sexta-feira, 2 de abril de 2021

CONHECENDO O JEQUI - Semana Santa em Itinga

 



“Foi durante uma semana santa em Itinga que cresceu meu amor pela religiosidade popular, cujo estudo hoje ocupa mais da metade de meu tempo. Como é admirável a fé do nosso povo rural e como é rica sua expressão. Aqui vemos como nosso povo do vale do Jequitinhonha com todo seu sofrimento se identifica com o Cristo que sofreu”.

 

 

Frei Franciscus Henricus van der Poel

(Frei Chico) - OFM /Itinga -  1976

 

 

 

 

Celebrar ou rememorar os últimos dias da vida de Jesus no plano terrestre e uma tradição que é chamada de Semana Santa. Todos os ritos desta tradição acontecem em toda as cidades do vale do Jequitinhonha, mas cada cidade tem a sua particularidade emcelbrar, e para o povo do vale do Jequitinhonha essa tradição tem um significado muito importante.

Em  Itinga  não é diferente, pelo contrario foi em outrora e continua sendo até os dias atuais um momento de muita força e fé da religiosidade popular,  no qual é celebrada a mais de 170 anos.

 A semana santa começa no domingo de ramos onde os fieis levam plantas e ramos, principalmente as de caráter medicinais para serem abençoadas, onde estas serão transformadas em chás e usadas para curar possíveis enfermidades, outros ramos são transformados em cruz e colocados atrás da porta da entrada da casa para proteger os lares.

Na terça - feira santa as imagens de Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores é levada para casa de duas pessoas escolhidas antecipadamente, para que no outro dia na quarta –ferira santa possa acontecer à procissão do encontro, pela tradição os homens acompanham Senhor dos Passos e as mulheres Nossa Senhora das Dores, esta passagem emociona a todos os fieis, pois a mesma representa o encontro de Maria com Jesus quando este seguia para o calvário.

Na quinta – feira santa a ultima ceia é representada pela missa dos lava pés,onde o padre lava os pés de 12 fieis, repetindo o que Jesus fez ao lavar os pés dos 12 discípulos e institui a eucaristia.

na sexta – feira santa, ou sexta - feria da Paixão, acontece uma das maiores manifestações  de fé coletiva e de religiosidade popular  de Itinga, pela manhã acontece a via sacra pelas ruas da cidade, às três horas da tarde tem o beijo da cruz e a noite tem a leitura da paixão, logo após segue se em  cortejo a procissão  do Senhor Morto acompanhado por milhares de fieis que vem de todas as comunidade rurais do município e de cidades vizinhas, durante o cortejo os mesmos entoam cânticos, benditos e ladainhas.

O ponto alto da procissão é quando Verônica canta o “Mater Dolorosa” nas calçadas mais altas por onde o esquife passa com o Senhor Morto.

Após a procissão acontece a adoração do Senhor Morto na igreja onde os fieis passam a noite rezando e entoando ladainhas, benditos e excelências, muitos fieis trazem pão, biscoito e café para aguentarem passar a noite e os filhos são colocados nos cantos da igreja para dormirem, e pela manhã quando o esquife ia ser guardado se houve muito choro e lamentação, para os fieis este é o momento em que cristo iria ser sepultado.

No sábado tem a benção do fogo e a missa da Vigília onde se aguarda a ressurreição de Jesus Cristo

No domingo se celebra a missa de Páscoa, para marcar a ressurreição de Jesus Cristo,

Nas ruas ao lado da igreja e do mercado varias barraquinhas ofereciam comidas, quitandas e café. A venda de bebidas alcoólicas eram proibidas e muitos bares e vendas não funcionavam. Essa tradição nesse formato perdurou até a segunda metade da década de 1980.

Por determinação da diocese de Araçuaí, foi estabelecido que a igreja Matriz de Itinga não poderia ficar mais aberta para a adoração do Senhor Morto, que a mesma deveria ser fechada assim que terminasse a procissão, os motivos alegados era o clima de festivo que se tinha ao redor da igreja em uma dia que deveria ser de luto.

 Houve muita confusão e revolta dos fieis, mas a ordem foi cumprida, as comunidades passaram a celebrar a sexta – feira santa em suas próprias comunidades e a cada ano diminuía o numero de fieis na Igreja Matriz, com isto a tradição da sexta-feira santa perdeu um pouco de seu brilho como manifestação de religiosidade popular.

Quando Pe. Mario Uzam assume a Paróquia de Itinga, ele consegue autorização da Diocese para que a Igreja permanecesse aberta  enquanto os fieis aguentassem ficar.

A sexta – Feira santa continua sendo nos dias atuais uma das maiores manifestação expressividade de fé popular de Itinga, porém nunca mais voltou a ser como era no passado

Hoje se tem a encenação da “ Paixão de Cristo “ narrando os últimos dias de vida de Jesus. A igreja permanece aberta para adoração do Senhor Morto, porem os fieis já não ficam mais a noite toda e geralmente pouco mais da meia noite o esquife é guardado enquanto se entoa o benditos e cantos de lamentações.

Quando começa a cantar o bendito abaixo, todos entendem que é a hora de despedir do Senhor Morto, levantam, faz suas orações, passam a mão na imagem do Senhor Morto. E enquanto a imagem é levada para sacristia os fieis entendem esse gesto como do sepultamento e a muita lamentação, como se os fieis estivem mesmo sepultado o Jesus Cristo.

 

Lenta e calma sobre a Terra
desce a noite foge a luz,
quero agora despedir-me
boa noite meu Jesus

Em silencio no sacrário
rósea chama treme luz e suave canta os Anjos
boa noite meu Jesus

O Senhor dá-nos a benção
e do mal que nos seduz
aos meus pais e a mim guardai-me
boa noite, meu Jesus.

Coração quem dera fosses
lamparina eterna luz
porque tanto eu daria
boa noite meu Jesus

 













O texto foi adaptado do Livro “ Memórias de Itinga” de Jô Pinto

 

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