quarta-feira, 30 de abril de 2025

OPINIÃO DO BLOG - A importância das Irmandades do Rosário dos Homens Pretos na preservação das tradições africanas no Brasil

Festa do Rosário de Berilo - Foto: Leandro Sales

As Irmandades do Rosário dos Homens Pretos desempenharam um papel fundamental na preservação das tradições culturais dos povos africanos no Brasil. Surgidas durante o período colonial, essas organizações religiosas reuniam escravizados e libertos em torno da devoção a Nossa Senhora do Rosário, criando espaços de resistência e fortalecimento da identidade afro-brasileira.

A escravidão impôs barreiras à manifestação cultural africana, mas as irmandades serviram como refúgio, permitindo a continuidade de práticas tradicionais. Por meio de festas, danças, músicas e celebrações religiosas, os membros das irmandades mantinham vivas suas heranças culturais. Além disso, as irmandades promoviam a solidariedade entre os integrantes, organizando auxílios para os necessitados e garantindo dignidade em momentos como o funeral dos membros.

Outra dimensão essencial das irmandades foi sua influência na construção de territórios de resistência, como as congadas e os quilombos rurais e urbanos. Mesmo com as restrições impostas pelos colonizadores, esses grupos fortaleciam laços comunitários e transmitiam conhecimentos ancestrais de geração em geração.

O legado das Irmandades do Rosário dos Homens Pretos pode ser observado até hoje em diversas expressões culturais, partilha do alimento, a tradição dos tambores, dos cantos, batuques, danças, tudo isso dentro de um sincretismo de fé e tradição. Esses movimentos continuam a reafirmar a riqueza da cultura africana e sua profunda conexão com a identidade nacional e a ancestralidade africana.

Portanto, as irmandades foram muito mais que associações religiosas; foram pilares da resistência e da afirmação das tradições africanas, contribuindo para a construção de uma cultura plural e para o reconhecimento da ancestralidade negra no Brasil. Seu impacto histórico demonstra que, mesmo em contextos de opressão, os povos africanos conseguiram manter vivos seus costumes, sua fé e sua força coletiva.


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terça-feira, 29 de abril de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - O Matuto, os políticos e o paraquedas

 

Imagem gerada por IA

Sendo eu um matuto aqui da roça, o povo lá da cidade costuma me achar meio bocó. Mas a verdade é que de bocó eu não tenho é nada, vejo cada coisa e só espio como tem gente metida a esperta nesse mundão de meu Deus, é tanta coisa absurda que eu podia virar até um belo de um contador de causo. E é causo de tudo quanto é assunto, de lobisomem que assusta o povo na quaresma até uma enchente que quase leva o povo da cidade tudo embora.

Mas um dos causo que mais me aperreia as ideia é de uns tal de político. Cidade pequena sabe como é, né! Tudo aqui vira assunto pra mais de mês. Tem uns que disse que compra voto do povo até com saco de cimento, vê se pode! Já teve até briga de ir parar na justiça por causa de cesta básica. Uns vigiando os outros pra não deixar entregar as cesta na boca da eleição. Só penso uma coisa: mais que diacho de voto barato desse povo! Pois, se um desse chegasse aqui na minha tapera, eu não fechava negócio nem por umas duas dúzia de boi gordo pra encher minhas vista quando eu olhasse da janela.

Me contaram uma vez que já teve até vereador que visitou as escola e prometeu pros menino uma quadra e um bocado de colete pra eles dividir os time tudo direitinho. Disse que ele até parou as professora na estrada e prometeu uma bola pros menino. Elas falam que até ontem essas bola não chegou lá. Só não sei se é verdade, eu mesmo não aprovo nada. Sabe como é, né, esse povo comenta demais.

E essas história num é de hoje, antigamente dava até morte, hoje não, mas o que dá de fofoca, vixe! O povo passa quase quatro ano tudo quietinho, mas quando chega uma época eles endoida tudo, é umas música falando pra pular pro lado de cá, vai gritando os números dos candidatos até ficar tudo rouco, os candidatos mesmo disse que ninguém nunca viu fazendo isso, e depois da eleição eles fala até que os outro caiu no fumo. Não! Fumo pra nós aqui da roça é só pro paiero mesmo!

Voltando pros político que some por anos, tinha um que o povo chamava de "orelha de freira", ninguém via na cidade, disse que só bebia cerveja, eu não sei, não vi e não aprovo nada. Esses aí o povo já tinha b(V)otado lá dentro, mas não ganhou de novo mais não, será por quê? Depois começou a aparecer uns pertinho da eleição, o povo fala que são os "políticos paraquedas", só aparece de vez em quando querendo uma brechinha pra entrar lá também. Faz sentido pra vocês? Porque pra mim não faz não. E como é que esse povo ainda vota, meu Deus?

Ah, diz o povo que aparece um monte já dividindo os cargos antes de ganhar, já diz o ditado "contando com o ovo no fiofó da galinha". Disse que um tempo aí atrás já tinha três diretor pra uma escola só, um monte de chefe pra pouco cargo. Só fiquei curioso com uma coisa: será que esse povo ganhou? Tô sem saber até hoje, igual tô sem saber se umas professora que ficaram na estrada com um pneu furado já chegou na cidade porque disse que passou uns candidato por elas e num deu nem confiança. Ô dó!

Mas voltando praqueles que o povo botou lá dentro, tem uns que promete mandar pras roça um saco de cimento pra ajudar nas barragem de estrada e o povo tá lá igual os menino com as bola, esperando até ontem! Mas disse também que uns menino aí até ganhou uma bola, só que na mesma da hora quebrou um tal de para-brisa, será que é pecado um matuto rir disso? Se for perdoa, Senhor!

Estrada então era um assunto que eu não queria nem prosear com vocês, mas disse que tá na moda agora. Eu não sei por que, toda vida elas tava aí e só agora o povo resolveu dar combate. É um tal de lacrar nas rede social que nunca entendi. Será que é igual os político paraquedas? Só lembra quando tá na hora de votar? Eu só queria saber se tem gente que lembra delas direto. Acho que só quem passa lá e corre atrás pra consertar é que se importa mesmo. Esses é igual os menino das bola, nuca se esquece.

 

Eu não sei de muita coisa porque não cheguei a estudar numa escola, mas a sabença, ah! Nessa esse povo doutor não me vence não. Proseando assim com vocês eu só penso numa coisa, vira e mexe, pode passar o tempo, as coisa pode mudar, pode evoluir, eu tenho uma certeza: os paraquedas continuam os mesminho, só muda a capa por fora pra não vir muito repetido e pro povo não desconfiar...

Texto da Professora Kika Versiani 

Extraído  do site - https://poetas-e-escritores-do-vale.webnode.page/


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segunda-feira, 28 de abril de 2025

MEMÓRIA CULTURAL - Em nome de Olorum, de Oxalá e de Ifá!

Foto: Internet

 Dom José Maria Pires foi uma figura profundamente admirável e revolucionária em muitos aspectos. Seu legado transcende o âmbito religioso, tocando áreas como direitos humanos, defesa da dignidade dos mais vulneráveis, e valorização da cultura afro-brasileira. Ele não apenas desafiou preconceitos, como também os enfrentou de maneira corajosa e transformadora.

         Dom José Maria Pires, mineiro de Córregos, distrito do município de Conceição do Mato Dentro, nasceu em 15 de março de 1919. Aos doze anos ingressou-se no Seminário em Diamantina, aos vinte e dois anos ordenado presbítero, exercendo seu ofício de pároco em Açucena-MG (1943-1946); diretor do Colégio Ibituruna em Governador Valadares-MG (1946-1953); missionário diocesano (1953-1955); e pároco de Curvelo-MG (1956-1957). Nomeado Bispo de Araçuaí em setembro de 1957, onde trabalhou incansavelmente pela Diocese de Araçuaí, criando o primeiro seminário menor, para futuros seminaristas; o Patronato “São José” para atender jovens meninos em regime de internato; o Ginásio Industrial Complementar “São José”, para atender a antiga quinta e sexta série que durou de 1965 a 1972(atualmente conhecemos como E.E. Industrial São José). Em 1965, foi nomeado Arcebispo da Paraíba, enfrentando incompreensões, a começar pela   rejeição à sua negritude, foram muitos os gestos de repulsa a ele, principalmente por parte da elite mas encontrou nos movimentos das Comunidades Eclesiais de Base, as Caminhadas da Pastoral da Terra e outros movimentos e pastorais para combater as desigualdades.

         Primeiro negro nomeado a bispo no Brasil, tinha apelidos de Dom Pelé ou Dom Zumbi. Ele celebrou a primeira missa negra católica no Brasil, a Missa dos Quilombos celebrada em 20 de novembro de 1981, em Recife. Assumindo assim a realidade de sua negritude e aprofundou com coragem a aproximação da liturgia da Igreja com a liturgia dos afrodescendentes. Certa vez numa  reunião com bispos, ele começou, assim, a missa: 'Em nome de Olorum, de Oxalá e de Ifá'. A assembleia respondeu: 'Axé'. Diante do ar de desaprovação dos colegas, justificou-se: 'Se eu posso invocar a Trindade em português, latim e grego, por que não em língua nagô?'  E deu uma risadinha irônica com um sorriso leve de agradecimento". Isso nos revela sua ousadia e criatividade ao conectar a espiritualidade e identidade cultural.

          Na época da Ditadura Militar, desenvolveu um trabalho pautado na conjunção da atividade religiosa com a defesa dos direitos humanos, com vistas à mudança social. Prestou apoio nos conflitos pela terra na Paraíba, defendendo camponeses de perseguições. E lutou contra a discriminação e o racismo, incentivando a organização e a luta dos afro-brasileiros, do qual destaca-se em um de seus discursos na CNBB “Enquanto imperar a fome, a miséria e o analfabetismo, enquanto não se respeitar no operário e no camponês a dignidade da pessoa humana, os cristãos não estarão sendo cristãos”.

Mas quando completou setenta e cinco anos, renunciou do seu cargo, encaminhando sua Carta de renúncia à Santa Sé em 23 de maio de 1994, sendo aceito  e reconhecido  como  Arcebispo Emérito da Paraíba . Faleceu no dia 27 de Agosto de 2017 com 98 anos de idade devido a complicações de uma pneumonia.

Dom José tinha como lema episcopal: “Scientiam Salutis” (A ciência da Salvação). Foi o quarto Arcebispo da Paraíba e autor de quatro obras:

  • O grito de milhões de escravas: a cumplicidade do silêncio (1983)
  • A cultura religiosa afro-brasileira e seu impacto na cultura universitária (2014)
  • Meditações diante da cruz (2015)
  • O sacerdote, imagem de Cristo (2016)

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domingo, 27 de abril de 2025

GIRO PELO VALE - Filho de Itinga/MG é ordenado Padre

 


A comunidade católica de Itinga está em festa pela ordenação do seu quinto filho como Padre. A ordenação de Frei Hericles Lima Gomes, OFM, ele é natural de Itinga, nascido no Distrito de Taquaral, sempre teve uma ligação muito forte com a Igreja e sua comunidade, com  a volta dos Freis da ordem dos Frades Menores - OFM em 2007, volta porque os Freis da ordem já estiveram em Itinga, nas décadas de 1930 e 1960. Certo é que a chegada deles despertou no jovem Hericles o chamado para servir a Igreja e se tornar um Frei dessa ordem, e assim seguiu seu caminho de estudo perseverança e fé.

No dia 02 de fevereiro de 2022, a solenidade da apresentação do Senhor e da Vida Consagrada a Profissão Solene de Frei Hericles Lima Gomes, OFM, na Paróquia São Francisco das Chagas em Belo Horizonte

No dia  1º de junho de 2024, Frei Héricles foi ordenado diácono pela imposição das mãos do Arcebispo Emérito de São Luís do Maranhão, Dom José Belisário da Silva, a celebração ocorreu na Matriz Nossa Senhora de Lourdes, em São João Del Rei.

E ontem 26 de abril de 2025, no distrito de Taquaral de Minas, município de Itinga, em um momento solene, ele recebeu sua ordenação sacerdotal, tornando-se Padre, sua ordenação foi feita por  Dom Geraldo dos Reis Maia.

É o primeiro padre da Ordem dos Frades Menores filho de Itinga, é também o primeiro padre do distrito de Taquaral de Minas e o quinto padre do município de Itinga.

O primeiro padre filho de Itinga foi Padre Emiliano Gomes Pereira , ordenado em 29 de março de 1914  pelo bispo Dom Joaquim Silvério de Souza 2º bispo de Diamantina, Padre. Lucas Evangelista Gusmão ordenado em 1976 pelo bispo Dom Silvestre Luis Scandian S.V.D; Padre Ademir Versiani Leal ordenado em 1997 pelo bispo  Dom Enzo Rinaldini e Padre Ary Pereira ordenado em 2008 pelo bispo  Dom Severino, hoje Ary não é mais padre, abandonou o sacerdócio.

Que o Padre Frei Hericles Lima Gomes, OFM, possa ser um bom pastor, seguindo os ensinamentos de Jesus Cristo e de São Francisco.

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sexta-feira, 25 de abril de 2025

CONHECENDO O JEQUI - Tradição e Fé no Mastro a Cavalo em Chapada do Norte

Foto:  IEPHA


Mastro a cavalo Realizado na noite de sábado, após a última celebração da novena, o Mastro a cavalo é considerado por muitos como o apogeu da Festa de Nossa Senhora do Rosário.

O evento consiste no levantamento do Mastro com a bandeira de Nossa Senhora do Rosário, que ocorre após a encenação da versão local do auto de Cristãos-e-Mouros. Antes de dar início à encenação, dois grupos distintos de cavaleiros reúnem-se em frente à Igreja do Rosário: cristãos de azul, mouros de vermelho. Todos se encontram montados em cavalos, também adornados com as cores de seus donos, com exceção do Rei Cristão, que participa de todo o auto a pé. O motivo da disputa entre os grupos é a bandeira da Virgem do Rosário, que teria sido roubada pelos mouros. Assiste-se ao diálogo entre embaixadores e reis, seguido por manobras equestres e entrechocar de espadas. Ao final, acompanhados pelo toque de tambores, os mouros convertidos – graças ao poder e à glória da Virgem do Rosário – juntam-se aos cristãos em uma coluna de homens que ergue o Mastro com a bandeira da Santa. Encerra-se a representação com um espetáculo pirotécnico, enquanto os participantes, em seus cavalos, realizam uma corrida em torno da Igreja.

 

 É... instrumento comum que faz parte da Festa da... raça negra. Porque nós temos aqui o Mastro, né? Um mouro e um tristã [cristão], né? Que tem a batalha de luta pra... pra... ver se converte um ao outro pra... pra unidade. Eles, [...] o mouro e o tristã [cristão], que eles não era negro, porque eles não era, eles era branco, o rei tristã [cristão] e o rei mouro, eles eram branco. 

Olímpio Rodrigues Soares (Seu Olímpio)

Texto extraído do Caderno do Patrimônio cultural do IEPHA


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quinta-feira, 24 de abril de 2025

DIÁRIO DE LEITURA - Dica de Leitura “Louças de Família”

Foto: Internet

Dica de Leitura da Semana | “Louças de Família”, de Eliane Marques: uma literatura que corta como porcelana trincada

Na estreia de Eliane Marques no romance, Louças de Família (vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2024 na categoria Melhor Romance de Estreia), somos conduzidos por uma escrita que é ao mesmo tempo lírica e insurgente. A autora, reconhecida por sua trajetória na poesia, transborda sua maestria no uso da linguagem para criar uma narrativa que pulsa como uma ferida aberta – ou uma memória que se recusa a cicatrizar.

A história é contada a partir da perspectiva de Cuandu, uma narradora marcada por heranças não convencionais: contas vencidas, memórias fragmentadas e um retrato da tia Eluma, mulher negra, empregada doméstica, cuja morte inaugura o romance. O que se herda, nesse caso, não são louros nem posses, mas silêncios históricos, cicatrizes ancestrais e o peso de um passado que insiste em se repetir no presente.

A prosa de Marques é construída em espirais, numa espécie de fluxo de consciência marcado por oralidade e lirismo. A autora experimenta uma forma narrativa que subverte convenções do gênero, convocando a linguagem poética para falar de um cotidiano atravessado pela dor, pelo afeto e pela resistência. A estrutura do romance é deliberadamente fragmentada, como os próprios vínculos familiares que retrata – reconstituídos com delicadeza e revolta.

Por meio da integração de português, portunhol e iorubá, Louças de Família apresenta uma tessitura linguística que espelha a pluralidade cultural da fronteira entre Brasil e Uruguai, cenário pouco explorado na literatura nacional. Essa escolha estética não é gratuita: ela dá voz a personagens que muitas vezes são silenciadas, apagadas, relegadas à margem da história oficial.

A ancestralidade, tema central da obra, é narrada não como um elemento místico, mas como uma realidade concreta que molda vidas. As mulheres negras da família de Cuandu repetem, geração após geração, uma trajetória marcada pela servidão a famílias brancas. Esse ciclo parece se perpetuar como as louças herdadas – frágeis, mas persistentes; belas, porém trincadas. A metáfora é poderosa: há uma herança simbólica que carrega tanto afeto quanto dor, e a narradora tenta, com palavras, romper com esse destino.

“Se qualquer uma de vocês pisar o dedão do pé, direito ou esquerdo, em qualquer cômodo do interior de qualquer das casas de família, nunca mais sairá...” – alerta a voz narrativa. É uma advertência, mas também um chamado à consciência. O romance inteiro é movido por essa tensão entre memória e ruptura.

Como psicanalista, Eliane Marques introduz ainda uma interessante camada de análise através do diálogo entre a narradora e sua analista, num embate que coloca em xeque as fronteiras do cuidado, da escuta e da neutralidade quando se trata da experiência negra. O livro toca com força questões como racismo estrutural, meritocracia, branquitude e a própria possibilidade de elaboração subjetiva para corpos historicamente violados.

Há um grito contido – e por vezes explícito – contra a pacificação forçada, contra a exigência de docilidade. A autora escreve contra a passividade: sua prosa é indócil, não busca conciliação, tampouco o conforto do leitor. É uma literatura que provoca, que exige escuta atenta e que reivindica o direito à complexidade das existências negras.

As imagens evocadas em Louças de Família têm o poder de cortar – como a borda de uma porcelana quebrada. Mas são também imagens que acolhem, que denunciam sem perder a poesia, que revelam o inominável com uma força inventiva rara. Eliane Marques entrega ao leitor uma obra profundamente necessária, que afirma: a literatura é também território de memória, justiça e reexistência.

 

 Boa leitura.

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quarta-feira, 23 de abril de 2025

OPINIÃO DO BLOG - Papa Francisco, um legado de respeito e amor.

Foto: Internet

 

A humanidade está em luto, perdemos um dos grandes nomes que lutaram mundo mais, justos, com respeito as diversidades.

O Papa Francisco foi um verdadeiro pastor para os mais necessitados, guiando a Igreja Católica com humildade, compaixão e um compromisso inabalável com a justiça social. Desde o início de seu pontificado, ele enfatizou a importância de cuidar dos pobres e marginalizados, vivendo de forma simples e rejeitando os luxos do Vaticano. Seu legado transcendeu fronteiras religiosas, promovendo o diálogo inter-religioso e incentivando a união entre diferentes crenças.

Além de sua dedicação aos mais vulneráveis, Francisco também se destacou como um defensor incansável do meio ambiente. Sua encíclica Laudato Si foi um marco na história da Igreja, alertando sobre os perigos da degradação ambiental e chamando a humanidade a cuidar da "casa comum". Ele sempre reforçou que a crise climática não é apenas uma questão ecológica, mas também social, afetando principalmente os mais pobres.

Outro aspecto fundamental de seu papado foi a defesa da diversidade e da inclusão. Francisco rompeu barreiras ao promover o respeito às minorias e reafirmar a necessidade de acolher a todos, independentemente de sua origem, identidade ou orientação. Suas palavras e ações ajudaram a construir uma Igreja mais aberta e sensível às dores do mundo.

Seu legado permanecerá como um farol de esperança e inspiração para aqueles que acreditam em um mundo mais justo, solidário e sustentável. A história lembrará Francisco como um líder que, com coragem e amor, lutou por um futuro melhor para todos.

Ele promoveu mudanças significativas na estrutura da Igreja, nomeando cardeais de regiões sub-representadas e dando voz a comunidades historicamente excluídas. Também incentivou a participação de mulheres em cargos administrativos no Vaticano.

O Papa Francisco foi um líder inovador e pioneiro em diversos aspectos dentro da Igreja Católica. Seu pontificado foi marcado por várias "primeiras vezes", que ajudaram a transformar a instituição e aproximá-la das questões contemporâneas.

Foi o primeiro pontífice nascido na América Latina e também o primeiro membro da Companhia de Jesus a ocupar o cargo. Os jesuítas tradicionalmente não buscavam posições de alto escalão na Igreja, tornando sua eleição um marco histórico.

Ele foi o primeiro papa a acolher publicamente os homossexuais, proferindo a famosa frase: "Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?". Além disso, apoiou a descriminalização da homossexualidade e permitiu que pessoas trans fossem batizadas e participassem de cerimônias religiosas.

Francisco foi o primeiro papa a emitir uma encíclica dedicada exclusivamente à questão ambiental, Laudato Si', na qual abordou a crise climática como um problema social e moral. Ele também criticou o consumismo desenfreado e os negacionistas das mudanças climáticas.

Ele promoveu mudanças significativas na estrutura da Igreja, nomeando cardeais de regiões sub-representadas e dando voz a comunidades historicamente excluídas. Também incentivou a participação de mulheres em cargos administrativos no Vaticano. Francisco implementou medidas rigorosas contra a corrupção financeira no Vaticano e endureceu as punições para casos de abuso sexual dentro da Igreja. Ele aboliu o "sigilo pontifício", permitindo maior transparência na investigação desses crimes. Seu legado é de transformação e renovação, trazendo a Igreja para mais perto das necessidades e desafios do século XXI.

Vai se o homem e fica seu legado, que nós independente de nossa crença religiosa, que possamos seguir os ensinamentos que ele nos deixou com palavras e atitudes.

 

Um mundo melhor é possível, basta cada um fazer sua parte em comunhão e com respeito aos demais.

 

Vá na luz!

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terça-feira, 22 de abril de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - Crônicas do Jequitinhonha: Ulisses e Noemisa

Seu Ulisses e Dona Noemisa - Artesãos de Caraí/MG - Foto: Internet


Prosseguindo o desenvolvimento dos temas da palestra realizada no CAPS Itapeva, passo a tratar de alguns exemplos de “loucos” artistas do barro do Jequitinhonha, a começar por Ulisses e Noemiza.

Num dia de julho de 1997 eu e Matheus Cotta, um grande amigo, com quem então viajava, conhecemos Ulisses de Caraí e lhe demos uma carona até o fundão do vale do Ribeirão Santo Antônio, onde mora, uns vinte quilômetros subindo e descendo as cristas das altas montanhas das nascentes do Médio Jequitinhonha. Matheus dirigia.

Esse sertanejão de metro e noventa, cabeça enorme, muito hirto e impositivo, quando nos viu, nos encarou de frente, pesado, analisando, detrás de óculos grandes e fundos, e o conjunto, para os jovens tenros de sertão, metia medo.

Precipícios sim, precipícios não, pontes, mataburros, suadeira, muita poeira, mas está muito melhor do que navegar pelas estradas de janeiro, ensebadas de lama, com que não teríamos chegado e muito menos regressado da grota medonha que o homem e sua família habitavam.

Não gosta que ninguém seqüestre em aparelhos eletrônicos o trovão de sua voz, muito menos sua imagem, já de cara, na cidade, nos avisaram. Tudo bem, tudo bem, não tinha necessidade não, o importante era a conversa, a aventura.

Acontece que, ao longo da viagem, da boca do sujeito jorrava uma filosofia da natureza de sabor tão peculiar (veneração de lajedo de pedra, conjuro de espírito de plantas, conversa de águas de riacho, etc.) que, assentado a sua frente, no banco do passageiro, não resisti e, cuidadosamente, saquei da bolsa o gravador, pensando que, no fluxo egocentrado do discurso, o velho caboclo não fosse perceber o “clic” do botão de “record”.

Mas o gigante de óculos fundo de garrafa escutava muito bem sim senhor e estava perfeitamente atento por detrás da língua solta, pois mal a maquininha dos infernos deu o sinal, ele estacou, parou, abrupto, de falar. Ai, ai, ai, tremi por dentro… O silêncio insistia… Para quebrar o gelo, tolo, arrisquei uma perguntinha sem graça… Por trás de minhas costas, o vazio sufocava… Por alguns segundos torturantes, esperei…E era o nada… Por fim, de súbito, Ulisses decretou: “ô seu moçu, u negóc’ é u siguinti, ôce faz favô di disligá iss’aí purque iss’aí é u passadu, iss’ aí é a morti!” E ponto.

Da única outra vez que vi Ulisses, eu vim sozinho. Porém, em certo ponto da estrada, o peso de meu automóvel fez ruir um velho mataburro e ali ficamos, empacados. Tentei de tudo, sem solução. Então, resolvi andar até a casa do artista, mesmo temendo que me reconhecesse como o idiota traidor do microfone. Reconhecer, reconheceu. Mas como foi, afinal, que me acolheu? Adivinhem…

Ao contar o ocorrido, Ulisses e um genro seu, que estava por ali, pois o caboclo é dono de suas horas, voltaram prontamente comigo ao local do acidente e passaram a manhã  lutando com a cabeça e com os braços para tirar da vala meu trambolho de aço. Não se renderam enquanto não venceram o desafio, uma batalha, sob um sol de fritar os miolos. E depois, de quebra, me ofereceram um almoço de levantar defunto de que não me esquecerei enquanto vivo for.

Ulisses, ele mesmo, faleceu, faz poucos anos, e foi parar nos céus de Dali e Miró, mas por décadas sua mente ardente e suas mãos poderosas materializaram, em pesadas esculturas de argila, as imagens míticas que povoavam sua fala, como vemos no exemplo da foto.

Alguns quilômetros riacho abaixo, onde só era possível chegar a pé, até pouco tempo atrás, por uma trilha saborosa, em meio à mata, com direito ao luxo de sinfonias de passaredo e aromas insólitos, profundos de surpresa, ainda vive a prima de Ulisses de quem hoje quero falar com mais detalhes: Noemisa Batista Santos.

Clima quente, pés criados no chão, roupa pouca de chita pobre, essa coisinha mirrada deve estar na faixa dos quarenta quilos, o porte de uma criança magra, não mais. Possui gestos elétricos, mas firmes, pois é roceira, toda concretude e trabalho duro.

E não é como Ulisses, não viaja nas idéias não. Contudo seus olhos nunca batem com os nossos, estão sempre divagando, para baixo, para cima, para os lados, e suas frases rápidas, que saem como flechas, arremessadas no ar, a esmo, sem alvo, embora só tratem das estreitezas cotidianas, são coisa de outro mundo, pois falam uma língua roseana que, meio sem querer, acaba que se faz entender.

observemos como o enigma de sua fala e a dança miúda de seus gestos habituais pode ser capaz de produzir o realismo fantástico mais puro.

Noemisa “ficô pra tia”, como se diz. Por que? Por imposição da mãe e das irmãs mais “sãs”? Porque talvez, na falta de uns parafusos, jamais tenha sido desejada como mulher, pleiteada como esposa? Difícil saber.

O fato é que ficou para ela, a caçula, a tarefa de uma vida de cuidar da irmã doente. Embora visite essas duas há mais de quinze anos, jamais vi a cara da outra, a “louca” propriamente dita. É sempre mantida presa, quando estranhos se aproximam, oculta no quartinho dela, especial, pois tem porta e corrente com cadeado, no mais, inúteis onde não há o que cobiçar.

As casas da roça por aqui não têm forro e os construtores não parecem ver motivos para subir as paredes internas, de adobe, até o nível do telhado, e enquanto converso, na sala ou na cozinha, ao lado, com a dona da casa, voam lá de dentro da clausura, Foto: A casa feita em 2001 registrada em 2003como que vindos do limbo do purgatório, sentenças secas, exigências ríspidas, palavrões e impropérios de toda estirpe, quando não, em meio ao caudal raivoso, de repente, surge uma modinha sertã das boas, das de sabor antigo, e muito bem cantada, tocante, carregada do espírito das velhas folias, e olha que por aqui esses folguedos já não passam há muito, muito tempo.

Esse canto sem face, de fogo louco, encantado mas agressivo, que soa, ao mesmo tempo, mecânico e sentido, é o pano de fundo dos encontros anuais que tenho com Noemisa, e produz no ambiente da casa uma estranheza que poderia muito bem se achar num livro de Gabriel Garcia Marques mas, juro, está na realidade mesma, nua e crua.

Em janeiro de 2011 visitei Noemisa pela última vez, poucos dias antes do Natal, e a encontrei, como na foto ao lado, mirando o quintal da janela da cozinha, tão pequenina, enquanto lá fora o sol estourava. Observem, o gnomo traz na cabeça uma boina vermelha de Papai Noel. Só Deus sabe onde a conseguiu, em que outra dimensão. Só para Deus ele está trajando o emblema, nessas solidões onde o calor impera mas o tempo está congelado. A cena parece patética, mas é mais complexa, é espantosa: intrigante e perturbadora.

Noemisa deveria, por tradição, ter herdado da linhagem materna a arte da paneleira e fazer grandes potes, bules, buiões e cuscuzeiras. Mas, sendo a mais nova, franzina e “abestaiada”, na crença da mãe e irmãs, ficou restrita às tarefas práticas de catar lenha miúda, preparar bolos de argila ou fazer a comida enquanto as outras subiam as “vasias”. O produto valia uma ninharia mas era o que tinham para obter alguns trocados, um escambo pouco vantajoso na feira de sábado ou nas mãos dos tropeiros acaso de passagem pelos rincões esquecidos onde moravam.

Como aconteceu com outras chamadas “bonequeiras do Jequitinhonha”, a maioria filhas ou netas de paneleiras, a família permitia que Noemisa, desde criança, colocasse no forno, entre os utensílios, uma ou outra boneca para brincar ou vaquinhas e burricos para montar um presépio rústico, improvisado.

Os anos se passaram, as vasilhas de barro perderam a concorrência para as de ferro e alumínio, cada vez mais baratas, leves e quase indestrutíveis, a manufatura de potes e panelas foi à falência nestas e em outras paragens, e a arte teria desaparecido com o antigo comércio não fosse a loucura de Ulisses, Noemisa e outros que transformaram brincadeira de infância em atividade séria e remunerada, voltada para um público distante, mas que aos poucos passou a influenciar os sertões, na esteira da modernidade.

Desde então, desde meados da década de 1970, e pouco a pouco, os dois mudaram, com muita paciência, esforço e inventividade, o destino do Ribeirão Santo Antônio. As próprias irmãs de Noemisa, Maria e Santa, entre outras, da comunidade, passaram a copiar, sem o mesmo encanto, as doidices que a menina impunha ao barro.

De mera assistente de ofício ela se tornou, assim, o centro de atenções inusitadas: compradores abastados, os mais ousados, que se arriscam nessas lonjuras, brasileiros e alguns estrangeiros, lojistas, jornalistas, pesquisadores. E foi assim que tornou-se o arrimo financeiro da família, com o que vem ajudando a criar as sobrinhas e um filho que uma delas, muito cedo, jogou no mundo.

Apesar da “fama”, Noemisa jamais conseguiu se ver livre dos mesquinhos atravessadores locais, que rondam à procura de uma oportunidade de lucro fácil. E quando a clientela some, por meses a fio, e é preciso remendar uma cerca ou dar capina na “rucinha” de milho e mandioca, pode se ver obrigada a trocar uma de suas peças por um dia de trabalho de algum rapagão da vizinhança que tem mais liberdade para ir negociá-la, da melhor forma possível, no comércio das cidades mais próximas.

Apesar das dificuldades do dia a dia, sobra tempo e invenção suficiente para deixar a casa bem branquinha com uma espécie de cal natural, a Tabatinga, e depois pintar sobre as paredes de dentro e de fora, com óxido de ferro, corante vermelho com que também tinge suas peças de barro, os magníficos desenhos de arranjos de vasos e flores.

Em geral, Noemisa faz, com suas obras, a crônica da vida sertaneja: o noivo e a noiva vestidos para o casório, a velha fiando algodão, a mula que carrega de cada lado da cangalha um feixe pesado de lenha, o caçador e seus cães que encurralaram uma onça na árvore e estão por abatê-la, a cobra coral que engole um passarinho, o caboclo que está a ponto de enfiar a faca no porco, algumas representadas nas fotos que selecionei.

Mas em seu repertório existem certos seres, quase identificáveis, como o suposto cão que ganha algo de criatura extraterrestre por um pequeno exagero de feições ou pela pintura geométrica estilizada que cobre seu corpo e existem certos arranjos de um simbolismo muito pessoal cujo significado apenas a autora poderia nos explicar em sua língua de outras eras, se estivesse disposta.

Tudo considerado, penso com meus botões: o que teria sido de Ulisses e Noemisa caso tivessem sido criados como a maioria de nós, que compartilhamos esse texto, habitantes da grande cidade, alheios à rotina laboral camponesa, de grande esforço físico, domínio ambiental, abrangência cósmica e implicações simbólicas? O que lhes teria acontecido se tivessem sido privados da diversidade e da intensidade dos contatos humanos, características das comunidades rurais sertanejas? E se não tivessem nutrido suas almas dos referenciais estéticos da herança católica embaralhada à mística cabocla, de traços negros e índios subterrâneos? E se não tivessem sido a platéia atenta dos contadores de “causo” ou se inspirado, na infância, nos poetas cantadores da Folia do Divino que passou por suas casas? Como teriam vivido, então, com um mínimo de dignidade? Como teriam encontrado os recursos para gerir e dinamizar os poderes fantásticos de sua loucura?

Num tempo em que a psicologia passa por um processo de psiquiatrização de conseqüências catastróficas e sofre o ataque de uma indústria farmacêutica de alta lucratividade que, por isso mesmo, pretende impor às universidades mundo afora, sobretudo nos Estados Unidos, uma visão biologista da psiquê humana, o que, no fundo, traduz o velho e cansado moralismo bíblico que assevera que todo o mal reside no indivíduo, exemplos como os que acabo de dar, espero, são suficientes para demonstrar enfaticamente o quanto o ambiente natural, as tradições, o trabalho diversificado, o intenso convívio comunitário e o exercício da arte aparentemente mais trivial podem mudar por completo o destino pessoal de quem, por fatores genéticos tantas vezes insondáveis, é candidato ao sofrimento psíquico. E demonstrar que essas potências mesmas, libertas, podem se tornar o pilar material e estético de uma comunidade.

 

Por: Naldo Moreira

 

 Este texto compõe a série de posts elaborados por Naldo Moreira com base no minicurso “Saúde Mental e Contexto Social: Alguns Exemplos do Jequitinhonha”, ministrado no Caps Prof. Luís da Rocha Cerqueira (Caps Itapeva – SP), em 29 de setembro de 2012.

Extraído do site: https://redeagrega.wordpress.com/2012/11/29/cronicas-do-jeqiutinhonha-ulisses-e-noemisa/


 

segunda-feira, 21 de abril de 2025

MEMÓRIA CULTURAL - Descaroçador de Algodão

Maria Diva e Alice - Quilombo de Empoeira/Foto: Solange Santos


O descaroçador de algodão tem uma representatividade tanto quanto história econômica, quanto a cultural da região do Vale do Jequitinhonha, tendo em vista que outrora essa peça já foi muito utilizada no oficio do tear ou da fiata como se diz em algumas comunidades.

Maria Diva Alves dos santos, moradora do Quilombo de Empoeira, no município de Francisco Badaró/MG, é guardiã de uma peça dessa, no qual outrora era muito usada por sua família.  Dona Diva, relata que aprendeu o oficio com sua mãe Mariana Ferreira, plantavam o algodão, descaroçava, fiava e tecia cobertores. Algumas comunidades da região ainda matem vivo o oficio da tecelagem.

O descaroçador de algodão, patenteado por Eli Whitney em 1794 durante a Revolução Industrial Americana, revolucionou a indústria algodoeira ao acelerar o processo de separação das sementes da fibra, impactando profundamente a economia, especialmente no sul dos Estados Unidos. A ferramenta, de formato retangular, caracteriza-se por sua funcionalidade e praticidade, com cilindros ranhura dos para executar a separação e uma manivela lateral que simboliza o esforço humano no trabalho manual. Iconograficamente, combina materiais como madeira, associada ao ambiente rural e à tradição, e metais, que representam durabilidade e resistência. Representações frequentemente destacam o contraste entre esses materiais, a rusticidade do design e o contexto agrícola, incluindo trabalhadores operando a ferramenta em cenários rurais, reforçando sua conexão com a cultura do campo e o trabalho manual.

Máquina simples projetada para separar as sementes das fibras do algodão de forma manual.

A sua composição está disposta em base de madeira com um cilindro de ferro parafusado ao centro contendo manivelas nas suas laterais. Ao girar a manivela, o operador move o algodão entre os cilindros, onde o atrito separa as fibras das sementes. É uma ferramenta essencial para pequenos artesãos e agricultores que ainda valorizam métodos tradicionais de processamento do algodão, promovendo uma relação mais direta com a produção têxtil local.

Estrutura é feita de madeira resistente, que fornece durabilidade e estabilidade à máquina. A madeira é utilizada tanto na estrutura principal quanto na base para firmar o descaroçador durante o uso. O descaroçador possui dois cilindros giratórios paralelos, feitos de metal, com superfícies rugosas ou dentadas para agarrar as fibras de algodão. A operação é manual, acionada por manivelas acopladas os cilindros. Ao girar a manivela, o movimento rotativo é transferido para os cilindros, que giram em direções opostas, permitindo a passagem do algodão entre ele. O tamanho varia de acordo com o modelo e a fabricação, mas o descaroçador manual geralmente tem uma estrutura compacta, facilitando seu uso em pequenas propriedades e sua portabilidade.

Referências Bibliográficas:

https://pt.dorit-meir.com/significado-historico-do-descarocador-de-algodao

Entrevista oral com: Maria Diva Alves dos Santos, moradora do Comunidade quilombola de Empoeira


Texto e Pesquisa




 

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