Hoje quero falar um pouco sobre a intelectual, ativista e poeta Beatriz Nascimento. Nascida em Aracaju-SE em 1942, filha de uma dona de casa e de um pedreiro, Bia como era chamada pelas pessoas próximas, mudou-se para o RJ com a família em 1949. Entre 1968 e 1971, Beatriz Nascimento cursa História pela UFRJ, faz pesquisa no Arquivo Nacional e torna-se professora da rede estadual do RJ. Foi uma das fundadoras do Grupo de trabalho André Rebouças na UFF. Neste período, Beatriz estabeleceu relações com pesquisadores/as das questões raciais do Brasil e do mundo, participou de vários grupos de ativistas antirracistas e manteve relações estreitas com o Movimento Negro Unificado. Deixou várias publicações em periódicos diversos, continuou seus estudos de Pós-graduação na UFF. Sua produção mais conhecida foi o documentário Orí (1989) cujos textos foram escritos e narrados por ela. O documentário traz os movimentos negros brasileiros entre 1977 e 1988, relaciona Brasil e África, tendo como centro a noção de Quilombo, entrelaçada à própria trajetória de Beatriz Nascimento. Escreveu diversos poemas que foram encontrados nos seus arquivos, não tendo sido publicados. Em vida Beatriz Nascimento alcançou visibilidade por seus estudos sobre Quilombo, porém, sofreu um apagamento nos círculos acadêmicos sobre a questão racial no período, marcados pelo predomínio branco e pela ênfase à escravidão, conforme a própria Beatriz Nascimento: “Quando cheguei na universidade a coisa que mais me chocava era o eterno estudo sobre o escravo. Como se nós só tivéssemos existido dentro da nação como mão de obra escrava, como mão de obra pra fazenda e pra mineração. (1989 citado por Ratts em Eu sou Atlântica).
Beatriz também problematizou a questão da segregação racial no Brasil, que mesmo não sendo legalizada, funciona ao restringir negros e negras a alguns espaços, impedindo-nos de ocupar outros lugares valorizados da sociedade, como o espaço educacional: “Esse processo costuma ser longo e insidioso e começa já na escola primária. Lá em Sergipe, para citar um fato concreto. Eu estudava numa escola que era num terreno arrendado de minha avó, era em frente à casa dela; pois bem, eu muitas vezes inventava um dor de barriga e fugia, sabe por quê? Porque tinha pouquíssimas crianças negras, iguais a mim na escola. E esse fenômeno acontece comigo até hoje. Eu me sinto mal, me dá uma sensação de isolamento quando eu estou num grupo onde não têm muitos pretos. (entrevista citada por RATTS em Eu sou Atlântica). Sobre o conceito de Quilombo, Beatriz pretendia mostrar a continuidade histórica da formação de quilombos pelos negros e negras: “demonstrar que os homens e seus grupamentos, que formaram no passado o que se convencionou chamar “quilombos”, ainda podem e procuram fazê-los. Não se trata de, no meu entender, exatamente de sobrevivência ou de resistência cultural, embora venhamos a utilizar estes termos, algumas vezes como referência científica. O que procuramos neste estudo é a “continuidade histórica”, por isso me referi a um sonho. (RATTS, Eu sou Atlântica) É desta continuidade que Beatriz trata no documentário Orí. Infelizmente a trajetória da intelectual negra foi interrompida precocemente por um feminicida. Porém, seus pensamentos permanecem no tempo eternizando-a e merecem ser estudados de forma mais aprofundada. Para a escrita deste texto utilizei como fonte o livro de Alex Ratts “Eu sou Atlântica: Sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento”, o livro traz um estudo das produções intelectuais de Beatriz, entremeados à sua trajetória de vida. O documentário Orí é outra fonte importante que pode ser assistido por quem desejar conhecer mais sobre esta importante intelectual brasileira. Axé! Até a próxima!
Por
Texto fluido! Obrigada pela partilha!
ResponderExcluirAdorei❤️
ResponderExcluir