Vida longa ao Festivale!
Por
Sâmia Bechelane
Jornalista,
relações públicas e mestre em desenvolvimento social e direitos humanos. Tem
experiência em projetos socioculturais, organizações do terceiro setor e fóruns
interinstitucionais. Atualmente, é assessora de comunicação na Câmara dos
Deputados, em Brasília.
Coordenou
a assessoria de comunicação colaborativa no 27º FESTIVALE /Grão Mogol -
2009 e
28º FESTIVALE/Padre Paraíso – 2010
Eu ouvia falar do Festivale
desde o meu ingresso no curso de Comunicação Social da UFMG, em 2007. Veteranos
meus já haviam participado e diziam com gosto sobre aquela festa linda da
cultura popular do Vale do Jequitinhonha, que celebrava sua arte e suas gentes,
suas cores e sua tradição. Eu tinha bem guardadinha a vontade de fazer parte
daquilo também. Até hoje não sei bem explicar por que o Festivale me atraía
tanto, mas arrisco a dizer que passa pela tal mineiridade: eu também venho do
interior das Gerais, das entranhas do estado, e me identificava com a região
antes mesmo de pegar pela primeira vez a Rio-Bahia rumo ao nordeste de Minas.
Se é verdade que o desejo é
um dos nossos melhores guias, nesse caso não foi diferente. A “chegança” ao
Vale foi então acontecendo. No ano seguinte, fui me aproximando do Programa
Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, que desenvolve atividades
de ensino, pesquisa e extensão na região. Me tornei voluntária em algumas
dessas ações e, em minha primeira viagem à região, foi selado o acordo entre o
prof. Márcio Simeone, então coordenador do Programa, e os queridos Jô Pinto e
Ângela Freire, então à frente da Fecaje: experimentaríamos a constituição de
uma assessoria de comunicação colaborativa no próximo Festivale, como uma
atividade de extensão da UFMG. Me lembro exatamente da alegria que senti
durante aquela reunião, em Araçuaí. Meu desejo estava perto de ganhar corpo e
forma.
Dali a poucas semanas, me
tornei oficialmente estagiária do Programa Polo e uma de minhas tarefas era
justamente colaborar com a organização de todo esse processo. Nosso objetivo
era construir uma assessoria de comunicação colaborativa, com estudantes de
Comunicação Social, jovens da região e integrantes de organizações parceiras no
Vale e em Belo Horizonte. Em sua 27ª edição, o próximo Festivale seria
realizado na bonita Grão Mogol, perto de Montes Claros. A partir disso,
mobilizamos pessoas, promovemos articulações, viajamos duas vezes a Grão para
realizar oficinas formativas com aqueles adolescentes. Eu sentia um misto de
alegria, empolgação e ansiedade com a chegada do evento, que acontecia
tradicionalmente no último final de semana de julho.
Vivi intensamente todos
aqueles dias de Festivale – chegamos dias antes e fomos embora no final do
evento. Foi tão exaustivo quanto intenso: acordávamos cedo, trabalhávamos pela
manhã e tarde, às vezes no início da noite também. Depois era banho, janta e
programação cultural, que se estendia até a madrugada. Um “batidão” que só um
corpo jovem e uma empolgação na medida conseguiam dar conta. A relação com os
jovens foi estreita e produtiva – eu começava ali, aliás, um envolvimento com a
educação popular que me acompanharia ao longo de minha trajetória profissional.
Fiz amigos que permanecem, explorei a cidade e plantei ali a semente de minha
relação com o Vale Jequitinonha. É que fui picada pelo “mosquitinho” do Vale,
como costumava dizer a Marizinha, que esteve por anos à frente do Programa
Polo. Essa picada te faz querer voltar de novo, novamente, e mais uma vez...
Não por acaso, no ano seguinte lá ia eu para Padre Paraíso, a sede do 28º
Festivale, também para colaborar com uma assessoria de comunicação
colaborativa.
O Festivale me abriu assim o
“portal” para esse universo de múltiplas vozes, ritmos, texturas, cores e
sabores que é o Vale do Jequitinhonha. A partir daquele 2009, tive o prazer, a
sorte, o privilégio de viajar muitas outras vezes para a região, por diferentes
projetos e vinculada a diferentes instituições. Essas estradas me ensinaram
muito sobre comunicação e mobilização, sobre identidades e resistências, sobre
o próprio Vale, sua terra e suas gentes. Fiz amizades, fortaleci vínculos e
ajudei a construir redes. Melhor: me tornei parte delas.
Nessas andanças, ficava
sempre admirada com o sentimento de pertença das pessoas. Antes de ser de
Turmalina, Medina, Pedra Azul ou mesmo Cachoeira do Pajeú, já quase na
fronteira, se é do Vale do Jequitinhonha. Talvez nenhuma outra região de Minas
ofereça aos seus uma identificação tão forte. E é inegável a força que a
cultura popular tem nesse amálgama. O teatro, a música, a cerâmica, a comida, a
palavra e os ritmos dão forma a esse pertencer e confluem no Festivale, que
também é por si gerador de outros frutos. Nas pesquisas sobre as origens do
Festival, diz-se sempre que a cultura foi e é um contraponto importante aos
estigmas por muito tempo associados à região. É também por meio dela que se dá
a volta por cima e se afirma seu valor. E nada como um Festival para celebrar
os vales, as vidas, os verdes, os versos e as violas que cantam o orgulho de
ser quem se é.
Vida longa ao Festival de
Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha!
Beleza pura!
ResponderExcluir