quinta-feira, 24 de novembro de 2022

DIÁRIO DE LEITURA - Dica de leitura , Um defeito de cor

  


          A dica de leitura da semana é da escritora e publicitaria por formação Ana Maria Gonçalves, com a obra –Um defeito de cor- ela que nasceu em Ibiá, Minas Gerais. Residiu em São Paulo por treze anos até se cansar do ritmo intenso da cidade e da profissão. Em viagem à Bahia, encantou-se com a Ilha de Itaparica, onde fixou moradia por cinco anos e descobriu sua veia de ficcionista, passando a se dedicar integralmente à literatura e ao multifacetado universo cultural da diáspora africana nas Américas. Sua estreia no romance se dá em 2002, com a publicação de Ao lado e à margem do que sentes por mim – “livro terno, íntimo, vivido e escrito em Itaparica”, segundo o depoimento de Millor Fernandes. O texto teve circulação restrita, em primorosa edição artesanal.

Foi em 2006, que a autora tornou-se conhecida em todo o país com o lançamento do livro -Um defeito de cor- O romance encena em primeira pessoa a trajetória de Kehinde, nascida no Benin (atual Daomé), desde o instante em que é escravizada, aos oito anos, até seu retorno à África, décadas mais tarde, como mulher livre, porém sem o filho, vendido pelo próprio pai a fim de saldar uma dívida de jogo.


O romance é composto de dez capítulos, iniciados com provérbios africanos e cada um destes capítulos é formado por diversas histórias que constituem fios que desenham a trama narrativa. As narrativas trazem em seu bojo as lembranças da África, sem a intervenção do tráfico de pessoas para o Novo Mundo, possuindo muitos gatilhos de violência. Destacando também ricas informações sobre a religiosidade no Brasil no inicio do século XIX.

Um defeito de cor conquistou o importante Prêmio Casa de Las Américas de 2006 como melhor romance do ano.

 

 Link para pdf

https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/1154/o/Ana_Maria_Goncalves_-_Um_Defeito_de_Cor.pdf?1599239000

 



terça-feira, 22 de novembro de 2022

O ASSUNTO É? - O Vinte de Novembro e a luta das mulheres negras no Brasil

 



Nesse mês comemoramos um marco importante da luta dos negros e negras no Brasil. Aproveito esse espaço para falar especificamente sobre as lutas das mulheres negras brasileiras, que significa  pensar sobre minha própria vida e sobre as mulheres de minha família. Muitas das dificuldades que enfrentamos podem ser compreendidas a partir do entendimento das questões que impactam o segmento mulheres negras ao longo da história do nosso país.  Portanto é imprescindível conheçamos as trajetórias e lutas das mulheres negras ao longo do tempo, bem como suas reflexões acerca dos problemas vivenciados, para desta forma, pensarmos possibilidades de organização, projetos e formas de inserção na sociedade. Na última eleição houve uma entrada significativa de mulheres negras no legislativo, resultado das lutas dos feminismos no Brasil. Especialmente do feminismo negro e das lutas que o precederam. O que é importantíssimo, visto que, historicamente fomos governados por homens brancos e elitistas.   Já na década de 1940, Maria Nascimento  destacava a importância das mulheres negras votarem e serem votadas. Precisamos não só eleger mulheres negras, como também participar de forma coletiva nos destinos da nação. Durante minha trajetória acadêmica acessei poucas referências teóricas produzidas por mulheres negras  inseridas nos currículos de minha formação. O fato de não ter nos currículos das disciplinas acadêmicas, produções escritas por pessoas negras é parte do epistemicídio, como demonstra Djamila Ribeiro em “pequeno manual antirracista”. Epistemicídio é a prática pelo segmento racial dominante de marginalizar os conhecimentos produzidos por pessoas negras.  A especificidade da luta da mulher negra tem sido apontada há muito tempo por mulheres negras engajadas na modificação da situação de subalternidade. Um dos apontamentos que se tem registro é a fala de Sourjone Truth na  “convenção dos direitos da mulher” em 1851 em Ohio, ficou conhecido como “Não sou eu uma mulher?” No discurso de Truth percebemos a crítica à essencialização da categoria mulher, de como a luta pelos direitos das mulheres enfatizava “ A Mulher” como identidade única e universal desconsiderando as especificidades de raça, classe, gênero etc. Bell Hooks no livro “Ensinando a transgredir: Educação como prática de liberdade” critica a ausência de reflexão no movimento negro sobre a questão de gênero. hooks menciona que os militantes negros acreditavam numa ausência de violência de gênero no interior das famílias negras, visto que o passado escravista teria enfraquecido a construção da masculinidade negra enquanto forte e dominante. Angela Davis em “mulher, raça, classe” também traz uma reflexão interseccional ao demonstrar a situação de violência a que estavam submetidas as mulheres negras nas sociedades escravista. Diferente das mulheres brancas, as negras foram consideradas ao longo do tempo como destituídas das características consideradas femininas, sendo consideradas mais fortes e insensíveis. Mesmo após a abolição essas construções sobre a força da mulher negra são usadas para justificar um tratamento desigual, violento no mercado de trabalho, na saúde, na família. (Solidão da mulher negra, trabalhos pesados, menos anestesia no parto, violência obstétrica). A visibilidade atual que o feminismo negro vem ganhando é resultado das lutas das mulheres negras ao longo da história brasileira. Na atualidade temos a atuação de inúmeras feministas negras, teóricas acadêmicas e militantes, suas ações, projetos e produções alteram a situação das demais mulheres e também são visibilizadas através das redes sociais, de publicações impressas impactando nas produções artísticas e na sociedade como um todo. Podemos citar algumas: Sueli Carneiro, Benedita da Silva, Jurema Werneck, Djamila Ribeiro, Carla Akotirene, Luana Tolentino, Conceição Evaristo, Joice Berth, Mariele Franco, Giovanna Xavier e tantas outras.A partir do momento em que as mulheres negras vão ocupando os espaços de produção de conhecimento, passam a reverter o epistemicídio ao resgatar  trajetórias e pensamentos de mulheres negras do passado que ganham destaque nos seus escritos, produções, eventos: Lélia Gonzales, Beatriz Nascimento, Carolina Maria de Jesus. Termino esse texto reiterando a importância de se refletir sobre as lutas das mulheres negras no interior das instituições educacionais para reverter a colonialidade do pensamento. Axé!





GIRO PELO VALE - Caraí e o Vale de luto

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