quarta-feira, 8 de julho de 2020

NARRATIVAS DO FESTIVALE - Por Sâmia Bechelane





Vida longa ao Festivale!

Por Sâmia Bechelane

Jornalista, relações públicas e mestre em desenvolvimento social e direitos humanos. Tem experiência em projetos socioculturais, organizações do terceiro setor e fóruns interinstitucionais. Atualmente, é assessora de comunicação na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Coordenou a assessoria de comunicação colaborativa no 27º FESTIVALE /Grão Mogol - 2009  e  28º FESTIVALE/Padre Paraíso – 2010

Eu ouvia falar do Festivale desde o meu ingresso no curso de Comunicação Social da UFMG, em 2007. Veteranos meus já haviam participado e diziam com gosto sobre aquela festa linda da cultura popular do Vale do Jequitinhonha, que celebrava sua arte e suas gentes, suas cores e sua tradição. Eu tinha bem guardadinha a vontade de fazer parte daquilo também. Até hoje não sei bem explicar por que o Festivale me atraía tanto, mas arrisco a dizer que passa pela tal mineiridade: eu também venho do interior das Gerais, das entranhas do estado, e me identificava com a região antes mesmo de pegar pela primeira vez a Rio-Bahia rumo ao nordeste de Minas.

Se é verdade que o desejo é um dos nossos melhores guias, nesse caso não foi diferente. A “chegança” ao Vale foi então acontecendo. No ano seguinte, fui me aproximando do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, que desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão na região. Me tornei voluntária em algumas dessas ações e, em minha primeira viagem à região, foi selado o acordo entre o prof. Márcio Simeone, então coordenador do Programa, e os queridos Jô Pinto e Ângela Freire, então à frente da Fecaje: experimentaríamos a constituição de uma assessoria de comunicação colaborativa no próximo Festivale, como uma atividade de extensão da UFMG. Me lembro exatamente da alegria que senti durante aquela reunião, em Araçuaí. Meu desejo estava perto de ganhar corpo e forma.

Dali a poucas semanas, me tornei oficialmente estagiária do Programa Polo e uma de minhas tarefas era justamente colaborar com a organização de todo esse processo. Nosso objetivo era construir uma assessoria de comunicação colaborativa, com estudantes de Comunicação Social, jovens da região e integrantes de organizações parceiras no Vale e em Belo Horizonte. Em sua 27ª edição, o próximo Festivale seria realizado na bonita Grão Mogol, perto de Montes Claros. A partir disso, mobilizamos pessoas, promovemos articulações, viajamos duas vezes a Grão para realizar oficinas formativas com aqueles adolescentes. Eu sentia um misto de alegria, empolgação e ansiedade com a chegada do evento, que acontecia tradicionalmente no último final de semana de julho.

Vivi intensamente todos aqueles dias de Festivale – chegamos dias antes e fomos embora no final do evento. Foi tão exaustivo quanto intenso: acordávamos cedo, trabalhávamos pela manhã e tarde, às vezes no início da noite também. Depois era banho, janta e programação cultural, que se estendia até a madrugada. Um “batidão” que só um corpo jovem e uma empolgação na medida conseguiam dar conta. A relação com os jovens foi estreita e produtiva – eu começava ali, aliás, um envolvimento com a educação popular que me acompanharia ao longo de minha trajetória profissional. Fiz amigos que permanecem, explorei a cidade e plantei ali a semente de minha relação com o Vale Jequitinonha. É que fui picada pelo “mosquitinho” do Vale, como costumava dizer a Marizinha, que esteve por anos à frente do Programa Polo. Essa picada te faz querer voltar de novo, novamente, e mais uma vez... Não por acaso, no ano seguinte lá ia eu para Padre Paraíso, a sede do 28º Festivale, também para colaborar com uma assessoria de comunicação colaborativa.

O Festivale me abriu assim o “portal” para esse universo de múltiplas vozes, ritmos, texturas, cores e sabores que é o Vale do Jequitinhonha. A partir daquele 2009, tive o prazer, a sorte, o privilégio de viajar muitas outras vezes para a região, por diferentes projetos e vinculada a diferentes instituições. Essas estradas me ensinaram muito sobre comunicação e mobilização, sobre identidades e resistências, sobre o próprio Vale, sua terra e suas gentes. Fiz amizades, fortaleci vínculos e ajudei a construir redes. Melhor: me tornei parte delas.

Nessas andanças, ficava sempre admirada com o sentimento de pertença das pessoas. Antes de ser de Turmalina, Medina, Pedra Azul ou mesmo Cachoeira do Pajeú, já quase na fronteira, se é do Vale do Jequitinhonha. Talvez nenhuma outra região de Minas ofereça aos seus uma identificação tão forte. E é inegável a força que a cultura popular tem nesse amálgama. O teatro, a música, a cerâmica, a comida, a palavra e os ritmos dão forma a esse pertencer e confluem no Festivale, que também é por si gerador de outros frutos. Nas pesquisas sobre as origens do Festival, diz-se sempre que a cultura foi e é um contraponto importante aos estigmas por muito tempo associados à região. É também por meio dela que se dá a volta por cima e se afirma seu valor. E nada como um Festival para celebrar os vales, as vidas, os verdes, os versos e as violas que cantam o orgulho de ser quem se é.

Vida longa ao Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha!


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