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Sabiá laranjeira - imagem internet |
Por
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Sabiá laranjeira - imagem internet |
Por
O nome científico deste feijão é Cajanus cajan,
originária da Ásia, mas foi trazido
para o Brasil no cabelo dos escravos, dentro dos navios negreiros. O nome
‘Andu” é de origem africana, do dialeto falado no antigo Reino do Congo.
Atualmente
a Índia
é o maior produtor mundial de guandu, onde é usado para a produção de dhal,
preparação caudalosa e apimentada que também é feita com ervilhas ou grão de
bico.
No
Brasil adaptou-se bem ao clima tropical, rico em ferro e cálcio , não é feijão
de muito caldo por isso costuma ser comido como salada reforçada, com linguiça,
cebolas, pimenta e coentro, ou então como farofa ou até em omelete.
Na
região do Vale do Jequitinhonha , conhecemos o “Andú”, uma espécie de legumilosa
arbustiva que produz vagens com sementes arredondadas com cores variadas de verde-marrom ou púrpura. É um arbusto com
raiz finas e atingem aproximadamente 3 metros de profundidade. A semente ficam
nas vagens e podem ser encontradas de 2 a 9 grãos por vagens. É uma planta
rústica e tolerante a secas e solos inférteis, apresenta um grande potencial
para alimentação humana e animal.
O feijão guandu não é tão suscetível a doenças e pragas, como
outras espécies que encontramos na agricultura.O guandu perfura as camadas mais
compactadas do solo, permitindo que ele receba mais ar e água, e ainda cobre o
solo com as folhas que caem dele. Assim que dá flores, as abelhas as visitam,
colhendo o néctar para preparar o mel. As folhas verdes dá para fazer um chá que atua como depurativo do
sangue. As vagens, também verdes, podem ser colhidas para se comer os
grãozinhos como ervilhas brilhantes. E das vagens secas, separa-se os grãos e prepara-se deliciosas e nutritivas
paneladas de alimento. Os grão secos também podem ser torrados no forno. Quando
começam a liberar o cheirinho de grão torrado, podem moer bem fininhos, ou
pilados, e preparados no coador, como
uma bebida quente igual ao preparo do café, que não há um uso frequente em
Minas Gerais.
É fonte
de fibras, proteínas e vitaminas importantes, o andu é rico em diversos
sais minerais: cálcio, fósforo, potássio, magnésio, ferro e zinco. Por conta
disso, ele é fundamental para a saúde dos ossos, músculos, do cérebro e ajuda a
manter o sistema circulatório em bom funcionamento.
Ótimo
para prevenir anemia e garantir um bom funcionamento das células -
levando em conta que o mineral é responsável pelo transporte de oxigênio na
corrente sanguínea. Grande aliado para a saúde da visão - ajuda a prevenir
degeneração macular e problemas na córnea, por exemplo. Além disso, essa
vitamina fortalece a imunidade, combate o envelhecimento precoce e faz bem para
os sistemas nervoso e cardiovascular.
Por
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Foto: Omar Abrão |
Franciscus Henricus van der Poel l (Frei
Chico), nascido em Zoeterwoude na Holanda, no dia 03/08/1940. Membro da Ordem
dos Frades Menores desde 1960, Chega ao Brasil em 17/11/1967, Tornando-se (sacerdote católico) franciscano da Província
da Santa Cruz (PSC), com sede em Belo Horizonte MG..
Chega no Vale do Jequitinhonha em 1968
para a Diocese de Araçuaí. Em 1969, assume a Paróquia de Santo Antonio em
Itinga, substituindo o na época ainda padre Enzo, mesmo ficando em Araçuaí em
Itinga, foi responsável pela paróquia de Itinga até 1977. Assim escreveu Frei
Chico no livro de registro da paróquia Santo Antonio de Itinga em 1976.
“ Foi durante uma semana santa em
Itinga que cresceu meu amor pela religiosidade popular, cujo estudo hoje ocupa
mais da metade do meu tempo. Como é admirável
a fé de nosso povo rural e como é rica sua expressão . Aqui vemos como nosso
povo do Vale do Jequitinhonha se identifica com o Cristo que sofreu”
Pesquisador da cultura popular, durante os
10 anos que morou no Vale do Jequitinhonha, na diocese de Araçuaí MG., anotou parte da cultura popular em 15 mil folhas e
gravando 250 fitas K7. diz Frei
Chico -
“Nesta empreitada, fui ajudado pela artesã Maria Lira Marques.
Percebemos que da rica cultura dos pobres registramos apenas uma pequena parte.
Em 1970 fundei o coral Trovadores do Vale no qual pessoas pobres do Vale cantam
músicas da sua própria cultura. O repertório deste coral é um dos frutos da
pesquisa realizada”.
A partir de 1978, Frei Chico vai morar em Betim MG, e no qual foi liberado para a pesquisar a promoção da
cultura popular, como ele mesmo dizia: “Dediquei-me
especialmente às culturas religiosas existentes no Brasil. Tive correspondência
com Luís da Câmara Cascudo, com Mário de Souto Maior e alguns outros grandes
folcloristas. Os antropólogos Carlos Rodrigues Brandão, Lélia Coelho Frota
ajudaram-me a situar minhas pesquisas conjunto mais amplo da cultura nacional.
Frequentei terreiros, santuários de romaria. Participei de muitas festas,
entrevistei lideranças populares.
Durante 16 anos morei na Colônia de Santa Isabel (Betim), onde escrevi a
maior parte do Dicionário da Religiosidade Popular. Lá também era regente do
coral de hansenianos curados e outros em tratamento. Quem não convive com
pobres e marginalizados, não tem o direito de falar em nome deles. Nas
comunidades populares observa-se a não separação entre vida e religião. Fiz
conferências em muitas universidades, participei de congressos, acompanho
movimentos populares. Tenho muitos artigos publicados em revistas
especializadas. Possuo também um extenso currículo artístico musical, com
apresentações em praças e ruas, teatros, rádio e TV”.
Autor de diversos livros obre cultura e religiosidade popular, por
exemplo o mais recente, Dicionário da
Religiosidade Popular, 2013, 1150 p. Membro da Comissão Mineira de Folclore
(1981), do Instituto Histórico e Geográfico de MG (1990). Conselheiro do Centro
da Memória da Medicina da UFMG, docente no Instituto C. G. Jung de MG e
palestrante na Secretaria Municipal do Meio Ambiente (BH). Músico da OMB,
palhaço do “Pano de Roda” (BH). Presença em movimentos populares (folias,
congados e terreiros afro-brasileiros), no meio artístico (música e teatro) e
na mídia. Conferências em muitas universidades e congressos. Frei Chico também
participou da edição do livro "Um olhar sobre o Congado das Minas Gerais,
de autoria da Professora da UEMG, Cris Nery, escrevendo o texto "Congado:
origens e identidade".
Hoje 14 de janeiro de 2023, Frei Chico
deixe esse plano terreno, para viver a plenitude da vida espiritual, religioso, pesquisador, defensor da cultura e religiosidade popular, de modo especial a do
Vale do Jequitinhonha.
Nos filhos do Jequitinhonha perdemos alguém
que apesar de ter nascido tão longe,
escolheu nosso pais e nosso Vale do
Jequitinhonha como seu lar. Seu corpo descansará no cemitério da Irmandade do Rosário
dos Homens Pretos de Araçuaí , seu espírito será guiado por Nossa Senhora do Rosário ao encontro do pai para sua morada eterna.
A nos fica o legado do amigo, do pesquisador e do Frei Franciscano que dedicou sua vida em registrar , respeitar e divulgar para todo a nossa religiosidade e cultura popular .
A família e amigos pedimos ao pai o conforto necessário....
Vai na luz Frei Chico e muito obrigado
por tudo.
Jô Pinto,
Iitnga/MG, em um dia triste de Janeiro
de 2023.
www.religiosidadepopular.uaivip.com.br
PINTO. José Claudionor dos Santos. Memórias de Itinga, Centro Cultural Escrava Feliciana. 2009
currículo: http: lattes.cnpq.br/8705942860002739.
A cultura e principalmente a literatura do Vale Jequi de luto. Fez sua passagem espiritual a poeta Edinalva Rodrigues Ramalho
Ela nasceu aos 28 dias do mês de novembro de 1966, em Felisburgo/MG. Aos cinco anos de idade, mudou-se, juntamente com sua família, para Jequitinhonha. É filha de Ananias Rodrigues da Silva e de Euplínia Rodrigues da Silva. É casada há 25 anos com Erlane Ramalho Sousa (Sula). É professora aposentada e palestrante. Seu hobbie preferido é a leitura. Gosta muito de animais e vê na família a base para uma vida feliz e realizada.
Faz parte do coletivo dos poetas e escritores do Vale do Jequitinhonha. Recentemente lançou o livro de " Sentimentos Amorosos"
Que o cosmo possa da forças a família e amigos e que o pai a receba de braços abertos, fica seu legado como educadora e artesã das palavras.
É com imenso pesar que comunicamos a passagem espiritual João Lefu. Natural de Itaobim/MG, Poeta, músico e compositor. Participou da criação do movimento Cultural do Vale, fez parte do Grupo Terrassol junto com Tadeu Martins , Charles, Cyro Stanislaw, Rubinho do Vale e Taninha.
Tio de Tadeu Martins o Idealizador do Festivale. João Lefu. , quando os quatro jovens Tadeus Martins, Aurélio Silby , Carlos Albérico Figueiredo e George Abner resolveram criar o jornal Geraes. João Lefu foi um dos primeiros apoiadores no Vale,
Ele participou também do primeiro encontro dos compositores do Vale do Jequitinhonha “Procurados” em 1979. Concorreu com a musica “ Jequitinhonha” no primeiro FESTIVALE em 1980 na cidade de Itaobim, no segundo FESTIVALE , na cidade de Pedra Azul concorreu com a musica “ Canto Simples”, em 1983 no terceiro FESTIVALE em Minas Novas, concorreu com a musica “ Artistas da Vida” e no oitavo FESTIVALE em 1987, no Serro concorreu com as musica “ Momentos” e “ Favelas”.
A cultura popular do Vale do Jequitinhonha, será eternamente grata por todas sua contribuição em defesa da mesma, jamais esqueceremos seu legado.
Fica aqui nossos sinceros sentimentos a toda família e amigos, que o cosmo lhe conceda uma belíssima passagem e conforte cada membro da família.
Tempo dos sorrisos
É chegado o tempo dos sorrisos. Tempo em que ele é distribuído a torto e a direito sem distinção de cor sexo, religião, ou classe social. É tempo de eleições. São os deputados que chegam em busca de votos. Trazem consigo as velhas armas: o sorriso pré-fabricado, as palavras bonitas e a mão aberta para apertar outras mãos que se orgulham em apertá-la, como se fosse a mão de um deus.
É tempo dos sorrisos. Sorrisos dos chefes políticos locais, que se desmancham em gentilezas para agradar aqueles que futuramente serão os defensores de seus interesses na Câmara Estadual e Federal. Aquele velho whisky guardado para ocasiões especiais é servido livremente.
O povo se aglomera. Nas suas roupas de domingo, esperam a sua vez de apertar a mão de seus deputados(?), ouvir cinco minutos de prosa que nada dizem, para depois guardar para sempre este momento de glória.
E esta é a realidade do Vale, de agosto a novembro, tempo dos sorrisos. Tempo em que o povo se concentra nas praças para ouvir, boquiabertos longos comícios, que nada trazem de novo. As velhas palavras bonitas de sempre. Já não se ouvem promessas, pois eles sabem que não podem cumprir, e também não querem um comprometimento maior e justificam-se ―Nos não somos o Executivo! Não somos o governo! Tudo que podemos fazer é lutar, levar as reivindicações do povo, reclamar!...E fecham com o chavão ...‖Porem se formos maioria nesta cidade, mais poderemos lutar, pois teremos mais força para impormos junto ao governo...‖. E entra comício e sai comício, é sempre esta conversa para boi dormir, não importa o partido.
E tem mais. Tem os chefes políticos locais trabalhando como loucos. Correndo pra lá e pra cá em busca de eleitores...faz um titulo aqui, presta um pequeno favor ali...sempre distribuindo sorrisos e calorosos apertos de mão.
E entre tantos sorrisos se esquece o tempo das lagrimas. Das lagrimas de lamentação por falta de escola, de apoio na pecuária e na lavoura, de assistência medica enfim, de melhores condições de vida.
Mas por mais que se procure esquecer, esta realidade vai estar presente. Depois de 15 de novembro chega o tempo das lágrimas. Onde não se vê a política distribuindo sorrisos, onde aquele velho whisky especial anda de férias, onde receber um ―bom dia‖, já é uma honra , onde a política deve ser esquecida, já que política só se faz de agosto a novembro, no ano das eleições.
È esse tempo que espera o povo. Aos políticos espera um tempo melhor, um tempo de tranquilidade. Os deputados pagarão aos chefes locais os votos conseguidos, lutando por pequenos favores (a substituição de um delegado de um medico ou de um diretor de colégio) instigando as rivalidades locais, e assim consideram-se quites com toda a população. Enquanto os chefes políticos vão se preocupar em lutar entre si, pela supremacia política. E o povo que espere as próximas eleições.
Mas, voltando à vaca fria, ao tempo dos sorrisos, pode-se ver o povo se divertindo, uns vão com aquele chefe, outros vão com outro, não se lembrando que deveriam se unir, já que possuem as mesmas necessidades. E a briga está começada.
Não só no bate-boca, mas até no corpo-a-corpo, sempre instigados por sorrisos que ficam do lado de fora. Se enfraquecem e entregam nas mãos dos políticos os seus direitos e seu destino.
É tempo dos sorrisos. Sorrisos que entorpecem a todos. Fazem esquecer o presente, a realidade e também o futuro.
Fazem com que não se veja a necessidade de união de fortalecimento, de povo em torno de si mesmo, procurando novos caminhos dentro de uma maior conscientização. A necessidade de formar associações que lutem, que defendam o direito de todos, que participem da vida política, não só de agosto a novembro, mas constantemente. Sorrisos que não deixam pensar e procurar respostas para muitas perguntas...Por que se dividir, lutar por esse ou aquele chefe político? Por que aceitar que depois do tempo de sorriso venha o tempo das lágrimas?...Respostas que estão em todos, entorpecidas, acuadas Por aqueles que as sabem e não querem que todas tomem conhecimento. Afinal, para eles é sempre tempo de sorrisos.
E essa realidade não vai mudar, vai haver sempre um tempo de sorrisos antecedendo as lágrimas, enquanto todos se deixarem entorpecer por sorrisos, palavras bonitas e apertos de mão. Enquanto não se questionar os problemas do Vale.
Discutir, mostrar, reclamar, apresentar soluções e ate exigir. Para isso é necessário não ver os políticos como deuses ou senhores de tudo. Acreditar na força de todos. Na união de homens que lutam pelo mesmo fim.
Sim, é tempo de sorrisos! Mas também é tempo de questionar estes sorrisos. De lembrar que vem ai o tempo das lágrimas. de procurar uma solução que o evite. De não se deixar levar por palavras bonitas. E pensar no que realmente deve ser feito. De não se vender por um sorriso, por um favor.
É tempo de começar um novo tempo no Vale do Jequitinhonha! Um tempo em que os falsos chefes políticos sejam coisa do passado. Um tempo em que o povo participe da política. Um tempo em que o voto seja uma arma que luta por melhores condições de vida.
Um tempo em que a união de todos cobre, exija dos homens eleitos para representá-los, um trabalho honesto, dirigido, planejado, para o Vale e não para uma minoria do Vale.
Editorial de João Lefu, edição 03 do Jornal Geraes
Fontes: Livro “Jequitinhonha, 42 anos de travessia” de Tadeu Martins
A apreciação de leitura desta semana será da obra recém- lançada do escritor e ator Diêgo Alves em- “Daqui do chão em que piso”- ele que é um artista popular das terras ensolaradas do Velho Calhau (Araçuaí), rincão profundo do Vale do Jequitinhonha, Ser(tão) mineiro. Ator formado pelo TU - Teatro Universitário da UFMG, Gestor Ambiental pelo IFNMG e membro do Centro de Cultura Memorial do Vale.
Com a publicação do seu livro “Dás Águas de um rio Mulher e outras histórias”, criou a Oficina Escrita Criativa, e nela, aborda o processo de criação dos seus contos e propõe a escrita coletiva de textos literários. Amante da Palavra e do seu potencial expressivo entrelaçou-se em seus encantamentos, iniciando seus estudos em Letras.
Falando um pouquinho da sua caminhada (que está bem no início) no Universo Literário. Ele é ator de formação e desde 1997 tem um trabalho ativo com o fazer artístico e cultural. Mas em 2020, em virtude da pandemia da Covid-19, esse trabalho foi interrompido, entretanto, a necessidade de expressão continuava pulsando e de repente se viu, sem nenhuma pretensão, escrevendo poeminhas de “bem-querer e querer bem”, para os nomes que sua alma se intuía, e publicava nas suas páginas do Instagram e no Facebook.
Uma professora que teve na formação superior, acompanhando as publicações, falou de um edital para uma antologia poética. Resolveu concorrer e teve dois poemas selecionados.
Num outro edital, agora para contos, foi atraído pelo nome da antologia Vozes da Margem, Vozes na Margem: narrativas fora de centro, e também sem pretensão alguma, lá estava ele escrevendo contos.
A Editora Alpheratz gostou da sua escrita e generosamente convidou-o para escrever outros contos, a partir deste convite, em 2021, pôde escrever o livro “Das águas de um rio Mulher e outras histórias” e agora em 2022 a obra “Daqui do chão em que piso” publicações da Editora Alpheratz.
Sua escrita é muito inspirada na prosa poética de João Guimarães Rosa e Bartolomeu Campos de Queirós e nas escrevivências de Conceição Evaristo. Mas o diferencial do seu trabalho está em falar e dar protagonismo às diversas Mulheres que constroem e fazem a história do Vale do Jequitinhonha.
Nas suas palavras, a inspiração para sua minha escrita é sem nenhuma dúvida, o exemplo de força, dignidade e resistência que essas Mulheres trazem em si, e a despeito de quaisquer adversidades, elas seguem firmes, alegres e pela luta e labuta, se fazem mulheres de uma beleza bruta e real.
Com essa habilidade tocante o autor nos convida fazer um passeio através da vida das mulheres do Vale, trazendo esperanças no amanhã de cada coração humano.
https://www.alpheratz.com.br/lancamento-daqui-do-chao-em-que-piso/
A dica de leitura da semana é da escritora e publicitaria por formação Ana Maria Gonçalves, com a obra –Um defeito de cor- ela que nasceu em Ibiá, Minas Gerais. Residiu em São Paulo por treze anos até se cansar do ritmo intenso da cidade e da profissão. Em viagem à Bahia, encantou-se com a Ilha de Itaparica, onde fixou moradia por cinco anos e descobriu sua veia de ficcionista, passando a se dedicar integralmente à literatura e ao multifacetado universo cultural da diáspora africana nas Américas. Sua estreia no romance se dá em 2002, com a publicação de Ao lado e à margem do que sentes por mim – “livro terno, íntimo, vivido e escrito em Itaparica”, segundo o depoimento de Millor Fernandes. O texto teve circulação restrita, em primorosa edição artesanal.
Foi em 2006, que a autora tornou-se conhecida em todo o país com o lançamento do livro -Um defeito de cor- O romance encena em primeira pessoa a trajetória de Kehinde, nascida no Benin (atual Daomé), desde o instante em que é escravizada, aos oito anos, até seu retorno à África, décadas mais tarde, como mulher livre, porém sem o filho, vendido pelo próprio pai a fim de saldar uma dívida de jogo.
O romance é composto de dez capítulos, iniciados com provérbios africanos e cada um destes capítulos é formado por diversas histórias que constituem fios que desenham a trama narrativa. As narrativas trazem em seu bojo as lembranças da África, sem a intervenção do tráfico de pessoas para o Novo Mundo, possuindo muitos gatilhos de violência. Destacando também ricas informações sobre a religiosidade no Brasil no inicio do século XIX.
Um defeito de cor conquistou o importante Prêmio Casa de Las Américas de 2006 como melhor romance do ano.
Link para pdf
https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/1154/o/Ana_Maria_Goncalves_-_Um_Defeito_de_Cor.pdf?1599239000
Nesse mês comemoramos um marco importante da luta dos negros e negras no Brasil. Aproveito esse espaço para falar especificamente sobre as lutas das mulheres negras brasileiras, que significa pensar sobre minha própria vida e sobre as mulheres de minha família. Muitas das dificuldades que enfrentamos podem ser compreendidas a partir do entendimento das questões que impactam o segmento mulheres negras ao longo da história do nosso país. Portanto é imprescindível conheçamos as trajetórias e lutas das mulheres negras ao longo do tempo, bem como suas reflexões acerca dos problemas vivenciados, para desta forma, pensarmos possibilidades de organização, projetos e formas de inserção na sociedade. Na última eleição houve uma entrada significativa de mulheres negras no legislativo, resultado das lutas dos feminismos no Brasil. Especialmente do feminismo negro e das lutas que o precederam. O que é importantíssimo, visto que, historicamente fomos governados por homens brancos e elitistas. Já na década de 1940, Maria Nascimento destacava a importância das mulheres negras votarem e serem votadas. Precisamos não só eleger mulheres negras, como também participar de forma coletiva nos destinos da nação. Durante minha trajetória acadêmica acessei poucas referências teóricas produzidas por mulheres negras inseridas nos currículos de minha formação. O fato de não ter nos currículos das disciplinas acadêmicas, produções escritas por pessoas negras é parte do epistemicídio, como demonstra Djamila Ribeiro em “pequeno manual antirracista”. Epistemicídio é a prática pelo segmento racial dominante de marginalizar os conhecimentos produzidos por pessoas negras. A especificidade da luta da mulher negra tem sido apontada há muito tempo por mulheres negras engajadas na modificação da situação de subalternidade. Um dos apontamentos que se tem registro é a fala de Sourjone Truth na “convenção dos direitos da mulher” em 1851 em Ohio, ficou conhecido como “Não sou eu uma mulher?” No discurso de Truth percebemos a crítica à essencialização da categoria mulher, de como a luta pelos direitos das mulheres enfatizava “ A Mulher” como identidade única e universal desconsiderando as especificidades de raça, classe, gênero etc. Bell Hooks no livro “Ensinando a transgredir: Educação como prática de liberdade” critica a ausência de reflexão no movimento negro sobre a questão de gênero. hooks menciona que os militantes negros acreditavam numa ausência de violência de gênero no interior das famílias negras, visto que o passado escravista teria enfraquecido a construção da masculinidade negra enquanto forte e dominante. Angela Davis em “mulher, raça, classe” também traz uma reflexão interseccional ao demonstrar a situação de violência a que estavam submetidas as mulheres negras nas sociedades escravista. Diferente das mulheres brancas, as negras foram consideradas ao longo do tempo como destituídas das características consideradas femininas, sendo consideradas mais fortes e insensíveis. Mesmo após a abolição essas construções sobre a força da mulher negra são usadas para justificar um tratamento desigual, violento no mercado de trabalho, na saúde, na família. (Solidão da mulher negra, trabalhos pesados, menos anestesia no parto, violência obstétrica). A visibilidade atual que o feminismo negro vem ganhando é resultado das lutas das mulheres negras ao longo da história brasileira. Na atualidade temos a atuação de inúmeras feministas negras, teóricas acadêmicas e militantes, suas ações, projetos e produções alteram a situação das demais mulheres e também são visibilizadas através das redes sociais, de publicações impressas impactando nas produções artísticas e na sociedade como um todo. Podemos citar algumas: Sueli Carneiro, Benedita da Silva, Jurema Werneck, Djamila Ribeiro, Carla Akotirene, Luana Tolentino, Conceição Evaristo, Joice Berth, Mariele Franco, Giovanna Xavier e tantas outras.A partir do momento em que as mulheres negras vão ocupando os espaços de produção de conhecimento, passam a reverter o epistemicídio ao resgatar trajetórias e pensamentos de mulheres negras do passado que ganham destaque nos seus escritos, produções, eventos: Lélia Gonzales, Beatriz Nascimento, Carolina Maria de Jesus. Termino esse texto reiterando a importância de se refletir sobre as lutas das mulheres negras no interior das instituições educacionais para reverter a colonialidade do pensamento. Axé!
A indicação de leitura dessa semana é da Revista Multidisciplinar do Vale do Jequitinhonha – ReviVale. Revista esta que é publicada pelo Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) campus Araçuaí-MG.
Perpassando pelo uso das tecnologias, buscando e incentivando o acesso a leitura instantaneamente, a revista conta com uma vasta equipe, de várias áreas de conhecimentos pertinentes para atingir ao máximo de leitores pelo mundo.
Ela tem como principal objetivo, publicar estudos de relevância acadêmica social, cultural e com foco interdisciplinar atendendo diversas áreas de ensino e pesquisa com caráter empírico e/ou teórico, divulgando os estudos em diversas modalidades como, ensaios teóricos, relatos de experiencias, dossiê, artigos acadêmicos e vivencias nas diversas áreas de conhecimento espalhadas pelo mundo, mediante avaliação dos editores e pareceres por assessores ad hoc.
Na edição atual- v. 2 n. 2 (2022): EDITORIAL - EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: REFLEXÕES TEÓRICAS E EMPÍRICAS- Vanessa Gomes de Castro- traz um tema muito pertinente sobre as lutas e reivindicações da população negra e dos povos indígenas pelos reconhecimentos das suas identidades culturais e pelo acesso aos direitos básicos acorados pelas desigualdades sociais herdadas do colonialismo.
É um texto que nos faz refletir, tornando um momento essencial e necessário para a compreensão do processo histórico dessa etnia.
Acompanhem os periódicos pelo link abaixo:
https://revivale.ifnmg.edu.br/index.php/revivale/about/editorialTeam
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Intolerância religiosa é a visão individual ou coletiva de não respeitar a crença religiosa do outro. Certo é que essa história de intolerância religiosa
não é de hoje, na Antiguidade,se tem a perseguição dos primeiros cristãos pelos judeus e pagãos,
e essa perseguição aos judeus começou mesmo antes do império romano. Mas estas intolerâncias
ficaram mais intensas na idade média e um dos exemplos claro são as cruzadas,
guerras incentivadas pela Igreja Católica, que aconteceram na Europa Ocidental
e que tinha como alvo principal Jerusalém e a Palestina.
A história da humanidade é marcada por intolerâncias
religiosa, quantas mulheres foram queimadas acusadas de bruxaria e heresia pelas
Santas inquisições da Igreja Católica. Quantos povos africanos escravizados e
proibidos de manifestar sua religião.
Mas hoje parece que voltamos à barbárie da
idade média, as perseguições religiosas estão cada vez mais explícitas, se tem
hoje uma aculturação religiosa em comunidades tradicionais quilombolas e indígenas,
onde religiões de cunho cristão tentam de todas as formas imporem a sua forma religiosa
de pensar.
Inúmeros foram os ataques a terreiros e casas
de orações de religiões de matrizes africanas, e nesse contexto a uma perseguição
muito explicita a essas religiões, fazendo com que muitas pessoas dessas
comunidades por medo, acabam por negar a sua religiosidade.
Vivemos tempos sombrios em nossa nação, onde
a política chegou aos púlpitos, não se fala mais da espiritualidade, mas se faz
campanha política partidária. Mas o que nos deixa triste e ver lideres
religiosos serem hostilizados, justamente por tentarem mostrar as pessoas que
os templos religiosos são lugares de oração, de acalanto a alma, de reflexão política
no sentido de como esta pode ajudar no bem comum e coletivo,
“Certo
dia eu estava a passar enfrente a Igreja Católica de minha cidade, quando vi
uma senhora bem velhinha na porta da Igreja, ela me chamou e perguntou: - Será
que o padre esta ai? Eu respondi: acredito que sim, por quê? Com os olhos
cheios de água ela me falou: _ É porque meu filho virou evangélico e disse que
eu teria que quebrar minhas imagens dos santos, para não criar desavença com
meu filho eu queria doar para Igreja ou para uma pessoa que goste. Eu falei
para ela: _Uai!, Se a senhora me da às imagens eu quero, minha mãe vai gostar muito,
ela toda feliz me passou a sacola com uma imagem de São Benedito , Nossa
Senhora da Conceição e um crucifixo. Ao me passar essas imagens, vi um sorriso
tão sincero e de alivio em seus olhos que me emocionou, ela agradeceu e me
disse: _ Essas imagens eram de minha mãe, eu não podia destruir algo que minha
mãe me deixou, sei que sua mãe vai guardar e eu vou viver meus últimos dias de
vida em paz com meu filho e sua família, mas minha fé só meu coração e Deus é
quem conhece.”
Narrei essa história para tentar trazer uma
reflexão para cada um que ler esse texto, fé é individual e fica guardada em
nossos corações e em nossas atitudes, por isso respeitar a manifestação religiosa
das pessoas é uma dádiva, bem como também respeitar aqueles que não tem nenhuma
crença.
Que cada um com sua crença e fé possa pedir
luz espiritual para nossa nação que tanto precisa nesse momento.
Por
Certa vez um beija flor, enviado para proteger um grande manancial aquífero de 24180,0 hectares.No início era muito bom, dias de muita fartura, cores e sabores. Era possível brincar, correr, nadar naquelas águas límpidas e frescas. Acordar e dormir com sinfonia dos mais diversos pássaros.
O beija flor se casou, formou sua família com seus sete filhotes. Juntos podiam exercer seu trabalho, animando e celebrando o bem viver, daquela chapada, pois sua missão era “cuidar da natureza, um dom divino de Deus !
Mas certa ocasião chegou o anúncio que essas terras seriam ocupadas, a fauna e flora devia ser extinta, pois havia uma espécie a ser implantada. Um tipo de planta que não aceitaria as espécies existentes; beberia muita água, enfraqueceria o solo, secaria as nascentes, lagoas e córregos. Sem água não teria beleza, sinfonia, sem frutos, sem plantas, sem famílias. Um pesadelo com muitas ameaças, o céu escurecia de repente.
O beija flor encantado, encontrou forças,unindo aos companheiros de jornada. Tomados de muita fé e simplicidade, tinham por convicção a sabedoria divina: ”A terra é sagrada, das mão de quem trabalha à terra, suor , vida e trabalho.”
Foram noites inteiras que este beija flor e todos os habitantes desta chapada tiveram de apagar fogo. Outras vezes ter de ir até à cidade para pedir socorro aos homens de boa vontade.
Hoje este beija flor com seus oitenta e dois anos, segue ecoando o grande alerta:” A Chapada é o pulmão para respirarmos. O extrativismo na chapada é muito grande, plantas medicinais, frutos do cerrado fazem parte dessa grande reserva ambiental, ajudando os moradores da região a obter sustentabilidade e soberania alimentar. Falta sensibilidade!
Ele é José Alves dos Santos, “Zezé das Tesouras”, guardião e defensor do meio ambiente, homem de luta em favor da preservação da Chapada do Lagoão .
Parabéns! Sua caminhada é um exemplo de fé, luta e percepção de qualidade de vida e sustentabilidade para todos.
Na coluna de hoje ficamos por conta do livro Olhos d’agua da autora Conceição Evaristo, nascida em 1946 em uma favela (Pindura- saia) da capital mineira. Foi babá, empregada doméstica e faxineira. Formou-se em Letras na UFMG, mestrado e doutorado no RJ e é a maior escritora de estudos afro-brasileiros do Brasil.
Lançada em 2014, essa coleção de 15 contos abordam num contexto critico o racismo, violência física, psicológica da mulher negra, condições sociais, marginalização do negro, fascismo, misoginia, exclusão e ao mesmo tempo esperança de estancar o sangramento que tudo isso causa nos dias atuais.
Nesse livro, a autora com suas narrativas transforma uma realidade marginalizada e excludente, em literatura e denuncia as consequências dessa exclusão e da discriminação sem deixar morrer a esperança de que um dia isso possa ser diferente. Obra essa, que narra à fome, a miséria, a violência, o genocídio do povo negro e dá voz às mulheres negras e suas vivências. Sem esquecer-se de também mostrar os laços afetivos dos personagens, seus conflitos internos, reflexões e a ancestralidade.
O conto que dá nome ao livro e o inicia é movido pelas recordações de uma personagem que busca se lembrar da cor dos olhos da mãe que está distante. É poético, delicado, e ao mesmo tempo afetuoso, apesar das memórias narradas denunciarem as dificuldades passadas por essa família. Essa é uma das muitas histórias desse livro que trata sobre maternidade e ancestralidade.
A mulher negra tem muitas formas de estar no mundo (todos têm). Mas um contexto desfavorável, um cenário de discriminações, as estatísticas que demonstram pobreza, baixa escolaridade, subempregos, violações de direitos humanos, traduzem histórias de dor e sofrimento.
Ao não explorar esses casos como meras manchetes, a escritora intensifica o incômodo e faz com que ele dure além do tempo de leitura do conto. Ela evidencia o que é brutal e a consequência da naturalização disso sem tornar seus personagens objetos. O conto “Maria”, “Ana Davenga” e o “Ei, Ardoca” são bons exemplos disso, porque nos apresentam histórias que facilmente estariam no jornal sendo contadas de outra forma.
O que a personagem escreve é uma amostra do mundo que a circunda e que Conceição expõe. Entre as tantas frases bonitas, bem feitas, cheias de sonoridade, há também a denúncia de qual é a linguagem que cerca as crianças negras que protagonizam essas histórias.
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Tudo começou no projeto cultural, Vivart 2019 – valorização das artes- em uma competição de poesias entre as escolas municipais. Ela e seu primo, Nicolas, representaram à escola (EMOM), e ganharam o primeiro lugar. Depois desse evento, segundo a autora, não parou de produzir poesias.
Tem uma gratidão ao seu primo e sua ex- professora de Português, Nafárley, e Gessica Batista, sua amiga e diretora da EMOM, pessoas que lapidaram seu talento já existente, dando total apoio.
Ela fala da sua paixão em encantar pessoas com suas obras poéticas, gosta de coisas simples, e usa de sua arte para proporcionar alegria, expressar sentimentos, sensações, arrancar sorrisos, fazendo com que as pessoas se emocionam. “A poesia traz leveza par a alma”.
A poesia a seguir levará o apreciador a pensar como ele está vivendo, alertando-o que vida é breve, passa muito rápido, que viver é bom, não basta apenas existir.
Devemos aproveitar a vida com alegria, traçar desejos, aplicar ideias (...), sempre!
Tempo não volta
Juventude passa
Esse fogo apaga!
As rugas são inevitáveis.
A velhice é certa.
E quando passar?
E quando as brasas se
Apagarem?
Eu te pergunto...
Você viveu? Ou apenas existiu?
Makciléa Gomes
O Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais e a comunidade acadêmica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), está de luto. Lamentand...