O dia 15 de
Outubro é uma data muito feliz para nós, professoras e professores, quando
recebemos as felicitações gratificantes por parte dos/as estudantes com os
quais convivemos, aprendendo e ensinando. Nesta data até 2017, meu telefone
tocava e minha mãe cantava: “Professora, querida professora, nesta data, nesta
data tão feliz, Deus lhe dê, Deus lhe dê, professora, todo bem, todo bem que a
gente quis. (...) no recreio a correr, como nós a viver, a nos dar sempre o seu
coração”. Eu ficava desconcertada e sem saber o que falar, me emocionava com
esse reconhecimento dela, que demonstrava também orgulho por eu ter me tornado
professora, a primeira da família. Nesse dia, todo ano, fico esperando a ligação que não mais virá,
pois ela partiu definitivamente de minha vida, porém, a grata lembrança
permanece. Quero neste espaço compartilhar com vocês um pouco da trajetória de
uma professora que conheci, trata-se de minha Tia Zezé que já mencionei em
outro texto. Ela foi professora por trinta anos na Comunidade Rural de
Catarina, município de Bocaiúva. Me relatou que após ter formado a quarta série primária, que equivale
a atual quinta série do ensino fundamental que conhecemos hoje, foi indicada
para o cargo de professora rural. Chegou na Fazenda Catarina para lecionar,
entretanto, como não havia prédio escolar, as aulas ocorriam na casa de um fazendeiro. Posteriormente, Tia
Zezé mobilizou a comunidade e conseguiu construir a escola que até hoje
funciona como educandário do município. Relatou-me também, que, naquela época
era um tanto quanto difícil, além de ensinar, ela também fazia a merenda dos/as
estudantes, sua casa era muito distante, os caldeirões eram pesados, a comida
cozida no fogão de lenha. Para transportar até a escola, usava uma vara forte
que passada na alça do caldeirão o suspendia, uma ponta no seu ombro e a outra
no ombro de alguma das estudantes, assim iam levando até a escola. Além de
ensinar as primeiras letras e as quatro operações, era ela quem orientava as
meninas sobre as questões próprias da vida das mulheres, como a primeira
menstruação, casamento etc. Também se envolvia em conflitos familiares ao
tentar proteger suas alunas das violências dos pais. Durante o dia lecionava
para as crianças e à noite para os adultos, em sua maioria não alfabetizados,
dentre estes, conheceu o marido, meu tio Preto e se casaram. Depois de casada
passou a desempenhar um jornada exaustiva, dava aulas, trabalhava em casa
fazendo comida para os camaradas, buscava água, lavava roupas no rio e ainda
trabalhava na roça. Uma vida dura, amenizada pelas atividades religiosas e
comunitárias, minha tia era Católica,
devota de Bom Jesus da Lapa e do Senhor do Bomfim. Todo ano viajava para a Lapa
em peregrinação, bem como, para Bocaiúva em procissão. Penso que a experiência de
minha já falecida tia é semelhante à de muitas/os professoras/es ao longo da
história da educação no Brasil. Tendo que assumir muitas vezes as atribuições
dos gestores públicos, como a construção de escolas, para garantir o acesso do
povo brasileiro à educação. Nos ficam como símbolos da luta e resistência
anônima pela educação popular.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÓtimo texto!!! Parabéns!
ResponderExcluirParabéns professora,brilhante exemplo!
ResponderExcluirQue texto lindo professora! Sinto muito por não ter mais sua mãezinha junto a ti,mas tenha certeza que em algum lugar ela zela por você.E a sua tia hem? Quanta garra e doação em prol da educação, é com certeza merecedora de todas as homenagens.
ResponderExcluir👏👏👏
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