quarta-feira, 31 de março de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste. Mc15, 34

 



O grito de Jesus no alto da cruz, abandonado e ensanguentado destaca a humanidade de cada um de nós. A nossa incapacidade de superar um sistema opressor e excludente.

O próprio Cristo se sentindo abandonado, sendo Deus, nos propõe a viver a nossa humanidade. Ali no alto do calcário, submetido a uma situação de desonra e solidão, o humano Jesus, clama a uma estrutura maior e destaca nossa fragilidade e nosso sofrimento.

 E nós, clamar para quem? Quem nos ouvirá? O alto do calvário, o pé da cruz é a grande guerra em que estamos submetidos, abandonados por um governo irresponsável que nunca valorizou ou se colocou a serviço de uma humanização. A morte desenfreada de tantos brasileiros e brasileiras suspendidos no madeiro da indiferença e do descaso.

A cada dia que passa o caos toma conta de canto do nosso país e a cegueira do ter sobrepõe ao humano ser. Desfigurados pelo medo, pela lotação dos hospitais e da falta de recursos o clamor reverbera e ninguém ouve e responde.

A cruz é só um detalhe. A dor, a falta de informações e ar mata aos poucos os milhares de brasileiros e brasileiras presos nas cruzes de leitos que não nos cabem. O silêncio. O grande silêncio diante dos leitos com os corpos inertes porque faltou ar. Diante dos caixões que aos montes descem à cova sem poder velar.

O grito se faz, até quando vamos resistir contra um inimigo invisível e descaso com o ser humano. Cenas de guerras nos corredores dos hospitais e nas famílias desesperadas.  Ruas vazias e vidas isoladas. Vamos continuar subindo para o calvário e ouvindo o brado sem nada poder fazer. Meu Deus, meu Deus dais força e luz para superarmos nossa cruz.

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sexta-feira, 26 de março de 2021

CONHECENDO O JEQUI - A Lenda da catacumba

 


Dizem que há muitos anos atrás, mesmo antes de Capelinha emancipar, aqui morava um homem muito mau que maltratava os seus semelhantes, era arrogante e mandava matar a pessoa apenas para fazer amizade com as filhas do morto, por intermédio das viúvas desamparadas. Dizem também que sua riqueza era originária de um pacto com o diabo. Ele era um homem possessivo e autoritário. Não permitia que sua família saísse às ruas. Contratava professores particulares que ministravam aulas para suas filhas, em sua própria casa.

Segundo os moradores, incluindo os mais idosos, ninguém lembra nome desse senhor, pois tais fatos ocorreram há muitos anos.

 Quando ele faleceu, pouca gente foi ao velório, pois ele não tinha amigos. As poucas pessoas eram membros da família e alguns gatos pingados, uns curiosos que lá foram não para rezar pela sua alma, senão para ver sua esposa e filhas. O velório também serviu de pretexto para alguns tentarem fazer amizade, já que enquanto viveu o misterioso senhor não permitia a aproximação da família com outras pessoas.

Dizem que ele nunca ia à igreja, não se importava muito com a própria vida ou com a saúde. Só queria saber de adquirir posses e dinheiro.  Afirma-se que possui varias mulheres (garotas de programa, que arre- banhava em suas viagens de negócio). Era filho de um forasteiro que veio morar em Capelinha com sua família, antes da emancipação da cidade.

Dizem que logo depois de seu falecimento, sua esposa e filhas foram embora de Capelinha, já que o tirano as privava de suas liberdades, o que as impediu de criarem qualquer laço de amizade. Dizem ainda que, alguns anos depois, quando o Padre Domingos Pimenta era pároco, do túmulo desse homem começou a sair cabelo e as bordas da sepultura começaram a rachar. Acreditam alguns que isso ocorreu, porque a alma do morto não conseguia se libertar do corpo e, em sua revolta, provocara as rachaduras na catacumba. Então o Padre benzeu aquela sepultura e determinou que fossem colocadas correntes à sua volta. Somente após tal providencia do padre é que não mais se verificou o aparecimento das trincas na sepultura.

 Atualmente, não mais é possível identificar o nome do morto nem a data em que ele faleceu. Supõe-se que tenha sido condenado ao esquecimento, dado o isolamento que impôs à sua família. Acredita-se que a cidade de Capelinha ainda vai sofrer um processo de afundamento, em decorrência de uma praga rogada à cidade por um padre. Dizem que, quando Capelinha afundar, o morto da sepultura vai voltar à terra em forma de um monstro.

Efetivamente, ha no corredor frontal do Cemitério Paroquial de Ca pelinha uma sepultura circundada por correntes de ferro. Trata-se da sepultura do senhor Antônio Barbosa, apelidado em família por Totoni Barbosa. Era irmão do Dr. Juscelino Barbosa, este um filho adotivo ilustre de Capelinha que chegou a ser Secretário de Estado das Finanças de Minas Gerais, no governo de Bueno Brandão. Totoni Barbosa era também irmão da Sra. Juscelina Barbosa, esposa de Jacinto José Ribeiro, o primeiro Prefeito Municipal de Capelinha. Na mesma sepultura estão os corpos de diversos outros familiares do senhor Antônio Barbosa.

Segundo Cláudio Ribeiro, sobrinho de Totoni Barbosa, este era "uma alma boa" e são total mente improcedentes os fatos lendários a seu respeito.

 

Texto extraído do livro: Casos, Lendas e Lorotas do Jequitinhonha, de autoria do Professor, Poeta, Escritor e pesquisador  José Carlos Machado da cidade de capelinha no Alto Jequitinhonha.



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quinta-feira, 25 de março de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - A mudança começa dentro de nós

 


Os sonhos sempre moveram os seres humanos, incentivando-os na busca por grandes transformações, é muita gente desejando mudar o mundo, torná-lo um lugar melhor; interessante que desejemos o progresso material, espiritual e moral. Acredito que o desenvolvimento de uma coisa acaba puxando a outra, devemos realmente nos esforçar para conquistar estas realizações.

Também é preciso que prestemos atenção na forma como pretendemos que as mudanças aconteçam, a forma é a parte mais importante, é o processo que irá determinar se teremos sucesso ou não. O que muitas vezes notamos, são pessoas ansiosas por uma revolução moral a nível global, apontando as correções a serem feitas, sempre nos outros... nunca, nelas mesmas.

Será que este é o meio? O caminho que nos conduzirá ao crescimento que tanto queremos?

Independente de qual seja a resposta, estamos vendo o aumento dos “juízes de condutas alheias”, que avaliam constantemente as atitudes de terceiros, se esquecendo de avaliarem com o mesmo rigor suas próprias condutas. São “juízes” que deixam de molhar o seu jardim para criticar o jardim do vizinho, todos os dias.

Quando iremos olhar mais para dentro de nós? Reconhecermos os pontos falhos, os erros particulares a serem eliminados? A autoavaliação nunca foi uma tarefa fácil, mas sempre foi uma tarefa necessária. É fundamental que comecemos a reforma de dentro pra fora, que cuidemos mais do nosso próprio jardim. O ponto de partida está no nosso interior, quando entendermos isto, a mudança chegará.


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sexta-feira, 19 de março de 2021

CONHECENDO O JEQUI - Capa Bode e Capa Jegue

 

Foto: Gilvan Gonçalves


Uma das histórias mais peculiares do município de Itinga é a história que envolve o bairro Porto Alegre e o Bairro do Centro e adjacentes, ambos os bairros ficam às margens do rio Jequitinhonha, o Porto Alegre à direita e o centro à esquerda, assim é contada esta história: Com a chegada dos primeiros habitantes no final do século XVIII, do lado esquerdo da margem do rio o qual foi povoado primeiro, do outro lado ficou apenas uma família cujo oficio era a criação de bodes e cabras.

Certo dia um rapaz atravessou o rio para caçar, não obtendo sucesso na empreitada, viu alguns bodes e não pensou duas vezes, abateu um dos animais, capando o bichinho e deixando apenas os testículos pendurados na cerca, seguiu a viagem, mas a família dona dos bodes ficou enfurecida, vieram até a margem do rio e começaram a esbravejar: "Bando de Vagabundos, tem razão, moram todos nessa "manga velha"! Era uma alusão ao lugar conhecido como "mangueiros dos lobatos" onde possuía muitos pés de mangas (lugar onde a cidade nasceu) só que do outro lado do rio começaram a zombar da família chamando-os de "capa bode", iniciou-se assim uma rivalidade secular.

Com o passar do tempo, no inicio do século XIX, foram chegando outros fazendeiros, depois vieram os canoeiros e tropeiros com seus comércios e assim várias casas se ergueram no lugarejo, entre elas, uma que chamava a atenção, era a casa onde moravam as prostitutas. Estas, durante muito tempo mediram forças com as prostitutas que moravam do outro lado do rio, as da "casa das sete portas”, disputa que acabou gerando o nome do lugarejo, tendo em vista que os homens que frequentavam os dois bordéis acabavam dizendo que as prostitutas do outro lado eram mais alegres do que as das "sete portas", assim o lugarejo passou a se chamar Porto Alegre.  Essa rivalidade entre as prostitutas e o episodio do bode castrado foi o prato feito para essa rivalidade perdurar ainda mais. Fato é que a cidade cresceu, e a rivalidade também entre os dois lados da cidade. 

As lavadeiras de roupa ficavam na beira do rio lavando as roupas e brigando, gritava uma: " bando de capa bode, vem pro lado de cá se vocês forem mulheres? " Retrucavam as outras: - “Divide o rio capa Jegue!”. Adotaram o nome capa jegue porque acreditavam que manga velha não era tão ofensivo, a briga das lavadeiras eram constantes, e a rivalidade entre os dois lados intermináveis, em tempos remotos ouve até troca de tiros de um lado contra o outro, isso sem contar as inúmeras brigas quando os jovens dos dois lados se encontraram nas festas ou em uma partida de futebol.

Com o passar do tempo essas rivalidades se amenizaram, porém a integração dos dois lados da cidade só se deu por completo com a construção da ponte, concluída em 2004 e no qual foi uma promessa do então pré-candidato a presidência da república, Lula, em sua primeira visita a Itinga, na caravana da cidadania.

A ponte foi um marco histórico para Itinga e serviu de unificação da cidade tornado-a uma só, com suas histórias de capa bode, capa jegue e mangas velhas....

Fonte: livro Memórias de Itinga de Jô Pinto

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quinta-feira, 18 de março de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Série "Eu Recomendo"

     DICA DO LEITOR, com Rodrigo Evangelista



Abrindo nossa série “Eu Recomendo”, o turismólogo amante da cultura do Vale do Jequitinhonha, Rodrigo Evangelista, nos convida a conhecer o livro “Dicionário Fanadês, Jequitinhonhês, Mineirês”.

Rodrigo Evangelista Camargo é natural de São Paulo, mas com sangue fanadeiro. Mora em Minas Novas desde 2003, para sua indicação explica:

“O livro nos faz ir além da imaginação da nossa cultura, ler o quefalamos, nos mostra o quão o Mineiro, o Jequitinhonhês e o minasnovensesão diferentes de tudo nesse Brasil cheio de riquezas culturais! Aproveitem a leitura, pois vão viajar em um universo único de Minas. Trem bão demais da conta sô!”

Segundo Rodrigo, Carlos Mota é natural de Minas Novas, já foi deputado federal e foi ele quem deu o ponta pé inicial para a construção da UFVJM em seu mandato.Hoje o escritor mora em Brasília.

Seu livro "Dicionário Fanadês, Jequitinhonhês e mineirês: Linguagem Falada às Margens do Rio Fanado e Adjacências", com 436 páginas, foi publicado em 2008, sendo inclusive lançado na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. O prefácio foi escrito por Murilo de Melo Filho e a primeira edição teve 5000 exemplares.

A obra contém termos e expressões regionais utilizados ao longo dos anos, no modo de falar dos portugueses, africanos e indígenas que deram origem às populações do Vale do Jequitinhonha. O dicionário possui 427 páginas e 2,3 mil verbetes. Também traz mil apelidos curiosos de pessoas da região e 200 causos e piadas (AGU, 2008).

Em seu blog, Carlos Mota se declara: “Um fanadeiro romântico, que venera Nossa Senhora do Rosário e tem verdadeira paixão pelas tradições, pela arte popular, pelo folclore, pelo artesanato, pelos monumentos históricos e pelas riquezas paisagísticas de Minas Novas”.

Carlos Mota também escreveu ‘Eu, Marylin Monroe e o Outro’ e ‘Tião, um prefeito no Céu!’. Recentemente, participou da antologia de escritores do Vale, ‘Esperança é Vida’, organizado por Tadeu Martins com o poema ELEGIA À PANDEMIA.

 

Dicas para adquirir o livro: https://www.facebook.com/photo/?fbid=3709124202504453&set=gm.3876378915741427

 

Referências

https://agu.jusbrasil.com.br/noticias/18505/procurador-federal-lancara-nesta-quarta-feira-dicionario-de-fanades-jequitinhonhes-mineires

http://dicionario-fanades.blogspot.com/

http://sindireceita.org.br/blog/carlos-mota-lanca-dicionario-de-fanades/


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quarta-feira, 17 de março de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Culto desnecessário

 

Imagem Internet

Desde o princípio dos tempos, olhar o corpo e elaborar julgamentos vem sendo pauta desde a criação. Adão e Eva nus se envergonharam de estar na presença de Deus.

 De lá para cá, poucas mudanças fizemos em nossa relação com o corpo. Certos de uma valorização exarcebada, a sociedade machista começou a ditar o tipo de corpo que seria  "ideal" e seguimos a risca.

A moda assumiu o controle e o consumismo fez as regras. Não olhamos mais para as pessoas como seres humanos, mas como possibilidade de corpo. E, guardamos as regras como um catecismo a ser seguido.

Lotamos as academias, deixamos os corpos torneados, e muitas vezes a mente vazia. Nunca nos satisfazemos e dizemos sempre "tá pago" porque temos que dar satisfação aqueles que nos mantêm.

O processo corporal tomou proporções gigantescas que não cansamos de ver pessoas morrendo na busca pelo corpo perfeito e tantos corpos mutilados pela irresponsabilidade e pela busca desenfreada em ganhar dinheiro, clínicas clandestinas e academias sem compromissos. Lotamos as academias para que as regras sejam cumpridas, mas não lotamos as bibliotecas em busca de  verdadeiro conhecimento que nos liberte, não corporalmente, mas humanamente.

Seguimos falácias sobre o conhecimento e repassamos os fakes, as redes sociais são as grandes incentivadoras dessa busca desenfreada pelo corpo perfeito, que muitas vezes precisava ser canal de saúde e desenvolvimento humano.

tempo do reencontro, da harmonia humana, chegará quando estivermos dispostos a ter uma visão holística do que fazemos de nós e do nosso corpo.

O dia da celebração será quando libertos dos grilhões sociais construir o ser humano que precisamos ser.

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domingo, 14 de março de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - Doce sabor da infância

 

Imagem internet

Há alguns dias atrás, minha irmã nos presenteou com uma grata surpresa, ela fez pirulito caseiro, aquele com formato de Guarda-Chuva, que fazia nossa alegria na infância, se lembraram?

Eu lembrei e voltei no tempo! E a saudade bateu com força, uma doce saudade da infância, vivida intensamente no meu sertão e na minha querida Itinga, e tenho certeza que foi vivida assim também por vocês em suas cidades.

A escola era nossa segunda casa, para estudar, para brincar ou apenas para merendar,

E o recreio era o nosso momento, tempo curto, mas necessário para um conviver de brincadeiras, comer e socializar, todos juntos, independente da cor da pele ou condição social, claro que um ou outro não desfrutava desse momento, uns por timidez e outros porque talvez os pais não gostasse que eles estivessem juntos e misturados.

Mas certo é que assim que o sino tocava a meninada saia correndo, primeiro a merenda, fila, empurra daqui, empurra dali, (acho que isso não mudou muito não), mas toda essa agitação era para saborear aquele cardápio, variado! Um dia tinha mingau “O rosa” e o” Creme”, bolacha de doce (nem era dura assim), farofa de feijão, carne moída (só depois que eu descobri que era soja), um arrozinho com frango ou jabá e aquela sopa de letrinhas, deu até água na boca!

E ainda tinha os vendedores ambulantes que ficavam no portão da escola, uma infinita oferenda de guloseimas e quitutes que toda criança gosta; Puxa - Puxa (arrancava os dentes de tanto puxar de um lado para o outro), chup-chup, Pirulito de Guarda-chuva (Duro? que nada! só não perdia para bala soft), Pastel frito (de carne com batatinha e o de farofa “Clássico”), Coxinha e Enroladinho de salsicha... Já ia me esquecendo das famosas “Paridas”.  

Mas para desfrutar desse banquete só quando os pais davam umas moedinhas, os afortunados comiam pastel e os menos comiam uma Parida, (mesma massa só não tinha recheio), pão de seu Orozino com chup-chup de groselha de Dona Maria de Bispo era manjar dos deuses.

 Além de seu Orozino e Maria de Bispo que vendiam em suas casas (perto da escola), alguns vendedores ainda está na memória outros não; Dona Dalva que vendia pastel, parida Chup-chup e pirulito, todos colocados em um tabuleiro cheio de buraquinhos, Dona Maria que vendia biscoito de farinha e Dona Neli que vendia pastel.

E por incrível que pareça, ainda sobrava tempo para correr pelos pátios em brincadeiras intermináveis, suados, mas revigorados voltávamos à sala de aula para mais uma etapa de aprendizado.

A gente cresce, o tempo passa rápido, mas fica para sempre o doce sabor da infância.

 

Deixe nos comentários seus doces sabores de infância.

 

RECEITA DE PIRULITO GUARDA-CHUVA

 

MATERIAL NECESSÁRIO

Fôrmas de alumínio próprias

Palitinhos de madeira 5 cm de comprimento

Papel de embrulho para enrolar

Tabuleiro apropriado

 

INGREDIENTES

1 copo de água

3 xícaras de açúcar

10 gotas de limão

Óleo para untar a forma

 

MODO DE PREPARAR

Levar todos os ingredientes ao fogo.

Não mexer durante o tempo (de 15 a 20 minutos) em que a panela estiver no fogo. 

Para obter o "ponto de vidro", por um prato fundo com água ao lado do fogão e pingar a mistura, que no ponto certo, deverá "quebrar" como um vidro.

Ainda quente, passe o caramelo nas formas untadas com óleo, colocando em seguida, os palitos.

Retirar das formas quando estiverem duros.

Enrolar um a um a um e colocar nos tabuleiros apropriados.


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quinta-feira, 11 de março de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Lançamento dos livros “Jequitinhonha antologia poética I, II e III”







Em tempos tão difíceis uma boa notícia.

A Loope Editora, do Rio de Janeiro, estará relançando os livros Jequitinhonha Antologia Poética (1982) e Jequitinhonha Antologia Poética II (1985), dos poetas Gonzaga Medeiros, Jansen Chaves, José Machado, Tadeu Martins e Wesley Pioest, e lançando o novo livro “Jequitinhonha Antologia Poética III”.

Os autores Jansen Chaves e José Machado, já falecidos, foram substituídos, no terceiro livro, pelos seus conterrâneos poetas, Joaquim Celso Freire e Cláudio Bento.

Os três livros terão capa e ilustrações da saudosa artista plástica Marina Jardim e o terceiro livro terá prefácio de Thiago Machado, cuja dissertação de Mestrado teve como tema as Antologias Poéticas I e II.

O lançamento dos três livros acontecerá na data em que se comemora os 43 anos do Movimento Cultural do Vale do Jequitinhonha, iniciado com a criação do Jornal Geraes, em 16 de março de 1978.

Participarão da Live: Cláudio Bento, Gonzaga Medeiros, Joaquim Celso Freire, Tadeu Martins, Wesley Pioest, Maria Clara Rêgo (filha de Jansen Chaves), Thiago Machado (sobrinho de José Machado), Davi Botelho (filho de Marina Jardim) e Neilton Lima, diretor da Loope Editora.

Thiago Machado é quem nos diz:

Palmatória quebra dedo

Chicote deixa vergão

Cassetete quebra costela

Mas não quebra opinião

 

(versos de roda de Araçuaí)

 

A poesia escrita no Vale do Jequitinhonha, em especial, no Baixo Jequitinhonha, na década de oitenta, foi feita com muita opinião, como lembram os versos em epígrafe. A escolha para estudá-la não fora mero acaso e envolveu afeições familiares. Em 1994, aos quatorze anos, mudei-me para a cidade de Ouro Branco, região central do Estado, para cursar o ensino médio. Já gostava muito de literatura, mormente, poesia. E tive a oportunidade de conviver com meu tio José Machado de Mattos mais de perto por conta dessa mudança. Certo dia, ao confidenciá-lo que gostava de poesia, ele me disse que precisava ler os poetas do Vale antes mesmo de quaisquer outros escritores. Após dois dias, chegou na casa da minha avó com dois livros. Eram as antologias poéticas publicadas por ele, Tadeu Martins, Jansen Chaves, Gonzaga Medeiros e Wesley Pioest na década de oitenta. As palavras dele ainda ecoam: - “tome, são seus! São meus últimos exemplares! Se quer ler poesia, precisa ler os poetas do Vale!”.

Os livros ainda estão comigo e mudaram a minha vida. Por conta deles e da força do meu primo Felipe Gomes Machado, médico em Belo Horizonte, fiz vestibular e entrei para o curso de Letras/Português da Unimontes, na cidade de Montes Claros. Tinha pouco dinheiro e muita opinião. A mesma opinião que lia nos versos das antologias poéticas, envolvidas por uma mística literária destinada a chamar atenção para um Vale para além de condição de “miséria”. Estudei as duas primeiras antologias no meu TCC. E decidi redigir um projeto de mestrado sobre elas. Por conta da poesia do Vale, tornei-me mestre em Letras/Estudo Literários pela Unimontes estudando, justamente, as obras que recebi de presente na minha adolescência.

Hoje, sinto-me honrado em prefaciar esta terceira antologia poética do Vale do Jequitinhonha. Entretanto, antes de entrar no mérito da terceira obra, apresentarei um breve contexto sobre as duas antologias anteriores, objeto de meu estudo no mestrado. Em linhas gerais, acredito que o pesquisador interessado em desenvolver estudos sobre os movimentos da poesia brasileira contemporânea encontrará várias dificuldades para a realização deste tipo de pesquisa. No meu caso, tornaram-se ainda maiores quando escolhi como corpus as obras Jequitinhonha Antologia Poética e Jequitinhonha Antologia Poética II, publicadas pelos poetas Jansen Chaves, Tadeu Martins, José Machado, Wesley Pioest e Gonzaga Medeiros. As dificuldades derivavam do fato de os estudos sobre o Vale do Jequitinhonha, localizado no nordeste de Minas Gerais, serem bastante fragmentados e privilegiarem, basicamente, a história da região e suas manifestações artísticas e culturais. Há, nesses estudos, certa tendência à análise valorativa, justificada, provavelmente, pelos discursos que sempre relacionam o Vale à miséria. Há ainda grande uniformidade temática que envolve, sobretudo, a oralidade, o artesanato e as endemias. Desse modo, propus oferecer visão crítica diferente sobre o Vale do Jequitinhonha, privilegiando a literatura e, especificamente, a poesia da região.

Os livros Jequitinhonha Antologia Poética e Jequitinhonha Antologia Poética II foram publicados, respectivamente, nos anos de 1982 e 1985. Foram lançados, inicialmente, em Belo Horizonte. O da primeira antologia poética aconteceu na sede do Mobral e o da segunda, na Casa do Jornalista. Ambas contaram com a presença de filhos do Vale, artistas, intelectuais e jornalistas de Belo Horizonte. Houve divulgação nos jornais Estado de Minas, Diário da Tarde, Geraes, Nordeste de Minas, e no BIP do Banco do Brasil e no Boletim da Minascaixa. As obras foram lançadas ainda nas cidades mineiras de Teófilo Otoni, Almenara, Rubim, Jequitinhonha e Diamantina. Para o lançamento da primeira antologia, o poeta Wesley Pioest escreveu uma espécie de texto-convite em que apresentava ao público a poesia e os poetas do Vale:

 

A manhã chega ao Vale do Jequitinhonha, nas asas da poesia. E a terra acorda. E se ouve os primeiros murmúrios, canoas que descem o rio nas palavras dos homens. Dos quatro cantos do Vale, cinco cantos se apresentam. Cinco poetas cantam nas páginas de “Jequitinhonha – Antologia Poética” a cumplicidade que o amor reserva aos arautos do seu tempo. A terra envolvendo os poemas em mantos de sonho. A palavra mantendo seu vínculo ancestral com o destino obscuro das coisas do mundo. Sobretudo, mudá-las. O pacto do poeta. Vindo de Almenara, Gonzaga Medeiros revela a luta anunciada na voz de mãos firmes e largo coração. De São Pedro do Jequitinhonha, José Machado transborda o rio da esperança no escaler do lirismo. Wesley Pioest observa Rubim, debruçado na atmosfera enevoada da memória. De Itaobim, Jansen Chaves e Tadeu Martins desembaraçam um portentoso cordel de aventuras na paisagem interiorana. E, ainda, Olívio Araújo – que se integra à região para denunciar a poesia desses cantores irredutíveis no árduo e generoso ofício de amar sua terra. Entende-se “Jequitinhonha – Antologia Poética” como se do livro emergisse o Vale, naufragado no escuro esquecimento da miséria. Entende-se o canto obstinado dos poetas de uma terra afligida em dores. Como se essas dores fossem um parto: o parto da poesia. Parto de um livro. Parto da resistência digna de homens que vivem a sonhar continuamente seu tempo. Quando, no dia 20 de novembro, às 17:00 horas, o sol procurar abrigo na linha do horizonte, lançaremos “Jequitinhonha – Antologia Poética”, à Av. do Contorno, 4910, Serra, BH. E lá, juntamente com cantadores do Vale do Jequitinhonha e alunos da oficina de Teatro de BH, resistiremos à noite e anunciaremos a manhã vindoura que certamente acordará nos olhos do nosso povo.

 

Este texto-convite é o “grito de alarme” dos poetas do Vale contra o sistema excludente da sociedade capitalista. Além disso, há uma descrição panorâmica das intenções e das particularidades desses poetas. Trata-se de esforço inicial para apresentar as propostas do grupo aos seus interlocutores. Nessa apresentação, o poeta propõe um pacto, pelo uso da palavra poética, de amor à terra natal e de resistência aos discursos dominantes, silenciadores das vozes do Vale do Jequitinhonha.

Esperamos todos vocês nesta live, dia 16, terça-feira, às 19 horas, no link que será divulgado pela Loope Editora.

Texto divulgação Loope Editora

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quarta-feira, 10 de março de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Ninguém é dono do corpo de ninguém

 

A grande Mulata III, de Carybé

 


Ao longo da história as mulheres que nem eram contadas na existência, isso a gente vê desde os tempos do antigo testamento, e que foram se empoderando a medida que foram construindo sua identidade. Miriam irmã de Moisés pega o tamborim e anima o povo no deserto, Rute rompe as barreiras para matar a fome da família e Ester usa de sua beleza e sedução para ajudar seu povo.

Para muitos homens, o empoderamento feminino é uma afronta a sua própria história de dominação e submissão pelas quais submeteram as mulheres. Uma onda grande de feminicidio vem aumentando nos registros de milhões de mulheres que cansadas de não serem percebidas como um ser humano capaz, se colocam como sujeitas da sua história, e abrem novos caminhos.

A grande maioria masculina se percebe em todas as estatísticas. Sempre abaixo, as mulheres erguem a voz para serem respeitadas e construírem seu caminhar.

A não tolerância dessas conquistas levam ao espacamento e morte de tantas mulheres que dão a vida para reescreverem suas histórias. Na política, no trabalho e tantos outros espaços são minorias. Salários menores, assédios e desrespeitos são os registros que seguem na história da construção da mulher sujeito da história.

A pergunta que não podemos deixar de fazer é:  quando o homem vai se conscientizar que não é dono da mulher?

E segue o baile com tantos que não admitem o fim dos relacionamentos opressores, de líderes que se acham no direito de humilhar, e em tantos casos que muitas vezes obrigam as mulheres a ficarem caladas por medo ou por necessidade. Avançamos pouco no quesito mulher como ser humano.

As mídias trazem o tempo todo casos de mulheres violentadas pelo fato de serem mulheres. A luta começada em New York, precisa ganhar força não somente no dia 08 de março, mas em todo momento que a mulher gritar por socorro. Não podemos colocar a mulher no lugar que queremos que elas estejam, é preciso respeito e entender que o lugar da mulher é onde ela quiser.

Muitas barreiras precisam ser quebradas e a sociedade precisa se resignificar a presença da mulher que é capaz, que é produtora de ideias e serviços como qualquer pessoa.

Chega de indicar o que vestir, o que usar e onde ir. A liberdade é a consciência de casa um que precisa entender que o corpo da mulher, a escolha da mulher e profissão da mulher é obra da sua própria escolha.

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segunda-feira, 8 de março de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - 10 anos do Encontro de Comunicadores do Vale do Jequitinhonha

 


O tempo passa muito rápido, e em um piscar de olhos 10 anos do Encontro de Comunicadores do Vale do Jequitinhonha, fico aqui me recordando go inicio dessa trajetória, eu estava na Diretoria executiva da FECAJE – Federação das Entidades Culturais e Artísticas do Vale do Jequitinhonha, e nós da diretoria queríamos algo diferenciado para juventude que frequentava o FESTIVALE, algo concreto além das oficinas de formação, e eu e Ângela Freire, Diretoria Executiva da FECAJE na época sempre que nos encontrávamos com Maria das Dores Nogueira Pimentel (Marizinha da UFMG) e com o professor Marcio Simeone (UFMG), sempre falávamos desta vontade, e eles sempre nos diziam que estavam a pensar em uma ação para juventude do vale enquanto Polo Jequitinhonha UFMG.

E foi em um encontro de cultura popular, 2011, na cidade de Jequitinhonha no qual sediaria a 29ª edição do FESTIVALE. Que reuniram-se eu, Jô Pinto (Vice - Diretor Executivo FECAJE), Ângela Freire (Diretora Executiva da FECAJE) José Augusto (Diretor Financeiro da FECAJE), Professor Marcio Simeone, (Coordenador do Polo Jequitinhonha UFMG) e Sâmia Bachelane, (estudante de comunicação na UFMG e que época coordenava a assessoria de comunicação no FESTIVALE).

 Nessa reunião, o professor Simeone, nos apresentou o “Encontro de Comunicadores” e a intenção do polo de integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha de organizar esse primeiro encontro com as pessoas que fizessem comunicação no mesmo, nasceu ali uma parceria com a FECAJE, que foi de suma importância para realização do primeiro Encontro de Comunicadores do Vale do Jequitinhonha, que aconteceu no Médio Jequitinhonha, na cidade de Itaobim, nos dias 27 e 28 de Janeiro de 2012.  

E assim descrevi como foi aquele primeiro Encontro no E-book Encontros: Comunicação, juventude e cidadania no Vale do Jequitinhonha” organizado pelo Professor Marcio Simeone e Laura Pimenta.

“Tudo novidade! Porém foi perceptível que o encontro era mesmo necessário; os fazedores de comunicação do Vale, reunidos, debatendo políticas de comunicação de direitos, com blogueiros, jornalistas, radialistas e pessoas que produziam comunicação popular. Foi um momento de suma importância, estar juntos pessoas que fazem comunicação individual, começar a pensar coletivamente nessa comunicação que é feita em nossa região.                          

Percebo que o encontro cresceu muito e outros desafios são lançados a respeito de fazer comunicação no Vale, onde um deles é fazer com que os jovens que hoje fazem essa comunicação possa também participar ativamente das discussões políticas e debates dentro do encontro. É preciso repensar nosso papel nesse “fazer comunicação” de fato. Papel esse que nos transforme politicamente em cidadãos mais críticos a respeito do que queremos para a sociedade em que vivemos e qual o papel dessa comunicação nesse processo.”.

Participei deste primeiro encontro levando minha experiência como radialista de uma rádio comunitária, a rádio cultura FM de Itinga e como blogueiro iniciante, tendo em vista que meu Blog pessoal “espaço livre”, tinha apenas um ano de existência.

Participei ativamente das seis primeiras edições, já contribuir na organização, fiz oficinas, fui palestrante em duas edições: 2014 na 3º Edição na cidade de Jequitinhonha e em 2017, 6º Edição na cidade de Cachoeira do Pajeú. Nas três ultimas edições não foi possível participar, mas na 9º edição em Araçuaí participei do concurso de fotografia e matéria jornalística, e este ano curtimos virtualmente.

Ver hoje pessoas no qual eu vi crescer nos movimentos culturais do Vale do Jequitinhonha, principalmente no FESTIVALE, conduzirem o encontro é muito gratificante, e saber que de alguma forma eu contribuir para que este encontro se tornasse uma realidade me deixa muito feliz como cidadão e comunicador social desse pedaço de chão.

Vida longa ao ECVJ!

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quinta-feira, 4 de março de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Faz mal assim não

 

Foto: Internet

A sabedoria popular é pra mim um encanto. É que eu tenho essa coisa de me encantar pelo simples. E desconheço o que seja mais simples do que esse tudo numa coisa só.

– Não, menino, isso faz mal.

Para qualquer isso, um mesmo mal.

Não duvido da sabedoria dos experientes. Imagino que já tenham sentido na pele o ‘mal’ que certas coisas podem fazer. Tenho muito respeito. Só não siga tudo à risca. Não é que eu duvide, é porque eu não tenho muita fé nas coisas. E a fé é o que dá sentido. Coisa de minha geração.

Não tenho muita fé nas coisas, então tendo a desconfiar que, por vezes, quando os pais estão com preguiça de explicar as consequências de qualquer algo que não querem que os filhos façam, resumem tudo num ‘faz mal’. Não duvido da sabedoria dos experientes, mas desconfio que muitas vezes o “faz mal” foi usado de forma ilícita. E o mais interessante é que nessa coisa de geração para geração, rapidinho uma informação, certa ou errada, toma proporções dramáticas. Especialmente quando caem nas mãos de pessoas que têm o drama correndo nas veias. De repente, o mal de deixar um sapato errado – por errado entenda-se: com as correias para baixo – é tão grande, que nós, pobres crianças, ao descobrirmos no fim da brincadeira a chinela virada, deitamos pra dormir esperando a morte.

Esperávamos a morte porque, ao certo, ninguém sabe que ‘mal’ é esse. Não vi, nos meus 27 anos de vida, alguém que discorresse ou mesmo perguntasse sobre o mal. Simplesmente — e eu amo essa palavra — o mal se faz, ou é feito, sabe-se lá. Dispensando explicações.

Quem explicasse o mal eu até vi uma vez, sim. Mas não deu certo. Inventaram que o mal do chinelo virado era a mãe morrer. Mas uns desavisados que esqueciam esse tal chinelo ao avesso, continuavam tendo mãe viva, e por um bom tempo. Concluímos que o mal não era perder a mãe. Pode não ser isso, mas anos depois, as crianças ainda temem o mal do chinelo às avessas, seja ele qual for.

Às avessas não pode a roupa também. Ontem meu irmão, jovem, pouco experiente na vida, recriminou-me por fazê-lo. Eu ri. Ele não. Olhei pra cara dele e era cara de quem censurava. Mesmo. Peguei a roupa e deixei como estava, mas no meu quarto, longe dele. Eu guardo a roupa ao avesso, que é para estragar menos. Mas saí de perto do meu irmão. Diga-se de passagem, não deixo vovó, nem minhas tias avós, se aproximarem do meu guarda-roupa tão provocador. É porque eu não sigo à risca os rituais de zelo pelo ‘não mal’, mas prefiro não cutucar com vara curta a fé de quem acredita.

A fé é algo incrível, do verbo difícil de crer, mesmo. Outro dia, em casa, sozinha, tomei três copos de manga com leite - cremoso que só. Poderia ter passado mal, inclusive pela gula do excesso. Não passei. Isso torna ainda mais confuso o fato de, certa feita, uma mordida de manga e um gole de leite ter me deixado tão indisposta, que precisei ser até benzida. O mal quase que me pegou. E olha que eu já estava perdendo a fé nas coisas, mas era a casa de vovó e ela sabe que manga com leite faz mal.

E se eu tomar na frente dela faz. Porque o que me impressiona na fé é que ela ultrapassa a barreira do próprio. Minha fé não vale só pra mim. Seria, até psicologicamente, compreensível que minha avó, acreditando nos malefícios da combinação leite-manga, ao ingeri-la, sofresse as consequências da transgressão. Mas o mal que ela acredita, pega em mim, que acredito tão pouco. É um mistério.

É mistério também pensar que mal é esse que vai de leite com fruta à higiene e fisiologia. Sim, porque também não se pode lavar a cabeça no período menstrual. O que pensar?

Pensando em todas as coisas que fazem mal, e estou falando só das que eu já ouvi, não consigo imaginar um mal que possa ser compatível com todos. Não encontro a intercessão. Mas que há de haver, isso há. Bem sabem os avós e os pequeninos, que são as pessoas que têm muito mais fé nas coisas.

Quando era pequenina, entre as coisas que me sufocavam antes de dormir, estava saber que males eram esses, e quantos eu havia atiçado durante o dia. Sim, porque, com certeza, entre as coisas que eu havia feito, embora não soubesse, muitas deviam causar mal. Ficava numa angústia terrível.

E era angustiante também não saber das graduações do mal. Claro é que o chinelo virado faz mal, mas uma vez fiquei com um aperto no peito porque encontrei meu chinelo na parede, de lado, na vertical, entre o ideal e o transviado. E aí, estava eu correndo perigo? Qual seria o limiar da retidão? A essa altura eu já sabia que o mal não era perder a mãe, mas... não era recomendável desafiar. Não notei mal algum. Não tendo sofrido nada muito além do corriqueiro, ensinei a todos os meus amigos que o chinelo só meio-virado não era tão perigoso.

De perigo das coisas, as crianças também não entendem, porque para elas a vida é urgente e cabe no espaço entre acordar e dormir. Só depois de uns dias, quando tomei coragem de contar, visto que julgava o perigo extinto, é que vovó me explicou que nem sempre o mal chega no mesmo dia. Se chinelo meio-virado faz mal no futuro, na minha turma ninguém ia saber.

Não sabemos ainda de outros graus de perigo. Lavar a cabeça menstruada faz mal, fato. Mas e se apenas molhar? E se só respingar? O mal está na água ou no shampoo? Tenho pra mim, que cada vó tem a resposta que lhe convêm. Mas é que hoje tenho pouca fé nas coisas.

Sem fé, eu corri, e venho correndo, grandes riscos como jogar sal em sapo, varrer casa na sexta-feira da paixão, beber leite com manga, ou abacaxi, ou limão, guardar ou vestir roupas às avessas, deixar chinelos virados, lavar a cabeça quando menstruada, tomar banho depois do almoço, dormir com os pés virados pra cabeceira da cama, abrir guarda-chuva dentro de casa.

Tenho em mim uma certa tendência à transgressão. No fundo não sei se perdi a fé, ou se acredito tanto que fico atiçando no intento de descobrir que mal é esse.

O mal não sei qual é, mas sei de uma coisa: passei a infância sendo cuidada para ele não me atingir. E gosto que, mesmo sendo uma menina crescida e boba, sem fé nas coisas, vovó ainda teima carinhosamente em me alertar das coisas perigosas da vida, como pular janela de casa de fora pra dentro. A singeleza da fé é mesmo maravilhosa.

E maravilhoso mesmo é ter sido tão amada. Que ninguém conte à vovó o que vou dizer, mas às vezes eu agradeço o mal potencial de nossas ações. É que ele leva ao cuidado. Eu juro, esse insondável faz mal, inda hoje me faz um bem e tanto.

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