Se sentia tão só e fraca, a pele fina como papel, qualquer esbarrão já machucava. Passava boa parte do dia perdida entre as plantas, avencas, bananeiras, roseiras, losna, erva-doce. Carpia um pouco, agachada, já não conseguia manter o corpo reto. Qualquer incomodo de saúde na vizinhança era sanado com ervas de seu quintal e suas rezas sussurradas, enquanto suas mãos moviam um galhinho de arruda. Uma das filhas era casada, tinha quatro filhos e sofria com o gênio violento do marido, a mais velha ainda solteira, trabalhava em casa de família, só aparecia aos fins de semana. Os netos também raramente a visitavam. D. Tomásia ficava mais sozinha com as plantas, até para ir à igreja, ia só, devagarinho, pois arrastava uma perna, resultado de um derrame que teve. De quando em quando relembrava trechos de sua vida, mas logo esquecia, entretida com as coisas do quintal. Outro dia recordou que quando menina, com cinco anos, por ser muito pequena precisava subir num banquinho para cozinhar. Morava com a família que a pegou para criar após o falecimento da mãe e o sumiço do pai, ficou com eles até se casar, fazia todo o serviço, limpava a casa de cômodos, buscava água no poço, cuidava dos animais, pajeava as crianças. Ao se casar, mudou de Terra Branca para Bocaiúva, depois foram para Montes Claros. O marido sempre em busca de um trabalho melhor. Tantos anos depois, família criada, estava só, após o falecimento do marido. Mas não reclamava. Até gostava do sossego de sua casa e do emaranhado das plantas do quintal. De vez em quando, recebia a visita de alguma vizinha. Também apreciava conversar com as vizinhas, só não tolerava fofoca, quando alguém chegava para contar que fulana ou beltrana tinha falado mal dela, respondia: “Falou de mim? Deixa falar! Que importa-me lá? Gente boa não há”.
Por
Nenhum comentário:
Postar um comentário