terça-feira, 29 de junho de 2021

O ASSUNTO É? - Sabedoria popular

 

Foto: Jô Pinto


Para todas as situações da vida, minha mãe, Maria de Jesus, tinha um ditado. Ao longo de nossa convivência, fui me familiarizando com as expressões e compreendendo suas aplicações. “Quem quer pegar passarinho não fala ‘xô’!” Maria sempre repetia esse ditado para explicar a mudança radical do comportamento de alguns homens após o casamento, inicialmente agradáveis, gentis, mas após os enlaces se revelavam autoritários e violentos. Muitas vezes, usava tal expressão para alertar mulheres próximas a terem cuidado ao iniciarem suas relações afetivas. O ditado sintetizava sua observação sobre tais relações  e sobre a violência contra as mulheres, muito comum em nossa sociedade. Quando não lhe davam ouvidos dizia: “Quem não ouve conselho, ouve coitado!”

Sobre relações humanas, são inúmeros os ditos usados. “Diga-me com quem andas que te direi quem és”, expressão sempre mobilizada para justificar o cuidado e controle do nosso círculo de amizades. Para tal propósito falava também: “As más companhias corrompem os bons costumes” e ainda “uma batatinha podre põe todo o saco a perder”. Na minha infância e juventude, me rebelava contra esse controle cuidadoso; hoje, consigo perceber que era uma forma inteligente de educar num contexto social desfavorável, morávamos na periferia da cidade de Montes Claros, sem acesso a atividades culturais e de lazer, exceto as desenvolvidas na escola e igreja. Muitas de nossa época tiveram filhos na adolescência e não conseguiram prosseguir com os estudos, outros foram presos ou mortos.  Minha mãe acreditava, e com razão, que seu cuidado era imprescindível para que nosso futuro fosse promissor, dizia: “É de cedo que amanhece o dia”. Tentando impedir as diversas brigas entre meu irmão e eu, dizia: “quando um não quer, dois não brigam”.

 Quando tentava consertar algo e acabava quebrando ecoava: Ora, “fui benzer, pus quebranto”. “Santo de casa não faz milagre” era usado para expressar sua indignação quando ouvíamos mais as pessoas de fora do que a ela.

Naquele período, as desigualdades de gênero eram ainda maiores do que atualmente, as meninas eram muito vigiadas por todos, familiares e vizinhos. Acreditava-se que as mulheres eram consideradas responsáveis pela honra familiar, podendo manchá-la com comportamento inadequado. Quando minha mãe via algum vizinho falando mal da filha do outro, dizia: “ Quem tem telhado de vidro não joga pedra no telhado alheio” ou então “ A língua é o castigo do corpo”.

 Ainda sobre as pessoas que conversavam demais: “Quem fala demais dá bom dia cavalo” e “quem fala o que quer, ouve o que não quer”. Se ainda estivesse viva, sem dúvida Maria diria sobre a troca constante dos ministros da saúde e as opções desastrosas do governo durante a pandemia: “Panela em que muitos mexem, fica salgada ou sem sal”.

A maior parte do tempo, vivíamos com muito pouco, para explicar as várias formas de economia e esforços de sobrevivência, minha mãe usava vários ditados. Para justificar o racionamento dos alimentos e o não desperdício, dizia “Quem come e guarda põe mesa duas vezes”.  Explicando as pequenas economias mensais: “De grão em grão a galinha enche o papo”. Quando resistíamos em auxiliar na manutenção da casa bradava: “não sou mãe de pançudo para criar barrigudo”. Quando fazia faxina ou lavava roupas para fora e as patroas não pagavam, costumava dizer: É assim mesmo, “quem trabalha pra pobre, pede esmola pra dois”.

Esses ditados e a sabedoria que transmitem há muito chamam a minha atenção. São ditos curiosos, soam engraçados e por serem muito repetidos pelas pessoas mais velhas em dadas situações, acabam sendo apreendidos, bem como os seus sentidos, pelas gerações mais jovens. Hoje em dia, de quando em quando, em dada situação, um ditado adequado me ocorre. Como agora, com as notícias sobre o escândalo da covaxin, lembrei-me de que afirmavam terem acabado com a corrupção, e diante disso só digo: “Este (meu olho esquerdo) é irmão deste (meu olho direito)”.


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sexta-feira, 25 de junho de 2021

CONHECENDO O JEQUI - Comunidade Sopa

 

Fotos: Milene Gomes

Aqui to eu pra falar de um lugar que tem nome de comida,

Nasceu do garimpo

E tirar as pedras pra dançar

Fe, fatura, e amor é que aqui não pode faltar.

 

Da pontinha do alto Vale que eu vim aqui para conversar

Ela filha de Diamantina

E que tem encantar

Simbora nesse trem que nós vamos viajar.

 

Sopa, nasceu do garimpo por aqui o mês de maio é um dos maios esperados do ano, festejamos Santa Rita com muita fé e devoção, nos tempos do garimpo as coisas eram mais difíceis por aqui, mas um povo que é da terra, que sabe da terra e com ela sabe viver suas dores, sabe também fazer tinta da terra, nos maios as casas se vestiam de pó de tabatinga temperado com água e fubá para que as paredes cintilassem exuberância, o melhor enxoval era guardado para aquele mês, especialmente o dia 22. Os quintais cheiravam lenha acesa com canela compenetrando a essência da quitanda caseira, carros não paravam de chegar e com eles grande barracas e brinquedos e lá no alto da praça a sonoridade de fogos e sinos marcavam a festividade se aproximando, as ruas exalavam um cheiro diferente, misto de amizade com saudade, de café com devoção.

As estradas eram pingadas de areia de cores diversas, colchas na janelas, gentes e rezas, por aqui e acola e nos outros meses se alguém precisar!? Fulano tá de mal olhado? Vá logo se benzer! Três galinhos de arruda e eu tiro pra você. Em nome da trindade Santa uns gestos em cruz e a pessoa tá nova de novo.

 “Ai não to me sentindo bem” o que você sente?

Ta la a resposta na ponta da língua chá de boldo... Chá disso, chá daquilo, tantas folhas, coloca pra ferver e toma...

E o povo gosta de uma lua e uma fogueira, uma noite violeira, folia de reis  sem parar pelas altas madrugadas um grupo sai a cantar.

Isso é só um tiquim da Sopa, que saber um pouco mais??? Venha nos conhecer!

 

Observação do nome:

A narrativa comunitária diz existia dentro dos rios umas panelas arredondadas e dentro delas uma massa argilosa de coloração avermelhada “efervescente” que dava muito diamante ai as pessoas iam conversando e firmou o nome Sopa.

Foto: Gaspar Assis - 2015

Texto:


Milene de Cássia Gomes.

Poeta-professora-artista e amante da arqueologia.

Especialização em ensino de geografia 

Mestranda em ciências humanas

quinta-feira, 24 de junho de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - O melhor mês

 

Tirarei férias novamente e voltarei à minha cidade... Conversei com o patrão, combinamos para o mês de Junho. Junho é o melhor mês! Todo mundo vai estar lá... João disse que vai, Maria também confirmou, até os primos de São Paulo disseram que vão.

A saudade dos meus pais é enorme, tantos anos sem vê-los... Levarei a Aninha, a netinha que eles não conhecem. Aninha, tão sapeca, com certeza saiu puxando papai. O Carlos não me deixa quieto, lembra sempre da fogueira... Me pediu para comprar traques, bombinhas e estalos salão. Vou comprar a mais, assim, levarei para os sobrinhos.

Mamãe, já encomendou a goma, até reformou o forno, e falou que está ótimo para o preparo dos assados. A comida de mamãe é divina! Ao fechar os olhos, me lembro perfeitamente da família reunida na cozinha. Após as refeições noturnas, tirávamos os pratos da mesa, e alguém sempre corria para pegar o dominó. De barriga cheia, jogávamos até mais tarde... era uma festa à parte, uma alegria.

No mês de Junho, ainda tem os forrós tradicionais no bar do Seu Tito, durante os fins de semana a comunidade desce em peso. Debaixo das bandeirolas, naquele quintal de terra, arrastamos as chinelas até o dia raiar.

E foi no bar do Seu Tito que conheci a Lídia, essa mulher tão formosa que eu quis logo me casar.

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terça-feira, 22 de junho de 2021

O ASSUNTO É? “Uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto”[1]

 

Foto: Jô Pinto -  Café Comunitário encontro de Comunidades quilombolas em Virgem da Lapa 


Até meados do século passado, no interior de Minas Gerais, funcionava um sistema de trocas que fortalecia os laços comunitários e afetivos entre os vizinhos. Lá na fazenda de Almas, situada no Norte de Minas Gerais, onde passei a infância, funcionava assim, quando um vizinho abatia um porco, a carne e os “miúdos”[2] eram divididos entre as casas mais próximas. Cada vizinho recebia uma pequena parte. Lembro-me que a comunicação era na base do grito, isso antes do advento dos telefones móveis. Havia todo um sistema de gritos diferentes para comunicar diversos assuntos, assim as distâncias eram encurtadas, os sons ecoavam nos morros e vales, atravessavam as grotas e eram respondidos da mesma forma. Nós, crianças, éramos prontamente mobilizadas para atravessar as mangas[3] correndo pelas trilhas para buscar ou levar os “agrados”[4] nas casas dos vizinhos.

Tudo que se preparava de diferente em relação aos alimentos do dia a dia era dividido, mingau de milho, pamonha, requeijão de prato, assim como as frutas que não eram comuns a todos os pomares. Entretanto, havia uma regra: a vasilha que levava o “agrado” não podia de forma alguma voltar vazia, tinha que ser devolvida cheia. Em momento de necessidade, uma vizinha socorria a outra, a que era atendida passava então a dever obrigação àquela que a ajudou. Essa dívida simbólica só se compensava com outro favor de mesma importância, algumas não se pagava nunca, era uma dívida eterna que selava um compromisso de auxílio mútuo. Minha mãe dizia sempre: “Para fulana devo obrigação, jamais conseguirei pagar.” Já em relação a outras pessoas destacava: “Para sicrana, não devo nada, nem obrigação.”

Outro bem intercambiado era o trabalho, principalmente no período de preparação da terra para o plantio formavam-se mutirões, vários camaradas[5] se reuniam  e chegavam logo cedo na casa da pessoa para quem iriam trabalhar, esta ficava encarregada de oferecer as refeições, água fresca e café.  O trabalho não era pago em dinheiro. Esse trabalho coletivo era compartilhado entre os roceiros e pequenos sitiantes. 

Tais costumes, pouco a pouco, foram sendo aniquilados pelo “desenvolvimento” capitalista que separou os trabalhadores da terra e os expulsou para as cidades para se transformarem em pobres assalariados, destituídos do controle sobre os produtos de seu próprio trabalho, bem como das alianças comunitárias que os auxiliavam nos momentos de vulnerabilidade.

Nas cidades muitas pessoas oriundas do campo ainda persistiram na tentativa de manterem os costumes rurais, a criação de pequenos animais como galinhas e porcos, plantio de árvores frutíferas e o cultivo de pequenas hortas e roças nos quintais. Porém, pouco a pouco, foram sendo impedidos pelos códigos de postura municipais que proíbem a criação de determinados animais, bem como pela diminuição nos terrenos urbanos causada pela especulação imobiliária. Gradualmente, as novas gerações foram se acostumando com um modo de vida totalmente apartado da terra. Assim como foram afastadas da terra, também desaprenderam os antigos costumes comunitários que foram sendo substituídos pelo individualismo e isolamento característicos da contemporaneidade.

E você: Lembra de algum costume do passado que  hoje já não se observa mais?



[1] Ditado sempre repetido por minha mãe Maria de Jesus para se referir às ajudas mútuas comuns nas comunidades rurais e urbanas.

[2] Vísceras.

[3] Pastos.

[4] Presentes simples.

[5] Era como se designavam os trabalhadores rurais que trabalhavam para receber por dia.


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quinta-feira, 17 de junho de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Entrevista com Hérica Silva


Foto: arquivo pessoal


Você é uma escritora jovem e bastante já bastante consciente de sua literatura. Conte um pouco sobre a mulher Hérica que vem ganhando destaque na literatura regional.

-Primeiramente queria agradecer pelo espaço de fala. Eu sempre guardei a minha escrita, só para mim. Não costumava dividir com ninguém porque acreditava que as pessoas não iriam refletir os meus versos como esperava. Mas então, algumas pessoas passaram a entender, alguém sentiu o toque dos meus versos. Inspirações vieram, mãos amigas me levantaram e resolvi me abrir para o mundo. A Hérica poeta/escritora é a Hérica que conheço desde sempre, de sonhos, de momentos, de luta. A escrita foi um refúgio, um consolo, um meio que encontrei para me manter de pé em meio os desafios que surgiam em minha vida. Com seis anos de idade passei a ter uma rotina frequente em hospitais, com nove anos fui diagnosticada com Acalásia, doença rara, sem cura e com poucas opções de tratamento, foram exames, cirurgias, hospitais e mais hospitais. Eu vi a minha infância passar, as pessoas me olharem com outros olhos. E então fui me isolando, e nesta minha solidão encontrei a escrita como amiga. E com ela fui caminhando rumo a minha libertação. Acredito que a Hérica de hoje, é uma mulher de luta, guerreira, feita de poesia, que espera que seus versos possam tocar outras pessoas.

 

Dede quando você escreve, o que lhe inspira? Quais os seus gêneros de escrita? Você tem publicações?

-Que eu lembro, comecei a escrever com 8 anos, escrevia poesias. A partir dos 10 anos comecei a escrever teatros e com 18 anos comecei a experimentar a poesia slam e contos. Em 2020 decidi escrever algo maior, escrevi um livro de poesias, um livro de autoajuda, ambos não publicados. E escrevi um romance “Cartas para a lua” que publiquei no formato ebook pela Amazon. Escrevi este ano um outro livro de poesias com uma amiga, Marilete, mas também não publicamos. Minha primeira publicação impressa veio com uma coletânea poética, “Retalhos 2” com 3 poemas. E em julho terá o laçamento de uma outra antologia “Vozes da margem, vozes na margem: Narrativa fora de centro” na qual participei com um conto. De maneira geral, escrevo poesias, contos, romances, cronicas, um pouco de tudo, além da escrita acadêmica.

Tudo me inspira, principalmente as coisas simples, os momentos marcantes, que vão desde uma gota de chuva até um futuro distante. O tempo, eu amo falar do tempo, o tempo que se passou, o presente e o tempo que ainda desconheço. Faço da poesia o meu respirar. O contato com a natureza traz leveza a meus versos, gosto muito de escrever para a lua, minha paixão cotidiana.

 

Qual a importância da literatura na sua vida?

-A literatura é tudo. Sabe, ler outras pessoas nos fortalece, não só em termos de gramática, mas sim em pensamento, em atitudes. A literatura é a nossa maior libertação.

 

Hérica, dizem que a leitura é fundamental para a escrita. Você concorda? Você é uma boa leitora? Quais as suas leituras favoritas? Quem são suas referências literárias?

-Sim, claro. Tem épocas que chego a ler três livros por semana, a leitura é sim uma salvação. Eu gosto de ler poesias, romances, desenvolvimento pessoal, autoajuda… na verdade eu gosto de tudo e um pouco mais. Tenho buscado referências na Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo, Samanta Silvany, Aline Bei e no Pedro Salomão, e claro em Herena Barcelos.

 

Hoje você cursa a graduação de Engenharia Agrícola e Ambiental no IFNMG/Campus Araçuaí. A vivência no meio acadêmico traz alguma influência na sua literatura?

-Muito mesmo. Primeiro que a engenharia me trouxe muitos amigos que me fizeram enxergar a grandeza da minha escrita e que eu pude arrastar comigo para a poesia. Em 2018, quando iniciei o curso de engenharia passei também a conversar com a psicóloga da instituição, ao ouvir uma das minhas poesias ela começou a querer saber mais sobre mim e minha escrita, e ela mim deu forças, me orientou, me fez ver o sentido dos meus passos, Cris se tornou uma grande amiga, e com ela percebo a dimensão que meus versos podem alcançar. Participei de muitos eventos acadêmicos e com oportunidades de falar sobre a escrita feminina.

 

Você é uma das coordenadoras do Leia Mulheres Araçuaí. Como é o trabalho desse coletivo? Qual a importância dele para a literatura no Vale do Jequitinhonha?

-O Leia Mulheres Araçuaí é um coletivo de leitura, onde todo mês fazemos a leitura de um livro escrito por uma mulher e nos reunimos para fazer uma discussão sobre este livro. Estou na coordenação do Leia junto com minhas amigas Herena, Thaisa e Amanda. Um coletivo que trata exclusivamente sobre a literatura escrita por mulheres é muito importante, para o mundo todo, como forma de valorização desta literatura e quebra do patriarcado, além do mais podemos mostrar a força que nosso Vale tem para lutar. Somos um povo forte, temos uma literatura forte, conhecer e apreciar a leitura de mulheres nos leva a quebrar muitos paradigmas. Eu amo o Leia.

 

Você manifesta relação com a poesia marginal. Como ela se desenvolve no Vale? Qual a sua trajetória nesse campo?

- Comecei a mim interessar pela poesia marginal em 2017, mas ela só ganhou força em mim em 2018. Ao sair do ensino médio e ingressar em uma faculdade federal passei por muitas transformações. Comecei a assistir alguns slams no youtube e então comecei a perceber que aquelas vozes também era a minha voz. Eu sinto todos as injustiças contra o meu povo preto, contra as minhas manas e a poesia da margem é uma forma de gritar, gritar alto que não desistimos, ainda estamos de pé. Antes de opiniões e pensamentos, a poesia marginal é resistência, luta, a gente consegue fugir do real estando no real. A poesia marginal se desenvolve no Vale através das Batalhas de rimas, slams, sarau e também com os vários sons de rap que as manas e manos vem soltando aí, não temos muita visibilidade, mas estamos criando o nosso espaço de resistência, de fala.

 

Quais os seus sonhos, projetos e próximos passos na literatura?

Eu tenho muitos sonhos e muitas paixões. Tenho meu lado com a arte e meu lado com a engenharia, caminho com ambos e me fortaleço em ambos. Meu maior sonho é tocar só mais um com meus versos, ter um livro publicado em edição impressa e receber um autográfo da Conceição Evaristo. Tenho muitos projetos na engenharia, eu sei que quero ajudar muita gente. Em relação a Literatura pretendo deixar as coisas fluirem, mas caminhando com garra e coragem, quero escrever alguns livros e reunir algumas poesias, além disso quero levar meus amigos poetas comigo, tem muito brilho que não pode ficar oculto. Comecei uma pagina coletiva no instagram onde estou trazendo poetas/escritores para mostrarem nossa arte.

 

Alguma coisa a mais que gostaria de nos contar?

Eu agradeço muito pelo convite, uma honra está falando de mim para vocês, me sinto chic já (rsrs). É sempre bom falar de escrita, em especial de poesia. Queria encerrar com um verso meu, que tem muito efeito em minha vida, “Enquanto os meus passos forem meus, os meus versos ecoaram a minha voz”! Abraços...

 

Por fim, diga-nos onde lhe encontrar, redes sociais, e-mail, obras à venda.

Facebook: Hérica Silva

Instagram: @herica_s.o e @poetas.ao.acaso

Email:hericacardosovieira@gmail.com

telefone: 33 999618938

 

 

Agenda

 

Tomando Conhecimento – Sexta-feira, 18 de junho, Herena Barcelos convida Thaisa Martins.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Tempos de esperança

Imagem internet


O mundo mergulhado numa crise humana muito profunda. O ser acostumado com grandes aglomerações e de uma hiper dependência, tornou solitário e isolado.

A mente começou a trabalhar sem poder expor. Muitas vidas ceifadas e uma angústia toma conta da humanidade. Temos todos os tipos de reações. Uns, sem se importar com tantos morrendo sozinhos e às vezes desamparados, continuam como se nada estivesse acontecendo.

Outros, na linha de frente corre contra o tempo e contra autoridades incompetentes para tentar salvar algumas vidas. Que tempo duro esse quando tudo parece perdido? Vidas tombadas, famílias arruinadas e um mundo desesperado correndo atrás do prejuízo. Gente, morta demais

E continua tudo como se fosse normal. E a angústia só aumenta, estamos perdendo pessoas, sem a chance de um último abraço, sem a chance de chorar a dor e sem a chance de ação diante do caos que foi instaurado.

E a tecnologia, tão falada e tão exaltada contorna as incompetências e falta de humanização de tantas autoridades que deviam ter feito opção pelas vidas. Estamos acompanhando com pesar a dor de famílias depositando na terra vidas ceifadas pelo descaso e pela ignorância.

A esperança está em nossa capacidade de amar mais do que o permitido e nos lançarmos urgente para uma ajuda mútua. Tem gente passando fome, acreditando que a pior pandemia bem a  covid 19, mas a fome que bate á porta de tantos pelo mundo.

A esperança está na força da voz do ser humano que precisa gritar com toda a força do peito. CHEGA DE PERDER VIDAS.

Precisamos buscar formas de alertar quem tem o poder pra dar alívio e ajudar atravessar este mar tenebroso no qual nos submetemos e parece não ter porto. Esperança e lutar pela vacina para todos e retomar a vida humana.

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terça-feira, 15 de junho de 2021

O ASSUNTO É? - Carolina Maria de Jesus, os livros e eu

 

Carolina Maria de Jesus-Foto: Reprodução - Diário de Pernambuco


O livro é a melhor invenção da humanidade, dizia Carolina Maria de Jesus. Faço minhas as palavras da escritora. Há décadas, descobri o potencial transformador desse importante invento humano. Um dos primeiros contatos que tive com a literatura foi na Fazenda Catarina, na década de 1990. Comecei lendo a bíblia, esse importante conjunto de livros que traz muitas histórias de guerras, romances, disputas familiares, trajetórias de heróis longe de sua terra e contatos sobrenaturais. A bíblia que eu lia era enorme e trazia ilustrações coloridas, o que aumentava ainda mais meu encanto diante de tantas narrativas fantásticas sobre povos diversos em terras distantes. Pertencia à minha tia Zezé, professora rural aposentada que incentivava meu interesse pela leitura. Posteriormente, deu-me livros didáticos antigos e panfletos da Teologia da libertação, visto que tanto ela como meu tio Preto eram católicos engajados nos movimentos das comunidades eclesiais de base (CEBs) da Igreja Católica. No telhado da casinha deles, tremulavam duas bandeiras, a do Cruzeiro e a vermelha, que se destacava como uma esperança, na paisagem ressequida.

 Quando abrimos um livro, estamos acessando conhecimentos produzidos por gerações inteiras que nos precederam no tempo. Para escrever um livro, uma pessoa precisa ler muitos outros, trazendo todo esse conhecimento do que leu somado às próprias vivências de seu tempo. Um ser humano que vive bastante chega a cento e poucos anos, o que não é muito, se comparado à idade da humanidade. A escrita e leitura de livros é uma forma de enganar a morte e interligar sociedades humanas no tempo. “É um diálogo entre vivos do presente com vivos do passado” expressão usada por Lucien Febvre para definir a história, mas que se faz adequada também para pensar a potencialidade dos livros.

Foi por meio deles que se deu meu encontro com Carolina Maria de Jesus, escritora mineira, que desde cedo encontrou nos livros um refúgio e a fonte do conhecimento sobre o mundo. O contato com os livros possibilitou a compreensão de sua realidade e foi através da publicação de um livro que Carolina superou a miséria e exclusão que vivenciou desde a infância.

O conteúdo de suas obras, em especial “Quarto de despejo: Diário de uma favelada”, ainda ecoa na sociedade brasileira atual. Os gritos de fome e exclusão, infelizmente, ainda são ouvidos no presente. Ao longo de sua obra, Carolina denuncia o racismo, o sexismo e a desigualdade social que estruturavam a sociedade brasileira na primeira metade do século XX e ainda estão fortemente presentes na contemporaneidade. Em Diário de Bitita, Carolina descortina uma sociedade recém saída da escravidão, em que imperavam o racismo e a desigualdade de acesso à terra. Através do olhar da menina Bitita sobre a pequena cidade de Sacramento-MG, acessamos as inquietações e descobertas próprias da infância que se alternam com sentimentos de inconformidade diante da violência contra as mulheres, da violência racial e da desigualdade fundiária.

Para quem deseja aprofundar o conhecimento sobre a história da república brasileira a partir da literatura, numa perspectiva outsider within[1], recomendo a leitura dos livros de Carolina Maria de Jesus.



[1] A definição “estrangeira de dentro” é utilizada por Patrícia Hill Collins e bell Hooks para destacar o potencial crítico da produção das intelectuais negras.  


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segunda-feira, 14 de junho de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - Em tempo de Festas Juninas

         A Festa Junina é uma celebração brasileira e portuguesa de origem européia, historicamente relacionada com a festa pagã do solstício de verão que era celebrada no dia 24 de junho segundo o calendário juliano (pré-gregoriano) e cristianizada na Idade Média como "festa de São João".

         Em Portugal, estas festas são conhecidas pelo nome de Santos Populares e correspondem a diferentes feriados municipais: Santo António, em Lisboa, São Pedro no Seixal, São João, no Porto, em Braga e em Almada.  Recebeu o nome de junina (chamada inicialmente de joanina, de São João) porque veio de países europeus cristianizados. A festa foi trazida para o Brasil pelos portugueses e logo foi incorporada aos costumes das populações indígenas e afro-brasileiras.

         Festas de São João são ainda celebradas em alguns países europeus católicos, protestantes e ortodoxos (França, Portugal, Irlanda, os países nórdicos e do Leste europeu). As fogueiras de São João e a celebração de casamentos reais ou encenados (como o casamento fictício no baile da quadrilha nordestina) são costumes ainda hoje praticados em festas de São João europeias.

      A festa de São João brasileira é típica da Região Nordeste. Por ser uma região árida, o Nordeste agradece anualmente a São João, mas também a São Pedro, pelas chuvas caídas nas lavouras. Em razão da época propícia para a colheita do milho, as comidas feitas de milho integram a tradição, como a canjica e a pamonha.

          O local onde ocorre a maioria dos festejos juninos é chamado de arraial, um largo espaço ao ar livre cercado ou não e onde barracas são erguidas unicamente para o evento, ou um galpão já existente com dependências já construídas e adaptadas para a festa, geralmente o arraial é decorado com bandeirinhas de papel colorido, balões e palha de coqueiro. Nos arraiás acontecem as quadrilhas, os forrós, leilões, bingos e os casamentos caipiras

         As festas Juninas são de suma importância em todo Vale do Jequitinhonha. Em Itinga As festas juninas acontecem em quase todas as Comunidades, no qual festejam seus santos juninos, destacando a festa de Santo Antonio Padroeiro da cidade que acontece no dia 13 de junho, esta tradição começou em 1842 quando aqui foi erguida a igreja que leva o nome de Santo Antônio, tem a trezena, levantamento da bandeira, procissão, quermesse com barraquinhas de comidas típicas, quadrilhas e os tradicionais leilões, tem também a festa de São João na comunidade quilombola de de Jenipapo Pinto, São Pedro no distrito de Taquaral e na associação comunitária AMAI e a de Senhora Santana na comunidade de Piauí Dantas e o tradicional terço de Quelé, também rezado no dia de Senhora Santana.

        Faz parte dos festejos de Itinga roubar a bandeira, a pessoa que rouba tem que entregar no outro ano, no dia da entrega tem um “duelo” que consiste em quem vai queimar o outro soltando mais fogos, tudo acontece ao som de violas, sanfonas e entoando cânticos e modas tradicionais.

Viva Santo Antônio, São Pedro e São João!

Fonte: Livro " Memórias de Itinga" de Jô Pinto

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sexta-feira, 11 de junho de 2021

CONHECENDO O JEQUI - Os Peixes que Viraram Cobra

Imagem Internet

Vale do Jequitinhonha registra grandes enchentes na década de 1920, causadas pelas cheias do Rio Jequitinhonha, em seguida na década de 1930 a região é assolada por períodos prolongados de  estiagem é a fome assola toda região.

E foi durante esse grande período de seca, que a fome atingiu também o município de Itinga. E a história aqui narrada aconteceu justamente nesse período e se tornou uma das lendas do município.

Existia naquela época uma grande lagoa nos arredores da cidade e essa possuía uma variedade e quantidade de peixes, e para matar a fome muitos se dirigiam à lagoa para pescar, mas a pesca descontrolada causou a diminuição dos peixes.

O proprietário das terras onde havia a lagoa, não gostando das pescarias em suas terras juntou–se com as autoridades e decretou a proibição da pesca, no entanto alguns mais afoitos e famintos se arriscavam a pescar mesmo sabendo que corria o risco de serem atuados em flagrante e presos.

Não se sabe como, mas os peixes da lagoa começaram a virar cobras pretas, lisas e desdentadas, tendo quase um metro de comprimento, não picavam, mas enroscavam nas redes e nos anzóis dos pescadores.

Todos ficaram apavorados com aquele acontecimento, por isso eles acreditavam que os peixes viraram cobras como castigo à proibição da pescaria que ajudava a saciar a fome de muitos.

A lagoa existe até hoje e nunca mais se viu nem um peixe em suas águas, o volume das águas diminuiu com o passar do tempo e segundo relatos da época foi preciso enterrar centenas de peixes–cobras. Além disso, como relatavam os mais velhos, varias desgraças pairou sobre a família dona das terras que outrora proibiu que se saciasse a fome dos filhos de Deus.

As lendas ajudam a contar a história de um povo, algumas criadas pelo imaginário popular para explicar alguns acontecimentos e em outros momentos essas são histórias verídicas que se tornam lendas com o passar do tempo. Se os peixes realmente viraram cobras devido a ganância do fazendeiro nunca saberemos ao certo.

”Entrou na perna do pinto, saiu na perna do pato, diz o rei que você conte mais quatro”.

Texto extraído do livro: " Memórias de Itinga" de Jô Pinto

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quinta-feira, 10 de junho de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Amor


Imagem da Internet


Em comemoração ao dia dos namorados que se aproxima, ainda que eu não tenha um, vamos falar de amor...

 

DESASSOSSEGO


Herena Barcelos

 

Por sorte, não acredito em nada disso. Mas danou-se, porque parece que, de tudo, de tudo, também não duvido.
É que existe fé demais pelo mundo. E eu erro muito. Posso estar na fé errada de que não há nada estranho em minha volta. E desconfio, mesmo, dessa tenência toda que dispenso para manter o ceticismo sobre.
Ele veio me tirar o sono. Onde já se viu dizer essas coisas?
A culpa foi parte minha, que disse que não acreditava em mais nada. Nem em fantasma, nem em gente. Por causa da vida. Merda que dei de parecer mais experiência do que sabia.
Merda é palavrão? 
Primeiro ele falou bonito. E o coração gosta de acreditar no que afaga e, depois que acredita, dá o carinho e, com o carinho, custa para descrer. Eu já gostava dele, quando disparou.
— Eu gosto de você.
— Acredito que goste um pouco mesmo.
— Gosto pra caralho. Desculpa.
— Pediu desculpe por gostar?
— Pelo palavrão.
— Não tem problema. Eu falo palavrão também.
— É cisma só.
— Cisma de quê?
— Quando pequeno, eu tinha medo de falar palavrão.
— Não é difícil gostar de você — sorri.
— Por quê?
— Já era bonitinho desde menino.
— Nada. Eu era moleque.
— Uai. Tinha medo de surra?
— Minha mãe batia de chinelo. Doía mesmo. Mas nem era isso, não.
— Era o que, então, menino?
— É que diziam que a cada palavrão que a gente fala, o capeta dá um passo na nossa direção.
— Bobagem...
O coração batia na boca. Mais uma noite sem dormir. Eu penava a angústia de não aceitar a inquietação que não conseguia esquecer. O rosto amanheceu enfeitado de olheiras.
— Oi! Você está bem?
— Não dormi direito.
— De novo?
— É.
— Chato. Eu também dormi mal.
— Teve medo do capeta?
— Devia ter, né? Não sei medir quantos palavrões eu já disse. Nem sei ao certo quantos passos a gente tem de distância do capeta no começo da vida.
Rimos.
— Devia ter, então não tem?
— Nada.  O capeta fede enxofre. Vou saber se estiver por perto.
— Você já viu o capeta?
— Não — riu.
— Como sabe que fede?
— Todo mundo sabe. Mas não tenho medo. Eu sou filho da paz.
— Você parece sereno, mesmo. Mas você disse que dormiu pouco, que nem eu.
— Acho que você me agita.
— Não pode. Já te disse que sou fria.
— Mas você também não dormiu.
— É medo do capeta.
Rimos.
— E antes?
— Sei lá. Tem dias em que eu fico pensando muito.
— Vamos fingir que é isso mesmo, bobinha.
Era assustador. Ele tinha fé em mim. Alguma coisa desenrijou, porque eu experimentei até uma pontinha de esperança. Pasmei a afeição àquele broto de crença. 
Eis tudo.
Por segurança, era melhor não falar mais palavrão.

 

 

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https://www.youtube.com/watch?v=kyJW3akB9as

 

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