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Dando continuidade ao propósito de apresentar
personalidades relevantes para a luta do povo negro no Brasil, hoje falarei
sobre Maria de Lourdes Vale Nascimento, importante militante negra que atuou
entre as décadas de 1940-1960. Foi uma das fundadoras do Teatro Experimental do
Negro (TEN), na década de 1940. Nessa instituição, voltada para a formação de
atores e atrizes negras para atuar no cinema e no teatro, Dona Maria Nascimento,
como era conhecida, fundou o Departamento Feminino. Tal setor foi responsável
pela organização de aulas de inglês, alfabetização e preparo profissional
voltados para os trabalhadores e trabalhadoras que frequentavam aulas noturnas.
Ali funcionava também um balé infantil voltado para crianças negras. No
Departamento Feminino do TEN, foi organizada também uma associação profissional
de trabalhadoras domésticas. Maria Nascimento era assistente social de formação
e se preocupava com as questões sociais que impactavam principalmente as negras
e negros: “É inacreditável que numa época em que tanto se fala de justiça
social possam existir milhares de trabalhadoras como as empregadas domésticas,
sem horário de entrar e sair do serviço, sem amparo na doença e na velhice, sem
proteção no período de gestação e pós-parto, sem maternidade e sem creche para
abrigar seus filhos durante as horas de trabalho” (Joselina da Silva. Mulheres
negras: Histórias de algumas brasileiras) No Jornal Quilombo, ela possuía
espaço na coluna Fala Mulher, na
qual se dirigia às mulheres negras e discutia temas como o combate ao racismo e
a necessidade do aumento da participação política das mulheres negras no
destino do País: “Se nós, mulheres negras do Brasil, estamos mesmo
preparadas para usufruir os benefícios da civilização e da cultura, se
quisermos de fato alcançar um padrão de vida compatível com a dignidade da
nossa condição de seres humanos, precisamos sem mais tardança fazer política
[…]” (citado por Joselina Oliveira). Na década de 1950, Maria Nascimento
criou o Conselho Nacional das mulheres negras, espaço no qual era oferecido
atendimento jurídico à população negra
e expedidas certidões de
nascimento. Maria Nascimento foi casada com o célebre Abdias Nascimento, tendo
juntos fundado o Teatro Experimental do Negro (TEN), entretanto, encontramos
poucas referências à atuação de Maria, mesmo imagens dela na internet são raras.
Sua atuação em favor da defesa de seu povo foi, de certa forma, apagada. Isso
ocorre devido às desigualdades de gênero que impactam as mulheres, sobremaneira
as negras. Entretanto, a partir das últimas décadas do século XX, com o
fortalecimento das lutas coletivas das mulheres negras e a emergência do
feminismo negro, muitas das nossas intelectuais e militantes negras têm sido
redescobertas, destacadas em pesquisas, tiveram seus textos reunidos e
publicados em formato de livro ou reeditados seus livros. A primeira vez que
tomei conhecimento acerca de Maria Nascimento foi ao ler o livro da Dra.
Joselina da Silva Oliveira “Mulheres negras: Histórias de algumas brasileiras”.
E agora, ao pesquisar para escrever este texto, encontrei o livro “Maria de
Lourdes Vale Nascimento: Uma intelectual negra do Pós-abolição” escrito pela
Dra. Giovana Xavier e publicado em 2020. Cabe a toda pessoa que deseja se
engajar na luta antirracista e antissexista conhecer o pensamento das/dos
intelectuais negras/os e assim ampliar os conhecimentos sobre a história do
povo negro. Fico por aqui. Axé
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