sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

CONHECENDO O JEQUI - Itinga e sua Fábrica de Tecido

 

Nota ao Portador da Fabrica de Tecido


A instalação da Fabrica de Tecido de Itinga foi idealizada pelo Comendador Cândido Freire de Figueiredo Murta (Deputado geral ) e do Major João Antonio da Silva Pereira.

No ano de 1880 eles tiveram a ideia de construir uma fábrica de tecidos, para aproveitar o algodão que existia em abundância na região, principalmente em Itinga, São Domingos (hoje Virgem da Lapa) e Lufa (hoje distrito de Novo Cruzeiro). A segunda metade do século XIX é marcada por uma  expansão da industria têxtil em Minas Gerais.

 Para que o sonho da fábrica se concretizasse eles reuniram outros cidadãos da vila e criaram a “Sociedade dos Filhos de Itinga” e importaram da Europa, mas precisamente da Bélgica, pesadíssimos maquinários (80 Teares, dois Gomadores de 1000 kg e outros). O responsável pela instalação foi o recém formado engenheiro o jovem Martiniano Luiz Vieira, filho da família Vieira de Araçuaí que havia se formado no Rio de Janeiro.

Homens negros escravizados com muita dificuldade trouxeram estas pesadas maquinas de sete lagoas ultimo ponto da estrada de ferro central do Brasil até a Bahia e junto com os canoeiros subiram o Rio Jequitinhonha , havendo ainda o transporte feito por terra, nas cachoeiras do Salto Grande ,hoje Salto da divisa e da sede da vila até o ribeirão Água Fria, próximo da fazenda de Lino José Antonio da Trindade, onde a fábrica foi instalada depois de árduo trabalho.

A fábrica era movida à força Hidráulica e assim funcionou durante muitos anos, era a principal fonte de renda da vila e era ela a única indústria têxtil  dentro do que hoje corresponde ao médio Jequitinhonha e uma das mais importantes da região norte e nordeste de minas, sua principal produção era o pano americano e o riscado xadrez, os vales distribuídos pelos diretores da fabrica de tecidos funcionavam como moeda corrente na vila o que muito ajudou no seu desenvolvimento. Muitos obstáculos foram vencidos com a persistência dos idealizadores, que acreditavam que ela poderia proporcionar dias melhores a eles e aos filhos de Itinga.

 A fabrica foi registrada com o nome de “PEREIRA MURTA E COMPANHIA ITINGA DO JEQUITINHONHA”  uma alusão ao sobrenome dos fundadores e a sociedade que tornou possível a realização desta, mas a fabrica sempre foi conhecida popularmente como “fabrica de tecidos Bom Jesus da Lapa da Água Fria”, devido a uma promessa firmada entre os idealizadores com o Bom Jesus.

O primeiro diretor da fabrica foi o Capitão João Antonio Pereira de Souza Castro genro do Comendador Murta, foram ainda diretores o Major Manoel Cesário de Figueiredo Neves e por ultimo outro genro do comendador o Cel. Ildefonso de Freire Murta conhecido como Cel. Zezé.

  Em 1904 a fábrica diminui sua produção e começou a entrar em crise, mas em 1908 o Barão de Paraúna um importante comerciante de diamantes da cidade de Diamantina entra como acionista da fabrica com um capital de 280 contos e 27 operários, esses investimentos ajudaram a fábrica a retomar seu curso de produção, porem em 1928 houve uma grande enchente que destruiu a parte baixa do município e o Ribeirão Água Fria encheu de forma surpreendente e danificou as maquinas da fábrica, alem disso a morte do Major João Antonio da Silva um grande incentivador da fabrica e a falta de incentivo do poder público do município de Araçuaí proporcionou o colapso inevitável da fabrica, as valiosas máquinas foram enferrujando e assim o funcionamento da fábrica de tecido parou, afetando drasticamente o progresso do Arraial. Alguns teares foram vendidos para o empresário Antonio Mendes Campos e levados para Pirapora no Norte de Minas.

 Era o fim do sonho do Major João Antonio da Silva Pereira, do Comendador Cândido Freire Murta e da CIA sociedade dos filhos de Itinga que outrora foram chamados de utópicos.

Fonte: Livro Memórias de Itinga, de Jô Pinto


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