quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Dia da Consciência Negra, muito além de uma data



       Justiça é consciência, nesse sentido para falarmos do dia da consciência negra, data importante, não só porque traz uma reflexão sobre os temas pertinentes aos direitos negados e consequência destes até os dias atuais, mas também porque celebra a morte de um grande líder negro desta nação, “Zumbi dos Palmares”. 
Mas estas reflexões precisam passar por uma reflexão histórica e que envolve a todos nós humanos, pois escravidão sempre existiu na humanidade, mas a escravidão no continente       Africano, feita pelos Europeus deixaram marcas profundas e que sagram até os dias atuais, esse escravidão no continente africano distingue das outras pelos seguintes aspectos, conforme cita o historiador Laurentino Gomes: Primeiro - A escala industrial foram 12,5 milhões de pessoas escravizadas, em 35 mil viagens de navios negreiros em quase quatro séculos de escravidão, e, mas de 1 milhão dessas pessoas morreram nas viagens. Segundo - O nascimento do racismo, pela primeira vez o sistema de escravidão na humanidade, faz-se uma relação entre escravidão e a cor da pele, baseado que os africanos eram selvagens, bárbaros, praticantes de religiões demoníacas, pagãos e inferiores como seres humanos. Assim surgiu esta mazela chamada racismo que é uma das grandes chagas da humanidade até os dias atuais. Segundo o historiador Eric Williams 

“A Escravidão não nasceu no racismo, mas o racismo foi consequência da escravidão”. 

     Por mais de três séculos de escravidão, o Brasil recebeu 4,9 milhões de pessoas africanas escravizadas e traficadas, sendo que mais de 600 mil morreram no caminho. 
Estes números assustadores fazem parte de nossa história, história de um povo negado, história que precisa ser recontada todos os dias para que se tomem consciência do papel de nosso povo na construção desta nação. Entre os fatos da história do povo Afro brasileiros, temos a data de 13 de maio, que não pode e não deve ser esquecida, é uma data importante para todo povo negro brasileiro, não pela visão aristocrática e contada nos livros de história onde a princesinha branca se tornou a redentora e libertou nosso povo. Mas sim a história de um movimento negro e abolicionista que antecede esta data, com reuniões, lutas e um movimento negro por libertação, no qual entre os principais lideres, três eram negros: 

José do Patrocínio 

Foi um dos principais representantes do movimento abolicionista brasileiro. Era filho de uma escrava com um religioso (vigário). Jornalista, farmacêutico, escritor e ativista político, lutou pelo fim da escravidão até a assinatura da Lei Áurea. 

Luís Gama 

Jornalista e advogado baiano era filho de uma africana com um fidalgo português. Foi vendido como escravo pelo próprio pai quando tinha apenas 10 anos de idade. Atuou em São Paulo, onde ajudou a libertar cerca de mil escravos cativos. É considerado um dos principais representantes do movimento abolicionista brasileiro. 

André Rebouças 

Engenheiro nascido na Bahia atuou junto com Joaquim Nabuco pela libertação dos escravos. Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Usou também jornais para publicar artigos contrários à escravidão. 

Tobias Barreto 

Foi um filósofo, poeta e jurista sergipano. Era um defensor de uma sociedade baseada na justiça social e nos direitos iguais para todos. Usou suas poesias para atacar o sistema escravista e defender a libertação dos escravos. Seu principal poema foi “A escravidão” de 1868. 

Joaquim Nabuco 

Foi um importante diplomata, historiador, político e jornalista pernambucano. Apesar de ser monarquista, Joaquim Nabuco defendeu o fim da escravidão, mas de forma pacífica e conciliadora. Para ele, o processo para a abolição da escravidão deveria acontecer no âmbito do Parlamento. 

         A nossa história vem sendo recontada, claro que ainda de forma muito lenta, avanços já começam a aparecer, as políticas públicas implementadas de cotas e de acesso à educação superior já trazem resultados, segundo o IBGE, Pardos e Negros hoje são maioria na Universidade Pública. Muito ainda precisa ser conquistado, lutas ainda serão travadas e uma nova abolição ainda se faz necessária. 
Torna-se quase impossível falar do dia da consciência negra, se não voltarmos para o lado humano de cada um, a data é um dia de celebração, mas também precisa e deve ser um dia de reflexão. Para nos negros é uma data que tem um cunho de orgulho muito grande é um dia que representa a nossa luta diária, por igualdade, justiça, pelo território, pelos negros, quilombolas, contra o racismo, principalmente o institucional. 
     Mas precisamos que todos nos negros ou brancos, entendamos que esta consciência ao respeito precisa acontecer todos os dias, deve ser um exercício diário de sensibilização a igualdade e ao respeito. 

“Durante 365 dias do ano, eu procuro exercitar a minha consciência negra, porque negro eu sou, conheço minha história, minhas raízes e tenho consciência do quanto árduo foi o caminho dos meus ancestrais, sei por quais dificuldades eu passei e passo, carrego impregnado em me as dores dos meus diariamente, quando vejo o genocídio de meus irmãos ainda tão jovens, quando vejo o racismo velado cortar o coração e dilacerar a alma, quando vejo nossas mulheres negras lindas, fortes e guerreiras ainda serem tratadas com um objeto, como a negrinha que só serve para os serviços braçais do lar dos patrões, quando vejo um jovem negro ainda ser abordado de forma brusca pela policia, pelo simples fato de ser negro, quando vejo que nos mais diversos lugares desta sociedade eu não estou representado, porque durante séculos os direitos do meu povo e o meu foi friamente surrupiado. 
Um dia destes 365 eu tiro para celebrar junto aos orixás, meu povo, nosso povo brasileiro a nossa própria consciência”. JC 

Jô Pinto 

Professor, Graduado em História e Pós graduado em Ensino de Filosofia 
Escritor e Poeta Negro 
Presidente da COQUIVALE – Comissão das Comunidades Quilombolas do Vale do Jequitinhonha



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