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Foto: Internet |
Dom José
Maria Pires foi uma figura profundamente admirável e revolucionária em muitos
aspectos. Seu legado transcende o âmbito religioso, tocando áreas como direitos
humanos, defesa da dignidade dos mais vulneráveis, e valorização da cultura
afro-brasileira. Ele não apenas desafiou preconceitos, como também os enfrentou
de maneira corajosa e transformadora.
Dom José Maria Pires, mineiro de Córregos,
distrito do município de Conceição do Mato Dentro, nasceu em 15 de março de
1919. Aos doze anos ingressou-se no Seminário em Diamantina, aos vinte e dois
anos ordenado presbítero, exercendo seu ofício de pároco em Açucena-MG
(1943-1946); diretor do Colégio Ibituruna em Governador Valadares-MG
(1946-1953); missionário diocesano (1953-1955); e pároco de Curvelo-MG
(1956-1957). Nomeado Bispo de Araçuaí em setembro de 1957, onde trabalhou incansavelmente
pela Diocese de Araçuaí, criando o primeiro seminário menor, para futuros
seminaristas; o Patronato “São José” para atender jovens meninos em regime de internato;
o Ginásio Industrial Complementar “São José”, para atender a antiga quinta e
sexta série que durou de 1965 a 1972(atualmente conhecemos como E.E. Industrial
São José). Em 1965, foi nomeado Arcebispo da Paraíba, enfrentando incompreensões,
a começar pela rejeição à sua negritude, foram muitos os
gestos de repulsa a ele, principalmente por parte da elite mas encontrou nos movimentos
das Comunidades Eclesiais de Base, as Caminhadas da Pastoral da Terra e outros
movimentos e pastorais para combater as desigualdades. Primeiro negro nomeado a bispo no
Brasil, tinha apelidos de Dom Pelé ou Dom Zumbi. Ele celebrou a primeira missa
negra católica no Brasil, a Missa dos Quilombos celebrada em 20 de novembro de
1981, em Recife. Assumindo assim a realidade de sua negritude e
aprofundou com coragem a aproximação da liturgia da Igreja com a liturgia dos
afrodescendentes. Certa vez numa reunião
com bispos, ele começou, assim, a missa: 'Em nome de Olorum, de Oxalá e
de Ifá'. A assembleia respondeu: 'Axé'. Diante do ar de
desaprovação dos colegas, justificou-se: 'Se eu posso invocar a Trindade
em português, latim e grego, por que não em língua
nagô?' E deu uma risadinha irônica com
um sorriso leve de agradecimento". Isso nos revela sua
ousadia e criatividade ao conectar a espiritualidade e identidade cultural. Na época da Ditadura Militar,
desenvolveu um trabalho pautado na conjunção da atividade religiosa com a
defesa dos direitos humanos, com vistas à mudança social. Prestou apoio nos
conflitos pela terra na Paraíba, defendendo camponeses de perseguições. E lutou
contra a discriminação e o racismo, incentivando a organização e a luta dos
afro-brasileiros, do qual destaca-se em um de seus discursos na CNBB “Enquanto
imperar a fome, a miséria e o analfabetismo, enquanto não se respeitar no
operário e no camponês a dignidade da pessoa humana, os cristãos não estarão
sendo cristãos”. Mas quando completou setenta e cinco anos, renunciou
do seu cargo, encaminhando sua Carta de renúncia à Santa Sé em 23 de maio de
1994, sendo aceito e reconhecido como Arcebispo Emérito da Paraíba . Faleceu no dia
27 de Agosto de 2017 com 98 anos de idade devido a complicações de uma
pneumonia. Dom José tinha como lema episcopal: “Scientiam
Salutis” (A ciência da Salvação). Foi o quarto Arcebispo da Paraíba e autor de
quatro obras:
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