quinta-feira, 1 de maio de 2025

DIÁRIO DE LEITURA - Dica de Leitura: Minha Vida de Menina, de Helena Morley


Se você procura uma obra que combine delicadeza, humor e um olhar crítico sobre o cotidiano brasileiro do final do século XIX, Minha Vida de Menina, de Helena Morley, é uma leitura indispensável.

Helena Morley é o pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant, escritora mineira nascida em Diamantina, em 28 de agosto de 1880. Proveniente de uma família de ascendência inglesa por parte de pai, Alice foi incentivada ainda jovem a registrar suas impressões diárias em um caderno, presente de seu pai. Assim nasceu o diário que, décadas mais tarde, se transformaria em um dos mais preciosos retratos da vida em uma cidade mineradora no interior de Minas Gerais.

Minha Vida de Menina foi publicado apenas em 1942, com grande sucesso. Em 1957, a obra foi traduzida para o inglês pela renomada poetisa norte-americana Elizabeth Bishop, o que ampliou ainda mais seu reconhecimento internacional. Escritores como Carlos Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa teceram elogios à singularidade do diário.

A narrativa cobre o período entre 1893 e 1895, época em que o Brasil vivia os primeiros anos da República e lidava com as profundas cicatrizes deixadas pela abolição da escravatura. Com linguagem simples e toques de humor refinado, Helena descreve as alegrias, os conflitos e as contradições da vida em Diamantina — cidade marcada pela herança colonial, pela religiosidade e pelas mudanças sociais.

O olhar da jovem narradora traz à tona temas como as tensões raciais, as hierarquias sociais, as tradições familiares e os desafios da educação feminina. Um dos aspectos mais comoventes do livro é a maneira como Helena observa a vida dos ex-escravizados ao seu redor, demonstrando empatia e criticando, ainda que de maneira sutil, o preconceito de sua época:

"Penso que se a menina fosse branquinha mamãe não se incomodava. [...] Que culpa têm os pobrezinhos de serem pretos? Eu não diferenço, gosto de todos."

Além disso, Helena — curiosa, espirituosa e inconformista — reflete sobre o papel da mulher, a educação, as festas populares e as mudanças políticas, como a posse de Prudente de Morais, o primeiro presidente civil do Brasil. Ela retrata também sua passagem pela Escola Normal e sua breve experiência como professora, além de suas alegrias e frustrações juvenis.

A riqueza do diário não está apenas nos acontecimentos narrados, mas no modo como são descritos. A espontaneidade, a visão crítica e o frescor da linguagem tornam Minha Vida de Menina uma obra de valor literário, histórico e cultural incontestável. Trata-se de um painel sensível e vibrante de uma época e, ao mesmo tempo, um testemunho da construção da identidade feminina no Brasil do século XIX.

Minha Vida de Menina é, sobretudo, um convite para conhecer uma jovem que, com simplicidade e inteligência, soube captar a essência de seu tempo e transformá-la em literatura atemporal.

Não deixe de embarcar nesta leitura!



link de uma análise mais aprofundada do livro: 

https://www.youtube.com/watch?v=NJY2NWTC5dA


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