terça-feira, 2 de dezembro de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - A metade da noiva, casamento malogrado

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Todas as vezes que subia as escadas do Colégio Nazareth, encontrava-me com o Frei Respício que voltava da sua aula de religião. Era um Frei Holandés de seus 80 anos. Abraçava-me, e sorria demonstrando alegria e amizade profunda.

Certa vez, fui convidado para ser padrinho do casamento religioso de Nelson e Mônica. Quando saía para a cerimônia religiosa minha esposa advertiu-me: "Não fica bem você ir em traje esporte." Voltei e coloquei o paletó e a gravata.

Apressei-me em sair, pois já estava em cima da hora. Ao chegar à igreja pessoas e amigos rodeavam os noivos ao pé do altar. Apressei o passo. Ao ver-me naquele traje, sorrindo, o Frei não teve dúvida; afastou o Nelson e colocou-me ao lado da noiva. Achei aquilo estranho, mas nada pude fazer, pois ele já dava conselhos da vida aos dois. Depois falou sobre a vinda de filhos e como deveria educá-los. O Nelson, que estava atrás, limpava a garganta, tossia, arrastava os pés demonstrando um nervosismo à flor da pele.

Em todo momento o Frei fez a pergunta de praxe: "É de livre e espontânea vontade tomar Mônica por sua legítima esposa?". Lá de trás o Nelson respondeu bem alto: "É sim senhor". O Frei retrucou: "Não estou te perguntando nada, fiz a pergunta a ele aqui', apontando para minha pessoa. "Padre, o senhor está casando a minha noiva com outro, advertiu o Nelson". Só assim o Frei notou o seu lamentável engano.

Fez a mudança de posição entre eu e o Nelson. Em seguida levou as mãos ao alto e disse: "Perdoe-me Deus pelo engano". Depois colocou as alianças. Abençoou os noivos e foi embora para a sacristia. Na saída, todos comentavam o engano do padre. O noivo ainda nervoso perguntou-me: "Como você entendeu esse casamento?". Eu, no meu gesto esportivo, respondi: "Pelo que o padre falou e ficou claramente explicado, a metade da noiva é minha e a outra metade é sua". "A sua metade você vai buscar lá na sacristia, tá? Vamos embora Mônica, antes que esse padre faça uma besteira maior". Muitos anos se passaram e até hoje o Nelson me pergunta se já apanhei a outra metade da noiva na sacristia.

 

Extraído do Livro “ Contos e Prosas “ de Severino Chiesa Onnis, Araçuaí/MG - 2009


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