segunda-feira, 5 de julho de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - Sonho de Quadrilha

 

Foto: Internet

             Estamos numa época de festas juninas. Em Minas Gerais em especial, tudo muito caloroso: fogueira, doces, quentão, canjica, caldos, enfeites e muita animação.

            Apesar de vivermos tempos mais modernos, ainda se conserva em muitas comunidades rurais, ruas, bairros e quermesses para ajudar nas obras da Igreja Católica.

            Recordo de uma menina, que se deliciava com este tempo, geralmente seus pais e avós lhe presenteava com caixas de traques e chuvinha. Na sua porta, a fogueira era erguida, só para juntar a meninada divertindo e a menina sorrindo.

Apesar de tanto zelo e mimos, os pais desta menina eram pobres e o sonho dela era participar da quadrilha da sua escola. Mas o fato dos pais serem humildes e acanhada nenhum menino se interessava em tirar-lhe para dançar. Também a professora   que organizava, nunca fazia esforço para inserir meninas deste perfil. Ficavam num canto, assistindo aos ensaios.

            Até que um dia, houve troca de professores e a substituta decidiu que todos teriam de estar na quadrilha. Saiu puxando a menina pelo braço, quase emburrada para junto de seu par. O menino não esboçou nenhuma reação, aceitando-a.

            O problema viria a seguir, porque não tinha vestido bonito, nem condição para alugar um, além disso os pais tinham de pagar a entrada.

            A pobre garotinha, com sua colega teve a solução para roupa. Pegou ás escondidas um vestido e umas fitas de cetim, customizaram a indumentária. Mas como falar com a mãe? Tiveram a ideia de omitir alguma coisa. Contou-lhe, que tinha de participar do evento, porque valia nota. A mãe perguntou-lhe da entrada e respondeu-lhe, que a professora falou que a entrada era franca. 

            A sorte lançada, imaginava que a mãe, não se importaria de ficar do lado de fora, até o término da quadrilha.

            Ao chegarem na portaria, a mãe foi barrada. Neste momento sentiu-se mal pelo que havia feito. Mas não dava para voltar atrás, porque o porteiro já havia lhe empurrado para dentro, ordenando para andar ligeiro, porque a quadrilha estava prestes a começar. Sabia que a mãe não iria poupar-lhe daquele vexame. Mas, estava feliz demais para pensar no depois.  Saiu correndo para junto de seu par, que lhe pegou pela mão e saíram dançando. Ela se achava a menina mais bonita daquela noite!

            Roda daqui e dali, chegou o grande momento da brincadeira da cadeira!  Seguindo a fila, era sua vez, sentou-se faceira e sorridente.

            De repente sentiu um frio na espinha, que a congelou, ao ver na multidão, bem em sua frente, sua mãe, de braços cruzados, assistindo o beijo inocente, na sua face, de ser parceiro.

            A mãe ali entendeu toda a arquitetura, por um beijo!

Quando tudo terminou, foi se juntar a sua mãe, a professora logo aproximou-se para parabenizar e agradeceu por permitir que a filha participasse do evento junino.

Antes de ouvir o “muito obrigado” da mãe, sentiu a fisgada do beliscão, nas costelas, e um sorriso amarelo da raiva da matriarca, dizendo entre os dentes: _Lá em casa você me paga!

            Engoliu em seco, suportando a dor, sem nem ao menos falar um”aí’.

            Mas   sorte estava do seu lado, quando avistou ao longe, na estrada escura, seu avô com a lanterna, esperando as duas. Antes que a mãe soltasse sua fúria, a avó só tinha elogios.  Queria que a menina contasse tudo da quadrilha. Quando chegou na porta da casa, a avó tomando-se de posição severa, ordenou a mãe: _deixa a menina em paz! Isso é coisa de criança!

            Voltou-se para a doce e indefesa menina, fazendo-lhe prometer, que no próximo ano devia lhe avisar com antecedência, pois ele a levaria.

          A menina radiante de felicidade, cansada, sorrindo para o avô, esticou a mãozinha direita, dizendo!

 _Deus te ajuda vovô! Bença! Virando-se, fechou a porta, mas ainda deu para ouvir: Deus te abençoa! Deus te abençoa, te guarda e ilumina, minha neta! ...

Por



 

 

3 comentários:

  1. Revivi a minha infância em seu texto, adoro textos de fácil e gostosa leitura. Parabéns

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  2. Texto qua traz ao mesmo tempo a singeleza da criança e a denúncia dos problemas sociais que nunca abandonam nossas comunidades.

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