segunda-feira, 6 de junho de 2022

MEMÓRIA CULTURAL - Conectar Coletivos

 

Foto: Soll Santos

            A pandemia da COVID-19 interrompeu muitas possibilidades e projetos pessoais e coletivos, principalmente para o movimento cultural do Vale do Jequitinhonha.

O  setor cultural  foi  um dos primeiros a fechar suas atividades, e dos últimos a serem autorizados ao retorno presencial. Entre perdas, isolamento e incertezas  dois coletivos decidiram  persistir num  encontro.

Diz o ditado popular: “palavra dada,palavra empenhada”, O Coral do Nossa Senhora do Rosário  e o MC Eduardo DW , embrenharam na única  possibilidade disponível nesta pandemia, o uso da internet.

Enfrentando os desafios e turbulências com a utilização da tecnologia, mas com as conexões compatíveis ao coração destes artistas., foram se conhecendo gradativamente, acertando idéias, construindo versos, trocando poesias  e  alimentando-se pelas veias do rap e da cultura do Vale do Jequitinhonha.

            O Coral do Rosário produziu em 1998 o seu primeiro CD, nomeado de “Queremos navegar” e agora chegando em sua trajetória de aproximadamente 37 anos de existência, celebra  com  força inesgotável de navegantes da cultura, depararam no porto do rap, através do MC Eduardo DW, um agitador cultural em Belo Horizonte, poeta do Coleti voz Sarau de Periferia, Slam Clube da Luta e MC da banda de Rap Projeto ManObra e do grupo A Corte.

            Estas aproximações de mundos e resistência cultural da cultura negra, convergiu para o projeto “O Circuito o RAP é o Encontro”. Proposta visando a  criação  de um  circuito para potencializar a pesquisa e a exposição artística, trabalhando com coletivos distintos, a fim de ampliar a circulação da música e poesia mineira , além  da cadeia produtiva de arte e cultura brasileira. Encontraram na música lugares de congruência em vários diálogos marcantes que fez desnudar a presença feminina, com sua irreverência, revelada  nestes versos:

Do fundo da feira                                  

...

Desci a ladeira,

Fui lá no mercado

Perguntar  para Eduardo

Não sou mulher de recado

_Que coisa é essa de versos falados?

 Nesses arranjos de circuito e encontros despontaram com forte ressoar da vida cotidiana, a poesia falada e de autoria feminina, que na fronteira do Brasil profundo é escancarada:

Quando alembro as feições do rapaz,

que morava na beira da lagoa

eu  namorei  sutil...

 

            Neste ano de 2022, celebramos no Brasil, o centenário  da Semana de Arte Moderna,  no Vale do Jequitinhonha esta fase do modernismo  pode ser reverenciada pela criação dos movimentos culturais, com destaque para o FESTIVALE, nos anos  de 1980, que ainda resiste às duras penas.

            A atitude desta conexão entre coletivos de resistência, parece despontar de algo mais intenso e real da contemporaneidade quanto a   valorização  da diversidade cultural e a intensidade de força  para a luta de resistências e existências da cultura negra, neste país.


Por



 

 

 

 

 

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quarta-feira, 1 de junho de 2022

GIRO PELO VALE - Morre Maurício Cavalho e deixa de luto a Cultura do Vale do Jequitinhonha

 



Mauricio Carvalho , nasceu em Araçuaí/MG, filho de seu Antonio Claudio e de Dona Nadeje Aparecida e irmão de Regina, Marcelo, Marcio e Claudinho.

Militante político e cultural ajudou a fortalecer a democracia, a cultura e a poesia do Vale do Jequitinhonha.

Em 1983, lançou o livro “ Caminheiro entre a Realidade e a Utopia” , um livro que assim descreveu o prefaciador Tadeu Martins:

O poeta amigo Mauricio Carvalho, que traz no coração o Vale e seu povo, faz ecoar nesse seu primeiro passo literário, CAMINHEIRO, o grito que não é só seu, mas de todo o Jequitinhonha-"... E esse grito / que vem de bocas/das gargantas/negras, brancas / mestiças, brasileiras / se espalha logo/tremula uma bandeira / e o grito unissono se faz ouvir: Liberdade... Liberdade..."

O Vale e seus poetas, todos engajados na mesma luta, fazendo do verso uma faca afiada para cortar pela raiz a floresta da exploração, abrindo picadas para a passagem de uma nova sociedade, mais humana, mais justa, mais livre, "... mesmo escutando no vento / que vem pelos lados do Araguaia / os gemidos dos guerrilheiros/ na imensa dor da derrota / ainda resta o brilho no olhar de um lutador..."

Maurício encarna o Vale ao cantar seus valores - Libra "... sob essa pele mestiça / guarda um forte coração". Rio Araçuaí("... Quantos incautos/nas suas águas se afogaram?..." ou cantado o povo e suas lutas-"... olha lá o canoeiro / remando sua vida pequena / contra uma correnteza de enorme e opressoras mãos..."

Esse menino, alma sensível de poeta, também nos mostra o espírito de luta do nosso povo -"... mesmo soluçante / resta-me a voz para manter-me no ofício de cantador..."

Paro aqui, caros leitores, deixando o companheiro Mauricio lhes conduzir nesse saudável mergulho nas águas da poesia do nosso Jequitinhonha querido.

Em 1992, junto com outros poetas ajudou a implementar a Noite Literária dentro da programação do Festivale, e esta primeira noite literária aconteceu na cidade de Bocaiuva.

Fez parte do Grupo de Poetas de Araçuaí  “ Poetar 13”, em 2014, na cidade de Araçuaí no 31º Festivale e na 18ª Noite literária “ Poetar 13,  Mauricio e os demais integrantes do grupo foram homenageados.

Hoje o menino Mauricio, encantou, fez sua passagem espiritual deixando uma saudade, mas deixa também um legado de amor e de justiça social, ao povo do Vale, a cultura e de modo especial a poesia.

Araçuaí e o Vale do Jequitinhonha esta de luto pelo seu filho que viveu intensamente essa vida.

Para mim é a perca de um amigo, que sempre encontrava nas estradas em andanças pelas festividades culturais de nosso querido vale...

Vá na luz meu amigo.

 

Caminheiro, entre a realidade e a utopia

Mauricio Carvalho

 

O tempo corre

e tenho que ganhar

tenho que caminhar,

a estrada, menina,

buscar novos horizontes,

novas terras, sertões sem fim.


Nada tenho a oferecer-lhe,

sou andante do caminho

entre a realidade e a utopia,

sou mensageiro da paz

mas, semeio guerra

 se assim for preciso,

incoerentemente, se assim for.

 

Meus pés

não têm raízes

mas estão fincados

assim mesmo no chão,

por isso

nada posso lhe oferecer

porque,

sem rumo, sem prumo

ando nesse mundo sertão


Por



 

 

 


GIRO PELO VALE - Caraí e o Vale de luto

Foto: UFMG É com muito pesar que comunicamos a passagem espiritual da artesã de Caraí, Dona Noemisa, uma baluarte do artesanato do Vale do...