quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - A poesia do abraço nos versou!

 


Ainda nos primeiros minutos de encontro um pequeno beija-flor atravessou o salão e proferiu sua opinião: pairou exatamente diante do púlpito, diante de nossos olhos e diante de nossas esperas. Sua presença foi uma palestra. Iluminou.

O VIII Encontro de Poetas e Escritores do Vale foi uma teimosia. Mas não teve estranhamento. A teima já é uma natureza de quem escolhe acreditar no humano. E é essa a única maneira de saber viver de quem se embrenha pelos caminhos da cultura.

A tristeza das consequências das fortes chuvas, o receio do possível cancelamento e a preocupação com quem enfrentava a estrava foram angústias de nós todos. Presentes ou não. Mas o momento pedia o encontro. Estivemos juntos em nome de quem não pôde, de quem se arriscou e de quem ainda nem foi descoberto. O movimento mantém sua proposta de representar uma literatura irrepresentável. E a poesia só fez o comum, de cumprir sua sina de reflexão e resistência.

A musicalidade, o movimento, o corpo, a poética, a mística, o encontro entre o reconhecido e o chegado, entre a história impregnada e a nascente, entre o abraço e a espera.

O movimento deu mais um passo. Um novo, que traz outras veredas de ajuntamento. A criação da associação é uma demanda organizacional. Mas o compromisso principal assumido em público foi exatamente o de não nos encerrarmos nas sistematizações.

Jequitinhonha bem nos acolheu, nas palavras, nas presenças, na hospitalidade, na estrutura, na organização, na beleza da cidade. Estivemos com a FECAJE, em construções que despertam para o ir além da instituição. A discussão da literatura de autoria feminina representa o compromisso social de um movimento essencialmente de cultura, e a presença da representatividade de gêneros tantos a necessidade de que as discussões permaneçam. Mais uma conquista de entrelinhas: a da autoafirmação.

Um salve aos poetas do Vale. Construímos em presença e energia, mais um belo momento de literatura Valina. De cada um que me lembro, vejo representação neste singelo relato. Apenas uma saudação, em nome de cada pessoa que fez parte de mais um pedacinho dessa história. 

Obrigada, beija-flor!


Herena Barcelos

16 de dezembro de 2021






Fotos Alessandro Xavier - Jornal Informativo

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O ASSUNTO É? - Feira de sábado

 

Feira Mercado de Montes Claros - Foto: Internet

Acordava assustada com minha mãe chamando e nos sacudindo para despertar, pulávamos do jirau e ela nos dava café ralo com alguma coisa para comer. As roupas já estavam arrumadas, vestíamos rapidamente e saíamos para o frio da madrugada. No dia anterior, depois do pôr do sol já havíamos levado as mercadorias para o ponto de ônibus, ela vendia bananas no mercado aos sábados. Os sacos muito pesados de bananas eram levados por ela, na cabeça, não sei como aguentava, tão magra e pequena. Meu irmão e eu, ainda pequenos também levávamos um volume pesado na cabeça, cada um.  Lembro-me de que sentia as juntas de minha coluna se torcerem, achava que não ia aguentar, mas me esforçava, para fazer jus à força de mãe. No sábado de madrugada, rumávamos para o ponto, agora sem nada de pesado nas mãos. O frio era cortante, o céu apinhado de estrelas ainda, de vez em quando via uma correr, mãe mostrava uma formação constelar e dizia serem as três Marias, outra o caminho de São Miguel, acolá o cruzeiro do Sul. O céu lindo, ia clareando aos poucos conforme andávamos rápido, tropeçando nas pernas e nos buracos da estrada, sentindo o sono nos olhos, o frio na pele e animação pela viagem na jardineira de Renato. Quando chegávamos ao ponto, já haviam vários feirantes acocorados em torno de uma fogueira, enrolados em cobertas, com as mercadorias em torno. Ficavam contando histórias sobre as vacas e as roças. Mãe ria e baixinho comentava conosco: “olha, quem conta um conto aumenta um ponto”. A jardineira chegava e ela colocava os volumes pesados dentro, não recebia ajuda de ninguém, hoje sei a razão, as mulheres pretas não costumam ser ajudadas, são consideradas mais fortes. No mercado ocupava uma banca com um primo de meu falecido pai. Há cada sábado a metade reservada às nossas mercadorias ia reduzindo, o primo ia ocupando mais espaço e nos empurrando para o canto. Assim, com o tempo, minha mãe acabou por desistir da banca, pois sentiu que não era bem-vinda ali.  Apesar das injustiças que presenciei na infância, tenho boas lembranças daquele tempo. Tive tantos aprendizados com minha mãe, de tanto ver, ouvir e vivenciar as dificuldades dela, testemunhar sua força, garra, coragem e amor por nós, aprendi a amar também, a cuidar de quem está por perto. Lembro que jamais a vi doente durante toda a minha infância, tanto que já adolescente, ela teve uma crise de dor na coluna e eu a acompanhei no hospital. Fiquei muito preocupada ao ouvir seus  gemidos altos de dor, pois ela jamais se permitiu deitar, mesmo doente, estava sempre de pé, demonstrando força. Representava para mim alguém indestrutível, uma fortaleza. Quando, décadas depois ela partiu, senti como se tivesse perdido uma parte significativa de mim mesma.

Por




sábado, 4 de dezembro de 2021

EscreVIVENDO convida- Fábia Prates

 

 


E vamos continuar com a nossa série EscreVIVENDO convida, dentro da nossa coluna de sábado. Depois de trazermos a Julia Gomes e a Hérica Silva, chegou a vez de trazer uma jequitinhonhese para a nossa prosa. Espia Só:

 

Sou de Jequitinhonha, estudei lá até o antigo segundo grau - hoje ensino médio - e fui com minha família para Belo Horizonte continuar os estudos. Estudei jornalismo e comecei minha história profissional trabalhando como repórter. Trabalhei em jornais mineiros - Diário do Comércio e O Tempo - e nacionais - Folha de S. Paulo e Valor Econômico. Depois comecei a trabalhar com comunicação corporativa, fazendo assessoria de imprensa para empresas e instituições. Em todo esse período o desejo de escrever esteve em mim. Na verdade, eu sempre escrevi pequenos contos e histórias que considerava infantis. Neste ano, resolvi submeter esses escritos infantis a uma editora e decidimos publicar. Assim, "A viagem de Nini" saiu de uma gaveta virtual de anos e ganhou vida e me traz muita alegria. Tem sido uma experiência muito interessante as trocas. Recentemente estive em Jequitinhonha e visitei algumas escolas para apresentar o livro. Fui muito bem recebida nas escolas e fiquei muito emocionada com as respostas das crianças, que ficaram muito interessadas na história, quiseram ler, outros disseram querer escrever.

O livro nasceu de uma visita que fiz à comunidade quilombola Kalunga, em Goiás. Quando fui lá em 2003, eles viviam de forma muito simples e isolada. A personagem nasce dessa vivência e das minhas leituras do que vivi ali. Pelo livro, eu conto a forma de Nini viver e a forma como ela descobre sobre o seu passado e a história do lugar onde ela mora. ”

 


Que legal, não é?

Vamos conhecer “A viagem de Nini”?





Por


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Degustação com Gustavo Anjos


 


Sou loucamente apaixonado pela literatura. E por meio dos meus poemas tento expressar a confusão mental que carrego em mim. Gosto de escrever porque é algo mágico, é liberta( dor). Neste universo imaginário sigo descobrindo coisas que existe dentro de mim, e que de fato precisa ser expostas. As palavras são como alimentos estragados , quando alimentadas se você não vomita- las pode lhe fazer um grande mal.

Nascido em 03/06/2002 , reside no distrito de Ibitira-Ba município de Rio do Antônio .


 

O POEMA QUE NÃO PARI

Gustavo Anjos

 

Ah, o poema que não pari!

Tantas e tantas vezes me impediu de sorrir .

O poema está aqui dentro,

E não quer sair.

A vagina da minha mente imaginária não o quer parir.

Ele está atravessado entre as pernas da minha mente,

Desesperado,

Atordoado.

O poema continua aqui,

Preso,

Ileso,

Indefeso.

O parto é complicado,

É fato,

Está consumado .

Eis o grande dilema do poema,

O problema é que foram tantos meses de gestação para ele insistir em não sair .

Mas eu não vou desistir ,

Já que demorou tanto tempo para descobrir.

Putz! O poema saiu...

Nasceu,

Nasceu...

O lápis transcreveu em uma folha de papel o sentimento daquela alma que já morreu,

Purifica no silêncio árduo o renascimento desta alma que foi marcada por tanto sofrimento.


Por



MEMÓRIA CULTURAL - UM CASO DE AMOR NA ROTA BAHIA-MINAS

  Imagem: Internet   Seu maquinista! Diga lá, O que é que tem nesse lugar (...) Todo mundo é passageiro, Bota fogo seu foguista ...