sexta-feira, 23 de maio de 2025

CONHECENDO O JEQUI - Cabo de Machado

Comunidade  Quilombola de Mocó - Francisco Badaró/MG


Cabo de Machado é o nome mais comum, mas também é conhecido como Bolo de Folha, Miguelão, Miguelinho, Zé Pelado, Careca, Cobu, Pau a Pique, Broa de fubá, João Deitado, entre outros nomes. É uma iguaria muito tradicional da gastronomia do Vale do Jequitinhonha, especialmente presente nas comunidades quilombolas da região, é também encontrada em outras regiões de Minas e do Brasil. Seu ingrediente principal é o fubá, e sua preparação carrega consigo a história e a cultura de nosso povo.

Esse bolo é um verdadeiro símbolo da culinária afetiva do Vale do Jequitinhonha, trazendo consigo o sabor da tradição e a simplicidade dos ingredientes típicos da região. Além de delicioso, o uso das folhas de bananeira ajuda na proteção ao assar, confere um aroma especial e mantém a umidade da massa, tornando-o ainda mais irresistível. Mas também reflete práticas sustentáveis e o respeito ao meio ambiente, características fundamentais da culinária quilombola.

O Cabo de Machado no Vale do Jequitinhonha, tem suas raízes na tradição alimentar das comunidades quilombolas, que desenvolveram receitas a partir dos ingredientes disponíveis em seus territórios. A culinária quilombola é um reflexo da resistência e adaptação dessas comunidades, que fugiram da escravidão e estabeleceram modos de vida autossustentáveis.

A base alimentar dos quilombolas inclui cultivos como mandioca, milho, feijão e banana, ingredientes que são utilizados em diversas preparações tradicionais. O Cabo de Machado, feito principalmente com fubá, é um exemplo dessa criatividade culinária, onde técnicas ancestrais de cozimento e preservação dos alimentos foram mantidas ao longo das gerações.

O Cabo de machado é muito mais do que uma simples receita para as comunidades quilombolas do Vale do Jequitinhonha. Ele representa identidade, resistência e tradição, sendo um símbolo da conexão dessas comunidades com sua história e seus saberes ancestrais. Ele carrega consigo saberes transmitidos de geração em geração, reforçando a identidade quilombola e a valorização da cultura afro-brasileira.

O cabo de Machado faz parte dos rituais e celebrações, é frequentemente preparado em festas e encontros comunitários, reforçando laços sociais e celebrando a cultura quilombola.

Essa iguaria não é apenas um alimento, mas um patrimônio cultural, que mantém viva a história e os costumes das comunidades quilombolas em nossa região.

Ele é muito comum nas três regiões que compõem o Vale do Jequitinhonha, Alto, Médio
e Baixo, nas minhas andanças por esse Jequi, já tive a oportunidade de experimentar em Felisburgo, Almenara, Jequitinhonha, Itinga, Jenipapo de Minas, Berilo, Francisco Badaró, Capelinha, Chapada do Norte, Minas Novas, Capelinha, Leme do Prado, Diamantina, Serro e Gouveia.  O nome varia de lugar para lugar, assim como a receita.  A base é sempre o fubá, mas outros ingredientes são adicionados como: rapadura, amendoim, queijo, doce de leite, goiabada e coco.

A culinária mineira é uma de nossas identidades e eu mesmo não sendo especialistas no assunto, acredito que o Cabo de Machado ou como queiram chamar é um símbolo da culinária do Vale do Jequitinhonha.


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quinta-feira, 22 de maio de 2025

DIÁRIO DE LEITURA - Dica de Leitura: Violações dos Direitos Humanos das Mulheres na Ditadura

Foto: Internet


Dica de Leitura da Semana: Violações dos Direitos Humanos das Mulheres na Ditadura

Essa semana, trago uma leitura potente, dolorosa e urgente: o artigo “Violações dos direitos humanos das mulheres na ditadura”, de Vera Silva, publicado na Revista Estudos Feministas. É uma leitura que fala de dor, coragem, silêncio… e sobretudo de memória.

O texto nos leva de volta aos anos de chumbo da ditadura militar brasileira (1964–1985) e escancara uma face ainda pouco discutida da repressão: a violência específica cometida contra as mulheres. Mais do que perseguição política, elas enfrentaram uma repressão misógina, sistemática e marcada por torturas sexuais, estupros, ameaças envolvendo filhos e gravidez, humilhações baseadas na sexualidade e no papel social da mulher. O corpo feminino virou campo de batalha — usado como instrumento de castigo, silenciamento e controle.

A autora nos lembra que o silêncio em torno dessas violências não foi apenas ausência de discurso, mas também uma política de repressão. Como diria o sociólogo Michael Pollak, o silêncio pode ser uma forma de sobrevivência. Muitas dessas mulheres só puderam contar suas histórias mais de 40 anos depois, graças ao trabalho da Comissão Nacional da Verdade (2011–2014), que abriu espaço para que essas vozes finalmente fossem ouvidas.

Essa escuta pública não é apenas simbólica — ela é um ato político de reconhecimento e reparação. O Brasil ainda deve muito às mulheres que resistiram e sofreram nas mãos do Estado. Os crimes sexuais cometidos naquele período são classificados como crimes de lesa-humanidade: não prescrevem, não devem ser esquecidos e precisam ser investigados.

Discutir esse tema hoje é essencial, especialmente num momento em que discursos autoritários e tentativas de apagar a história ganham espaço. Lembrar é resistir. Trazer à tona essas memórias é um passo necessário para que o corpo da mulher deixe de ser um território de repressão e se afirme como espaço de fala, de luta e de reconstrução da verdade.

 

Leia o artigo completo em: https://www.scielo.br/j/ref/a/fj3JtHZGBYcHgWMPPjZsHvs/#


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quarta-feira, 21 de maio de 2025

OPINIÃO DO BLOG - Tombamento da bacia do Rio Jequitinhonha, o que mudou?

Rio Jequitinhonha em Itinga - Foto: Jô Pinto


O tombamento estadual da Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha e sua declaração como monumento natural, estabelecidos pela Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989, representam um marco na proteção ambiental e cultural da região. No entanto, é fundamental questionar se essas medidas têm sido eficazes na preservação dos ecossistemas e na valorização das comunidades locais que habitam o vale do Jequitinhonha.

Historicamente, a região do Alto Jequitinhonha foi explorada economicamente desde o século XVIII, principalmente devido à mineração de ouro e diamante. Com a decadência dessa atividade, o território passou por uma diversificação econômica, adotando a criação de gado e o cultivo agrícola. Depois vieram a monoculturas, entre ela a do Eucalipto, que na década de 1970 chegaram como a redenção econômica do Vale do Jequitinhonha, retorna se a exploração da mineração: grafite, granito e lítio, todos esses processos, associados ao clima semiárido, impôs desafios à sustentabilidade e ao desenvolvimento da população local, que, ainda hoje, enfrenta dificuldades relacionadas à escassez de recursos hídricos e à baixa infraestrutura.

A proteção jurídica da bacia hidrográfica é um passo significativo para sua conservação. No entanto, políticas públicas voltadas à preservação ambiental devem ser acompanhadas de investimentos reais na recuperação dos recursos naturais e na melhoria das condições socioeconômicas dos habitantes.

   A mera declaração do rio como monumento natural não é suficiente se não houver iniciativas concretas de combate à degradação ambiental, incentivo à agricultura sustentável e valorização das manifestações culturais locais.

A riqueza histórica e cultural do Vale do Jequitinhonha é um dos maiores patrimônios da região, refletida nas tradições das lavadeiras, na musicalidade dos violeiros e na identidade única de sua população.

 Contudo, a proteção desse patrimônio deve ir além do reconhecimento formal e se traduzir em políticas inclusivas que promovam o desenvolvimento sustentável, garantindo dignidade e oportunidades para aqueles que vivem às margens do rio Jequitinhonha.

Portanto, o tombamento estadual da bacia representa um avanço simbólico, mas que precisa ser constantemente revisado e complementado por ações eficazes. Sem isso, corre-se o risco de que essa proteção seja apenas uma formalidade, sem impactos reais na melhoria da qualidade de vida da população e na preservação ambiental desse bem que mantem viva a vida dessa região.


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terça-feira, 20 de maio de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - A Traíra do Acari

Foto: Internet


 

"Não é história de pescador", me garantiu o Mestre artesão Ulisses Mendes, ajeitando o chapéu antes de começar seu relato.

 

         Aconteceu na comunidade dos Campinhos, este lugar no passado foi habitado pelos índios Botocudos, Acari é uma árvore de médio porte, muito encontrada na região dos campinhos, há mais ou menos um cem ano atrás havia no rio Jequitinhonha nas redondezas do lugar havia uma abundancia de peixes e na sua margem um enorme pé de Acari sombreando as águas.

De repente, os peixes começaram a desaparecer e todas as vezes que os pescadores jogavam seus anzóis, algo muito grande puxava os anzóis e quebravam as linhas, alguns pescadores mandaram um ferreiro forjar anzóis em aço, mas de nada adiantou, aquela coisa de olho aceso e corpo grande vinham e destruía tudo, o povo já assustado ora falavam que era uma traíra enorme, ora não sabiam explicar o que era, então chamaram João Leão um dos mais experientes pescadores daquela região, na sua imensa sabedoria passou três meses confeccionando uma tarrafa com a melhor linha da época.

Partiram os homens para tentar capturar a traíra ou outro ser, os pescadores jogaram os anzóis e fisgaram, João Leão na sua esperteza lançou a tarrafa sobre ela e foi ai que eles viram com olhos de espanto, lá estava ela: uma traíra enorme traíra de olhos que encantavam os seus caçadores, mas, como uma benção a traíra se livrou dos anzóis e destruiu a tarrafa deixando todos mais um vez frustrados. Os pescadores tentaram matá–lá com armas de fogo e nada adiantou, com todos estes acontecimentos os homens não se animavam em ir mais pescar. Eles tinham certeza que aquela era uma traíra abençoada por Deus, encantada.

Passaram-se alguns meses e os peixes voltaram a saltitar de novo no rio e os pescadores voltaram a pescar, passando a acreditar que a traíra encantada do Acari, nadava pelo rio Jequitinhonha, protegendo o ciclo da vida, e sendo assim os pescadores evitavam a pesca na época da desova, se cumpria o que para nós hoje é a piracema, ou seja, a época em que os peixes se reproduzem.

 

Texto adaptado por Jô Pinto, baseado no conto narrado pelo Mestre artesão Ulisses Mendes, um exímio contador de causos em Itinga.


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segunda-feira, 19 de maio de 2025

MEMÓRIA CULTURAL - A importância das Fábricas de Tecidos: Pereira Murta e Cia e Biribiri na indústria têxtil Mineira

 

Tear na Comunidade Quilombola de Tocoios/Francisco Badaró/MG




No século XIX, Minas Gerais testemunhou um crescimento expressivo na produção de tecidos, impulsionado pela criação de fábricas e pelo fortalecimento da atividade artesanal. Esse avanço foi especialmente marcado pela participação feminina, que desempenhou um papel essencial na confecção e no aperfeiçoamento dos produtos têxteis.

Dentre as fábricas que se destacaram nesse período em Minas Gerais, duas são do Vale do Jequitinhonha: a fábrica do Biribiri, localizada em Diamantina e a fábrica Pereira Murta e CIA, também conhecida como “Fabrica de Tecido Bom Jesus da Lapa da Água Fria, localizada em Itinga.

Ambas foram fundamentais para o desenvolvimento da indústria têxtil mineira, tornando-se importantes centros de produção e inovação. Com uma estrutura organizada e um modelo de produção eficiente, essas fábricas ajudaram a consolidar Minas Gerais como um polo relevante no cenário têxtil brasileiro.

Além do impacto econômico, a expansão da produção de tecidos no estado contribuiu para mudanças sociais significativas. Esse período, portanto, marcou um capítulo relevante na história industrial e cultural de Minas Gerais, evidenciando a força da produção têxtil e suas múltiplas influências.

A Fábrica de Tecido de Itinga foi idealizada pelo Comendador Candido Freire de Figueiredo Murta, deputado geral, e do Major João Antônio da Silva Pereira, Para que o sonho da fábrica se concretizasse eles reuniram outros cidadãos da então Vila Itinga e criaram a “Sociedade dos Filhos de Itinga” e importaram da Europa, mas precisamente da Bélgica, pesadíssimos maquinários (80 Teares, dois Gomadores de 1000 kg e outros equipamentos). a fábrica foi instalada em 1880,na comunidade de Água Fria, próxima ao Ribeirão Água Fria, aproximadamente a 7 km da sede do município. O algodão que existia em abundância na região, vinha principalmente da própria Itinga, São Domingos (hoje Virgem da Lapa), Lufa (hoje distrito de Novo Cruzeiro) e  Agua Suja ( Hoje Berilo). A Fábrica produzia principalmente os tecidos: Pano americano e o riscado Xadrez. Com uma crise econômica e também uma grande enchente em 1928 no Ribeirão Água Fria que destruiu partes da fábrica, a mesma entra em colapso e é desativada. Alguns teares foram vendidos para o empresário Antônio Mendes Campos e levados para Pirapora no norte de Minas. Infelizmente restaram apenas as memórias da fábrica e pouquíssimos objetos.

 A Fábrica de Tecidos do Biribiri, está localizada a cerca de 12 km de Diamantina, foi um exemplo relevante da produção têxtil na região.  A Fundação foi feita por  Dom João Antônio dos Santos, primeiro Bispo de Diamantina, e sua família, no final do século XIX. A produção têxtil na região era, em geral, mais voltada para o artesanato e a produção de tecidos mais simples. Na década de 1920, era controlada por Duarte & Irmão e foi  comprada em 1922 pelo  do Banco Hipotecário do Brasil . A fábrica funcionou até 1973, quando foi fechada por motivos econômicos. A fábrica e a vila operária foram tombadas como patrimônio histórico e paisagístico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) em 1994 e atualmente é um espaço turístico, que preserva a memória da fábrica e da vila operária. 

As duas fábricas tinham algo em comum, a hierarquia baseada no gênero, com mulheres ocupando funções de fiandeiras e tecelãs, e homens ocupando funções administrativas.

As fabricas se foram, mas o oficio de plantar o algodão, fiar e tecer: os tecidos, colchas, tapetes e outros ainda permanecem vivas com as mestras artesãs em alguns municípios de nosso Jequi.

 

Fonte:

BORGES. Kátia Fanciele Corrêa. Tecendo relações e salvando almas: as operárias da fábrica de tecidos do Biribiri / Diamantina/MG (1926-1931)

MOURA. Marcelo Duarte. A indústria artesanal de tecidos em minas gerais na 1ª metade do século XIX.

PINTO. José Claudionor dos Santos. Memórias de Itinga. Centro Cultural Escrava Feliciana. 2009.


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quinta-feira, 15 de maio de 2025

DIÁRIO DE LEITURA




Dica de leitura da semana

Nossa dica de leitura desta semana é "Válida", noveleta da escritora Herena Barcelos, uma mulher de múltiplas atuações e profunda inserção no cenário cultural do Vale do Jequitinhonha. Agente cultural, nutricionista, funcionária pública, Mestra em Estudos Rurais, Conselheira de Patrimônio, mãe e escritora, Herena é membra do Centro Cultural Escrava Feliciana, criou o coletivo literário VOHEJAR e coidealizou o Movimento dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha. Coordena o Leia Mulheres Araçuaí e ocupa a cadeira 39 da Academia de Letras do Vale do Jequitinhonha – ALVA. Com trajetória premiada em concursos regionais e nacionais, já ministrou oficinas, publicou dois livros autorais, prefaciou e organizou obras, além de participar de diversas coletâneas literárias e acadêmicas.

 "Válida" é uma narrativa simbólica e potente, com apresentação de Jucilene Vieira e prefácio de Wederson Moraes, é um texto metafórico, que conta a história de uma moça que deixa o lugar SEU e vai pra o lugar QUALQUER à procura de sucesso, um sucesso que nem ela mesma sabe o que é. No entanto, Válida tem em si a ideia de ser miserável, o que reflete em diversas tentativas frustradas de ser bem sucedida. Até que ela conhece Genuíno, uma personagem carregada de simplicidade e honestidade, que lhe ajuda a olhar para si e superar as fragilidades da sina de ser miserável.

— Do meu sonho.

— Que sonho?

— Esse negócio que comecei.

— Você o ama?

— Amo. É preciso amar nossos sonhos.

— Não sabia.

— Você não ama seu sonho?

— Qual?

— De ter sucesso.

— Não sei.

— Então não ama.

— Como sabe?

— Amor a gente tem certeza.

Uma leitura tocante sobre sonhos, fracassos, encontros e a coragem de se reinventar.

Boa leitura.


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quarta-feira, 14 de maio de 2025

OPINIÃO DO BLOG - A importância das Comunidades Quilombolas na Formação Sociocultural do Vale do Jequitinhonha

Foto: Jô Pinto - Griôs da Comunidade Jenipapo Pinto de Itinga/MG


O povo quilombola do Vale do Jequitinhonha representa uma parte essencial da história, cultura e resistência do Brasil. Descendentes de africanos que escaparam da escravidão e formaram comunidades autônomas, os quilombolas são guardiões de tradições ancestrais, transmitindo conhecimentos sobre agricultura, culinária, artesanato e espiritualidade.

No Vale do Jequitinhonha, essas comunidades desempenham um papel fundamental na preservação da identidade cultural, mantendo vivas práticas como a cerâmica artesanal, os cantos e danças tradicionais, além de modos sustentáveis de cultivo e produção. Apesar dos desafios socioeconômicos, os quilombolas resistem e reivindicam direitos sobre suas terras, lutando pelo reconhecimento e pela valorização de sua contribuição à sociedade.

Além de serem um símbolo da luta por justiça e igualdade, os quilombolas do Vale do Jequitinhonha também representam a riqueza da diversidade brasileira, promovendo um legado de resiliência, coletividade e conexão com a natureza. Respeitar e apoiar essas comunidades é essencial para a construção de um país mais justo e plural.

Os quilombolas mantêm vivas diversas tradições culturais que refletem sua ancestralidade africana e a resistência de suas comunidades. No Vale do Jequitinhonha, essas práticas são fundamentais para preservar a identidade e fortalecer os laços sociais., as comunidades quilombolas são conhecidas pelo trabalho artesanal, especialmente a cerâmica e o bordado, que representam histórias e elementos da cultura local.

A alimentação quilombola é outro elemento importante, marcada por receitas que misturam ingredientes típicos da região com técnicas ancestrais, como o uso da mandioca, o preparo de quitutes como bolos e biscoitos, e pratos à base de feijão, carne de porco e o famoso cabo de machado ou bolo de folha

Festas como as da Irmandade do Rosario dos Homens Pretos, Festas de Reis, e as comemorações de São João envolvem música, dança e muita comida típica, fortalecendo a identidade comunitária.

Expressões culturais como o batuque são comuns em algumas comunidades, trazendo ritmos africanos e versos que contam histórias de luta e resistência.

             A preservam e práticas religiosas de matriz africana, como rituais que honram ancestrais e crenças ligadas à natureza e ao equilíbrio espiritual é também uma manifestação importante para esse povo.

Essas tradições não apenas celebram a cultura quilombola, mas também ajudam na manutenção da memória coletiva e no fortalecimento da identidade comunitária. É um verdadeiro patrimônio que merece reconhecimento e valorização!

As tradições quilombolas continuam desempenhando um papel fundamental na sociedade contemporânea, pois representam resistência, identidade e conexão com a ancestralidade.  As práticas culturais quilombolas garantem que conhecimentos, histórias e modos de vida sejam transmitidos de geração em geração, mantendo vivas as raízes africanas no Brasil e ajudam a unir as comunidades, reforçando o senso de pertencimento e fortalecendo laços sociais entre os membros. O patrimônio cultural quilombola faz parte da riqueza e pluralidade do Brasil, contribuindo para a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa.

A luta pela preservação das tradições também é uma forma de enfrentamento contra o apagamento histórico e a marginalização social dos quilombolas. Muitas práticas quilombolas envolvem agricultura sustentável e respeito à natureza, promovendo modos de vida mais harmônicos com o meio ambiente. O legado quilombola se reflete na música, na gastronomia e nas expressões artísticas brasileiras, enriquecendo a cultura nacional.

Valorizar e apoiar as tradições quilombolas significa reconhecer a importância da diversidade e fortalecer a luta por justiça e igualdade. É essencial garantir que essas comunidades tenham seus direitos respeitados e possam continuar cultivando suas práticas culturais sem barreiras e perseguições.


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segunda-feira, 12 de maio de 2025

MEMÓRIA CULTURAL - Toma e Lê


 

O mistério e a tradição da Igreja Católica durante o processo de escolha de um novo papa, no Conclave,  cerimônia em que a fumaça se torna a única mensageira entre os cardeais e o mundo externo. Foram novamente manifestados com o anúncio do Papa Leão XIV, o 267º pontífice da história da Igreja. O primeiro papa foi São Pedro, discípulo de Jesus, que, segundo a Bíblia, recebeu diretamente dele a missão de estabelecer a Igreja. De acordo com o Vaticano, o pontificado de Pedro terminou entre os anos de 64 e 67, sendo sucedido por Papa Linus.

No dia 8 de maio de 2025, Robert Francis Prevost, natural de Chicago, nos Estados Unidos, foi eleito Papa Leão XIV, sucedendo o legado de Francisco (1936-2025). Em seu primeiro discurso, ele destacou sua conexão com a Ordem dos Agostinianos, fundada no século XIII, em 1243. Embora não tenha sido instituída diretamente por Santo Agostinho (354-430 d.C.), a ordem foi formalmente estabelecida pelo Papa Inocêncio IV e segue o ideal descrito nos Atos dos Apóstolos: “ter um só coração e uma só alma, voltados para Deus”. Atualmente, a ordem está presente em 42 países e conta com cerca de 2,6 mil religiosos. A chamada "Grande Família Agostiniana" inclui diferentes ramos, como os Agostinianos Recoletinos, Agostinianos Descalços, Agostinianas Missionárias e os Agostinianos da Ordem de Santo Agostinho.

A Ordem de Santo Agostinho (OSA) tem uma forte presença no Vale do Jequitinhonha através da Província Agostiniana Nossa Senhora da Consolação do Brasil, consolidada desde 1899 com a chegada de missionários espanhóis. Também está presente em outras regiões do Brasil, incluindo a Arquidiocese de Belo Horizonte, onde há paróquias e comunidades agostinianas.

Sobre o fundador da ordem, Aurélio Agostinho — conhecido como Santo Agostinho de Hipona — nasceu em Tagaste, na África mediterrânea, em 13 de novembro de 354. Filho de Patrício, um pagão e funcionário público, e de Mônica, cristã devota que mais tarde se tornaria santa, Agostinho teve um irmão chamado Navígio e uma irmã possivelmente chamada Perpétua. Durante sua juventude, ele se aproximou do maniqueísmo, doutrina religiosa de base sincrética (cristã e pagã), que via o mundo sob uma perspectiva dualista, dividido entre o bem e o mal. Ainda jovem, envolveu-se com uma mulher e teve um filho com ela aos 18 anos de idade, Adeodato, mantendo um relacionamento considerado pecaminoso pela Igreja por 13 anos. Após a separação, teve outras relações, mas, segundo a tradição, um dia de grande angústia mudou sua trajetória: ele teria recebido a visita de um ser iluminado, possivelmente um anjo, que lhe entregou um livro e ordenou: “Toma e lê!”. Ao obedecer, encontrou um caminho restaurador no cristianismo. Posteriormente, o Bispo Ambrósio batizou Agostinho e seu filho. Pouco tempo depois, Adeodato faleceu, e, pouco depois, sua mãe também veio a falecer. A Igreja celebra o Dia de Santo Agostinho em 28 de agosto, data de sua morte em 430.

 

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quinta-feira, 8 de maio de 2025

DIÁRIO DE LEITURA


Lugar de Fala

A obra Lugar de Fala de Djamila Ribeiro, é uma leitura indispensável para quem deseja compreender de forma crítica as estruturas sociais que moldam o Brasil. A autora, uma das mais importantes intelectuais negras da atualidade, propõe neste livro um debate acessível, mas profundo, sobre a importância de reconhecer os diferentes lugares a partir dos quais as pessoas falam e são ouvidas. Filha de trabalhadores da Baixada Santista e formada em filosofia, Djamila traz uma perspectiva enraizada na vivência e na militância, articulando conceitos como feminismo negro, pensamento decolonial e crítica social. O livro, que faz parte da coleção Feminismos Plurais, destaca-se por sua linguagem clara e estrutura flexível, permitindo que o leitor escolha a ordem da leitura dos capítulos. Seu principal argumento é que todas as pessoas ocupam lugares sociais que moldam suas experiências e formas de ver o mundo, e que reconhecer esses lugares não significa censurar vozes, mas sim trazer mais honestidade e responsabilidade ao debate público. Djamila reforça que o lugar de fala não é uma experiência individualizada, mas coletiva, ligada a grupos historicamente marginalizados que lutam para existir e serem ouvidos.

O livro também rebate a crítica de que o feminismo negro fragmenta o movimento de mulheres, mostrando que, ao contrário, ele aprofunda a análise das opressões ao considerar raça, gênero e classe de forma interseccional. Ao valorizar autoras e autores negros e indígenas, Djamila rompe com a lógica de exclusão do saber acadêmico tradicional e aponta caminhos para um conhecimento mais democrático. A leitura é altamente recomendada a educadores, profissionais de saúde, estudantes e a todos que se interessam por temas como racismo, feminismo e desigualdade social. Em poucas páginas, o livro oferece uma reflexão potente e necessária sobre quem fala, de onde fala e por que essas vozes importam. Uma obra breve, mas com enorme capacidade de provocar mudanças no modo como olhamos para o outro e para nós mesmos.

 

“O falar não se restringe ao ato de emitir palavras, mas de poder existir.”

 

Boa leitura!




 

segunda-feira, 5 de maio de 2025

MEMÓRIA CULTURAL - Persignar e Celebrar a Santa Cruz

Foto: Internet

A festa de Santa Cruz, celebrada em diversas regiões do Brasil, é uma manifestação religiosa para veneração da Santa Cruz. No entanto, essa celebração pode ter sido influenciada pela presença e pela cultura de povos africanos, especialmente naquelas regiões onde a cultura afro-brasileira é mais forte. 

Historicamente antes do século IV, a cruz não era uma forte referência entre os cristãos. Isso se modifica após a conversão de Constantino que, motivado por sua mãe, Santa Helena, aboliu o suplício da crucifixão, tornando-se um objeto de veneração. Por isso, a devoção à cruz passou a ser motivada e orientada pelos pastores até os dias de hoje.  Também denominada por Exaltação da Santa Cruz    passou a ser celebrada desde o século IV d.C., tendo origem na descoberta das relíquias da Cruz de Jesus pela Imperatriz Helena, em 14 de setembro de 320.

Portanto a Exaltação da Santa Cruz é uma festa cristã que tem como centro a recordação da Paixão de Jesus Cristo, que libertou a humanidade do pecado. É uma celebração que exalta a Cruz como símbolo do sacrifício redentor de Cristo, que, por amor, esvaziou-se de sua divindade para tornar-se humano 1, sofrer e morrer na Cruz pela salvação da humanidade. Mas, a festa não exalta a crueldade da Cruz, mas sim o profundo amor de Deus manifestado através do sacrifício de Jesus no madeiro. Além disso, a cruz revela a vitória da Vida sobre o pecado, a morte e o mal.

No Brasil os festejos obedecem a ordem teocrática trazida pelos portugueses, então a Festa de Santa Cruz se difunde pela Colônia por meio dos jesuítas na catequização dos indígenas no período seiscentista. Desse modo, é a demonstração do sincretismo entre elementos católicos e dos próprios silvícolas, adaptados ou transformados às condições do lugar e da época. A festa se inicia no ciclo do solstício de inverno, cultuada pelos católicos em 3 de maio e é o prenúncio das festas Juninas.

Embora  a  Festa de Santa Cruz, tenha raízes na religião católica, pode ser um espaço para a expressão e a celebração da cultura afro-brasileira, com a utilização de elementos musicais, danças e outros símbolos que remetem à cultura dos povos africanos, como podemos verificar  nas manifestações de grupos de cultura popular , nas Congadas por exemplo , uma tradição de origem africana;  em  elementos  do candomblé  como a utilização de instrumentos musicais, danças rituais e a presença de entidades religiosas.

           No Vale do Jequitinhonha encontra-se uma Província Santa Cruz, formada por frades franciscanos, cuja raiz desta comunidade esteve ligada a Holanda. Vieram o Frei Adalberto Woolderink, Frei Gonzaga Governeur e Frei Oto Vervoort. para o Brasil, estabeleceram-se primeiro a sede no Rio de Janeiro no ano de 1900. No ano de 1950 decidem atuar em Minas Gerais e Sul da Bahia

             Enfim, a  Festa de Santa Cruz traz consigo não só a narrativa religiosa, mas também a conotação política que estruturou o  território brasileiro, especialmente no Vale do Jequitinhonha , o qual  por meio da   festa, mostra  que  o tempo e o espaço da celebração por meio  da brincadeira, dos  rituais, da música e da dança, além de  comemorar fatos, a vida e a criação do mundo., também  apresenta outro lado deste  espaço de produção dos discursos e dos significados e a criação pela qual as comunidades partilham de experiências coletivas.

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quinta-feira, 1 de maio de 2025

DIÁRIO DE LEITURA - Dica de Leitura: Minha Vida de Menina, de Helena Morley


Se você procura uma obra que combine delicadeza, humor e um olhar crítico sobre o cotidiano brasileiro do final do século XIX, Minha Vida de Menina, de Helena Morley, é uma leitura indispensável.

Helena Morley é o pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant, escritora mineira nascida em Diamantina, em 28 de agosto de 1880. Proveniente de uma família de ascendência inglesa por parte de pai, Alice foi incentivada ainda jovem a registrar suas impressões diárias em um caderno, presente de seu pai. Assim nasceu o diário que, décadas mais tarde, se transformaria em um dos mais preciosos retratos da vida em uma cidade mineradora no interior de Minas Gerais.

Minha Vida de Menina foi publicado apenas em 1942, com grande sucesso. Em 1957, a obra foi traduzida para o inglês pela renomada poetisa norte-americana Elizabeth Bishop, o que ampliou ainda mais seu reconhecimento internacional. Escritores como Carlos Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa teceram elogios à singularidade do diário.

A narrativa cobre o período entre 1893 e 1895, época em que o Brasil vivia os primeiros anos da República e lidava com as profundas cicatrizes deixadas pela abolição da escravatura. Com linguagem simples e toques de humor refinado, Helena descreve as alegrias, os conflitos e as contradições da vida em Diamantina — cidade marcada pela herança colonial, pela religiosidade e pelas mudanças sociais.

O olhar da jovem narradora traz à tona temas como as tensões raciais, as hierarquias sociais, as tradições familiares e os desafios da educação feminina. Um dos aspectos mais comoventes do livro é a maneira como Helena observa a vida dos ex-escravizados ao seu redor, demonstrando empatia e criticando, ainda que de maneira sutil, o preconceito de sua época:

"Penso que se a menina fosse branquinha mamãe não se incomodava. [...] Que culpa têm os pobrezinhos de serem pretos? Eu não diferenço, gosto de todos."

Além disso, Helena — curiosa, espirituosa e inconformista — reflete sobre o papel da mulher, a educação, as festas populares e as mudanças políticas, como a posse de Prudente de Morais, o primeiro presidente civil do Brasil. Ela retrata também sua passagem pela Escola Normal e sua breve experiência como professora, além de suas alegrias e frustrações juvenis.

A riqueza do diário não está apenas nos acontecimentos narrados, mas no modo como são descritos. A espontaneidade, a visão crítica e o frescor da linguagem tornam Minha Vida de Menina uma obra de valor literário, histórico e cultural incontestável. Trata-se de um painel sensível e vibrante de uma época e, ao mesmo tempo, um testemunho da construção da identidade feminina no Brasil do século XIX.

Minha Vida de Menina é, sobretudo, um convite para conhecer uma jovem que, com simplicidade e inteligência, soube captar a essência de seu tempo e transformá-la em literatura atemporal.

Não deixe de embarcar nesta leitura!



link de uma análise mais aprofundada do livro: 

https://www.youtube.com/watch?v=NJY2NWTC5dA


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quarta-feira, 30 de abril de 2025

OPINIÃO DO BLOG - A importância das Irmandades do Rosário dos Homens Pretos na preservação das tradições africanas no Brasil

Festa do Rosário de Berilo - Foto: Leandro Sales

As Irmandades do Rosário dos Homens Pretos desempenharam um papel fundamental na preservação das tradições culturais dos povos africanos no Brasil. Surgidas durante o período colonial, essas organizações religiosas reuniam escravizados e libertos em torno da devoção a Nossa Senhora do Rosário, criando espaços de resistência e fortalecimento da identidade afro-brasileira.

A escravidão impôs barreiras à manifestação cultural africana, mas as irmandades serviram como refúgio, permitindo a continuidade de práticas tradicionais. Por meio de festas, danças, músicas e celebrações religiosas, os membros das irmandades mantinham vivas suas heranças culturais. Além disso, as irmandades promoviam a solidariedade entre os integrantes, organizando auxílios para os necessitados e garantindo dignidade em momentos como o funeral dos membros.

Outra dimensão essencial das irmandades foi sua influência na construção de territórios de resistência, como as congadas e os quilombos rurais e urbanos. Mesmo com as restrições impostas pelos colonizadores, esses grupos fortaleciam laços comunitários e transmitiam conhecimentos ancestrais de geração em geração.

O legado das Irmandades do Rosário dos Homens Pretos pode ser observado até hoje em diversas expressões culturais, partilha do alimento, a tradição dos tambores, dos cantos, batuques, danças, tudo isso dentro de um sincretismo de fé e tradição. Esses movimentos continuam a reafirmar a riqueza da cultura africana e sua profunda conexão com a identidade nacional e a ancestralidade africana.

Portanto, as irmandades foram muito mais que associações religiosas; foram pilares da resistência e da afirmação das tradições africanas, contribuindo para a construção de uma cultura plural e para o reconhecimento da ancestralidade negra no Brasil. Seu impacto histórico demonstra que, mesmo em contextos de opressão, os povos africanos conseguiram manter vivos seus costumes, sua fé e sua força coletiva.


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terça-feira, 29 de abril de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - O Matuto, os políticos e o paraquedas

 

Imagem gerada por IA

Sendo eu um matuto aqui da roça, o povo lá da cidade costuma me achar meio bocó. Mas a verdade é que de bocó eu não tenho é nada, vejo cada coisa e só espio como tem gente metida a esperta nesse mundão de meu Deus, é tanta coisa absurda que eu podia virar até um belo de um contador de causo. E é causo de tudo quanto é assunto, de lobisomem que assusta o povo na quaresma até uma enchente que quase leva o povo da cidade tudo embora.

Mas um dos causo que mais me aperreia as ideia é de uns tal de político. Cidade pequena sabe como é, né! Tudo aqui vira assunto pra mais de mês. Tem uns que disse que compra voto do povo até com saco de cimento, vê se pode! Já teve até briga de ir parar na justiça por causa de cesta básica. Uns vigiando os outros pra não deixar entregar as cesta na boca da eleição. Só penso uma coisa: mais que diacho de voto barato desse povo! Pois, se um desse chegasse aqui na minha tapera, eu não fechava negócio nem por umas duas dúzia de boi gordo pra encher minhas vista quando eu olhasse da janela.

Me contaram uma vez que já teve até vereador que visitou as escola e prometeu pros menino uma quadra e um bocado de colete pra eles dividir os time tudo direitinho. Disse que ele até parou as professora na estrada e prometeu uma bola pros menino. Elas falam que até ontem essas bola não chegou lá. Só não sei se é verdade, eu mesmo não aprovo nada. Sabe como é, né, esse povo comenta demais.

E essas história num é de hoje, antigamente dava até morte, hoje não, mas o que dá de fofoca, vixe! O povo passa quase quatro ano tudo quietinho, mas quando chega uma época eles endoida tudo, é umas música falando pra pular pro lado de cá, vai gritando os números dos candidatos até ficar tudo rouco, os candidatos mesmo disse que ninguém nunca viu fazendo isso, e depois da eleição eles fala até que os outro caiu no fumo. Não! Fumo pra nós aqui da roça é só pro paiero mesmo!

Voltando pros político que some por anos, tinha um que o povo chamava de "orelha de freira", ninguém via na cidade, disse que só bebia cerveja, eu não sei, não vi e não aprovo nada. Esses aí o povo já tinha b(V)otado lá dentro, mas não ganhou de novo mais não, será por quê? Depois começou a aparecer uns pertinho da eleição, o povo fala que são os "políticos paraquedas", só aparece de vez em quando querendo uma brechinha pra entrar lá também. Faz sentido pra vocês? Porque pra mim não faz não. E como é que esse povo ainda vota, meu Deus?

Ah, diz o povo que aparece um monte já dividindo os cargos antes de ganhar, já diz o ditado "contando com o ovo no fiofó da galinha". Disse que um tempo aí atrás já tinha três diretor pra uma escola só, um monte de chefe pra pouco cargo. Só fiquei curioso com uma coisa: será que esse povo ganhou? Tô sem saber até hoje, igual tô sem saber se umas professora que ficaram na estrada com um pneu furado já chegou na cidade porque disse que passou uns candidato por elas e num deu nem confiança. Ô dó!

Mas voltando praqueles que o povo botou lá dentro, tem uns que promete mandar pras roça um saco de cimento pra ajudar nas barragem de estrada e o povo tá lá igual os menino com as bola, esperando até ontem! Mas disse também que uns menino aí até ganhou uma bola, só que na mesma da hora quebrou um tal de para-brisa, será que é pecado um matuto rir disso? Se for perdoa, Senhor!

Estrada então era um assunto que eu não queria nem prosear com vocês, mas disse que tá na moda agora. Eu não sei por que, toda vida elas tava aí e só agora o povo resolveu dar combate. É um tal de lacrar nas rede social que nunca entendi. Será que é igual os político paraquedas? Só lembra quando tá na hora de votar? Eu só queria saber se tem gente que lembra delas direto. Acho que só quem passa lá e corre atrás pra consertar é que se importa mesmo. Esses é igual os menino das bola, nuca se esquece.

 

Eu não sei de muita coisa porque não cheguei a estudar numa escola, mas a sabença, ah! Nessa esse povo doutor não me vence não. Proseando assim com vocês eu só penso numa coisa, vira e mexe, pode passar o tempo, as coisa pode mudar, pode evoluir, eu tenho uma certeza: os paraquedas continuam os mesminho, só muda a capa por fora pra não vir muito repetido e pro povo não desconfiar...

Texto da Professora Kika Versiani 

Extraído  do site - https://poetas-e-escritores-do-vale.webnode.page/


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