domingo, 12 de julho de 2020

NARRATIVAS DO FESTIVALE - Por Lucas Aguilar


MEMÓRIA DO FESTIVALE PRIMEIRA PARTE: MEU BATIZADO
Por Lucas Aguilar

Lucas Aguilar Natural de Araçuaí, formado em História, apaixonado pela cultura popular do Jequitinhonha, em especial o canto coral. Atuou em sua cidade no Grupo Teatral Vozes, no Coral Nossa Senhora do Rosário e Coral Trovadores do Vale. Funcionário público, da rede educação, tenta manter viva e ascender na nova geração o amor pela arte e pela cultura da região. Dentro do movimento cultural do Vale, participou de diversos Encontros de Cultura Popular e em diversas edições do FESTIVALE. Foi diretor da FECAJE exercendo as funções de Diretor Administrativo por duas gestões e Diretor Executivo adjunto.


Conheci o FESTIVALE e o coletivo de pessoas que atuavam em sua organização em 1995. Foi o ano da festa se aportar no alto Vale, na cidade de Carbonita, terra fria cercada pela monocultura de eucalipto. Não tive o prazer de participar do evento, apenas ouvi as tantas histórias que sucedem o seu acontecimento e animam as rodas de conversa. Em julho daquele ano estive com o Grupo Teatral Vozes, de Araçuaí, participando do Festival de Teatro de Minas Gerais, o FESTIMINAS, em Belo Horizonte. Neste mesmo ano me ingressei no coro do Coral Nossa Senhora do Rosário. Foi juntamente no Coral do Rosário que recebi o convite do Sr. Nilton Ferreira de Souza, o saudoso “Curió”, para participar de um encontro sobre cultura. Adolescente, fui sempre curioso, gostava de participar, estar junto. Venci as amarras familiares, e naquele fim de ano me enveredei em meu primeiro Encontro de Cultura Popular, promovido pela FECAJE. Na época a referência era apenas “encontrão”. Fui, no primeiro de tantos, em um dos tantos que aconteceu na vizinha Virgem da Lapa. Tudo para mim era novo, um pouco estranho porque não costumava me ausentar muito de casa. Sempre fui tímido, apesar de não aparentar, e naquele final de semana conheci pessoas diferentes, em idéias e estilos, e que, com altivez, erguia a voz para falar sobre cultura no Jequitinhonha. Estava sempre próximo aos araçuaienses presentes: Maja, Nilton Curió e Tião Artesão.
O encontro era dirigido pelo  Presidente da FECAJE, Marcos Gobira, ladeado do meu conterrâneo Vanderley Nicolau, na época residindo em Salto da Divisa. Estava sempre por perto, na mesa dirigente, o virgolapense Dim Martins e Wiliam de Pedra Azul. Confesso que a familiaridade com os nomes chegou com tempo, e não foi fruto desse primeiro momento. Como era comum naquela época, o encontro posterior a um FESTIVALE servia para avaliar o passado e início da organização do próximo. A reunião foi quase toda tomada pela dita avaliação. Com o passar dos anos a gente aprende que entre pontos positivos e pontos negativos faz-se a máxima que “todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Em um FESTIVALE é certeiro que aquele momento tido como ruim para alguém, sempre foi para outro. A avaliação foi longa, cansativa, mas serviu para me entrosar entre os partícipes.
No decorrer do encontro foi anunciada a cidade sede do próximo FESTIVALE. Mais uma vez Jequitinhonha, no baixo Vale. Dividiu-se comissões de trabalho para começar os preparativos da festa. Impulsionado por meu tutor, o Curió, dei meu nome para ajudar comissão do FESTIVAL de música.
No ano seguinte me batizei na força imanente do FESTIVALE. Conheci a cidade de Jequitinhonha e fiquei maravilhado! O formato da festa era grande, mais de uma semana. Mais uma vez estava sob os cuidados de Nilton Curió, acompanhado de uma leva de jovens de Araçuaí. Alguns, como eu, experimentando pela primeira vez o FESTIVALE: Preta, Néia, Luciano Silveira, Elizabeth, Inês da Assunção, Maja, Tião Artesão, faziam parte de nossa trupe festivaleira. Para mim, tudo era festa! Nem posso dizer que realmente ajudei na organização como tinha proposto. Apesar da boa vontade, os participantes, velhos de guerra, já eram pragmáticos nas tarefas e pouco paravam para orientar os mais jovens. Como não fiz oficina, fiquei o tempo todo entre as barracas de artesanato, ajudando no que fosse possível.
Pouco me lembro dos bastidores do FESTIVALE de Jequitinhonha, mas tenho em mente as discussões sobre a campanha S.O.S Tombo da fumaça. Lembro-me de ter participado de uma discussão sobre o assunto no Hotel à beira-rio (que não me recordo o nome). A noite, eu e meus conterrâneos batíamos perna pela orla, espiando as barracas (não era comum termos dinheiro) e conhecendo pessoas dos lugares presente aquele ano. Durante o dia, eu virava criança atrás do boi. Não perdi nenhum. Entre os momentos gostosos que guardo na memória, o cortejo pelas ruas da oficina de “Brinquedos e Brincadeiras”. Por onde o mestre Adelsinho passava com sua “chusma de menino” enchia os olhos de novos e velhos. As birutas coloridas e barangandões multicoloridos, é uma fotografia que guardo com muito esmero.
O FESTIVALE de 96 terminou para mim de forma triste. Fui um dos acometido pelo surto de disenteria que houve no final do evento. Não esperei o encerramento e aproveitei a primeira carona que apareceu. Valeu a pena ter vivenciado aquele primeiro que deixou o gostinho de quero mais.

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