Se você
procura uma obra que combine delicadeza, humor e um olhar crítico sobre o
cotidiano brasileiro do final do século XIX, Minha
Vida de Menina, de Helena Morley, é uma leitura indispensável.
Helena
Morley é o pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant, escritora mineira
nascida em Diamantina, em 28 de agosto de 1880. Proveniente de uma família de
ascendência inglesa por parte de pai, Alice foi incentivada ainda jovem a
registrar suas impressões diárias em um caderno, presente de seu pai. Assim
nasceu o diário que, décadas mais tarde, se transformaria em um dos mais
preciosos retratos da vida em uma cidade mineradora no interior de Minas
Gerais.
Minha
Vida de Menina foi
publicado apenas em 1942, com grande sucesso. Em 1957, a obra foi traduzida
para o inglês pela renomada poetisa norte-americana Elizabeth Bishop, o que
ampliou ainda mais seu reconhecimento internacional. Escritores como Carlos
Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa teceram elogios à singularidade do
diário.
A
narrativa cobre o período entre 1893 e 1895, época em que o Brasil vivia os
primeiros anos da República e lidava com as profundas cicatrizes deixadas pela
abolição da escravatura. Com linguagem simples e toques de humor refinado,
Helena descreve as alegrias, os conflitos e as contradições da vida em
Diamantina — cidade marcada pela herança colonial, pela religiosidade e pelas
mudanças sociais.
O olhar da
jovem narradora traz à tona temas como as tensões raciais, as hierarquias
sociais, as tradições familiares e os desafios da educação feminina. Um dos
aspectos mais comoventes do livro é a maneira como Helena observa a vida dos
ex-escravizados ao seu redor, demonstrando empatia e criticando, ainda que de
maneira sutil, o preconceito de sua época:
"Penso
que se a menina fosse branquinha mamãe não se incomodava. [...] Que culpa têm
os pobrezinhos de serem pretos? Eu não diferenço, gosto de todos."
Além
disso, Helena — curiosa, espirituosa e inconformista — reflete sobre o papel da
mulher, a educação, as festas populares e as mudanças políticas, como a posse
de Prudente de Morais, o primeiro presidente civil do Brasil. Ela retrata
também sua passagem pela Escola Normal e sua breve experiência como professora,
além de suas alegrias e frustrações juvenis.
A riqueza
do diário não está apenas nos acontecimentos narrados, mas no modo como são
descritos. A espontaneidade, a visão crítica e o frescor da linguagem tornam Minha Vida de Menina uma
obra de valor literário, histórico e cultural incontestável. Trata-se de um
painel sensível e vibrante de uma época e, ao mesmo tempo, um testemunho da
construção da identidade feminina no Brasil do século XIX.
Minha
Vida de Menina é,
sobretudo, um convite para conhecer uma jovem que, com simplicidade e
inteligência, soube captar a essência de seu tempo e transformá-la em
literatura atemporal.
Não deixe
de embarcar nesta leitura!
link de uma análise mais aprofundada do livro:
https://www.youtube.com/watch?v=NJY2NWTC5dA
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