segunda-feira, 26 de julho de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - Luciana Teixeira

 

Igreja Senhor da Boa Vida/Itira - Araçuaí/MG - Foto: Mira Mundim


            O ano de 2021 é o marco da comemoração aos 150 anos de emancipação política de Araçuaí. Neste movimento de comemorações, encontra-se espaço especial de uma mulher que atravessou um século e meio e se mantêm no cenário histórico da origem de Araçuaí.

            Graças ao francês Saint-Hilare, em sua viagem às províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, pesquisando sobre a flora, fauna gente e costumes, cujo percurso inicial foi do Rio de Janeiro, em 07 de setembro de 1816 e finalizando em 1822.

            Ele registra sobre uma de suas hospedagem, que celebra o marco da presença  de Luciana Teixeira, deixando prova de um legado, que fundamenta a existência de uma mulher diferente a sociedade daquela época:


Pousei na casa de Boa Vista, talvez a mais agradavelmente situada de todas as que até esse momento vira.. É construída sobre o cume de uma colina isolada, em baixo da qual deslizam com lentidão as águas límpidas do araçuaí, rio mais ou menos da largura do Loiret(...)

Boa Vista era a residência de uma velha mulata chamada Luciana Teixeira. Tendo sabido que eu viajava com passaporte do governo, essa boa mulher cumulou-me de atenções, e, pondo-se quase de joelhos, quis abraçar-me as coxas; mas compreende-se bem que recusei semelhante polidez.

Passei em boa Vista o dia de Pentecostes. Um sacerdote ali chegara, vindo de nove léguas  de distãncia, e todos os colonos da vizinhança se tinham reunido na habitação com os filhos e netos da hospedeira, para assistir o serviço divino.

(..) Minha hospedeira de boa Vista não quis aceitar nada de mim pelo que eu comi, nem mesmo pela forragem dos animais. Contentou-se em pedir–me um pouco de papel, e este mesmo, queria pagá-lo.(SAINT-HILARE,1975, página 238)

 

            O naturalista descreve sobre hábito dos habitantes, ressaltando sobre a postura dos homens á mesa, como se vestiam , comparando como homens do campo, porém mais acanhados e embaraçados, mas não cita nenhuma referência de hábitos ou posturas femininas.

            Uma pena! Porque se tivéssemos mais dados informados, conseguiríamos hoje, detalhar quanto à figura dessa mulher e saberíamos contextualizar a sua existência neste rincão do nordeste mineiro.

            Nas controvérsias em relação à Luciana Teixeira quanto ser ou não prostituta, não importa se foi fazendeira, canoeira, meretriz ou outra coisa. Importa a todos saberem que, foi uma mulher negra, destemida, forte e que certamente abalou as estribeiras do Padre Carlos  Pereira de Moura.

 

Referência:

SAINT-HILARE. A.Viagem pelas províncias do rio de Janeiro e Minas Gerais, Belo Horizonte.Itatiaia, 1975  

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2 comentários:

  1. "fazendeira, canoeira, meretriz"... Que importa? Luciana foi somente um ser humano. A cor da pele? A generosa cor de humanizadas Áfricas abraçando viajantes a margem do rio Loiret, em solo jequitinhonhense. Parabéns Ângela.

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