terça-feira, 31 de agosto de 2021

O ASSUNTO É? - Cinema e negritude




Sou apaixonada pela arte cinematográfica, porém nem sempre foi assim. Boa parte de minha vida assisti a filmes como quem consome algo para se divertir, sem capacidade de apreciar a sensibilidade artística das construções fílmicas. Foi um amigo, professor de inglês, quem me ensinou a apreciar as obras fílmicas como quem lê um livro, entender quem é a pessoa que dirigiu, a composição do elenco, quem preparou a trilha sonora, perceber como as pessoas que dirigem filmes assinam suas obras e poder estabelecer similaridades entre as obras dirigidas por uma mesma pessoa. Essa iniciação no universo da apreciação fílmica foi revolucionária para mim. É uma linguagem muito presente em nossa sociedade, responsável por atuar na produção do imaginário, do simbólico. Ao produzir e fazer circular sentidos socialmente construídos em várias sociedades, tem ainda o poder de ampliar nossa visão para detalhes antes imperceptíveis, criar mundos e influir neste em que vivemos. Podemos conhecer um pouco de cada sociedade a partir de suas produções fílmicas. Atualmente, é possível ter acesso ao cinema africano, indiano, sul-coreano e muitos outros. Mas gostaria de falar hoje sobre dois longas-metragens brasileiros: Café com canela, de 2017, dirigido por Glenda Nicácio e Ary Rosa, e M8- Quando a morte socorre a vida, de 2019, dirigido por Jefferson De. Escolhi esses dois filmes por serem dirigidos por pessoas negras, pelo elenco predominantemente negro e/ou por tratar com sensibilidade e sem estereótipos acerca de temas caros ao povo negro. Café com Canela é ambientado nas cidades de Cachoeira e São Félix, no Recôncavo Baiano, e tem como protagonistas Margarida (Valdinéia Soriano) e Violeta (Aline Brune). Apesar de tratar de temas “universais”, como a morte, a relação com a perda e a amizade, o longa-metragem traz várias referências à cultura negra e africana, como a orixá Oxum, sua relação com a água e a maternidade. O centro da trama é a relação de amizade e empatia estabelecida entre uma professora e sua ex-aluna. A fotografia é belíssima, assim como a trilha sonora. Traz no elenco Babu Santana interpretando Ivan, um homem homossexual de meia-idade que também vivencia uma perda. O segundo filme, M-8 Quando a morte socorre a vida, aborda o racismo estrutural que (des)organiza a sociedade brasileira. Trata das angústias do jovem Maurício (interpretado por Juan Paiva) que acabou de ingressar na universidade, no curso de Medicina, e se vê como o único negro da turma, visto que os demais negros na universidade, além dos vigias, são os corpos utilizados como objeto de estudo nas aulas de anatomia. Não vou discorrer mais sobre a trama, para não atrapalhar a fruição de quem for assistir. Porém, nessa breve sinopse já dá para imaginar quantas discussões importantes podem ser feitas a partir da obra. O drama traz outros/as grandes artistas, como Zezé Motta, Mariana Nunes, Ailton Graça, Lázaro Ramos, João Acaiabe, Raphael Logam e Rocco Pitanga. Por muito tempo, as negras e negros foram apresentadas/os de forma estereotipada e preconceituosa no cinema e na televisão, porém, graças à luta incansável de intelectuais e militantes, como Abdias do Nascimento, Maria do Nascimento e outros do Teatro experimental do Negro (TEN), tais construções têm sido rechaçadas, demonstrando o vigor e a beleza das produções artísticas do nosso povo. Essas duas obras podem ser trabalhadas em sala de aula favorecendo o reconhecimento e fortalecimento da identidade de jovens negros/as, visto que, conforme Lélia Gonzales: “ A gente não nasce negro, a gente torna-se negro. É uma conquista dura, cruel e que se desenvolve pela vida da gente afora. É uma identidade que você vai construindo. Essa identidade negra não é uma coisa pronta, acabada.”

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sábado, 28 de agosto de 2021

EscreVIVENDO - Afinal, o que é ESCREVIVÊNCIA?

 

fonte: retirada do site: https://www.anf.org.br/queremos-conceicao-evaristo-na-abl/

Já que estamos falando sobre literatura por aqui, venho partilhar com vocês este tema bem legal. Conforme o livro “Escrevivência: a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo”, este termo foi criado por esta autora, em 1995, em sua dissertação de mestrado, e se encontra como objeto de estudo de profissionais de diversas áreas, sendo discutido tanto nacional como internacionalmente.

Embora aqui eu esteja trazendo reflexões iniciais, compreendo que este termo não é fechado. É um conceito que, por se conectar, necessariamente, com a vida, pois a palavra VIVÊNCIA está dentro dele, é um termo dinâmico, ainda que tenha uma direção e um sentido, não sendo, portanto, associado a qualquer tipo de escrita.

Conceição Evaristo nos mostra que a escrevivência, em sua concepção inicial, se expressa como um ato de escrita das mulheres negras que vem romper com o apagamento imposto ao corpo e à voz dessas mulheres ao longo da história. Afinal, o Brasil vivenciou quase quatrocentos anos de escravização do povo negro, e a escrevivência vem para expressar todo o potencial que foi negado e que traz as marcas disso até os dias de hoje.

Portanto, escrevivência se conecta com a história. Compreendo, também, que envolve pensar como algumas identidades são desvalorizadas em comparação com outras. A escritora Djamila Ribeiro afirma isso ao considerar que pessoas negras em geral e mulheres negras especificamente não são tratadas como humanas, uma vez que o conceito de humanidade, historicamente, se conectou aos homens brancos.

Assim, pensar a compreensão do termo escrevivência envolve pensar a resistência. EscreVIVER é dar projeção à nossa vivência, como povo negro, para o mundo, é difundir conhecimentos e, com isso, mostrar a nossa história, o que relaciona com uma perspectiva coletiva, conectada com a realidade. Por isso, escrevivência extrapola a escrita de um sujeito individualizado, conforme aprendi com a Conceição Evaristo.

A escrevivência me permite perceber que a escrita está na vida e que, se você vive, você pode escrever. Por isso, vejo que a escrita nunca poderá estar limitada apenas ao âmbito escolar ou universitário, uma vez que este espaço é apenas um, dos diversos que existem, e que permitem a produção de conhecimentos.

Portanto, peço licença para partilhar aqui, com vocês, nos sábados, as minhas tentativas de ESCREVIVER, enquanto mulher negra do Jequitinhonha. Vem comigo?! Aguardo vocês.

FONTE: Este texto foi baseado no livro: “Escrevivência - a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo”, organizado por Constância Lima Duarte e Isabela Nunes. 1º edição, Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020.

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quinta-feira, 26 de agosto de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Degustação com Maiara Alcântara

 

MAIARA ALCANTARA OLIVEIRA, nasceu em 25 de novembro de 1995, em Medina-MG. Passando a residir em Comercinho a partir de 2003. Escreve desde os 17 anos de idade, formada no curso Técnico em Agropecuária e recém formada em Ciências da Natureza pela UFVJM. Ela participa ativamente em movimentos sociais/culturais na região, já foi representante jovem do médio Jequitinhonha. Ama a vida, as palavras e a poesia.

 

 

Uma mulher assim

Maiara Alcantara Oliveira

 

Uma mulher assim, sei lá...

Pouca paciência, muita simpatia,

olhar vazio, mas que transmite alegria.

Se diz bruta, mas é uma bruta diferente,

tipo uma bruta daquelas que desperta curiosidade na gente.

No fim, dá pra ver que é uma bruta mais amável

do que muitas amáveis brutas.

Ela é assim, sabe?

De muitas palavras... de poucas palavras... nunca se sabe...

Às vezes some, às vezes aparece.

Quando aparece traz alegria,

e quando some, deixa aquela infinda vontade de continuar...

a conversar,

a apenas olhar;

falar besteiras ou filosofar,

fazer análises ou tagarelar.

De todo modo é uma pessoa singular,

com seus mistérios,

com suas besteiras,

com suas convicções.

Mas, o mais tocante são as suas emoções...

Um vulcão de amores, valores, sabores, temores

e outros sentimentos.

É fácil ver esta mulher, difícil é descrevê-la.

É fácil escutá-la, difícil é entendê-la.

Talvez você a ame, difícil será tê-la.

Pode tentar seduzi-la usando palavras meigas...

Boa sorte, mas acho difícil!

Ela não é de ninguém e não se entrega a ninguém a não ser a si mesma.

Não há receitas para lidar com ela! Isso, porque com ela não existem rótulos.

Com ela, ou é, ou não é.

Liberdade a define bem.

Sei lá... Ela é assim e não vai mudar!

Ela é sobretudo dela,

é ela por ela.

Ela se basta,

se completa, ela se ama.


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quarta-feira, 25 de agosto de 2021

OPINIÃO DO BLOG - O tempo não para

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O tempo não para. A vida humana é mesmo engraçada. Vivemos esperando alguma coisas acontecer. A gente espera o amanhã. O hoje iluminado e, a gente obcecado com o futuro, esquecemos de viver. Viver o hoje porque o próprio nome já diz, presente. 

Ficamos esperando um bom dia, um abraço e até um encontro e não damos um passo para diminuir os distanciamentos. Nos tornamos escravos do momento da espera e o tempo flui. Nos perdemos em nós mesmos e o problema é só viver. 

Escrever ainda que ninguém vá ler, falar ainda que o outro não dê atenção, sorrir apesar de ser ignorado. As relações de presente precisam ser vividas, levadas ao extremo. Seja sua vida. Viva! Pecar por excesso a ficar omisso. 

E faça acontecer, não deixe de agradecer, de abraçar, de procurar de mandar mensagem de dar sua opinião de construir pontes e fazer projetos. A vida é um eterno DEVIR que precisamos acompanhar no dado do presente. fazer acontecer a vida, sem hipocrisias e sem mentiras. 

Ninguém merece ser refém de uma falsidade. Viva o hoje, sinta o hoje, erre no hoje e faça a vida valer no hoje, o amanhã poderá chegar vazio, sem sentido e sem base. Mude sua relação com a vida. 

Aprenda a construir pontes, a insistir na travessia e nunca esquecer que a vida precisa de poesia. Porque esperar o amanhã se você só tem o hoje e você. Se permita, seja vida. seja o hoje


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terça-feira, 24 de agosto de 2021

O ASSUNTO É? - A Morte

 

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A morte nos surpreende e assombra. Apesar de que já deveríamos ter nos acostumado com esse evento natural que, assim como o nascimento, faz parte do ciclo de existência de todo ser vivente. Porém, nós humanos, por nos diferenciarmos dos demais animais e por produzirmos cultura, sabemos que em algum momento de nossa trajetória no planeta terra iremos finar. Portanto, buscamos diversas estratégias para burlar o poder implacável da morte.  Uma das que tem sido mais utilizada pelas sociedades humanas ao longo do tempo é a projeção de uma vida após a morte. Comumente, acredita-se que a continuidade da existência após a extinção da vida terrena está interligada às ações anteriores à morte, ou dependem da constância dos que ficam, em realizar ritos para garantir o bem-estar da pessoa falecida em sua nova existência. Outra forma usada, com êxito, para enganar a morte é deixar registros escritos. Estes, quando considerados relevantes pelas sociedades vindouras, eternizam a passagem terrena de quem os escreveu, transformando-se em monumentos de memória. O profeta Jeremias, por exemplo, é lembrado até os dias atuais, graças aos seus escritos; Salomão é outro que se tornou célebre e atravessou eras. Safo, a poetisa habitante da ilha de Lesbos, é conhecida por nós, mesmo tendo transcorrido tantos séculos, graças aos seus escritos. Aqui no Brasil lembramos Maria Firmina dos Reis, a primeira mulher a escrever e publicar um romance no país, em meados do século XIX, período árduo para as mulheres, principalmente para as negras como ela.  E, mais recente, temos Carolina Maria de Jesus que é e será lembrada pela sua incansável produção literária num contexto social muito adverso à sobrevivência.  Outra forma de se eternizar é através de grandes feitos; foi assim que se eternizou Luiz Gama, o advogado negro que defendeu e libertou mais de quinhentas pessoas da escravidão no final do século XIX. Também Laudelina de Campos Melo, pioneira na organização sindical das trabalhadoras domésticas brasileiras, se faz lembrar na contemporaneidade.

Poderíamos tecer muitas outras reflexões sobre a morte e as tentativas de burlá-la e enumerar vários humanos que conseguiram perpetuar seu nome no tempo, mas ficamos por aqui. Para finalizar, queremos enfatizar que a morte nos inquieta e atemoriza, mas ao mesmo tempo nos ensina, principalmente quando se torna tão próxima, como nestes tempos de pandemia.

Se lembrássemos com frequência de que um dia morreremos, possivelmente viveríamos com mais verdade e coragem, com menos pressa e medo.

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sábado, 21 de agosto de 2021

EscreVIVENDO - Dois anos do Leia Mulheres Araçuaí

 


Olá, leitores e leitoras do ESPAÇO LIVRE. É com muito prazer que, na nossa coluna de hoje, partilho com vocês um texto que construí em homenagem aos dois anos do clube LEIA MULHERES ARAÇUAÍ. Este texto esteve na abertura do nosso Sarau de aniversário, no último domingo. Segue abaixo:

Era agosto de 2019, os nossos corações pulsavam de alegria ao iniciar o nosso primeiro encontro, no Museu de Araçuaí, lugar que nos acolheu até o 7º encontro, sendo que, a partir do 8º, começamos a fazer de forma remota. Hoje, neste dia do nosso 23º encontro, neste encerramento do segundo ano de existência, temos muito a comemorar: ganhamos uma projeção incrível no vale do Jequitinhonha. O nosso clube aparece como um grupo, que não só lê, mas que escreve, sendo puxado por mulheres, sobretudo, por mulheres negras. Isso significa balançar as estruturas da sociedade, significa enfrentar o patriarcado e refletir sobre ele em nossa região.

Atualmente, realizando reuniões de forma remota, atraímos cada vez mais participantes de todas as partes do Brasil. O número de mediadoras e coordenadoras cresceu de uma forma linda, inclusive, duas das autoras homenageadas em nosso Sarau de 1 ano, em 2020, Hérica Silva e Herena Barcelos, agora, também compõem a coordenação do nosso clube. Estas duas mulheres contribuem enormemente para que possamos destacar o nosso potencial de escritoras. 

Outra grande conquista foi o fortalecimento da interlocução com as autoras do Vale do Jequitinhonha, sobretudo, por meio da nossa série no Instagram. Esta iniciativa nos rendeu muito aprendizado e frutos para o aprofundamento de pesquisas acerca da literatura de autoria feminina em nossa região. Mulheres que se identificam como doula, indigenista, agricultora familiar, mestra, negra, feminista, educadora do campo, compositora, poetisa, militante e quilombolas. Todas elas socializaram os seus escritos com a gente, entre abril e julho de 2021, período da nossa série. Por isso, aproveitamos o momento para a agradecer, cada uma de vocês:

Hérica Silva/ Giselda Gil/ Geralda Soares/ Maguidá Freitas/ Iza Rodrigues/ Júlia Gomes/ Mari Carvalho/ Marilete Pereira/ Beth Guedes/ Cleidivânia Ferreira / Edinalva Rodrigues/ Maria Roberta/ DianaLuz/ Paula Mendes/ Evandra Pereira/ Samylle Raissa e Liliane Ferreira.

Por meio destas mulheres incríveis, quero dizer que a coragem que tiveram em expor seus escritos não é algo simples. Em um momento em que querem nos calar, ter a escrita de mulheres gritando é resistência. Disseram que o nosso lugar era só no lar, no âmbito privado, mas vocês nos inspiraram a dizer que não. Nós, mulheres, como qualquer outro ser humano, somos capazes de escrever sobre tudo, e vocês nos ajudaram a compreender que isso é verdade. 

Nos encontros deste segundo ano do clube, logo em seu início, pudemos conhecer um capítulo tão marcante da história de MG, por meio de “Holocausto Brasileiro”, de DANIELA ARBEX, em seguida, sentimos na pele os dilemas existencialistas postos por HANG KANG, em “A vegetariana”, a nossa primeira leitura oriental. Depois, experimentamos as delícias dos poemas de resistência, escritos por RYANE LEÃO. Após, lemos CHIMAMANDA, a nossa inspiração africana. Em 2021, começamos, maravilhosamente, entrando no universo de ALINE BEI, a primeira autora lida que esteve conosco. Em seguida, conhecemos a querida ELIANE ROCHA, uma potência regional, a nossa vizinha de Itinga-MG. Ainda, retomamos a obra de CONCEIÇÃO EVARISTO, para conhecer a Ponciá, que tanto já tínhamos escutado falar e, depois, lemos um História em Quadrinhos, que incrível, da LIV, uma autora sueca. Posteriormente, batemos um papo com GERA, a nossa conterrânea do Vale, explorando o seu livro sobre a trilha dos borun! E, ainda, mergulhamos no mundo de CAROLA, a “chilena brasileira”.

Assim, encerramos um ano de leituras! E estamos aqui, mais uma vez, como em 2020, celebrando o aniversário com vocês: mulheres do Vale, e todos/as os nossos/as amigos/as, convidado/as, artistas e familiares, que vieram nos prestigiar. Sejam todEs/as/os bem-vindos ao LEIA MULHERES ARAÇUAÍ. Este espaço é TODO nosso. Se acheguem! G.R.A.T.I.D.Ã.O !

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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Conversar, conhecer e conviver

 

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Alex Konrado

 

Ultimamente, vivo pensando sobre o quanto perdemos com a impaciência e agressividade que estão tomando conta das pessoas. É muita gente se sentindo livre para disseminar o ódio e ataques gratuitos. Por muito pouco, somos envolvidos em conflitos absurdos e desnecessários, conflitos que poderiam ser resolvidos com uma simples conversa.

A sensação que tenho, é que precisamos aprender a conversar, e principalmente aprender a ouvir. Parece que vivemos em uma disputa pela razão; e nessa “disputa”, dificilmente há vencedores, uma vez que, acontece de tudo... tiro, porrada, bomba, ofensas e barracos. Uma situação que nos aproxima da discórdia e nos distancia da compreensão.

A globalização é um fenômeno que nos fez perceber com mais nitidez, as diversidades presentes na humanidade. E descobrir “outros mundos” dentro do mundo, provavelmente, não está sendo fácil, principalmente para quem acredita ser superior aos outros. A dificuldade em se relacionar com “o diferente”, é facilmente notada em alguns espaços.

A internet, sem sombra de dúvidas, é um desses espaços em que notamos com mais frequência o acontecimento desses conflitos. Através dela, nos conectamos com pessoas de diferentes culturas. Inúmeros assuntos são discutidos e debatidos por indivíduos que muitas vezes nem se conhecem, ignorando assim, suas realidades de vida.

É importante destacar que, ao apontar a internet como lugar onde enxergamos melhor esse péssimo comportamento, não faço na intenção de culpa-la, muito pelo contrário. Descobrir outros humanos, outros modos de ser humano, pela internet foi uma grande conquista. O problema está justamente no ser humano que faz o uso de qualquer ambiente, sem saber conviver e respeitar os demais.

 

"Todos os animais, com exceção do homem, sabem que a urgência da vida é aproveitá-la."

Samuel Butler


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quarta-feira, 18 de agosto de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Guerra de Informações

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Todos os segundos somos bombardeados com informações de todos os tipos e de todos as fontes. O novo tempo exige de nós um filtro que muitas vezes não usamos. repassamos notícias que são falácias colocadas com um propósito para confundir e transtornar o conhecimento. 

E muitas vezes, somos culpados, porque também não procuramos fontes seguras e na pressa em querer saber e informar, atropelamos s checagem e nos enrolamos. Grandes são as perdas quando as informações são falsas, o mundo inteiro paga por uma "preguiça" de pesquisas e estudos. 

Nos tornamos preguiçosos, lemos o título e formulamos a informação da nossa mente doente e preguiçosa e repassamos. Os efeitos de uma sociedade imediatista e sem compromisso com a verdade. Quantas coisas lemos e um segundo depois sabemos que não é verdade. 

Pessoas morrem e são enterradas apenas por visitar um parente no hospital. Já não somos guardiões da verdade e das informações que edificam o conhecimento. O mundo mergulhou numa onde de fofocas que carinhosamente chamamos de fake news e está tudo certo, nem mesmo buscamos conhecimentos para chegar as verdades postas e tudo segue seu rumo. 

Famílias inteiras destroçadas por informações que não condizem com a verdades, comércios e lugares arrasados por situações firmadas na mentira e no desejo de deixar para trás a verdade. É tempo de um repensar filosófico, onde a verdade seja a luz do argumento e a razão seja posta diante das situações dúbias de conhecimento. Pensar e informar não é função de todos, somente daqueles que se debruçaram sobre a pesquisa e se chegou de fato o que deve ser comunicado.

A Filosofia precisa urgente retomar seu posto e destronar os sofistas de plantão que se instaurou novamente no mundo. Na guerra de informações o que prevalece é a pesquisa séria e a informação checada e verdadeira. A arma para a guerra é o conhecimento.

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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Perspectiva

 


Para Cláudio Bento

Singela homenagem aos 40 anos de poesia

 

Eu não sou gente de número. E olha que fui boa aluna das matemáticas. E olha que sou prática. Sou de fazimento, de execução, operacional. Mas não sou de números. Acho que não é coisa de raciocínio, é mais de despito. É que minha alma precisa de alguma leveza.

Não sei experimentar o mundo por moldes. O que sobra de tudo isso? Sobra uma falta. Faltam-me parâmetros. Mas esclareço que não é um lamento. É mais minha natureza mesmo.

É fato que o cotidiano, às vezes, reclama dados. E para uns casos não tenho para dar. Mas a incontestável continuidade vai dando seu jeito de ajeitar as coisas. É por isso que, também às vezes, o cotidiano me entrega umas reflexões novas que quando penso, sempre estiveram ali.

Tudo isso para dizer: eu gosto de grandezas. São vibrantes.

Por agora, Cláudio Bento comemora 40 anos de poesia.

Por um lampejo de concretude, me peguei pensando: que altura teria Cláudio Bento? Poeta de referência do Vale. Poeta de referência em minha vida. Encontro frequente das andanças valinas. Anfitrião de já muitos momentos. Meu amigo.

E eu só não sei.

Sei só que é grande.

Antes de saber disso que não sei, eu achava que sabia. Sabia ser coisa da distância, depois sabia ser coisa da idade, depois sabia ser da importância.

Mas chega o tempo da vivência, e se vão as lonjuras e as diferenças, e as justificativas. Olho no olho é um trem que nivela altura. Em nem assim o grande se foi. E espero que não se vá. É mais bonito poder ver as pessoas assim, radiando. Minha alma precisa de leveza.

Não sei se a grandeza ainda é a mesma. Bento, quanto mais perto, mais singelo chega, e quanto mais tempo, maior parece. Será que admiração cria uma grandeza própria? Cria sim. Afinal somos do mundo da poesia. A arte nos permite viver o próprio mundo melhor. Um próprio que não é só. O mundo da fantasia tem sua própria lógica. Ou lógicas. E eu vou aprendendo a habitá-lo.

Eu fico, miúda, vendo a tanta poesia tornar o homem Cláudio um colosso homem Bento. Bento é um pequeno menino poeta titânico. E isso torna a vida emocionante.

Tem outras gentes grandes nesse mundão de meu Deus. Aqui de meu cantinho, eu fico vendo, sem entender e já entendendo, tem gente que é enorme. E eu nunca nem atinei de botar reparo em que tamanho tem.

 

Agenda

Sexta-feira, 13 de agosto, 19h – Tomando Conhecimento, Herena Barcelos proseia com Jota Neris, no canal dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha no Youtube

Sábado, 14 de agosto , 19h– live 40 anos de poesia de Cláudio Bento

Domingo, 15 de agosto, pela manhã – Prosa de Domingo, canal da Rádio Zói d’Água no Youtube

Domingo, 15 de agosto, 18h – Sarau de dois anos do leia mulheres Araçuaí

Terça, 17 de agosto, 18h – Prosa Literária, canal da Rádio Zói d’Água no Youtube


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terça-feira, 10 de agosto de 2021

O ASSUNTO É? - Reflexões sobre a paternidade

 

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No domingo que passou, comemorou-se o Dia dos Pais, data que nos convida a refletir sobre os significados e questões relacionadas ao desempenho da missão de pai. Na sociedade brasileira, historicamente, a maioria dos genitores não partilha da criação dos/as filhos/as. Segundo dados recentes do IBGE, são onze milhões de mães solo no país, ou seja, mães que criam os/as filhos/as sozinhas, sem falar nas que estando juntas com o genitor são sobrecarregadas de trabalho doméstico, cumprindo dupla jornada. Afinal, participar do processo de gerar uma nova vida é mais fácil que criá-la, principalmente para o genitor, visto que, por não precisar gestar e parir, fica mais fácil se desvencilhar da responsabilidade com a cria. Se fazer pai e participar da criação e educação dos/as filhos/as acaba sendo uma opção e não uma obrigação, como o é para as mulheres, que são moralmente condenadas quando “abortam a missão de criar os/as filhos/as”. O mesmo não ocorre com os pais ausentes, pelo contrário, é considerado natural que os homens não compartilhem dos cuidados com os filhos, trocar fraldas, alimentar durante as noites, dar banhos e participar do processo de educação da criança. Até recentemente, antes dos testes de DNA e da investigação de paternidade, era ainda mais fácil para os genitores se desvencilharem de gravidezes indesejadas. As crianças ficavam sob a responsabilidade das genitoras, que além de desprezadas socialmente por terem engravidado fora do casamento, era mal vistas, culpabilizadas pela gestação e rejeitadas no mercado de trabalho, resultando no aprofundamento das desigualdades de classe e gênero. Escrevi no passado, mas muitos desses sofrimentos ainda acometem as mulheres que engravidam de forma não planejada. Porém, acredito que mudanças estão acontecendo na sociedade brasileira no que diz respeito à paternidade. Essas mudanças se relacionam às transformações nos padrões de masculinidade. Cada vez mais os homens vão questionando as construções tradicionais de gênero que os afastavam da humanidade, como por exemplo a ideia falsa de que deveriam sempre se mostrar fortes e violentos, não devendo se emocionar, chorar, participar dos cuidados com a prole, demonstrar carinho e afeição. Apesar do número elevado de genitores ausentes e dos que estando presente são violentos e abusivos, acredito que gradualmente os homens vão se conscientizando da importância de se responsabilizarem pelo controle da reprodução e por assumirem suas responsabilidades quando participam do processo de originar uma nova vida. Os que já participam da criação dos filhos gradualmente tomam consciência da importância de um lar afetivo, com divisão das tarefas domésticas, sem exploração do trabalho da mulher, sem violência e sem medo. Com essas transformações, acredito que teremos uma sociedade menos violenta, com menos crianças e jovens adoecidos pela depressão e ansiedade. Para finalizar, parabenizo a todos os homens que, dentro de suas possibilidades, desempenham a missão de forma amorosa, bem como a cada uma das onze milhões de brasileiras  que são mães solo.

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sábado, 7 de agosto de 2021

EscreVIVENDO - Projeto “Nossas Autoras” do Leia Mulheres Araçuaí-MG


Como foi dito no último sábado, hoje nós vamos comentar sobre o “Projeto Nossas Autoras”, lançado pelo clube Leia Mulheres Araçuaí-MG, em sua página no instagram.

Para quem ainda não conhece, o “Leia Mulheres” é um Projeto Nacional, que surgiu em 2015, em São Paulo-SP, está presente em mais de 150 cidades brasileiras e objetiva a leitura de mais escritoras. Na cidade de Araçuaí, no médio Vale do Jequitinhonha, o clube iniciou as suas atividades há dois anos. Em 2021, este coletivo tem fortalecido a sua conexão com as escritoras do nosso Vale e, por isso, teve a iniciativa de criar o “Projeto Nossas Autoras”, em seu instagram, para fomentar a divulgação destas mulheres, uma vez que observou que, nós, muitas vezes, temos a dificuldade de valorizar os nossos potenciais, como, por exemplo, a escrita.

Tal fato se vincula a uma questão estrutural da sociedade, o patriarcado, que existe há séculos, e que contribui para que haja a exploração e a submissão das mulheres, o que impacta diversas esferas da vida social, como a escrita. A divisão sexual do trabalho, na sociedade, favorece para que as mulheres se restrinjam ao âmbito privado, doméstico, das tarefas de cuidado etc., como se, como qualquer outro ser humano, não fôssemos capazes de escrever sobre tudo, ou seja, ciência, literatura, sexualidade, filosofia, arte, história, matemática etc.

O “Projeto Nossas Autoras”, do clube Leia Mulheres Araçuaí, teve como inspiração a série “Autoras da Casa” proposta pela coordenação nacional do “Leia Mulheres”, o clube de São Paulo, que promoveu esta ideia, em seu site, em março de 2021. Esta série objetivou comemorar os seis anos do “Leia Mulheres” em território nacional, divulgando os talentos das mediadoras dos diversos clubes que existem. Através dessa série, Herena Barcelos e Paula Mendes, do nosso clube, publicaram uma linda poesia (ver aqui https://leiamulheres.com.br/2021/03/autoras-da-casa-herena-barcelos-e-paula-mendes/:), o que nos incentivou a conhecer e a fomentar a escrita das mulheres do Jequitinhonha.

O “Projeto Nossas Autoras” teve o seu primeiro ciclo entre o período de 07 de abril a 28 de julho de 2021 e homenageou, todas as quartas-feiras, uma autora do nosso Vale. Foram 17 semanas. Dentre as homenageadas, oito são da região do médio, três da região do alto, e seis do baixo, Vale do Jequitinhonha. Com exceção de uma, que nos procurou para divulgar a sua obra, visto a projeção do nosso coletivo, todas foram indicadas por membros do nosso clube. Foram mulheres que se identificam como: doula, indigenista, agricultora familiar, mestra, negra, feminista, educadora do campo, compositora, poetisa, militante e quilombolas, o que muito nos encantou, pois revelou uma diversidade riquíssima de perfil. A maioria nasceu e mora no Vale do Jequitinhonha, mas duas nasceram e não moram atualmente em nossa região e, outra, não é natural do Vale, mas se reconhece como do nosso Jequi. Além disso, seis delas já publicaram livros.

Os escritos destas autoras, que foram cedidos por elas para serem divulgados em nosso instagram, contém temas variados. Os que mais apareceram foram: questões existenciais que envolvem, especialmente, a solidão, a saudade, os sonhos e o amor; expressões artísticas e naturais do vale; bem como a militância e o feminismo. Isto comprova que a mulher possui escritas múltiplas.

Convidamos vocês para acessar o nosso instagram e conhecer mais sobre o “Projeto Nossas Autoras”: https://www.instagram.com/leiamulheresaracuai .

Aproveitamos para lembrar que no dia 15 de agosto terá o Sarau, em comemoração aos dois anos do Leia Mulheres Araçuaí. Haverá a participação dessas autoras que aqui citamos e muito mais. Esteja conosco!


Agenda



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quinta-feira, 5 de agosto de 2021

DEGUSTAÇÃO com André Eduardo Lemos



André Eduardo Lemos - Um homem gay de trinta e poucos anos, natural de Diadema, no Estado de São Paulo. Começou a escrever em versos com oito anos, quando aprendeu a rimar com a professora Angélica. Escrever poemas o afasta da tristeza e costuma descrever situações da sua vida ou de pessoas próximas.


               

Tudo aquilo que eu não queria querer

 

Dizer que quem se descreve se limita chega a ser ridículo,

mas amanhã posso mudar de opinião e pensar completamente diferente.

Indescritível mesmo é a dor,

e as viagens da minha mente.


 

As lágrimas já acabaram,

esperança eu não tenho mais.

A vida e a sua sina,

se importam com detalhes banais.

 

Desperdiçando o meu mel,

e parafraseando um bom cantor.

O meu maior inimigo seria,

a grande falta de um amor.

 

Me perdendo nos meus conceitos,

sentindo muita dor no peito.

Aonde foram parar os direitos,

daqueles que sofrem em seus leitos?

 

Sonhos não se realizam,

ter esperança causa decepção.

Cadê o amor ao próximo?

Quem disse que somos todos irmãos?

 

A matéria não serve pra nada,

mas se existe algo além dela eu não sei.

Sinto-me em uma encruzilhada,

ajuda a quem pedirei?

 

Enrolando por todo momento,

obrigado a disfarçar sempre meus sentimentos.

Um espetáculo ao desalento!

Serei eu mais um desatento?

 

Um ser humano incomum,

assim eu me descreveria.

Que sonha por um mundo melhor,

mas chora ao ver louça na pia.

 

Um ser humano incompleto,

na real eu deveria dizer.

Pois é grande o vazio que eu sinto,

por tudo aquilo que eu não queria querer



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quarta-feira, 4 de agosto de 2021

OPINIÃO DO BLOG - No palco da vida.

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Um dia me perguntaram porque as coisas sempre dão certo para você. Em um primeiro momento fiquei pensativo sobre a questão posta sem entender um pouco. mas daí, fui tomando consciência da pergunta e comecei a refletir de fato que "tudo" da certo era este.

E passou um filme pela minha vida. Voltei no tempo e comecei a me ver vendendo pipoca na rua e pastel para comprar as coisas que eu necessitava e meus pais não tinha condições. Me vi andando 6 km para dar aulas quando eu já podia exercer, me vi indo para belo horizonte e comendo pão com muito suor e me vi, trabalhando o dia todo e estudando a noite para "tudo" dar certo na minha vida.

E entendi, as pessoas não veem nossas histórias, não conhecem nossas memórias e sequer conhecem a nossa vida e falam, porque não se importam de fato com a sua vida. estão todos preocupados em tirar vantagem. Se estar bom para eles, tudo bem é a vida que conta. Vivemos numa sociedade que tudo flui pelos vão dedos, o imediatismo nos impede de participar da história do outro, da memória do outro e perdem o show da vida.

As alegrias são podadas, os momentos são efêmeros e as relações sem nexos. o outro passa ser apenas o outro e o conviver perde-se o sentido da vida. Deixamos tudo para depois e o que nos importa somente o pequeno momento que também como poeira passa.

 O show da vida perdeu o sentido, o encontrar-se tornou virtual e o calor se tornou frio. Somos convidados a ficarmos atentos uns aos outros e na apresentação da vida fazer história, construir memórias. Está na hora de viver.

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terça-feira, 3 de agosto de 2021

O ASSUNTO É? - Relações familiares e violência



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As notícias nos apunhalam o coração; todo dia ficamos sabendo de mais um feminicídio. Trata-se do assassinato de mulheres baseado em razões de gênero, ou seja, são mortas por serem mulheres consideradas transgressoras das normas de gênero, como por exemplo quando decidem pôr fim a um casamento ou outra forma de relacionamento amoroso. Mesmo após a lei do feminicídio, importante conquista das mulheres, os números seguem aumentando. É importante lembrar que nenhuma mulher está livre da ameaça de sofrer alguma forma de violência de gênero, pois vivemos numa sociedade patriarcal. Nossa sociedade é herdeira de uma histórica tradição de misoginia. Durante cerca de cinco séculos, as mulheres foram as principais vítimas da inquisição, arderam em fogueiras que iluminaram toda a Europa. A inquisição chegou também às Américas coloniais, condenando à forca mulheres acusadas de bruxaria em colônias controladas por puritanos na região norte do continente, bem como, através das mesas de visitação do Santo Ofício que chegaram à América portuguesa. Os feminicídios atuais são resultado de uma cultura patriarcal que estabelece a dominação masculina como legítima e estruturante da organização social. Discursos religiosos corroboram tal dominação, ao proporem a dominação masculina e consequente subalternidade feminina como parte da vontade divina, portanto, inquestionáveis. Da mesma forma, concorrem para perpetuação da violência de gênero os discursos pseudocientíficos que, ao longo do tempo, respaldaram a inferioridade feminina e, logo, a exclusão das mulheres de várias atividades, baseados em argumentos de uma suposta inferioridade biológica. Não se pode deixar de destacar também que a subordinação feminina dentro do patriarcado é um dos pilares do capitalismo, que se vale dessa desigualdade para explorar o trabalho das mulheres, inclusive na reprodução e criação dos/as filhos/as, futuros/as trabalhadores/as, consumidores/as e/ou soldados das guerras nas quais o Capitalismo se fortalece. São inúmeros aspectos que devem ser aprofundados para melhor compreensão da produção das desigualdades de gênero que se articulam com as de raça, classe, sexualidade e outras, o que não é possível neste espaço. Aqui, quero me ater às relações familiares para buscar refletir mais sobre as raízes da violência de gênero. Apesar das mudanças verificadas nas organizações familiares ao longo do tempo, ainda percebemos a manutenção de uma estrutura de poder e dominação. Tal estrutura se revela pelas inúmeras notícias de abusos contra as mulheres e as crianças ocorridos no ambiente doméstico. Exercício de poder desmedido, abusos e negligências com as crianças ainda marcam a forma como a família é organizada. Abusos físicos e psicológicos são entendidos muitas vezes como formas de educar as crianças e adolescentes. bell hooks,  no livro “ Tudo sobre o amor”, enfatiza que em famílias nas quais há abuso e/ou negligência não há espaço para o amor, considerado como “vontade de se empenhar ao máximo para promover o próprio crescimento espiritual ou o de outra pessoa”. Vale ressaltar que o termo espiritual não implica um sentido religioso, ela explica, servindo para definir a “força vital presente em cada indivíduo”. As reflexões da autora neste livro são muito importantes para mudarmos nossa forma de compreender as relações afetivas e familiares, para que possamos reinventar a instituição família, que ao longo do tempo nem sempre representou um refúgio de amor e proteção. Para as mulheres brasileiras, a casa é o lugar mais inseguro para se estar, já que, em sua maioria, os feminicídios são cometidos por homens próximos à vítima. Para além da punição dos agressores e assassinos, é necessário investirmos em educação para a igualdade de gênero, como preconiza a lei Maria da Penha, outra importante conquista da sociedade brasileira.

Por fim, convém lembrar que crianças que crescem em lares onde impera abuso e violência passam a naturalizá-los e, quando adultas, poderão ter dificuldades em distinguir relações afetivas saudáveis das abusivas. Acredito que se faz urgente unirmos forças, para construir novas relações, por um mundo mais igualitário e sem violência de gênero. 


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