quinta-feira, 29 de setembro de 2022

DIÁRIO DE LEITURA - Conhecendo a poeta Makciléa Gomes





Na matéria de hoje iremos conhecer uma jovem e talentosa poeta Makciléa Gomes de Matos, natural da cidade Caraí MG, residente no córrego Catitu e atualmente está estudante na Escola Estadual de Caraí. Sua história como poeta teve inicio ainda na escola Olegário Maciel, onde a mesma cursou o ensino fundamental I.

Tudo começou no projeto cultural, Vivart 2019 – valorização das artes- em uma competição de poesias entre as escolas municipais. Ela e seu primo, Nicolas, representaram à escola (EMOM), e ganharam o primeiro lugar. Depois desse evento, segundo a autora, não parou de produzir poesias. 

Tem uma gratidão ao seu primo e sua ex- professora de Português, Nafárley, e Gessica Batista, sua amiga e diretora da EMOM, pessoas que lapidaram seu talento já existente, dando total apoio.

 Ela fala da sua paixão em encantar pessoas com suas obras poéticas, gosta de coisas simples, e usa de sua arte para proporcionar alegria, expressar sentimentos, sensações, arrancar sorrisos, fazendo com que as pessoas se emocionam. “A poesia traz leveza par a alma”.

A poesia a seguir levará o apreciador a pensar como ele está vivendo, alertando-o que vida é breve, passa muito rápido, que viver é bom, não basta apenas existir.

Devemos aproveitar a vida com alegria, traçar desejos, aplicar ideias (...), sempre! 





Tempo não volta


Juventude passa

Esse fogo apaga!

As rugas são inevitáveis.

A velhice é certa.


E quando passar?

E quando as brasas se

Apagarem?

Eu te pergunto...

Você viveu? Ou apenas existiu?


Makciléa Gomes






segunda-feira, 26 de setembro de 2022

MEMÓRIA CULTURAL - A origem dos baús e malas antigas

 




A notícia que se têm que os  antigos egípcios teriam  criado os primeiros baús, usando madeira e juta, por volta de 3.000 a.C. usado originalmente para guardar roupas, armas, objetos de valor, por isso há tantas histórias envolvendo o baú de tesouros.Confeccionado em madeira nobre (carvalho, tajuba ou jatobá); possuía forma retangular com  tamanho variado, mas os maiores eram os preferidos para as longas viagens e longas distâncias.

Na Idade Média e no início da Renascença na Europa, baús eram frequentemente usados ​​como bancos, enquanto os baús mais altos eram usados ​​como mesas para escrita e outras utilidades.

Foi no século XVIII  que teria surgido  a  expressão “golpe do baú”, significa casar por dinheiro, porque se guardava os bens como jóias e dinheiro em baús. Então    os baús eram usados para levar o enxoval das moças com  suas jóias para a vida de casada, pois o casamento muitas vezes  negociado através dos vultuosos dotes. 

Até final do século XIX, era facilmente encontrado nas casas da cidade ou das roças, pois tinha o objetivo de guardar roupas e alimentos tais como arroz, fubá, milho feijão, que eram acondicionados para serem usados ao longo do ano, até a próxima colheita. Era uma das peças fundamentais das grandes viagens dos senhores de fazendas e nobres da corte, para armazenamento de roupas joias, nas carruagens ou charretes. O carpinteiro quem confeccionava, usando o machados para cortar e entalhar a madeira,  e com um enxó,  que se fazia o  refinamento das formas do artefato.

A junção das peças era feita com grandes parafusos, dobradiças de ferro e algumas extremidades eram unidas com cera de abelha, que tinha o objetivo de impermeabilizar a peça; além de garantir maior durabilidade.

Atualmente há várias formas para a preparação do objeto, pode ser pintado; envernizado ou colorido em variadas técnicas; além de  confeccionado em diversos materiais seja em vime; mdf; couro; madeira; plástico, nas mais diversas cores para infinitas finalidades.

O baú desde a antiguidade, possui infinitas utilidades; além de ser um belo objeto de decoração, história e lembranças, que se adapta em diferentes ambientes.

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sexta-feira, 23 de setembro de 2022

GIRO PELO VALE - Salto da Divisa e o Vale de Luto

 


É com muito pesar que comunicamos a passagem espiritual do Agente Cultural da cidade de Salto da Divisa, nosso amigo Mazinho. Um jovem apaixonado pela cultura popular do Vale e da sua querida Salto da Divisa. 

Deixa seu legado e contribuição na defesa e preservação de nossa cultura popular.

Vá em paz meu amigo, você cumpriu sua missão com muita dignidade e amor.

Nossos sentimentos a família e ao povo de Salto da Divisa 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

DIÁRIO DE LEITURA - Degustação com Mauro Sílvio

 


A dica da semana no contexto literário é do escritor Mauro. Ele que é graduado em História pela UFOP, mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública pela UFJF, pertence ao quadro da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, onde atua como inspetor escolar pela SRE de Teófilo Otoni.  Sua origem está vinculada à cidade de Alvinópolis, região central de Minas Gerais, terra do grande poeta setecentista Frei de Santa Rita Durão e do escritor e crítico literário José Afrânio Moreira Duarte.

 Conheceu o Vale do Jequitinhonha no ano de 2002, quando decidiu, definitivamente, residir na região, motivado pelo encantamento que a cultura e a gente do Vale causaram nele. Atualmente reside no município de Caraí, sendo cidadão honorário dessa cidade. Amante do artesanato em cerâmica coleciona peças da artesã Neomísia, Margarida, José Maria Pereira, entre outros.

 Nas palavras do escritor, "Minimamente", seu terceiro livro, publicado em 2019, traz referências a questões sociais, levando o leitor a refletir sobre as injustiças e desigualdades que predominam na sociedade. Seus textos tocam em temas sensíveis como a fome, a miséria e o abandono, num evidente esforço de utilizar a arte como um instrumento de mobilização e consciência social. Percebe-se, em parte da obra do autor, a valorização de textos curtos e impactantes, influência dos haicais japoneses, gênero literário que tanto aprecia. Algumas de suas poesias foram musicadas e concorreram em festivais tradicionais pelo interior de Minas nos anos 90. 



Com o poeta a lua copulava.

Estava nua, seu sangue escorria.

O poeta tentava expressar o amor sentido,

a palavra entranhada resistia...

A hora do êxtase a folha branca aguardava....

nascia, finalmente, a primeira poesia.

                   Mauro Sílvio


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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

CARTAS A UMA NEGRA - o diálogo epistolar em que as almas se cruzam.

 



“Pois é, Carolina, as misérias dos pobres do mundo inteiro se parecem como irmãs. Todos leem você por curiosidade, já eu jamais a lerei; tudo o que você escreveu, eu conheço, e tanto é assim que as outras pessoas, por mais indiferentes que sejam, ficam impressionadas com as suas palavras. [...]” Ega, p. 05.


O livro “Cartas a uma negra – narrativa antilhana” foi escrito por Françoise Ega, em forma de cartas, de uma maneira peculiar, podemos dizer, epistolar, Ega escreveu para Carolina Maria de Jesus cartas, cartas essas que nunca foram lidas pela autora brasileira. Natural da ilha da Martinica, nas Antilhas, nasceu em 1920, falecendo em 1977 precocemente aos 55 anos. Durante a sua vida, Françoise morou em vários países africanos juntamente com o marido, e mais tarde imigra para Marselha - França em busca de dias melhores, e se vê fadada ao trabalho de empregada doméstica, assim como muitas jovens mulheres antilhanas.

Como a autora diz no começo do livro, ela conheceu a história de Carolina através das publicações da revista Paris Match, como Ega dizia “atualmente, ela fala muito dos negros” p. 06.  E ao longo do livro Françoise se direciona claramente à sua “amiga Carolina”, pois como ela mesma diz, ela se identifica com as pessoas mais marginalizadas, sobretudo as pessoas negras que precisam correr atrás do pão de cada dia, “Na favela, você nunca foi capaz de pensar em nada além do pão de cada dia. Penso que é isso que me aproxima de você, Carolina Maria de Jesus.” p. 07.

Tive a honra de mediar essa grande obra durante um encontro online do clube Leia Mulheres Araçuaí e a história de Ega, assim como a de Carolina, são histórias marcantes, histórias que carregam o peso do racismo, escancarado, tratamentos desumanos, machismo, xenofobia etc. Permitam-me deixar alguns pontos interessantes sobre essa excepcional obra:

O primeiro ponto é sobre a relação social de Mam’Ega, (nome abreviado da autora) que tinha com o marido, ao mesmo tempo que ela tinha um “status social” naquela época em ter um marido que auxiliasse, ele nunca acreditou em seu potencial como escritora, e sempre inferiorizava a sua escrita.

O segundo ponto, que para mim foi o mais crucial e importante seria: “como seria se Carolina tivesse a oportunidade de ler as cartas de Mam’Ega direcionadas a ela”. Ega diz que se sente descansada ao conversar com Carolina, quando nos expressamos com quem nos entende é outra dimensão, é como se estivéssemos falando para nós mesmas, sem amarras, preceitos e muita afinidade. “Nós não falamos o mesmo idioma, mas o do nosso coração é o mesmo, e faz bem se encontrar em algum lugar, naquele lugar onde nossas almas se cruzam.”. p. 21

O terceiro ponto é como o racismo nos coloca em uma condição de inferiorização e muitas das vezes numa posição animalesca de ser tratada como um animal, assim como Mam’Ega foi tratada pelo esposo de sua “patroa”. Como comentários assim nos coloca como pessoas irracionais, Carolina vivia na favela do Canindé entre os porcos e Ega também era tratada nessa condição. O racismo só muda de endereço, mas continua o mesmo e atacando as mesmas pessoas.

O quarto e último ponto, (o restante deixo para a curiosidade do leitor), é sobre o mito da “negra raivosa”, Françoise tinha que se irritar e falar alto, pois quando ela se vê em situações em que o óbvio deve permanecer, era taxada como louca. Demonstrando que quando os agressores querem nos diminuir em determinadas situações, simplesmente não dão a devida importância para o fato, tal caso causa uma série de revoltas a nós que nos sentimos injustiçadas.

Esse livro é um grande documento histórico, uma escrita de denúncia, Françoise e Carolina viviam em lugares diferentes, mas existia um diálogo de almas, elas se reconheciam dentro desse contexto social de exclusão, seja no Brasil ou na França. As duas eram mulheres, negras, pobres, trabalhadoras, e sobretudo, sonhadoras, pois mesmo vivendo em situações que as impediam de escrever e datar acontecimentos tão importantes, elas acreditavam no poder que a escrita tem. Agradeço a Mam’Ega e Carolina, por hoje poder ter a oportunidade de conhecerem as suas obras e anunciá-las nesses canais informativos.

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terça-feira, 20 de setembro de 2022

O ASSUNTO É? - A noite

 

Quadro Noite Estrelada de Van Gogh

A noite por muito tempo foi temida pelos humanos. Era um dos muitos medos durante a Idade Média. Esse período do dia era visto como domínio do mal, espaço aberto para os sabás, encantamentos e pesadelos (pesadillas), acreditava-se que um demônio pisava sobre o peito da pessoa adormecida, sufocando-a. Antes da energia elétrica, só quem era muito corajoso ou tinha parte com o mundo espiritual podia atravessar as trevas da noite, caminhar pela escuridão. Dentre estes, os benandantis estudados pelo historiador Carl Guimsburg, que saiam montados em suas vassouras para combater os malandantis. Caso não fossem vitoriosos, a colheira estaria perdida. Na  infância,  eu também muito temi a escuridão noturna, vivendo numa região rural, sem energia elétrica até o advento do programa Luz para todos, morria de medo de fantasmas noturnos com suas correntes e penas que voltavam das profundezas para nos assombrar.  Além dos fantasmas, existiam os lobisomens, para se tornar lobisomem era necessário ter nascido depois de sete irmãs mulheres, daí, sempre na lua cheia o homem se transformava numa criatura que reunia características de homem e lobo. Era necessária uma bala de prata para enfrentar um lobisomem. As selvagens mulas sem cabeça, agressivas com seus cascos que arrancavam faíscas do chão, punidas com essa transformação por terem se arriscado a amar um padre. Além disso, não se podia varrer a casa ou fazer qualquer trabalho quando escurecia, quem ousasse era visitado por uma mulher muito magra com um feixe de lenha na cabeça que vinha arrastar a pessoa direto para as chamas do fogo eterno, sem direito a um ai. Por falar nisso, vou parar por aqui, já está de noite.

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sábado, 17 de setembro de 2022

EscreVIVENDO – APRESENTA: “PROJETO NOSSAS AUTORAS – 2ª EDIÇÃO”

 


Na coluna de hoje, vamos comentar sobre a participação das escritoras, presentes na 2ª edição do “Projeto Nossas Autoras” do “Leia Mulheres Araçuaí”, o clube que componho a coordenação, e do qual já comentei várias vezes, nesta coluna.

Nestes três anos de história, o clube cresceu muito. Podemos dizer que compomos a cena literária do Vale do Jequitinhonha, estando presente junto ao Movimento dos/as poetas e escritores/as desta nossa região. Desde 2020, sobretudo, com a entrada das escritoras Herena Barcelos e Hérica Silva, temos refletido sobre o potencial de escrita do nosso clube, bem como temos aberto para conhecer cada vez mais as escritoras do Vale do Jequitinhonha. Em 2021, fizemos o primeiro “ Projeto Nossas Autoras”, que já foi comentado nesta coluna (https://espacolivre-jopinto.blogspot.com/2021/08/escrevivencia-projeto-nossas-autoras-do.html?m=0). E agora, temos o prazer de apresentar os resultados da nossa segunda edição.

Desta vez, as próprias autoras se inscreveram, através de um formulário que lançamos na bio do nosso Instagram, e que também foi divulgado na rádio Jequi FM. Em nosso formulário, havia espaço para colocarem a sua cidade, identidade étnico-racial, mini biografia, foto, verso ou frase, e a imagem do livro, caso tivessem. De abril a julho deste ano, quinzenalmente, lançamos um post de divulgação da autora, em nosso instagram “@leiamulheresaracuai”. Assim, maiores detalhes vocês podem conferir em nossa página.

Vou expor o balanço geral:

Das 12 autoras participantes, 5 são da cidade de Araçuaí, e as outras 7, cada uma, de um município diferente do Vale do Jequitinhonha, sendo eles:  Virgem da Lapa, Medina, Itaobim, Itinga, Minas Novas, Almenara e Diamantina. Do total, 5 são mulheres negras, 2 são brancas, 1 é indígena, 1 é amarela, e 2 não informaram. Acho importante destacar que quase a metade é de escritoras negras. Também é necessário comentar que a maioria é de fora da nossa cidade, o que revela que o nosso clube vem tendo projeção no Vale. Além disso, do total, 3 escritoras vêm publicando em blogs e redes sociais, 4 já publicaram livros e 4 são pesquisadoras.

As autoras que participaram foram: a Bruna, dona da maravilhosa página "@surtosliterariosdabruh"; a Dannara, poetisa, atriz e também capoeirista; a Deyse, filósofa e produtora cultural; a Gizele, compositora e cantora; a Isadora, formada em Humanidades, Letras-Espanhol e em teatro; a Lauanda que é pesquisadora popular e artista; a Maragareth que ama escrever sobre a natureza, as crianças, o tempo, a vida e sobre o amor; a Tânia que tem uma grande trajetória como educadora e pesquisadora, e também é bordadeira; a Ytxaha, mestranda, pesquisadora e dos povos Pankararu e Pataxó; a Aureliane, pesquisadora e professora, e a Ana Lúcia, que é bacharelanda em Direito e poetisa marginal.

Nesta edição, também pude me incluir no projeto, trazendo os meus escritos e os meus processos de escrevivências. Foi muito bacana, rendendo lindos frutos para o clube. No ano que vem, faremos a 3ª edição. Você, escritora do nosso Vale, sinta à vontade para participar conosco.

AGENDA











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quinta-feira, 15 de setembro de 2022

DIÁRIO DE LEITURA - Livro Fé e Poesia de Liliane Ferreira

 


A degustação literária hoje fica por conta da autora Liliane Ferreira Cunha, com a obra- Fé e Poesia. Ela que é filha de Araçuaí, teve seu primeiro contato com mundo literário ainda criança, seus primeiros poemas foi escritos no ano de 2015.

 Fé e poesia não é apenas um livro, são sentimentos e as diversas impressões que a autora tem do mundo, descrito em versos. Há veracidade nas palavras em cada verso, nos encoraja a acreditar em nossa capacidade como humano, buscando uma evolução espiritual através da fé. Afirmando ainda, que a fé é sua fortaleza, amigos e família são sua base e extensão, que escrever é sentir e externar os sentimentos através das palavras.


Quem quiser adquirir o livro, deve entrar em contato com a mesma pelo Wattsapp (33) 99865605, alguns exemplares estão à venda no salão da tia Nélia, localizado no bairro Esplanada. Na loja -Flor e Cultura- localizada em frente à mercearia do seu Lidirico.

                                                                                                               Boa leitura!

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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

MEMÓRIAS DE ITINGA – um pouco da história da terra das Águas Brancas

 



“Mas eu sabia que aquelas poucas linhas não poderiam resumir a história de minha cidade, decidi que queria conhecer um pouco mais dessa história e consequentemente a minha. Comecei a vasculhar livros, conversar com pessoas mais velhas, hábito que sempre tive desde criança [...]”

Jô Pinto – Memórias de Itinga – p. 15


O livro “Memórias de Itinga”, fruto de uma longa pesquisa do historiador José Claudionor dos Santos Pinto, popularmente conhecido por Jô Pinto, nos conta em suas 228 páginas sobre a história desse município “cortado” pelo Rio Jequitinhonha. 

Uma realização do Centro Cultural Escrava Feliciana e patrocinado pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, Fundo Estadual de Cultura, e Governo de Minas Gerais, essa obra é dividida em quatro capítulos muito bem estruturados, nos traz memórias de um arraial que aos poucos foi se fundando as margens do Jequitinhonha. “O nome Itinga é uma palavra de origem indígena, e significa “Água Branca ou Rio Branco”. (p. 21) 

No primeiro capítulo o historiador descreve sobre aspectos gerais do município, como localização, etimologia, símbolos municipais, aspectos geográficos, econômicos etc. Nesse capítulo vê-se a importância de conhecer como o município se encontra atualmente, para entender sobre toda a história que perpassa na região onde Itinga floresceu. Uma cartada e tanto, precisamos conhecer o presente para compreender o passado.

No segundo capítulo Jô discorre sobre todo o histórico da cidade de Itinga, desde os seus primeiros habitantes, até os colonizadores (sabemos que muitos municípios do Vale do Jequitinhonha foram duramente colonizados, e nessas regiões já habitavam ex-escravizados fugidos sobretudo do Arraial do Tejuco, atual Diamantina, e indígenas que já povoavam a região antes dos colonizadores, como é o caso dos indígenas Botocudos). O escritor também disserta sobre os passos da emancipação do município e um histórico sobre os distritos e povoados que compuseram/compõe Itinga atualmente.

No capítulo três podemos ter conhecimento de todos os prefeitos nomeados e eleitos, e é de suma importância esse assunto ser tratado devido as contribuições que cada liderança teve para o crescimento do município e suas adjacências.

Não menos importante os capítulos quatro e cinco discorrem sobre a cultura, esta dividida em tópicos como: religiões, religiosidade popular, lendas, cultura popular e o epílogo, que trata sobre “nossa gente, homenagens, galeria de fotos, etc”.

O livro em si é muitíssimo importante e necessário para a propagação da informação a respeito do município de Itinga, pois além de ser de caráter informativo, ele nos leva a uma imersão na cultura de um povo. Os últimos capítulos são essenciais para conhecermos um pouco de como o município se criou e como as suas raízes, de manifestações religiosas e cultura popular faz com que as dificuldades da vida do povo itinguense sejam menos dolorosas.

Quero aqui, agradecer imensamente ao meu amigo Jô, pelas contribuições, essa obra é essencial para a historiografia de nossa região como um todo, sei que não foi fácil conseguir todas essas informações e compilá-las em um livro, mas tenho absoluta certeza que o amor ao lugar de origem fez com que essa pesquisa fosse mais prazerosa, e afirmo: vida longa ao município de Itinga e ao seu povo!


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terça-feira, 13 de setembro de 2022

O ASSUNTO É? - Tempo bom

Tela meu lugar, guache sobre tela de Jo Pinto


 Sob a aragem fria das manhãs de neblina, nem se podia ver os campos, os pés molhados de orvalho, sob a barra da saia, caminhavam rumo ao dia . Aos poucos a paisagem, planícies vestidas de florinhas azuis, se inundava de sol. Ao longe, campos arados, os carreiros e suas juntas de bois. Na pequena casa de adobe, o fogão de lenha fazia as vezes do sol, aquecendo e alimentando os corpos. O quintal com suas velhas árvores, goiabeiras, abacateiros e mangueiras. As jabuticabeiras, quando floridas, envolviam tudo de perfume adocicado. Logo os troncos enverdeciam, para depois enegrecer de esferas reluzentes que eram recolhidas em balaios de taquara para serem levadas à feira. A vida era simples, como se deve ser, o dia   escorria lentamente, sem grandes acontecimentos. Para os adultos o trabalho começava antes do sol, iam para a roça ainda escuro, levavam uma marmita de tutu de feijão e a garrafa de café. Roçar, arar, carpir e semear a terra. Depois limpar a roça, meses de trabalho até a colheita de feijão,  milho,  mandioca,  abóbora,  andu. A colheita também era árdua, cada roça exigia uma forma de fazer. O feijão era arrancado pelo pé, amontoado, transportado no carro de bois até o terreiro das casas, onde era espalhado a secar sobre lonas, depois de seco, era batido com o cambão, limpo, ensacado e guardado, parte para ser vendido, outra para consumo da casa. A mandioca só podia ser colhida quando apareciam rachaduras em torno da planta, eram as raízes potentes que após arrancadas eram lavadas, cortadas, uma parte era descascada e processada na casa de farinha, para renascer em farinha, goma, polvilho, beiju, biscoitos. A feitura da farinha era um evento que reunia toda a comunidade. Ali contavam histórias e   cantavam enquanto limpavam as raízes, descascavam, cortavam,  depois lavavam a massa da mandioca para fazer seus variados produtos.  Por fim,  todo mundo comia os beijus amanteigados com café forte e doce. Na época da chuva o cheiro de terra molhada, os relâmpagos, o som do rio cheio, as galinhas escondidas debaixo do telhado tremendo de frio. Quando o sol saia um pouco, o joão-de-barro começava uma casa nova nos galhos do Tamboril  . Os animais também tinham seus modos próprios de vida, suas rotinas de sobrevivência e reprodução, num tempo pontual e sem calendários. Nós também não nos atínhamos a calendários, em nossa infância rural de banhos em barrocas de água barrenta, correndo nos campos azuis, inventando brincadeiras de ser feliz, num lugar e tempo que só existem na memória. 


segunda-feira, 12 de setembro de 2022

MEMÓRIA CULTURAL - A lenda da Jurema



A jurema sagrada, aparece como uma religião indígena, mas também influenciada por elementos dos cultos cristãos e afro-brasileiros. Conheçam a lenda da Jurema:


Jurema foi uma linda índia, filha valente de Tupinambá. Adotada pelo mundo, foi encontrada aos pés do arbusto da planta encantada que lhe deu o nome, e cresceu forte, bonita, com a formosura da noite e a firmeza do dia.Corajosa, a cabocla tornou-se a primeira guerreira mulher da tribo, pois a sua força e agilidade no manejo das armas e na ciência da mata, se tornara uma lenda por todo o continente; onde contadores de estórias, aos pés da fogueira, falavam da índia da pena dourada, que era a própria Mãe Divina encarnada.Nada causava medo na cabocla, até o dia em que ela encontrou o seu maior adversário: o amor. 

Jurema se apaixonou por um caboclo chamado Huascar, de uma tribo inimiga chamada Filhos do Sol, que fora preso numa batalha.

Os dias se passaram e o amor aumentava, pois o pior de amar não é amar sozinho e sim ser amado em retorno, pois exige do amado, uma ação em prol do amor. Pelo olhar, o caboclo Huascar dizia:

“Oh doce Cabocla/meu doce de cambucá/minha flor cheirosa de alfazema/tem pena deste caboclo/o que eu te peço é tão pouco/minha linda cabocla Jurema/tem pena desse sofredor
que o mal destino condenou/me liberta dessa algema/me tira desse dilema/minha linda cabocla Jurema”.

Jurema que aprendera a resistir ao canto do boto, ao veneno da cascavel e da armadeira, já resistira bravamente a centenas de emboscadas e que sentia o cheiro à distância de ciladas, não conseguiu resistir ao amor que fluía do seu peito por aquele guerreiro.

Observando o amado preso, ela viu nos olhos dele, as mil vidas que eles passaram juntos, viu seus filhos, o amor que os unia além da carne e percebeu que não foi por acaso, que ele fora o único caboclo capturado vivo, e decidiu libertá-lo, mesmo sabendo que seria expulsa da sua tribo.

Na fuga, seu próprio povo a perseguiu, e em meio a chuva de flechas voando na direção do caboclo fugitivo, foi Jurema que caiu, salvando o seu amado e recebendo a ponta da morte que era pra ele, no seu próprio peito.

Conta a lenda, que o Huascar voltou a Terra do Sol, fundou um império nas montanhas andinas e mandou erguer um templo chamado Matchu Pitchu em homenagem a Jurema, onde, só as mulheres da tribo habitariam e lá aprenderiam a ser guerreiras como a mulher que salvara a sua vida.

No lugar onde a Jurema caiu, nasceu uma planta robusta e muito resistente que dá flor o ano inteiro, cujo formato exótico e o tom amarelo-alaranjado intenso chamou atenção de todas as tribos, pois tudo dessa planta poderia ser utilizado, desde as sementes, até as flores e o caule; e porque as flores dessa planta estão sempre viradas para o astro maior (talvez buscando ver o amado na Terra do Sol). A planta, por isso, ficou conhecida como girassol. Em outras versões, no lugar da morte de Jurema nasce uma planta chamada Jurema-preta ou Calumbi (mimosa hostilis), da qual é possível preparar um chá popularmente conhecido como vinho da Jurema, preparado à base de raspas de raízes da mimosa hostilis, sendo essa bebida muito utilizada em cerimônias religiosas indígenas e africanas.

Jurema faz parte de um grupo de espíritos nativos brasileiros que auxiliam em trabalhos de cura por meio de ervas, banhos, símbolos, danças, defumações e trabalhos mágicos de pajelança que utilizam a energia da natureza.Adorada no politeísmo piaga, religião pagã piauiense, sua força é tão grande nos cultos, que Jurema chega a ser considerada uma divindade, por sua forma de atuação e liderança diante dos espíritos indígenas.

A figura de Jurema representa a própria resistência da cultura indígena, que sobreviveu até os dias atuais sendo transmitida de geração a geração. É uma das donas espirituais do Brasil, mostrando-se como uma entidade de grande força que, ao fazer-se presente no culto, atrai também a presença de outros caboclos e caboclas de energia semelhante. Também é conhecida como “Guerreira das Sete Matas”. Essa poderosa índia sempre ajuda seus devotos nos momentos de dificuldade, quando é chamada para purificar e iluminar os caminhos dos que lhe nutrem amizade e devoção.

 

FONTE:

NOLÊTO, Rafael. Mitologia Piaga: Deuses, Encantados, Espíritos e outros Seres Lendários do Piauí. Teresina: Clube de Autores, 2019.

A LENDA DA CABOCLA JUREMA. Sete Luzes Universalismo e Espiritualidade. Disponível em: <https://www.lojaseteluzes.com.br/single-post/2017/04/21/A-Lenda-da-Cabocla-Jurema&gt;. Acesso em 05 de Setembro de 2022.

 




quinta-feira, 8 de setembro de 2022

DIÁRIO DE LEITURA - Luis Santiago lança novo livro



Hoje a leitura fica por conta do livro O tempo do Sertão- Longa duração sertaneja- do autor Luiz Santiago; ele que é da cidade de Pedra azul, escritor, redator e também pesquisador. O trecho a seguir, ele fala um pouco sobre obra do 1º volume da coletânea.

No livro "O tempo do sertão - Longa duração sertaneja", eu reuni cinco ensaios com recortes temporais longos, de um século ou mais.

O primeiro ensaio trata das raízes culturais do vale do Jequitinhonha e serviu de prefácio em um livro de fotos de Marcelo Oliveira ("Estórias de luz", 2009).

O segundo ensaio, sobre a colonização do médio e baixo Jequitinhonha, foi publicado numa coletânea organizada pelo Polo Jequitinhonha da UFMG.

O terceiro e o quarto textos saíram em números da série "Sertão", editada pela Unimontes, e tratam do vale do Gorutuba e dos arraiais do Rosário na região mineradora.

O quinto ensaio, sobre a festa do Rosário, é um capítulo do livro q escrevi sobre Minas Novas.

Além desses cinco ensaios, "O tempo do sertão" traz também um poema, que tinha sido publicado na coletânea "Um certo Rosário", da Editora Sempre-viva, de Milho Verde, e um ensaio metodológico intitulado "A longa duração de Fernand Braudel".

A tiragem de "O tempo do sertão" é de apenas 25 exemplares numerados e assinados, que foram impressos na Câmara Municipal de Pedra Azul e encadernados por mim.

O livro faz parte da coletânea "Sertão norte-mineiro - Ensaios", com mais três volumes previstos para os próximos meses.


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quarta-feira, 7 de setembro de 2022

OPINIÃ DO BLOG - GERAES: a realidade do Jequitinhonha como denúncia

 



“Na primeira noite eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim e não dizemos nada. Na segunda noite já não se escondem, pisam nas flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E não dissemos nada, já não podemos dizer nada.”

(Eduardo Alves Costa – Jornal Geraes – Ano I – Número 0 – Vale do Jequitinhonha – março de 1978)


Lançado em 2011, o livro Geraes: a realidade do Jequitinhonha é a reprodução dos fascículos do periódico Jornal Geraes publicados entre os anos de 1978 e 1985. Esse noticiário que pairava pelo vale tem e terá uma enorme importância para a formação cultural de nossa região, sobretudo pelas escritas denunciantes da época.

Organizado por Aurélio Silby, George Abner e Tadeu Martins, foi lançado pela NEOPLAN e conta com 224 páginas. Ao folear cada página do livro, podemos nos deparar como que se sucedia toda e qualquer forma de opressão aos povos do Jequitinhonha, sobretudo os mais marginalizados e que viviam em situações muito difíceis por conta da falta de políticas que amenizassem as “dores” do povo sofrido naquela época. O jornal 

“Geraes, foi um sonho coletivo que se fez realidade no mês de março de 1978. No Vale, os políticos corruptos e os remanescentes dos coronéis representavam o poder, enquanto no Brasil, a ditadura militar semeava o medo na sociedade, através dos sucessivos governos repressivos”. (Martins et al, 2011, pág. 05)

Como Cláudio Bento menciona, esse jornal ia “na contramão do poder” além disso, ao passar cada página podemos ler as revelações sobre os mais diversos tipos de acontecimentos contrários à população do Jequitinhonha, “a luta para sobreviver no campo”, “a questão da terra”, “a situação do ensino”, “a vida política do Vale”, dentre outras notícias, que em forma de entrevistas, charges, ‘o leitor escreve’, editoriais, questões agrárias, e outras, se faziam verdades insurgentes na nossa região.

 O Geraes era um jornal muito amplo e diverso e me faz embarcar em uma longa viagem no tempo, pois quando esse jornal era publicado, eu não era nascida ainda. Agradeço fielmente a quem tem um fio de ligação com a construção desse grande registro histórico de nossa região, pelas denúncias em uma época em que se pagava com a vida por expressar suas visões contrárias ao sistema. 

Através do jornal Geraes que foi originado o Festivale (Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha), pois em 1979, o jornal promoveu um encontro de compositores e devido ao sucesso, essa atração foi levada para diferentes cidades. “O sucesso foi tamanho que o jornal resolveu realizar um "Festival de Música Popular do Vale", simplificado para FESTIVALE, que aconteceu, em Itaobim, nos dias 25, 26 e 27 de julho de 1980”. (PINTO, 2018).

 Viva a escrita resistente do Vale do Jequitinhonha!


Referências:

Geraes: a realidade do Jequitinhonha / Organizado por Aurélio Silby, George Abner e Tadeu Martins – Belo Horizonte: NEOPLAN, 2011. 224 p.: il; 29 cm.

PINTO, Jô. FESTIVALE: Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha. fecaje.org.br, 2018. Disponível em: <https://www.fecaje.org.br/festivale>. Acesso em: 06 set. 2022.

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