quinta-feira, 29 de abril de 2021

DIÁRIO DE LEITURA -- Feliz poesia!!

 


 

Falar de poesia no dia em que celebro minha vida é falar de uma coisa só. Na minha existência, poesia e caminhada se confundem. Não consigo me imaginar outra, que vivesse sem o lapidar das palavras. Nem quero.Meus laços são humanamente poéticos, meu lugar é poético, meu trabalho é poético e tudo que eu amo no mundo, amo pela poesia de vida que carrega.

A poesia é um não encerrar. Toda vida que fui e toda que precisa ainda ser está na espreita das palavras ousadas, precisadas de sair para dizer do que está dentro e a razão não dá conta. A poesia é meu máximo, onde mais estou, onde mais consigo, onde mais duvido, onde mais me perco e, por tanto, portanto, é onde mais sei.

Então nesse dia eu me dou de presente, aos que amo, ao que escrevo e ao que não toco. A alegria está nesse dolorido e saboroso eterno precisar.

 

AOS ETERNOS

De encontro à frieza, indiferença, incerteza.

Num mundo de sorriso pronto, ensaiado,

De carinho frio, abraço vazio, desapertado,

De beijo interesseiro, desinteressado,

Coração morto, respeito torto, olhar opaco,

Encontrar amigos é quase milagre.

Amigo assim, de verdade

Ao mesmo tempo sereno e quente,

Calmaria e vendaval,

Com o tempo ouvido e conselho,

A seu tempo colo ou carnaval.

De encontro a um mundo mudo

Por vezes ainda me encontro.

Por vezes encontro meu mundo até mudado.

E na mesmice de mim

Só o quem me faz assim nova

É dividir-me com quem me soma.

Nesse mundo mudo, calado,

Eu mudo pelos risos, abraços,

Pelos momentos, fatos, casos,

Pelo franco, pelo seguro.

Eu vibro com os amigos

Imperfeitos, sinceros, ternos.

E se ainda vivo

É pelo carinho dos que gosto,

Simples, queridos e eternos.

 

Deixo o pedido/desafio de presente: colocar mais poesia no mundo! Compartilhem alguns versos nos comentários! Ou compartilhem poesias em suas redes e me marquem.

Um viva para a vida!

 

Agenda

05/05 – Encontro Leia Mulheres Araçuaí, às 19h, no googlemeet, livro do mês “A Origem do Mundo”, de Liv Stromquist. Interessados fazer contato no perfil do Instagram @leiamulheresaracuai

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terça-feira, 27 de abril de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Aproveitar o hoje

 


Com tudo que o mundo tem vivido nesta desarmonia e desordem, tem deixado alerta quem de fato importa com a vida. Colocamos porém em tudo, fazemos questões por tão pouco e deixamos de viver.

A vida era de uma liberdade exacerbada, veio a pandemia e ficamos limitados, distanciados e isolados. Restou-nos a janela e o desejo de que tudo passe para vida voltar ao "normal". Não seremos mais normais, nem pode ser.

 O mundo ficou faltando tanta gente que morrem sem o último abraço, que morreu sem saber mesmo o que estava acontecendo e quem ficou, esse sim, precisa fazer diferente. Resignificar tudo vivido até aqui.

Fazer menos caso de coisas pequenas, harmonizar que aquilo que vale a pena e acima de tudo amar. Não um amor qualquer, mas aquele que te faz ver com olhos de bondade sem importar a idade, que sejamos luz.

O tempo nunca mais voltará pra gente arrumar a casa, mas no tem pó que corre a casa precisa ser renovada. A fé, o amor e caridade precisam retomar aquela normalidade que fazia sentido e nos animava a viver.

As grandes multidões, as grandes celebrações e os eventos grandiosos precisam ser revisto. Se ver melhor olhando no olho do outro e sem alvoroço sentir o que ele sente. O mundo que vinha tão doente, entrou em coma e quase morreu.

Tem gente que não entendeu e nem querer entender, vive em um mundinho fechado e isolado sempre viveu longe do ser. Agora, neste novo tempo, aproveitar o momento é viver.

VIVER não para si mesmo, mas dar condição em qualquer situação de fazer o próximo viver. É o lema  da nova caminhada e quando a casa for renovada, renovado deve ser o coração.


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segunda-feira, 26 de abril de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - A pedra do diabo

 

Ambição. A lenda da pedra de ouro do Vale do Jequitinhonha. Foto: Rolf Goerler.

Esta é uma adaptação do conto “A pedra de ouro”, oralmente transmitido pelo contador Joaquim, de Minas Novas, e que faz parte do livro de Vera Lúcia Felício Pereira, O artesão da memória no Vale do Jequitinhonha. (Editora UFMG, PUC Minas, 1996).

 

A história a seguir aconteceu lá pelas bandas do Vale do Jequitinhonha. Ali viviam, num pequeno sítio, um viúvo e seus três filhos. A idade avançada impedia o senhor de trabalhar e, por isso, os filhos cuidavam de todo o serviço da lavoura.

Tudo ocorria bem, até o dia em que apareceu, lá na roça, um diabo disfarçado de homem, bem aparecido. Ele cumprimentou os rapazes e, ao indagar o que estavam fazendo, chamou-os de trouxas. Explicou que eles poderiam encontrar um trabalho melhor, com mais benéficos, e que o pai poderia se virar sozinho.

O danado mexeu com a cabeça dos garotos, que acabaram concordando que aquele serviço não era para eles. Decidiram então ir embora, em busca de uma nova vida, sem ao menos avisar o pobre pai.

Os irmãos viajaram muito. E, certo dia, passando perto de uma mata, ouviram um chamado. Era a voz de um homem, que dizia: “ Venham aqui se vocês quiserem ver o laço do capeta!” Curiosos, os três entraram pela mata para ver o tal laço. E sabe quem estava lá? O tal diabo disfarçado, aquele que os encorajou a deixar a lavoura.

O misterioso senhor apontou para uma pedra no chão dizendo: “Olhem para esta grande pedra de ouro. Aproveitem! Ela é de vocês! Se estivessem trabalhando na lavoura até hoje, jamais teriam tanta riqueza! Fascinados, tentaram remover a pedra, mas o esforço foi em vão. O desejo de ter a pedra era grande e, por isso, os irmãos decidiram ir para a cidade mais próxima. Lá, comprariam cachaça, acreditando que a bebida lhes daria forças para arrancá-la do chão. Mas, como deixá-la ali, sozinha, desprotegida, correndo o risco de ser levada por outra pessoa? A solução foi deixar um dos irmãos por lá, tomando conta da preciosidade.

A essa altura da história, cada um dos rapazes, seduzidos pelo brilho do ouro, elaborou planos para se desfazer dos demais e ter a riqueza somente para si. Dessa forma, o que ficou tomando conta da pedra planejou matar os irmãos, enquanto um dos jovens que seguiram para a cidade pediu que o outro comprasse uma bebida no período em que ele estaria no mato para “amarrar o gato”.

Ao retornar com a cachaça, o outro rapaz ofereceu-lhe a bebida. E este, não sabendo que o líquido estava envenenado, deu dois goles e caiu morto. Logo após o ocorrido, o irmão pegou a garrafa e seguiu novamente para a mata. Então, ele foi surpreendido pelo outro, que, sem piedade, o matou. Agora, ele estava sozinho e rico! Para comemorar a vitória, pegou a garrafa e, acreditando ter sido o mais esperto, bebeu tudo, caindo duro feito uma pedra em seguida.

 

Publicado primeiramente por Bárbara Ribeiro em 15/12/2018 no site:

 https://www.ufmg.br/polojequitinhonha/2018/12/15/a-pedra-do-diabo/

 

quinta-feira, 22 de abril de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Resenha do livro “Esperança é vida”

 



Idealizado pelo mestre Tadeu Martins, o livro “Esperança é vida”, é um livro que você precisa conhecer, até porque, ele foi feito para ser um presente, ele foi feito para chegar em suas mãos. Organizado com muito carinho, esta obra conta com a participação de 44 autores do Vale do Jequitinhonha. A diversidade de textos, de universos culturais que cada autor(a) traz em si, se encontram em um mesmo objetivo: levar uma palavra de incentivo para a população.

O isolamento social que estamos vivendo em decorrência da pandemia, fez crescer de forma absurda a ansiedade entre as pessoas. O medo, a sensação de impotência diante das atuais circunstâncias, abalou psicologicamente e emocionalmente muitos de nós. Considerando todo o pacote de transtornos que a realidade pandêmica nos trouxe, fomos convidados(as) para participar do e-book. Reacendemos a esperança em muitos corações.

O objetivo de levar ao povo um livro de qualidade e cheio de amor está sendo cumprido. A distribuição dele está acontecendo gratuitamente. Em entrevista para o Blog na semana passada, Tadeu Martins informou que mais de 30.000 pessoas já tiveram acesso ao e-book, ou seja, um pouquinho daquilo que é produzido na literatura do Vale está sendo conhecido por milhares de leitores.

Este livro é mais um exemplo do quanto podemos ganhar quando compartilhamos solidariedade, afeto e leitura. 

Conheça “Esperança é vida”! Peça o seu exemplar nos comentários abaixo. Coloque seu nome e endereço de e-mail, enviaremos para você.

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segunda-feira, 19 de abril de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - As mulheres e homens de 1950

 



            As mulheres no Brasil de 1950 usavam vestidos que realçavam as cinturas finas, anáguas e combinações por baixo, não usavam calças compridas e, quando necessário, enchimento com pano nos soutiens. A generosa mini-saia ainda não havia sido introduzida. Só viria deleitar os homens, dez anos depois.

Os homens começavam sua elegância com brilhantina ou óleo glostora no cabelo, quase sempre um bigode na cara, terno e gravata até  para os momentos  menos formais, lencinho no bolso do paletó e alguns componentes de segurança como o suspensório. Os membros da alta sociedade, os gigolôs e poucos mais usavam o sapato de bico fino, inimigo figadal de unhas encravadas.

            Em Araçuaí, as moças usavam belos vestidos de chita estampada para os dias comuns e elegantes vestidos de seda para as festas. Os soutiens, feitos em casa, não impediam o destaque das protuberâncias superiores, só prejudicadas após o oitavo filho.

 Os homens, sempre com paletós muito folgados, feitos de brim cáqui, não usavam gravatas. Os mais velhos usavam chapéu, nem sempre da marca Ramenzoni, como os mais velhos, ricos, usavam.

 

 Texto extraído do livro: Araçuaí ano 1950-Histórias de um menino da Rua de Baixo. Autor:Lindolfo Ernesto Paixão,2004. Páginas 42 e 43

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quinta-feira, 15 de abril de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Herena Barcelos Convida Tadeu Martins

 



A literatura traz delicadezas que a gente não imagina. E a cultura também. E o Vale ainda mais. Receber o carinho das pessoas que a gente aprendeu a admirar desde muito antes dá uma riqueza de amor que enche a alma da gente de coisa que então só pode virar poesia. Nesse carinho de responder a um convite com prontidão, duas aulas de Tadeu: uma de história, embrenhada na trajetória de luta e construção do movimento cultural do Vale, outra de vivência, hachurada no respeito por quem ainda engatinha na caminhada de gente e agente. A gratidão é sempre imensa, mas a admiração permanece maior.

 

Tadeu, além de historiador, você é um multiartista, produtor cultural, poeta, escritor, apresentador, contador de causo. Conta um pouco para nossos leitores sobre esses vários Tadeus.

Eu sou de Itaobim, cidade cortada pelo Rio Jequitinhonha e por duas BRs, a 116 e a 367. A BR 116 trazia os nordestinos, vendedores de cordel que, aos sábados, declamavam ou liam os livretos de cordel, para atrair os compradores. Eu nasci e morava próximo ao mercado, onde naquele tempo era a praça principal da cidade. Aos 5, 6 anos eu gostava de ficar ali na feira, ouvindo, encantado, os vendedores de cordel. Com eles aprendi a amar a literatura de cordel e, antes de ser alfabetizado, eu já fazia meus versos e repentes. No grupo escolar e ginásio eu já escrevia versos para brincar com alguns colegas. O gosto pelo cordel político veio das campanhas eleitorais do meu avô Afonso Martins, que foi prefeito e vice- prefeito em duas cidades, Medina e de Itaobim, e também vereador nas duas cidades. No período eleitoral eu fazia versos ridicularizando os adversários políticos do meu avô e ainda adolescente fiz jingles e folhetos de campanha. Assim acabei virando cordelista, escrevi 84 folhetos de cordel, para partidos e candidatos de esquerda, para campanhas como a Diretas-Já, e para eleições sindicais e de associações de trabalhadores. E de tudo isto nasceu também o contador de causos e o escritor. Tenho 13 livros publicados e tive a oportunidade de lançar dois deles nos Estados Unidos.

Como produtor cultural comecei em Teófilo Otoni e Itaobim, promovendo pequenos eventos estudantis. Como davam certo, eu era sempre requisitado para produzir e/ou apresentar eventos.

Hoje tenho orgulho em dizer que somando os eventos que idealizei, que produzi e que apresentei, já trabalhei em 09 capitais e em mais de 500 cidades brasileiras. Em Belo Horizonte fui o apresentador de TODOS os comícios das cinco campanhas de Lula à Presidência da República e outros em campanhas para prefeito da capital e governador de Minas Gerais.

Estudei Engenharia Química na UFMG, cinco anos, mas abandonei o curso na reta final. Fui professor de Química por 12 anos, 10 deles em cursos pré-universitários. Em 1980 abandonei o curso e em 1985 parei de lecionar e aí sim, fiz da cultura e do turismo as minhas opções de trabalho. Hoje posso afirmar que nada foi muito premeditado, apenas aproveitei as oportunidades que a vida me ofereceu.

 

Em dezembro do ano passado, tive o prazer de participar da antologia “Esperança é Vida”, organizada por você e que contou com muitos escritores do Vale, falando sobre esse período difícil da pandemia de coronavírus. Como surgiu a ideia da obra, quem foram os convidados? Como foi a receptividade da obra? Como você está vendo a pandemia?

Um momento muito triste, que agora piorou e, mais de 345 mil brasileiros já morreram de covid-19. Infelizmente, tende a piorar, graças à ação, ou melhor, da falta de ação do governo federal. Um presidente negacionista, que mesmo vendo esta quantidade de mortos, continua menosprezando o poder letal da doença, incentivando aglomerações, incentivando as pessoas a não usarem máscara, dificultando a compra de vacinas e, pior, receitando medicamentos sem qualquer comprovação científica, e ainda fazendo campanha contra a vacinação dos brasileiros. Se continuar a agir assim, sem ser impedido pelo Congresso ou pelo STF, o Brasil vai ultrapassar a marca de 600 mil mortos. Não são apenas números, mas homens e mulheres que têm pai, mãe, irmãos, cônjuge, filhos, amigos, colegas de trabalho; que tinham sonhos e desejos, esperança na vida e vontade de viver. Cada um tinha uma história, que pela agressividade do vírus e pela inércia do governo federal, foi ceifada nesta pandemia.

O setor de cultura foi o mais prejudicado nesta pandemia, pois foi o primeiro a fechar e será o último a voltar a funcionar. São centenas de profissões no setor cultural e milhões de trabalhadores: músicos, atores, atrizes, dançarinos, técnicos de som e iluminação, cenógrafos, figurinistas, diretores, maestros, produtores, etc. Hoje, milhares de trabalhadores do setor estão vivendo com apoio de amigos e de entidades sociais. E veja que é exatamente o setor que mais tem ajudado o povo brasileiro a atravessar este momento tão difícil. O que seria de nós nesse momento, sem a música, a literatura, o cinema, a televisão, os vídeos e  as lives culturais?

Mas a esperança é que a pandemia vai passar e viveremos um mundo melhor. O aprendizado neste período foi muito grande, já não seremos os mesmos. Pode acreditar que perderemos muitos hábitos adquiridos ao longo da vida. Sou otimista, acho que após a pandemia seremos pessoas melhores.

Quanto ao livro “Esperança é Vida” posso dizer que a pandemia nos obrigou a buscar outras formas de trabalhar e de divulgar o nosso trabalho. Foi isto que me levou a pensar no livro. Quantas pessoas gostariam de ler um bom livro e não podem comprar um? Pensei em fazer um livro que chegasse gratuitamente às pessoas, principalmente do nosso Vale do Jequitinhonha. A ideia foi fazer um livro coletivo, com 42 escritores da região, pois em 2020 o movimento cultural do Vale completava 42 anos. Escolhi pessoas que conhecia, que têm sensibilidade e habilidade na arte  de brincar com as palavras. O livro saiu com 44 autores, nomes dos mais expressivos da literatura do Vale do Jequitinhonha, levando uma mensagem de esperança e resistência no momento triste da pandemia. O livro já chegou a mais de 30.000 pessoas, e continua circulando via e-mail, whatsApp e facebook . Foi um grande sucesso.

 

Recentemente você lançou a obra “Jequitinhonha 42 anos de Travessia: de Vale da Miséria a Vale da Cultura” em formato e-book. Como foi o processo de produção da obra?

Estou com 67 anos, fui um dos quatro criadores do movimento cultural que começou no dia 16 de março de 1978, com o lançamento do Jornal Geraes. Movimento que criou o Festivale, muitas entidades culturais, o Encontro anual de entidades culturais da região, e continua firme e forte até hoje, fazendo o Festivale se transformar em um dos mais importantes eventos de cultura popular do Brasil. Este movimento ajudou a lançar músicos, poetas, escritores, corais, produtores culturais e diversos servidores públicos dos municípios nas áreas de cultura e turismo.

Eu sempre quis, contar esta história, explicando ao nosso ´povo a importância do Vale do Jequitinhonha, pois a grande maioria dos habitantes ainda não (re)conhece o valor da nossa região. Que região é esta? Quais são as suas cidades e as suas principais características? Qual a sua história? O que é a cultura do Vale? Qual a história do movimento cultural que nos unificou e mudou a realidade da região?  Quais foram os seus principais atores?  O objetivo é fazer o povo conhecer a região e saber responder a estas perguntas.

Para publicar o livro, inscrevi o projeto na Lei Rouanet, foi aprovado. Era pra ser lançado em 2018, aos 40 anos do movimento. Mas fiquei dois anos tentando conseguir patrocínio, e não consegui. É um livro caro, já que são 750 páginas. Resolvi fazer o livro virtual, e-book, com apoio de amigos e da empresa HLH Assessoria & Consultoria, da cidade de Turmalina. O e-book foi lançado no dia 07 de setembro de 2020 e está sendo vendido por R$ 30,00 (trinta reais), preço bastante acessível para um livro de 750 páginas. Na minha avaliação, é o mais importante dos meus livros, pelo seu conteúdo que auxilia professores da região a cumprirem o currículo escolar, no ensino de história e cultura local e regional. Mas o meu livro mais vendido, o mais procurado, é um livro simples, de 51 páginas, onde falo da corrente do desenvolvimento, tese usada para criar o Festivale e fortalecer o movimento cultural: “O Martelo da Dominação”. O livro foi lançado em 1998, e esgotou rapidamente. Está à venda a segunda edição, em e-book, lançada em dezembro de 2020, mas o lançamento oficial, em live, desta segunda edição deverá ser feito no final deste mês ou em início de maio próximo.

 

Todas as obras citadas foram publicadas em formato e-book. Como tem sido esse transporte do meio físico para o virtual?

Eu confesso que sou um defensor do livro impresso, gosto de manusear o livro, sentir o cheiro, é diferente. Só na pandemia que aprendi a ler livros virtuais. Antes, eu imprimia para ler. Mas devemos reconhecer que é uma forma nova de fazer a literatura chegar às pessoas, principalmente aos jovens, que são os principais responsáveis por esta novidade editorial. Eles gostam de ler no computador e no celular. O que eu acho bom é que o preço do livro virtual é muito barato, facilita o acesso. Por exemplo, o livro impresso dos 42 anos de Travessia custaria de 100 a 120 reais, o e-book custa apenas 30 reais.

Além do baixo custo, proporciona uma boa defesa da natureza, pela economia de papel, o que representa uma queda na derrubada de árvores. Vamos nos acostumar com esta nova forma de leitura, todos sabemos que o livro virtual, chegou para ficar.

 

E mais recentemente a reedição de Jequitinhonha Antologias Poéticas I e II e o lançamento da antologia poética III marcou história no nosso cenário literário. Quem são os participantes das antologias, como foi o processo de produção, como está sendo recebida a obra?

Em 1981, graças ao apoio do amigo Antônio Faria Lopes, ex-deputado do MDB, do professor Edgar Godoi da Mata Machado, ex-senador da República e diretor da Editora Veja, e do Diretor da Codevale, Gilberto Pessoa, lancei o meu primeiro livro, “Viva meu povo”, lançado pela Veja, uma das mais importantes editoras de Minas Gerais. Antes eu havia lançado um livreto mimeografado, “Deus não quis assim”, uma peça de teatro, denunciando abusos da ditadura e a exploração de trabalhadores de Itaobim pelo MAISA. Mas NUNCA havia pensado em ser escritor. Apaixonado que era pela literatura, tinha os escritores como meus ídolos, seres iluminados, inteligentíssimos, distantes. Tanto que demorei a aceitar o convite da Editora Vega.

O sucesso do livro foi tão grande, muito além do que eu havia imaginado, e abriu portas para outros projetos. Foi graças a isto que, em conversa com o poeta Wesley Pioest, um dos principais do Vale, resolvemos convidar Gonzaga Medeiros, José Machado Mattos e Jansen Chaves para um livro coletivo. Assim nasceu o “Jequitinhonha Antologia Poética”, lançado no final de 1982. Mais uma vez recebemos apoio dos leitores e afagos da mídia, de maneira tão expressiva, que partimos para o “Jequitinhonha Antologia Poética II”, lançado em 1985. Esses dois livros foram importantes para o lançamento de novos poetas e escritores na nossa região. Muitos trabalhos escolares no Vale foram feitos sobre as duas antologias. O jovem Thiago Machado, de Jequitinhonha, sobrinho do poeta José Machado, fez a sua dissertação de Mestrado em Letras, usando como tema as duas antologias.

Com a morte do Jansen Chaves e do José Machado, reuni com Wesley e Gonzaga Medeiros e resolvemos convidar Joaquim Celso Freire e Cláudio Bento para substituí-los, convidamos a artista plástica Marina Jardim para ilustrar o que deveria ser a Antologia Poética III. A discussão começou em 2017, mas o projeto não saiu do papel.

O lançamento do e-book “Jequitinhonha 42 anos de Travessia – De Vale da Miséria a Vale da Cultura” fez surgir um bom contato com o Neilton Lima, diretor da Loope Editora, e aí viabilizamos a reedição das duas primeiras antologias, e o lançamento do “Jequitinhonha Antologia Poética III”. O lançamento dos três livros, pela Editora Loope (RJ) ,aconteceu em uma live, em uma data muito especial para todos nós: 16 de março de 2021, quando comemoramos os 43 anos de lançamento  do Jornal Geraes, que foi também a data da criação do movimento cultural do Vale do Jequitinhonha.  

Hoje, pra nossa alegria, os três livros são vendidos nos principais pontos de venda do Brasil, como Amazon, Americanas, Mercado Livre, Magazine Luiza e até pela Apple (USA). Claro que estamos comemorando o que aconteceu e já estamos preparando o “Jequitinhonha Antologia IV” no final do ano ou início de 2022.

 

Enquanto escritora, tenho grande apreço por sua trajetória e sei também que Jô lhe tem grande admiração, sobretudo, pelo trabalho como historiador. Qual a sensação de ser referência para os novos escritores e historiadores do Vale?

Herena, gratidão é uma palavra muito presente na minha vida. Agradeço a Deus pelas oportunidades que me deu, acho que recebo mais do que imaginei. Agradeço a todos os companheiros e companheiras que caminharam conosco nesta plantação de sonhos que foi a criação do Geraes, do Festivale e do movimento cultural do Vale. Cada um colocou a sua marca, o seu tijolo nesta grande construção coletiva, que mudou a realidade da nossa região.

Agradeço todos os dias a Aurélio Silby, Carlos Figueiredo (Castilin) e George Abner, pois sem eles nada disto teria acontecido. Nós quatro continuamos amigos e torcendo juntos para o desenvolvimento do Vale e para o crescimento do movimento cultural, que é hoje a cara do Vale para o Brasil e para o mundo. Fico muito feliz pelo carinho que recebo do povo da nossa região, o que me incentiva sempre a pensar em novos projetos em prol do nosso Vale. Só tenho que agradecer. Agradeço a você e ao Jô pelo incentivo e pelo carinho que sempre tiveram comigo e ao meu trabalho.

 

Você que está há tantos anos no cenário artístico nacional, como você vê a literatura do Vale do Jequitinhonha hoje?

 

Sou um eterno otimista e vejo um grande futuro para a literatura do Vale do Jequitinhonha. Acho que agora é a hora da literatura fazer o sucesso que a música fez nos anos 1980 a 2000, e que o teatro fez nos anos 2000 a 2020.

Você, Herena, apesar da pouca idade, é uma referência para todos nós, pela sua garra e coragem de conhecer, amar, defender e divulgar os poetas e escritores do Vale. Quando vejo os seus olhos brilharem ao falar sobre o Vale e os seus poetas, eu me vejo junto com Aurélio Castilin e George quando começamos esta caminhada. Os jovens são os responsáveis pelas grandes mudanças no mundo.

Como já conversamos várias vezes, continuo defendendo a ideia da ALVA – Academia de Letras do Vale do Jequitinhonha, que será um grande passo para fazer acontecer o reconhecimento literário da nossa região.

Eu falo que o Vale tem ciclos culturais que duram 20 anos: o do artesanato (1960 a 1980), o da música (1980 a 2000) e o do teatro (2000 a 2020).

Claro que o artesanato, a música e o teatro continuam a ter importância para o desenvolvimento e para a valorização da nossa região, mas o ciclo de ouro de cada uma destas atividades culturais durou 20 anos.

Escrevam aí pra não esquecerem: 2020 a 2040 serão os anos de ouro da literatura do Vale do Jequitinhonha.

 

 

Você tem vivido uma fase de grandes conquistas, vide os lançamentos acima e o reconhecimento de tantos artistas e amigos de sua história e importância para a cultura do Vale. Ainda resta algum sonho?

 

Eu farei 68 anos no dia 26 de abril, sou casado há 47 anos, tenho dois filhos, cinco netos e um bisneto. Tenho idade avançada, mas a certeza de que os sonhos não envelhecem. Como lhe disse, sou um otimista crônico, e continuo pendurando novos sonhos no varal da vida.

Já ministrei curso de capacitação para professores sobre História e Cultura do Vale em 18 cidades, mas ainda quero chegar aos 80 municípios, para que os professores levem aos alunos, e eles aos pais a importância desta região tão rica e tão explorada politicamente.

Ainda sonho em ver os prefeitos do Vale atuarem de forma conjunta, tirando os olhos dos próprios umbigos e pensando em um trabalho unificado em defesa do povo da região, pois só assim o Vale crescerá social e economicamente.

Infelizmente, até hoje, o Vale do Jequitinhonha vota em candidatos de fora, pessoas desconhecidas para o povo, distantes e desconhecedores da nossa realidade. Sonho em ver o povo do Vale elegendo deputados estaduais, deputados federais e um senador da região, o que fará o Vale crescer politicamente e fazer o seu valor ser reconhecido e respeitado.

Ainda sonho em ver o Vale capaz de industrializar as suas riquezas minerais e agrícolas, e não servindo apenas para abastecer e enriquecer grandes centros. Que o povo da região seja beneficiário do seu trabalho e das suas riquezas.

Ainda sonho em ver o Vale do Jequitinhonha, com os seus eventos, seu rio, suas grutas, suas cachoeiras, montanhas e com a sua gastronomia, ser reconhecido e transformado em um importante destino turístico.

Ainda sonho em ver cada cidade do Vale realizar o seu Festival de Música e o seu Festival Literário, fazendo um intercâmbio cultural sério entre as cidades.

Ainda sonho em ver uma grande Feira do Vale acontecer regularmente no Brasil e outros países (com venda de artesanato, literatura, música, artes plásticas e produtos da nossa gastronomia).

Acredito nesses sonhos e, na medida do possível, continuo trabalhando para ajudar a transformá-los em realidade.

Acho que todos os valejequitinhonhenses deveriam agir como torcedores do Galo, bater no peito e dizer: “EU ACREDITO”. Pois sonho que se sonha juntos é o caminho para a realidade.

 

Um abraço Herena, e muito obrigado pelo espaço para falar desta terra tão querida. Seja muito feliz!!!

 

 

Agenda

 

Hoje, 15 de abril, às 20h, com transmissão pelo link:

https://www.youtube.com/watch?v=ttEmAuYA9QU

Lançamento do Livro “Coisas e não coisa”

Autor: Joaquim Celso Freire – Coronel Murta/MG

 

Dia 21 de abril, 19h no canal do YouTube do PPG Estudos Rurais - UFVJM

Lançamento do conto "O Benzedor Orestes"

Autor: Paulo André Amaral – Medina/MG


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quarta-feira, 14 de abril de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Casa comum

 


Hoje a expressão estar em casa soa como um sacrifício. A casa perdeu o sentido de ser, o habitat da família. Casa de oração, de lições de convivência.

Fomos destruindo tudo ao longo da nossa existência. Brigamos pelo espaço na caverna, brigamos pelas frutas e raízes, brigamos pelo fogo, brigamos pela terra, não porque queríamos cultivar, mas porque queríamos como patrimônio de um só dono. E, conseguimos. Cada um ficou com seu lugar, seus alimentos, seu fogo e sua terra, quase todos.

A exploração e o egoísmo cumulou uns e exclui muitos. E transformarmos a casa comum num verdadeiro inferno. E começamos a matar o outro para tomar posse do pouco que lhe coubera. A terra que era de todos tornou se de ninguém.

O lucro e a exploração segmentou ainda mais a razão humana. O mundo se dividiu em dois: pobres e ricos. E nos acomodamos e concordamos em viver assim.

Hoje, somos convidados a olhar o espaço que perdemos em nossas casas, e a desestruturação das famílias que deixamos de ser.

A casa comum retoma sua proposta original e tudo recomeça. O pequeno grupo, os novos ensinamentos e o novo conviver. Vamos entrar e repensar o mundo que nos foi dado por puro amor e por ambição nós destruímos.

Repensar as relações e o novo jeito de tornar o mundo uma casa comum.

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quinta-feira, 8 de abril de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Degustação


 Olá pessoal, amigos e amigas que nos acompanham aqui no “Diário de Leitura”, é com muito prazer que apresentamos para vocês mais um momento de partilha aqui no Blog. Através do momento “Degustação”, iremos conhecer muito mais sobre o universo poético não só do Vale do Jequitinhonha, mas também de outros lugares do Brasil. Degustando o que a poesia nos oferece de mehor, teremos a oportunidade de ampliar nossa rede de intercâmbio, interagindo com amantes da literatura de diferentes lugares, formações e culturas. Na estreia do Degustação, contamos com a presença da Dani Raphael, escritora da cidade de Araraquara – SP. Boa leitura!

  

Pão que não alimenta

A mesa posta com pratos fartos, degustados por lábios vazios de sentimentos.

Mais um pedaço de pão, que não fora repartido. Que não alimentou mais do que a própria ignorância da vida vazia. Já que até as migalhas são engolidas no desespero de nada se perder.

Mais um copo de leite derramado, deixando na toalha a marca de que ali não há fome, a não ser a de conversas que nunca foram ditas.

Mais um amanhecer na casa de paredes brancas, tão brancas quanto a palidez das mãos daquelas crianças, que nunca viram a graça de se ter o mundo inteiro dentro de um carrinho de caixa de papel



AGENDA

Dia 12/04 acontecerá o evento Online – Leia Mulheres

Horário: 19h às 21h

O link será disponibilizado no dia do evento.

Informações: @leiamulheresaracuai 


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quarta-feira, 7 de abril de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Uma luz no fim do túnel

 


Se olharmos os nossos ancestrais, a partilha era a forma concreta de viver a vida. O tempo passou e nos distanciamos dessa prática e começamos a acumular.

Formamos muitos grupos desvirtuando o ensinamento das primeiras comunidades, viver em comum. E mais, temos consciência de que tem alguém passando necessidade.

Acompanhamos o desaparecimento dos movimentos sociais e religiosos que sempre cuidaram dos mais pobres. Ficamos todos pobres, de espírito. Esvaziamos os encontros que debatem sobre a vida e deixamos de cuidar. Sobrecarregamos os pequenos grupos que insistem em continuar no princípio da partilha.

E muitas vezes criticamos e julgamos no intuito de se colocar como fiscalizador sem nada produzir. O que aconteceu com o ser humano? Esqueceu o princípio do amor? Não acreditam mais na partilha? As famílias estão deixando de lado os bons ensinamentos para os filhos.

Não incentivam mais o exercício da caridade. Ainda pequeno minha mãe todos os dias quando alguém passava pedindo esmolas ela fazia questão que nós fossemos até a porta dar algo para aquelas pessoas.

A princípio, eu odiava, porque muitas vezes estava fazendo alguma coisa, mas, crescido e formado da vida, compreendi o que aquela mulher semi alfabetizada com tanta sabedoria queria me ensina.

A saída, é retomar o papel da família e vivermos primeiro o processo da caridade dentro das nossas casas. A partilha é a capacidade de cada um sentir a dor do outro e nos comprometermos.

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segunda-feira, 5 de abril de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - Olhem o chão onde pisas

 

 


Nos tempos atuais, não ter pavimentação significa atraso, desvalorização de terreno, uma séries de quesitos  prejudiciais ao bairro e a cidade. A pavimentação das ruas faz parte do contexto das obras de infra-estrutura e de saneamento, uma vez que esta medida promove a higienização das cidades. O uso de pedras para pavimentar os caminhos do homem remonta aos tempos históricos. Era usado desde os gregos, os egípcios e os chineses.

Mas o que chama atenção é quanto ao processo para esta urbanidade, tão importante para o progresso, deixa a margem profissões tão importantes como a de  “calceteiro”,  uma das  mais antigas e quase extinta.

A contribuição deste ofício,está justamente em contribuir para que estes  pavimentos de pedras além de absorver menos calor, propiciem o crescimento de determinadas gramíneas que, além de ajudar a diminuir a temperatura, captam CO2 que é expelido pelos carros, partículas coloidais carregadas de nutrientes que poluem os cursos d’água.

 O detentor deste ofício conhece bem os macetes para um bom calçamento, como escolher a pedra ideal para o encaixe, o ajustamento das peças; além disso o esforço físico que demanda ficar muito tempo, numa mesma posição,  exposição ao sol escaldante e a baixa remuneração, faz muitos trabalhadores desistirem da profissão.

Atualmente a maioria das cidades tem suas ruas cobertas por asfaltos, uma técnica mais barata, porém nem tão bonita. Os carros agradecem, mas a cidade fica com cara de cidade grande.

No calçamento de pedra,há absorção  de menos calor. Este comportamento se deve, além das características da rocha, a espessura do calçamento em contato com a base (solo) facilita a dispersão do calor absorvido, não irradiando o calor por muito tempo depois do período de insolação, deixando a temperatura mais amena e tornando o clima mais agradável.

Então se você conhecer algum calceteiro, converse sobre seu ofício  e agradeça por ser antes de tudo uma pessoa que contribui  não apenas para o embelezamento da cidade, mas é um trabalhador que trabalha pesado  e colabora com a natureza .


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sexta-feira, 2 de abril de 2021

CONHECENDO O JEQUI - Semana Santa em Itinga

 



“Foi durante uma semana santa em Itinga que cresceu meu amor pela religiosidade popular, cujo estudo hoje ocupa mais da metade de meu tempo. Como é admirável a fé do nosso povo rural e como é rica sua expressão. Aqui vemos como nosso povo do vale do Jequitinhonha com todo seu sofrimento se identifica com o Cristo que sofreu”.

 

 

Frei Franciscus Henricus van der Poel

(Frei Chico) - OFM /Itinga -  1976

 

 

 

 

Celebrar ou rememorar os últimos dias da vida de Jesus no plano terrestre e uma tradição que é chamada de Semana Santa. Todos os ritos desta tradição acontecem em toda as cidades do vale do Jequitinhonha, mas cada cidade tem a sua particularidade emcelbrar, e para o povo do vale do Jequitinhonha essa tradição tem um significado muito importante.

Em  Itinga  não é diferente, pelo contrario foi em outrora e continua sendo até os dias atuais um momento de muita força e fé da religiosidade popular,  no qual é celebrada a mais de 170 anos.

 A semana santa começa no domingo de ramos onde os fieis levam plantas e ramos, principalmente as de caráter medicinais para serem abençoadas, onde estas serão transformadas em chás e usadas para curar possíveis enfermidades, outros ramos são transformados em cruz e colocados atrás da porta da entrada da casa para proteger os lares.

Na terça - feira santa as imagens de Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores é levada para casa de duas pessoas escolhidas antecipadamente, para que no outro dia na quarta –ferira santa possa acontecer à procissão do encontro, pela tradição os homens acompanham Senhor dos Passos e as mulheres Nossa Senhora das Dores, esta passagem emociona a todos os fieis, pois a mesma representa o encontro de Maria com Jesus quando este seguia para o calvário.

Na quinta – feira santa a ultima ceia é representada pela missa dos lava pés,onde o padre lava os pés de 12 fieis, repetindo o que Jesus fez ao lavar os pés dos 12 discípulos e institui a eucaristia.

na sexta – feira santa, ou sexta - feria da Paixão, acontece uma das maiores manifestações  de fé coletiva e de religiosidade popular  de Itinga, pela manhã acontece a via sacra pelas ruas da cidade, às três horas da tarde tem o beijo da cruz e a noite tem a leitura da paixão, logo após segue se em  cortejo a procissão  do Senhor Morto acompanhado por milhares de fieis que vem de todas as comunidade rurais do município e de cidades vizinhas, durante o cortejo os mesmos entoam cânticos, benditos e ladainhas.

O ponto alto da procissão é quando Verônica canta o “Mater Dolorosa” nas calçadas mais altas por onde o esquife passa com o Senhor Morto.

Após a procissão acontece a adoração do Senhor Morto na igreja onde os fieis passam a noite rezando e entoando ladainhas, benditos e excelências, muitos fieis trazem pão, biscoito e café para aguentarem passar a noite e os filhos são colocados nos cantos da igreja para dormirem, e pela manhã quando o esquife ia ser guardado se houve muito choro e lamentação, para os fieis este é o momento em que cristo iria ser sepultado.

No sábado tem a benção do fogo e a missa da Vigília onde se aguarda a ressurreição de Jesus Cristo

No domingo se celebra a missa de Páscoa, para marcar a ressurreição de Jesus Cristo,

Nas ruas ao lado da igreja e do mercado varias barraquinhas ofereciam comidas, quitandas e café. A venda de bebidas alcoólicas eram proibidas e muitos bares e vendas não funcionavam. Essa tradição nesse formato perdurou até a segunda metade da década de 1980.

Por determinação da diocese de Araçuaí, foi estabelecido que a igreja Matriz de Itinga não poderia ficar mais aberta para a adoração do Senhor Morto, que a mesma deveria ser fechada assim que terminasse a procissão, os motivos alegados era o clima de festivo que se tinha ao redor da igreja em uma dia que deveria ser de luto.

 Houve muita confusão e revolta dos fieis, mas a ordem foi cumprida, as comunidades passaram a celebrar a sexta – feira santa em suas próprias comunidades e a cada ano diminuía o numero de fieis na Igreja Matriz, com isto a tradição da sexta-feira santa perdeu um pouco de seu brilho como manifestação de religiosidade popular.

Quando Pe. Mario Uzam assume a Paróquia de Itinga, ele consegue autorização da Diocese para que a Igreja permanecesse aberta  enquanto os fieis aguentassem ficar.

A sexta – Feira santa continua sendo nos dias atuais uma das maiores manifestação expressividade de fé popular de Itinga, porém nunca mais voltou a ser como era no passado

Hoje se tem a encenação da “ Paixão de Cristo “ narrando os últimos dias de vida de Jesus. A igreja permanece aberta para adoração do Senhor Morto, porem os fieis já não ficam mais a noite toda e geralmente pouco mais da meia noite o esquife é guardado enquanto se entoa o benditos e cantos de lamentações.

Quando começa a cantar o bendito abaixo, todos entendem que é a hora de despedir do Senhor Morto, levantam, faz suas orações, passam a mão na imagem do Senhor Morto. E enquanto a imagem é levada para sacristia os fieis entendem esse gesto como do sepultamento e a muita lamentação, como se os fieis estivem mesmo sepultado o Jesus Cristo.

 

Lenta e calma sobre a Terra
desce a noite foge a luz,
quero agora despedir-me
boa noite meu Jesus

Em silencio no sacrário
rósea chama treme luz e suave canta os Anjos
boa noite meu Jesus

O Senhor dá-nos a benção
e do mal que nos seduz
aos meus pais e a mim guardai-me
boa noite, meu Jesus.

Coração quem dera fosses
lamparina eterna luz
porque tanto eu daria
boa noite meu Jesus

 













O texto foi adaptado do Livro “ Memórias de Itinga” de Jô Pinto

 

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