionamento de escolha para perpetuar a espécie humana. Se o amor, não direcionar o ser para cada estrutura, se perde em si mesmo e transformar sua vida numa vida de solidão, egoísmo e individualismo.

Todos os dias, somos chamados a experimentar este sentimento que nos acalma, nos alimenta e nos humaniza. O diálogo é o grande instrumento do amor capaz de quebrar barreiras e estimular vivências.

A arte é o grande sinal de que o amor precisa reviver no mundo inundado de desamor e nos faz retomar o caminho da existência humana, o paraíso que precisamos. Reconstruir é o chamado do mundo. O amor é instrumento da paz.

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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

CONHECENDO O JEQUI - O serial killers do Vale do Jequitinhonha

 

Fotografia de Febrônio Índio do Brasil e suas tatuagens / Crédito: Wikimedia Commons

Hoje trazemos na série conhecendo o Jequi, um personagem emblemático de nossa região, e que foi um dos maiores serial killers do país. Estamos falando de Febrônio Ferreira de Mattos , também conhecido como “Febrônio Índio do Brasil”

Natural do hoje distrito de São Pedro na cidade de Jequitinhonha, baixo médio Jequitinhonha nas  Minas Gerais.

Lançou um livro  “As Revelações do Príncipe do Fogo”  no  Rio de Janeiro em 1926. O livro chegou a ser confiscado e sua publicação suspensa.

 

Segue abaixo texto publicado por Pámela Malva, no site as aventura na historia da UOL – link no final da publicação.

 

Um menino Perturbado

Nascido em 1895, Febrônio Ferreira de Mattos era o segundo filho dos 14 tidos por Reginalda Ferreira de Mattos. Quando criança, ele sofria com as agressões do pai alcoólatra e, aos 12 anos, o menino fugiu, até chegar ao Rio de Janeiro.

Na Cidade Maravilhosa, Febrônio começou a colecionar uma série de crimes, como fraude, chantagem, suborno e roubo, tudo entre 1916 e 1929. Mas foi em 1920, quando tinha 25 anos, que o jovem teve uma visão que mudaria a sua vida.

No meio do delírio, uma mulher loira visitou o homem, afirmando que ele tinha um papel importante no mundo, já que era o “Filho da Luz”. Já tendo assumido o pseudônimo de Febrônio Índio do Brasil, ele teria a missão de purificar outros jovens.

Um purificador

Como parte do trabalho, ele deveria tatuar os garotos com o símbolo DCVXVI, uma representação das palavras Deus, Caridade, Virtude, Santidade, Vida e Ímã da vida. Ainda detido, Febrônio tatuou a frase “Eis o Filho da Luz” no próprio tórax.

Quando saiu da cadeira, em meados de 1921, o homem tornou-se associado do dentista Bruno Ferreira Gabina, mesmo que não tivesse qualquer formação. O problema veio poucos meses depois, quando o profissional simplesmente desapareceu.

Tendo assumido o diploma do Dr. Gabina, Febrônio abriu seu próprio consultório e, nele, atendeu pessoas de uma forma bastante controversa. Testemunhas chegaram a afirmar que, de maneira sádica, ele arrancou dentes de pacientes sem qualquer necessidade

Um homem sádico

Os crimes mais sérios, todavia, passaram a fazer parte da rotina do Filho da Luz quando ele começou a ter delírios. Certa vez, em outubro de 1926, Febrônio foi preso enquanto dançava completamente nú no topo do Pão de Açúcar.

Na época da detenção, ele chegou a ser internado e diagnosticado por distúrbios mentais, mas foi solto por não ter dinheiro o suficiente para pagar o tratamento. Mentindo de forma compulsória, ele foi preso novamente, agora em 1927.

Desta vez, ele abusou de dois companheiros de cela, mas acabou sendo solto de novo, por falta de provas. As acusações contra o Filho da Luz, entretanto, não paravam de aparecer na delegacia. E elas eram as mais perturbadoras.

Os delírios do Filho da Luz

Em um dia, ele foi pego dançando na frente de um garoto amarrado em uma árvore no Corcovado. No outro, o homem foi visto cozinhando a cabeça roubada de um cadáver. Nessa época, ele foi internado em um hospício, mas fugiu ao lado de dois jovens.

Acompanhando o homem por uma suposta oferta de emprego, os adolescentes de 17 anos foram estuprados por Febrônio. Mesmo sendo vítimas do homem, eles foram soltos, logo depois de receber as tatuagens no peito, como mandava a visão.

Mais tarde, ele chegou a ser preso por tatuar um garoto de 18 anos. O jovem, todavia, desapareceu, e o Filho da Luz foi solto, em 1927. Uma vez livre, ele tentou marcar a sigla no peito de Altamiro José Ribeiro, um jovem de 20 anos, que tentou resistir. Indignado com a atitude da vítima, Febrônio o estrangulou com um cipó.

Fim do caminho

A série de crimes chegou ao fim quando o criminoso sequestrou um menino de 10 anos, sob pretexto de lhe garantir um emprego. “Jonjoca” Ferreira foi tatuado, estuprado e morto por Febrônio. Ao lado do corpo, contudo, uma pista foi deixada pelo assassino.

Durante as investigações, os policiais reconheceram o boné utilizado por Febrônio para sair da cadeia em 1927. Assim, o criminoso foi rastreado e preso. Além da prova, os pais de Jonjoca ainda reconheceram o Filho da Luz, que, mais tarde, assumiu os crimes.

Pelas muitas acusações e por sua clara inconsistência mental, Febrônio foi internado no Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro, de onde tentou fugir. Sem sucesso no plano, ele permaneceu na instituição até 1984, quando morreu, aos 89 anos.

Texto Postado por PAMELA MALVA

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/tatuador-e-assassino-em-serie-o-insano-caso-de-febronio-indio-do-brasil.phtml

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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Outros e Outros

 


O universo literário em tão pouco tempo tem me proporcionado experiências incríveis. Embora sempre tenha gostado de escrever, foi apenas em 2019 que decidi retomar a escrita com mais seriedade. Um conjunto de fatores influenciou nesse processo de recomeço, e eu agradeço, porque escrever se tornou extremamente necessário para o reencontro do equilíbrio emocional e espiritual que perdi em determinado momento de minha vida.

Isso aqui é meio de caminho. Não sei quando o caminho começou, nem depende, porque agora simplesmente é meio, e eu sei porque está acontecendo. A literatura sempre foi uma parte, de tudo que lembro, das letras no teto ao sonho de empalavrar a vida.

Uma das experiências proporcionadas é a oportunidade real de conhecer pessoas iluminadas, pessoas que somam em nossas vidas em todos os sentidos. Mesmo estando próximo dos(as) parceiros(as) de trabalho, praticamente não tivemos maiores chances de contatos pessoais, ainda.

Eu não sei que sorte de conseguir é essa que me acompanha. Talvez meus sonhos sejam simples. São, mas talvez minha sorte seja os outros. Esse meio daqui é parte do caminho com Jô, que vem de anos, vem de sonhos, e nunca paramos. Não temos essa coragem. Jô é outro. Um desses outros que coloca palavras na minha vida, e desde que sou criança. Em incontáveis meios. É difícil não admirar quem nos ensina. Do que é mais valioso: o respeito pela história. E ainda me falta muito. A vida é feita de história. Se não somos o que foi vivido, então nunca seríamos nada.

Como nasci para a literatura agora, coincidentemente num contexto de pandemia, esse contato, esse conhecimento está sendo construído até então, virtualmente. Este detalhe não me impediu de perceber algumas características sobre os trabalhos desenvolvidos por eles(as).

Jô é um outro próximo, que por tanto, portanto, tornou minha nascente literatura possível, em 2009, quando lançou “Memórias de Itinga”. Um livro que nasceu meu vizinho. Um sentimento todo novo, que ainda hoje não narro. E, uma nova vez, me convida a narrar, literaturas tantas desse vale, que independem de compreensão.

Quando recebi o convite do meu amigo Jô Pinto para fazer parte do grupo de colunistas, me senti honrado e ao mesmo tempo intimidado, creio não ser necessário explicar os motivos de me sentir honrado, mas acho interessante mencionar as razões de me sentir intimidado: uma delas foi a preocupação de não dar conta mesmo, uma vez que minha rotina é recheada de compromissos, assim como a rotina de quase todos. A outra, foi o medo de não corresponder às expectativas, afinal de contas, sei da dedicação do Jô em seus trabalhos, sei da dedicação do Jô com o blog.

E de um outro, outros outros, porque arte é feita de veredas e alhures. Aqui estou eu partilhando esse pedaço de meio também com Alex, que estimo há pouco, como se conhecesse há muito. Um escritor sensível e uma pessoa iluminada. É literatura do Vale e poesia de vida na certa.

Estar ao lado dessas pessoas, estar ao lado de Herena Barcelos (minha companheira de coluna), me faz querer acertar. Quando iniciamos novos projetos, é natural a presença do medo, mas, neste momento, o desejo do sucesso é muito maior.

Iniciamos, nós, mais uns nossos meios. Há fim? Claro, um dia o fim chega. Por isso o meio é tão valioso.

Espero que gostem dos conteúdos que carinhosamente pensaremos e traremos para vocês. Será uma alegria tê-los por aqui.

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

OPINIÃO DO BLOG - A alegria precisa continuar

 


A alegria precisa continuar. Nos últimos tempos a humanidade tem passado por uma prova de fogo, para acender os alertas e retomar a consciência do conviver.

Passamos por décadas desafiando Deus com o nosso egoísmo e nosso egocentrismo. Fizemos e desfizemos em nome de um lucro desenfreado e a custas de uma exploração desumana e excludente.

A corrupção tornou se a regular da vida e milhões e milhões dependendo de esmolas e restos. A pandemia está aí, nossa luz, nossa segunda chance de retomar o humano que há em nós. Tempo de resignificar a nossa postura e a nossa capacidade de amar.

Nos separamos para atentarmos para uma reflexão do nosso eu, ignoramos, e aproveitando o momento tirando vantagens sobre quem desatento se tornou fragilizado. O olhar pra frente, a busca da fé e o foco em dias melhores, deveriam ser as nossas bandeiras, não estamos tirando dez na prova de fogo. Continuamos a olhar para os nossos interesses e às velhas políticas  que continuam ditando o ritmo em meio ao sofrer.

Erguer a cabeça e assumir que precisamos mudar e transformar nosso viver,  não dá mais para seguir como antes.

 Resignificar, amar e fazer a diferença,  os mortos não podem ser só mortos ou dados de uma pandemia, são luzes que se acendem para podermos importar com todos.

Mas, a lâmpada do nosso coração precisa estar acesa para brilhar e animar a tantos que ainda não entenderam e que precisam buscar novos caminhos.


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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - Renda Hhandoti no Vale do Jequitinhonha

 GUARDIÃ DA RENDA NHANDOTI NO VALE DO JEQUITINHONHA


 

            Maria Elizabete Pereira dos Santos, é  quilombola, sua origem remonta da comunidade do Arraial dos Crioulos, em Araçuaí,  em seus sessenta e um anos, é daquelas mulheres fortes, mas de uma doçura inigualável!  Entre tantas habilidades e talentos nas artes manuais, ela abriu o baú de seus dotes e nos contou como aprendeu a fazer renda nhandoti.

            Ela  tinha uma tia, por nome de Ana, que morava no Morro da Liga , que em 1979, decorrente ao período das enchentes, teve de se mudar para o bairro Mutirão - Araçuaí,  havia ficado paralítica e uma senhora chamada Maura lhe ensinou a tecer como forma de entretenimento. E assim criou  gosto pela arte e tecia dia e noite. 

             Maria Elizabete, muito jovem, foi trabalhar de babá na casa de Maura, porém à noite, ia dormir na casa da Tia Ana. Porque quando terminava o serviço, já era tarde, não havia luz elétrica, o caminho para o Arraial dos Crioulos era cheio de mato, muito perigoso.  O jeito era pernoitar na casa da tia. E lá vendo a tia tecer, começou por brincadeira, e quando se deu por conta, já estava fazendo com desenvoltura a renda nhandoti. As duas ficavam até altas horas tecendo e conversando.

            Ela fala que é uma técnica muito fácil de fazer, basta arranjar linha, pedaço de madeira, papelão para servir de molde. Revela ainda que, prepara tudo artesanalmente e cria seus próprios moldes e tramas a seu gosto e criatividade.

            A renda são composições de flores ou rosetas em formas circulares, que vão sendo produzidas, depois de uma boa quantidade, podem se transformar em toalhas, caminhos de mesas, vários acessórios de cama e mesa, chegando  até mesmo em peças ornamentais, conforme o interesse de quem adquire as peças.


            Bisbilhotando um pouco mais sobre a renda, descobrimos que     chegou á América latina  através das Ilhas Canárias, na Espanha, como técnica tenerife;  aculturando-se na região do Paraguai, onde  foi recriada e batizada com o nome  ñanduti, que significa teia  de aranha em guarani. A partir do Paraguai a renda chegou ao Brasil, tecida sobre uma trama radial montada, utilizando-se de motivos circulares.


            Assim, Maria Elizabete Pereira dos Santos, é uma guardiã desta técnica de tecelagem tradicional, de suas mãos parece brotar uma poesia transformada  em renda e arrematada pelos fios  que decoram sua vida  e suas emoções de alma feminina , por tramas de alegrias e espiritualidade

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Um sol para cada um

 

Foto: Ricardo Azoury


Um sol para cada um. O "valino, termo carinhoso dado aos homens e mulheres que fazem sua história no Vale do Jequitinhonha, pelo grande poeta Jota Neris, trazem na alma um desejo grande em escrever e deixar sua história como legado de lutas e construções. A luta, nem é percebida como algo alheio ao cotidiano dado. E assim o somos. O vale é o berço que gera todos os dias filhos e filhas para manter viva a história desse sertanejo, deste caboclo, desde ser de pelejas e certezas. Não existe uma reclamação estrutural com o sol escaldante que nos ilumina 365 dias por ano. Tudo flui na normalidade da vida. Oferece calor e aquece o coração daquele que espera confiante a chuva cair. Ilumina aquele que a doença fez cair. Alimenta aquele que colheu e seca no couro o feijão e o milho. É a luz que ilumina esse ser para produzir culturas e saberes. Um terreno fértil que brota da argila, da fibra, da palavra, da madeira e das belas pedras que o espaço oferece. Tudo que o torna rico e imponente, único no mundo. A dinâmica da vida segue um fluxo de uma tranqüilidade e uma simplicidade ímpar. Cada causo, cada conto é uma história de vida. No vale se aprende na dificuldade em meio a seca a exaltar o cuidado e a sustentabilidade. A água escassa é suprida pela solidariedade e partilha. Tem sua história contada e cantada. De dona Maria a Sebastiana cada bom dia é possibilidade de nova vida. Povo que se renova pela cultura e história. Com um olhar de fé, transformam o impossível, como gigantes erguem projetos de vida e de luz. Vale das riquezas, das lavadeiras, das benzedeiras e dos corais e violeiros. Vivem na harmonia em conformidade com o sol de cada dia, se encontram e se combinam em cada gesto de irmãos. O sol, este não se intimida e nem se acovarda, de fato, para cada um.

 

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Colunistas do Blog " Espaço Livre"


Para uma melhor diversidade, para levar novas textos e visões diferentes sobre este espaço livre e de múltiplos assuntos relacionados a Cultura, Literatura,  Memória e a História, de modo especial a do Vale do Jequitinhonha o blog agora contará com mais três novos colunistas:  Alex Konrado, Herena Barcelos e Otacílio Mendes e completa a equipe Ângela Freire e Jô Pinto


Alex Konrado Vieira Costa


Nasceu em 15 de Julho de 1989, em Osasco – SP. Com 4 anos de idade muda para o estado de Minas Gerais, residindo respectivamente nas cidades de Medina e Comercinho, ambas, cidades localizadas no Vale do Jequitinhonha. Alex é poeta, escritor, agente cultural e também trabalha como professor de ensino religioso na rede estadual. Costuma desenvolver projetos onde faz o uso da literatura como uma ferramenta ativa e educativa a favor de inúmeras causas sociais. É integrante do Coletivo dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha

 

Herena Barcelos



Nutricionista, mestranda em Estudos Rurais, agente cultural, sertaneja de Itinga, Vale do Jequitinhonha-MG, é escritora por necessidade e de teimosia, integrante do Coletivo do VOHEJAR de Itinga e Também o Coletivo dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha

 

Otacílio Mendes


Nascido em Itinga. Licenciado em Filosofia e Bacharel em Teologia pela PUC Minas. Pós Graduado em Educação do Ensino superior. Professor de Filosofia na rede estadual de ensino de Minas, Poeta, escritor e integra o Coletivo do VOHEJAR de Itinga e Também o Coletivo dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha

 

Ângela Gomes Freire



Natural de Araçuaí, Estudante do Curso de Licenciatura do Campo na UFVJM, Professora, Graduada em Turismo. Atriz do Grupo Teatral Vozes de Araçuaí, Agente e Produtora Cultural, especialista em política de Patrimônio Cultural. Escritora, Cronista, Poeta e integra o  Coletivo dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha

 

José Claudionor dos Santos Pinto



Mas conhecido como Jô Pinto, natural de Itinga, Idealizador do Blog “ Espaço Livre ”, Professor, Graduado em História ( UNOPAR), especialista em Ensino de Filosofia ( IFNMG), Estudante na especialização de Ensino de Direitos Humanos e Geografia ( UFVJM), Técnico em Política de Patrimônio Cultural. Poeta, escritor e integra o Coletivo do VOHEJAR de Itinga e Também o Coletivo dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha

 


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - "Fazer o bem sem olhar a quem"

 

Foto: Internet


Antigamente tudo era difícil, quando morria um pobre, muitas vezes era sepultado enrolado em um lençol , porque caixão , só para quem pagasse por ele. Velar o defunto na nossa região, sempre foi muito importante, é da nossa cultura. Mas, sempre houve diferença entre o morto pobre e o morto rico.   

            O defunto de posses, antigamente,  atraia muita gente, seu velório era regado  com muita bebida e comilança. Matava-se porco, galinha, novilha, a comida era feita naqueles tachos grandes; a fogueira era preparada desde quando anunciava a passagem; tinha muita oração: terço, ladainha, ofício e rosário; mas a cada momento, uma rodada de biscoito, café, cachaça e farofa. Além disso  não faltava gente para  contar as boas ações do morto, aliás , todo falecido virava santo, na boca de quem velava dia e noite, quanto maior  a bebedeira,  melhor ficava a vida do falecido!

            Numa destas, faleceu numa cidade do Vale do Jequitinhonha, um pobre homem, figura que as pessoas  rejeitavam, entregue a sorte de quem lhe dava um gole da aguardente mais rasa que tivesse.           

                 Morava sozinho, num quartinho, tinha por parente apenas uma irmã. Também era uma pobre vivente, mas lhe  assistia diariamente com uma xícara de café e um mísero prato de comida, para sustentar seu corpo esquelético, consumido pelo álcool  e a solidão.

               Certa manhã, sua irmã encontrou-lhe estirado em sua cama de vara, desfalecido, sem vida. Ela começou a gritar por um vizinho, que lhe acudisse, levando uma vela, para que seu irmão não se perdesse na escuridão da passagem.

             Após a encomendação da alma, havia o problema do sepultamento, pois a cidade tinha o cemitério municipal e só se enterrava  com caixão. Mas a pobre mulher não possuía nenhum vintém. O jeito era recorrer as almas caridosas. A mulher saiu chorando , em direção a igreja, para pedir auxílio aos cristãos e também pedir para anunciar  no alto falante, mesmo sabendo que não teria ninguém para velar seu irmão. Chegando na igreja, deparou-se com uma das ajudantes e ministra da eucaristia , contou-lhe o ocorrido . A ministra da eucaristia, uma destemida senhora, baixinha, sempre de batom vermelho carmim, salto alto , daquela que  ” fazia o bem, sem olhar a quem”, depois de ouvi-la , deu-lhe o ombro amigo,  confortando-lhe.Solicitou-lhe que retornasse para  casa de seu irmão, e, começasse a organizar o banho e pegasse a roupa melhor para lhe vestir e deixasse o resto por sua conta. A pobre órfã, sem compreender, obedeceu a ministra e saiu soluçando em suas tristezas.

            A ministra da eucaristia elevou seu pensamento a Deus, agarrou-se  a seu rosário, ligou o alto falante e avisou:

 __Nesta manhã, do dia tal, faleceu nosso irmão, fulano de tal. Pedimos aos irmãos de boa vontade e de fé em Cristo, que vá velar o pobre homem, pois mesmo sendo um pobre coitado em vida na terra, é também um filho de Deus!

            Largou o alto falante, fez a reverência ao Cristo e saiu em direção a prefeitura, que ficava  próxima dali. Adentrou-se , indo até a antessala do gabinete do prefeito, onde estava a secretária, que logo atalhou, repreendendo-lhe:

___O que a Senhora deseja? O prefeito está muito ocupado, pode falar comigo, que eu passo para ele.

            A ministra da eucaristia, mirou a mulher furiosa e num gesto que não ouviu, lhe deu satisfação:

___Eu vim aqui ter com o prefeito, e o assunto é de interesse dele, portanto eu falarei com ele. E, foi adentrando-se, já deparando com o prefeito se ajeitando em seu terno de linho, estendendo a mão para cumprimentá-la, indicando  o assento  para se acomodar. No entanto a senhora não se deu ao trabalho e foi logo  despejando sua fúria, em sua boa retórica.

__Prefeito, eu vim aqui para comunicar o falecimento de fulano de tal. Acabei de anunciar no alto falante. Mas a irmã dele não tem  como encomendar o caixão, nem a taxa do cemitério, portanto você como autoridade desta cidade, deve zelar pelos desfavorecidos, e eu sei que há recurso que ampara os necessitados, o caso é simples: Estou aqui para te avisar que estou descendo para casa do morto, e daqui uma hora, se você não providenciar o caixão, arrumarei uns homens para trazer o defunto e colocar encima  de sua mesa, para eu rezar as últimas orações ,caso não tenha as condições dignas para enterrar, vou sair junto com o povo e deixarei, o corpo  nesta mesa, para você .Passar bem!

            Dito em palavras entoadas em alto e bom tom, virou-se em retirada, conforme o prometido. O prefeito saiu em sua reconciliação, mas a ministra, sequer lhe olhou, só se ouvia o toc-toc de seu  sapato de salto alto.

            Sobe morro, desce morro, quando ela chegou na porta do casebre do falecido, estacionava  também   um carro, com um caixão , e um funcionário da prefeitura com as vestes novas e até o cordão de São Francisco. Em seguida também chegou o prefeito, que decretou o fechamento do expediente da prefeitura, para acompanhar o sepultamento  do pobre cristão.

            Assim aquele homem, sofredor e solitário  em toda sua vida na terra, pode ter por uma vez, companhias para levar-lhe até o cemitério  e ter um enterro digno.

          Exemplos como este, podemos constatar em muitas cidades, rendemos graças e louvores as pessoas de bem, que cumpriram seu papel de cristão e de ser humano, seja lutando, brigando ou exigindo  justiça e tratamento digno aos desfavorecidos  e vulneráveis da cidade.

Por:

 


           

 

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