quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Palavra e voz: a mulher na produção literária

 

 A leitora ", óleo sobre tela de Auguste Renoir, 1875



                                           

E não desejo que as mulheres tenham poder sobre os homens, e sim sobre elas mesmas.

Mary Wollstonecraft

 

Escrevo quando e porque sou mulher. Agora porque posso, hoje porque preciso. A literatura de autoria feminina é um assunto que me buscou. Não sei se ler e escrever sobre o feminismo me fez notar com mais clareza os machismos nossos de cada dia. Inclusive os meus. Mas sei, sem dúvida, que me torna uma mulher nova, mais minha, mais toda, mais conjunta, mais d’outra.

É preciso compreender o processo histórico que trouxe a mulher até aqui. A produção literária está atrelada ao complexo caminho de ser mulher num mundo de patriarcado, num cenário em que, há nem tantos anos assim, as mulheres sequer tinham o direito de ler. As mulheres foram silenciadas e diminuídas por anos, e isso não seria diferente num espaço que se baseia em se expressar.

Em toda a história, a exclusão das mulheres sempre foi amplamente semeada, tanto nos direitos básicos que lhes eram negados, como ao voto e escolha de matrimônio, quanto na questão da alfabetização e do estudo, restringindo-as apenas à vida familiar. Em relação à escrita, a atividade possuía apenas fins de etiqueta, sendo incentivada somente entre mulheres da elite. Revela-se, então, o desnivelamento entre a literatura escrita por mulheres e a escrita por homens — enquanto estes majoritariamente conseguiam escrever e publicar suas obras, a elas isso era negado e, muitas vezes, até proibido. Com isso, o isolamento sistemático das suas obras do cânone literário é regra, apenas com raras exceções. (Capelli et al, 2018, p. __)

Estar à frente do Movimento dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha trouxe situações que me alertaram a problematizar o universo literário: a pouca representatividade das mulheres nos encontros e nas obras de nosso acervo. Só depois de conhecer um pouco da história é possível perceber porque não temos numerosas referências femininas na literatura nacional, porque nenhuma mulher foi homenageada na Noite Literária do FESTIVALE.

Constância Duarte (2003) mostra que grande causa do desconhecimento e do preconceito com o feminismo passa pelo fato de que ele seja pouco contado. Mas eu não estaria agora escrevendo esse texto, não fosse por aquelas que antes de mim lutaram por direitos nossos. Buscar conhecer é uma opção que nos aparta da limitação de pensamento, do achismo e do preconceito.

Felizmente o caminho percorrido permite que hoje as mulheres já possam falar de si, e não mais como o ‘não homem’, mas como um ser, humano, próprio, com suas angústias, lutas e alegrias. A realidade da mulher começa a mudar na medida em que elas procuram voz, ao reivindicar direitos à educação, à cidadania, à livre expressão.  A literatura é um desses espaços em que a luta se faz possível e presente.

 

REFERÊNCIAS

 

Capelli, Anna; BARREIROS, Isabela; OKIDA, Laura; BALDOCCHI, Marina Baldocchi. Onde estão as Clarices? mulheres na literatura brasileira. Faculdade Cásper Líbero. Jul /2018.

DUARTE, Constância Lima. Feminismo e literatura no Brasil. Estud. av.,  São Paulo,  v. 17, n. 49, p. 151-172,  Dec.  2003 .  

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Agenda

O projeto Leia Mulheres de Araçuaí esse mês discute a obra Éramos Felizes, de Eliane Rocha, uma itinguense que discute questões ligadas à felicidade, ao amor e à superação de nossas perdas. Dia 2 de março, às 19h, via google meet.

Baixe o livro aqui: https://www.blogdeherena.com/copia-a-morte-nossa-de-cada-dia

Interessados em participar podem enviar mensagem para herenabarcelos@gmail.com


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4 comentários:

  1. Ser mulher de pés firmes. Que abre caminhos como Clarice Lispector e que finca raiz como Herena Barcelos. Que alegria poder degustar cada ideia derramada nas páginas em branco dos caminhos a serem construídos.

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  2. Parabéns Herena! Tenho certeza que você é uma grande inspiração para muitas mulheres em nossa região. 🥰

    👏👏👏👏👏👏👏👏

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  3. É tão bonito (e estimulante) identificar essa potência que nos acompanha, enquanto mulheres, se manifestar em suas palavras, com jeito muito seu, autêntico. E igualmente belos a sua reverência e respeito àquelas que abriram os caminhos. <3

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