Catopês do Divino Espirito Santo - Bocaiuva |
Um
olhar de FÉ... Popular!
Por Ângela Freire
Ser voluntária no Festivale é uma prática
corriqueira deste evento. Talvez seja esta forma de produzir o Festivale, que
se mantêm por tanto tempo, como um dos festivais mais antigos de Minas Gerais. Nesta
veia jugular estão as pessoas oriundas de várias cidades, que se dispõem a colaborar pelo
simples fato de ajudar, assim a cidade que sedia um FESTIVALE, vira nesta ocasião um reduto de
cultura, ponto de encontro de artistas, agentes culturais, artesãos
e fazedores de uma única linguagem cultural.
No
encontro de grupos de cultura popular é
a expressão que envolve o profano e o sagrado, pois a maioria das
manifestações trazem o contexto
histórico da memória
afro-brasileira, revelando em
suas variedades de formas com sua
multiplicidade cultural. Entre estes, encontra-se os Catopés de Bocaiúva, com
sua devoção envolta em seu movimento ritmado entre cores, caixas, tambores,
chocalhos e repiques. Quando os Catopés entram numa cidade com suas
indumentárias, primeiro pedem as bênçãos
celestiais dos seus protetores. Manda o ensinamento que devem entrar numa
igreja mais próxima.
Num
destes festivais, a voluntária que
conduziria o grupo, sabia apenas do roteiro das ruas e não atentou-se de pedir ao
padre, permissão para deixar o cortejo
adentrar-se a igreja. O Senhor, patriarca e responsável pelo grupo, percebendo
que a jovem não falara nada sobre a igreja que
deveriam ir, logo perguntou: __ O padre vai estar na igreja? Por quê a
gente só sai no cortejo, depois das nossas orações! A jovem sorriu timidamente,
e não sabia o que fazer naquele momento, porque não reservara a igreja e sabia
que havia uma ordenação de uma freira. Tentou argumentar para rezar na porta
somente, e o bondoso mestre, lhe ensinou naquele instante, o que serviu para
toda uma vida: Quando um grupo entra numa igreja com seu rito, está ali,
pedindo proteção e pedindo aos seus ancestrais para proteger o povo todo, intercede ali pela cidade. Só
assim podem sair em cortejo pelas ruas, protegidos e concedidos
à missão de transmitir energia dos seus entes. Descobri que não se trata de um
simples cortejo, é uma comunicação transcendental!
Mas
a jovem desesperada, com mais de 40
pessoas ao seu redor, assumiu a tarefa que lhes tinham confiado, seriamente,
virou-se para o mestre: _ Não se preocupe, o padre vai estar esperando, vai
estar celebrando a ordenação de uma freira, então iremos oferecer as orações
por ela também. Assim o mestre concordou. E começou o cortejo até a matriz,
logo, a jovem se postou a frente, deixando o cortejo um pouco atrás, foi ter
com o padre em plena celebração. A jovem pediu ao vigário, para deixar os
Catopés fazerem uma pequena homenagem a noviça. Ele achou de bom grado, desde
que fosse breve. Neste instante o grupo já estava á porta adentrou-se ao centro
da igreja e ajoelham-se aos pés do Cristo
e inicia seu ritual com suas
rezas e cantos.
O
povo ao redor sem entender nada, aplaudiram, acharam que fazia parte da
cerimônia. A jovem pegou o microfone e anunciou a homenagem dos Catopés para a
jovem religiosa. O Grupo se levanta, vira em direção a jovem e começa a cantar
e dançar ao redor da jovem religiosa, que não sabia como se portar, causando
estranheza aos fiéis, acostumados as tradicionais ave-marias e hinos clássicos
da igreja. O som dos chocalhos nos pés e o coloridos das
fitas, transformaram por completo o ambiente, o padre nesta altura, vermelho de
raiva, pois já passava mais de uma hora naquela cantoria. A jovem finalmente
consegue reconduzir o cortejo para as ruas, deixando o padre na sua celebração
tradicional, que só lhe restava, dar as bênçãos finais.
Para algumas pessoas que estavam
naquele FESTIVALE, pela primeira vez, até hoje se recordam da linda homenagem a
religiosa, só não sabem que aquilo não havia sido programado.
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