sábado, 17 de dezembro de 2022

GIRO PELO VALE- Vale do Jequitinhonha de Luto, morre João Lefu

 



É com imenso pesar que comunicamos a passagem espiritual João Lefu. Natural de Itaobim/MG, Poeta, músico e compositor.  Participou da criação do movimento Cultural do Vale, fez parte do Grupo Terrassol junto com Tadeu Martins ,  Charles, Cyro Stanislaw, Rubinho do Vale e Taninha.

Tio de Tadeu Martins o Idealizador do Festivale. João Lefu. , quando os quatro jovens Tadeus Martins, Aurélio Silby , Carlos Albérico Figueiredo e George Abner  resolveram criar o jornal Geraes. João Lefu foi um dos primeiros  apoiadores no Vale, 

Ele participou também do primeiro encontro dos compositores do Vale do Jequitinhonha “Procurados” em 1979. Concorreu com a musica “ Jequitinhonha” no primeiro FESTIVALE em 1980 na cidade de Itaobim, no segundo  FESTIVALE , na cidade de Pedra Azul concorreu com a musica “ Canto Simples”, em 1983 no terceiro FESTIVALE em  Minas Novas, concorreu com a musica “ Artistas da Vida”  e  no oitavo FESTIVALE em 1987, no Serro concorreu com as musica “ Momentos” e “ Favelas”.

A cultura popular do Vale do Jequitinhonha, será eternamente grata por todas sua contribuição em  defesa da mesma, jamais esqueceremos seu legado.

Fica aqui nossos sinceros sentimentos a toda família e amigos, que o cosmo lhe conceda uma belíssima passagem e conforte cada membro da família.


Tempo dos sorrisos 

É chegado o tempo dos sorrisos. Tempo em que ele é distribuído a torto e a direito sem distinção de cor sexo, religião, ou classe social. É tempo de eleições. São os deputados que chegam em busca de votos. Trazem consigo as velhas armas: o sorriso pré-fabricado, as palavras bonitas e a mão aberta para apertar outras mãos que se orgulham em apertá-la, como se fosse a mão de um deus. 

É tempo dos sorrisos. Sorrisos dos chefes políticos locais, que se desmancham em gentilezas para agradar aqueles que futuramente serão os defensores de seus interesses na Câmara Estadual e Federal. Aquele velho whisky guardado para ocasiões especiais é servido livremente. 

O povo se aglomera. Nas suas roupas de domingo, esperam a sua vez de apertar a mão de seus deputados(?), ouvir cinco minutos de prosa que nada dizem, para depois guardar para sempre este momento de glória. 

E esta é a realidade do Vale, de agosto a novembro, tempo dos sorrisos. Tempo em que o povo se concentra nas praças para ouvir, boquiabertos longos comícios, que nada trazem de novo. As velhas palavras bonitas de sempre. Já não se ouvem promessas, pois eles sabem que não podem cumprir, e também não querem um comprometimento maior e justificam-se ―Nos não somos o Executivo! Não somos o governo! Tudo que podemos fazer é lutar, levar as reivindicações do povo, reclamar!...E fecham com o chavão ...‖Porem se formos maioria nesta cidade, mais poderemos lutar, pois teremos mais força para impormos junto ao governo...‖. E entra comício e sai comício, é sempre esta conversa para boi dormir, não importa o partido. 

E tem mais. Tem os chefes políticos locais trabalhando como loucos. Correndo pra lá e pra cá em busca de eleitores...faz um titulo aqui, presta um pequeno favor ali...sempre distribuindo sorrisos e calorosos apertos de mão. 

E entre tantos sorrisos se esquece o tempo das lagrimas. Das lagrimas de lamentação por falta de escola, de apoio na pecuária e na lavoura, de assistência medica enfim, de melhores condições de vida. 

Mas por mais que se procure esquecer, esta realidade vai estar presente. Depois de 15 de novembro chega o tempo das lágrimas. Onde não se vê a política distribuindo sorrisos, onde aquele velho whisky especial anda de férias, onde receber um ―bom dia‖, já é uma honra , onde a política deve ser esquecida, já que política só se faz de agosto a novembro, no ano das eleições. 

È esse tempo que espera o povo. Aos políticos espera um tempo melhor, um tempo de tranquilidade. Os deputados pagarão aos chefes locais os votos conseguidos, lutando por pequenos favores (a substituição de um delegado de um medico ou de um diretor de colégio) instigando as rivalidades locais, e assim consideram-se quites com toda a população. Enquanto os chefes políticos vão se preocupar em lutar entre si, pela supremacia política. E o povo que espere as próximas eleições. 

Mas, voltando à vaca fria, ao tempo dos sorrisos, pode-se ver o povo se divertindo, uns vão com aquele chefe, outros vão com outro, não se lembrando que deveriam se unir, já que possuem as mesmas necessidades. E a briga está começada. 

Não só no bate-boca, mas até no corpo-a-corpo, sempre instigados por sorrisos que ficam do lado de fora. Se enfraquecem e entregam nas mãos dos políticos os seus direitos e seu destino. 

É tempo dos sorrisos. Sorrisos que entorpecem a todos. Fazem esquecer o presente, a realidade e também o futuro. 

Fazem com que não se veja a necessidade de união de fortalecimento, de povo em torno de si mesmo, procurando novos caminhos dentro de uma maior conscientização. A necessidade de formar associações que lutem, que defendam o direito de todos, que participem da vida política, não só de agosto a novembro, mas constantemente. Sorrisos que não deixam pensar e procurar respostas para muitas perguntas...Por que se dividir, lutar por esse ou aquele chefe político? Por que aceitar que depois do tempo de sorriso venha o tempo das lágrimas?...Respostas que estão em todos, entorpecidas, acuadas Por aqueles que as sabem e não querem que todas tomem conhecimento. Afinal, para eles é sempre tempo de sorrisos. 

E essa realidade não vai mudar, vai haver sempre um tempo de sorrisos antecedendo as lágrimas, enquanto todos se deixarem entorpecer por sorrisos, palavras bonitas e apertos de mão. Enquanto não se questionar os problemas do Vale. 

Discutir, mostrar, reclamar, apresentar soluções e ate exigir. Para isso é necessário não ver os políticos como deuses ou senhores de tudo. Acreditar na força de todos. Na união de homens que lutam pelo mesmo fim. 

Sim, é tempo de sorrisos! Mas também é tempo de questionar estes sorrisos. De lembrar que vem ai o tempo das lágrimas. de procurar uma solução que o evite. De não se deixar levar por palavras bonitas. E pensar no que realmente deve ser feito. De não se vender por um sorriso, por um favor. 

É tempo de começar um novo tempo no Vale do Jequitinhonha! Um tempo em que os falsos chefes políticos sejam coisa do passado. Um tempo em que o povo participe da política. Um tempo em que o voto seja uma arma que luta por melhores condições de vida. 

Um tempo em que a união de todos cobre, exija dos homens eleitos para representá-los, um trabalho honesto, dirigido, planejado, para o Vale e não para uma minoria do Vale.

Editorial de João Lefu,  edição 03 do Jornal Geraes 

Fontes:  Livro “Jequitinhonha, 42 anos de travessia” de Tadeu Martins


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