terça-feira, 19 de outubro de 2021

O ASSUNTO É- ? Professoras

 


O dia 15 de Outubro é uma data muito feliz para nós, professoras e professores, quando recebemos as felicitações gratificantes por parte dos/as estudantes com os quais convivemos, aprendendo e ensinando. Nesta data até 2017, meu telefone tocava e minha mãe cantava: “Professora, querida professora, nesta data, nesta data tão feliz, Deus lhe dê, Deus lhe dê, professora, todo bem, todo bem que a gente quis. (...) no recreio a correr, como nós a viver, a nos dar sempre o seu coração”. Eu ficava desconcertada e sem saber o que falar, me emocionava com esse reconhecimento dela, que demonstrava também orgulho por eu ter me tornado professora, a primeira da família. Nesse dia, todo ano,  fico esperando a ligação que não mais virá, pois ela partiu definitivamente de minha vida, porém, a grata lembrança permanece. Quero neste espaço compartilhar com vocês um pouco da trajetória de uma professora que conheci, trata-se de minha Tia Zezé que já mencionei em outro texto. Ela foi professora por trinta anos na Comunidade Rural de Catarina, município de Bocaiúva. Me relatou que após ter  formado a quarta série primária, que equivale a atual quinta série do ensino fundamental que conhecemos hoje, foi indicada para o cargo de professora rural. Chegou na Fazenda Catarina para lecionar, entretanto, como não havia prédio escolar, as aulas ocorriam  na casa de um fazendeiro. Posteriormente, Tia Zezé mobilizou a comunidade e conseguiu construir a escola que até hoje funciona como educandário do município. Relatou-me também, que, naquela época era um tanto quanto difícil, além de ensinar, ela também fazia a merenda dos/as estudantes, sua casa era muito distante, os caldeirões eram pesados, a comida cozida no fogão de lenha. Para transportar até a escola, usava uma vara forte que passada na alça do caldeirão o suspendia, uma ponta no seu ombro e a outra no ombro de alguma das estudantes, assim iam levando até a escola. Além de ensinar as primeiras letras e as quatro operações, era ela quem orientava as meninas sobre as questões próprias da vida das mulheres, como a primeira menstruação, casamento etc. Também se envolvia em conflitos familiares ao tentar proteger suas alunas das violências dos pais. Durante o dia lecionava para as crianças e à noite para os adultos, em sua maioria não alfabetizados, dentre estes, conheceu o marido, meu tio Preto e se casaram. Depois de casada passou a desempenhar um jornada exaustiva, dava aulas, trabalhava em casa fazendo comida para os camaradas, buscava água, lavava roupas no rio e ainda trabalhava na roça. Uma vida dura, amenizada pelas atividades religiosas e comunitárias, minha tia era  Católica, devota de Bom Jesus da Lapa e do Senhor do Bomfim. Todo ano viajava para a Lapa em peregrinação, bem como, para Bocaiúva em procissão. Penso que a experiência de minha já falecida tia é semelhante à de muitas/os professoras/es ao longo da história da educação no Brasil. Tendo que assumir muitas vezes as atribuições dos gestores públicos, como a construção de escolas, para garantir o acesso do povo brasileiro à educação. Nos ficam como símbolos da luta e resistência anônima pela educação popular.

 Por



 

 

 

 

 

 

 

 

 


5 comentários:

  1. Parabéns professora,brilhante exemplo!

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  2. Que texto lindo professora! Sinto muito por não ter mais sua mãezinha junto a ti,mas tenha certeza que em algum lugar ela zela por você.E a sua tia hem? Quanta garra e doação em prol da educação, é com certeza merecedora de todas as homenagens.

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