segunda-feira, 1 de março de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - Quadro Negro

foto: Internet

Meu pai era lavrador e pedreiro e minha mãe professora leiga e ajudante de serviços gerais, os dois tem uma trajetória parecida em relação à educação.

Meu pai quando terminou a quarta série (hoje 5º ano) e fez o teste de arguição para a 5º serie, tirou notas totais em todas as matérias, porém meu avô não permitiu que ele estudasse, tendo em vista que ele teria que estudar em Araçuaí e ele alegou não ter condições, mas um professor vendo o potencial de meu pai insistiu, mas meu avô foi irredutível não permitiu.

O mesmo aconteceu com minha mãe, quando ela terminou o 4º série (hoje 5º ano) sua professora lhe convidou para continuar os estudos em Teófilo Otoni, mas meu avô não permitiu disse ele: “se ela estudar vai querer humilhar as irmãs dela que não tem estudo”.  

Esses fatos serviram de estimulo e eles cresceram acreditando que os filhos deles iriam estudar e ter uma formação, no qual eles foram privados.

Eu e minhas irmãs tínhamos mania de ficar escrevendo nas paredes de casa com carvão, então meu pai teve uma ideia para que as paredes ficassem limpas e para que nós tivéssemos um cantinho de estudo, ele fez um quadro negro em nossa sala e a transformou em uma sala de aula, e ali minha irmã mais velha nos ensinava a lição e exercia seu sonho de ser professora um dia. Depois outras crianças começaram a chegar e nossa sala virou mesmo uma escolinha e isso perdurou por muitos anos.  

Essa persistência de meus pais pela educação deu certo, seus cinco filhos cresceram acreditando que a educação é o melhor caminho para se seguir, hoje somos quatro professores de formação, sendo uma professora de Matemática (Rede estadual educação de Minas Gerais e rede municipal de educação de Itinga), outra Professora e Assistente Social (Trabalha como Assistente Social), outra Professora e Assistente Social (Trabalha como professora alfabetizadora da rede estadual de educação de Minas Gerais e professora particular de reforço) eu, professor com formação em História e iniciando o mestrado em Ciências Humanas neste semestre na UFVJM (Trabalho como Historiador/pesquisador, produtor e gestor cultural) e a caçula da família é Psicóloga.

O quadro negro feito por meu pai, quando éramos ainda crianças, com certeza é uma boa lembrança e uma memória de quando minha casa era literalmente uma sala de aula e o quanto aquele espaço foi importante não só para minha formação e de minhas irmãs, mas para formação de outras crianças de nossa rua.

Hoje uma de minhas irmãs transformou nossa garagem em sala de aula de reforço. O quadro negro antes feito de cimento no qual se usava o giz para escrever, hoje é um quadro branco, no qual se escreve com um pincel atômico, o quadro pode ter mudado, mas a força da EDUCAÇÃO como mola propulsora de transformação social continua a mesma.




Em memória de meus pais: Maria Pereira dos Santos Pinto e João Antenor Ferreira Pinto, meus maiores exemplos do que é ser um PROFESSOR.

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