segunda-feira, 27 de abril de 2020

NARRATIVAS DO FESTIVALE - Por Jota Neris

Arquivo Pessoal



Jota Neris. Membro das Academias de Letras de Vitória da Conquista e Teófilo Otoni. Premiado em eventos culturais na Bahia e Minas e em várias noites literárias do Festivale. Autor de 04 livros "independentes" e participação coletiva em outras 14 obras literárias.




















Memória Festivaleira

                                                                                           Por Jota Neris

“Ter tempo para apreciar um poema é ter tempo para viver” (Jota Neris)
Sou catingueiro, baiano do Mergulhão, zona rural do sertão de Aracatu. Desde menino, já em Vitória da Conquista, me envolvi na cultura do sudoeste baiano, sobretudo na literatura.
Na adolescência e juventude tive encontros maravilhosos com nomes de grande expressão como Elomar Figueira, Xangai, Edgar Mão Branca, Grupo Barros, Evandro Correia, entre outros. Com grandes literatas como Dal Farias, Jacira Penalva, Ataíde Macedo, Graciano Araújo, Fábio Andrade e outro, fundamos a Sociarte – Sociedade Artística – responsável pelo lançamento de várias obras literárias e eventos marcantes na cultura de Vitória da Conquista e região. Um fato decisivo que marcou profundamente a minha vida, contribuindo diretamente na minha inspiração e produção artística foi ouvir todos os dias, nas primeiras horas das manhãs o Programa “Nossa Terra”, transmitido pela Band FM, sob a locução e produção de Rubem do Prado.
No início de 1994, me mudei para Mata Verde, a banda mineira da Bahia ou a banda baiana de Minas. Sinto uma satisfação imensurável em dizer que na medida em que fui contando os causos, fazendo os repentes e divulgando a poesia, fui aos poucos ajudando a despertar o interesse pelos versos poéticos nos mataverdenses, sobretudo nos estudantes.
Certa feita, numa entrevista na Band FM em Vitória da Conquista, um comentário meu chamou a atenção do radialista Rubem do Prado, quando  citei que Mata Verde era um misto de dois municípios, dois Estados e duas regiões do Brasil, que as diferenças do Sudeste e do Nordeste brasileiro ali se acabavam, pois Mata Verde, embora mineira, trazia muitos traços baianos e nordestinos.
Tão logo fui amineirando e conhecendo parte da diversa e expressiva cultura Valina, fui participando de eventos em Almenara, Pedra Azul, Araçuaí, Águas Vermelhas e outras cidades. A partir daí comecei a ouvir a palavra Festivale, até então desconhecida para mim. Ouvir nomes como Saulo Laranjeira, Rubinho do Vale, Paulinho Pedra Azul, Pereira da Viola, sendo referências do maior evento de organização da cultura popular do Vale do Jequitinhonha, soava como algo fantástico, extraordinário, admirável, que me deixava cada vez mais boquiaberto.
Apesar de todo o fascínio que este movimento despertava em mim, eu me sentia muito distante do Festivale, pois tinha muito pouco contato com pessoas que na prática sabiam o que realmente era essa grande festa da cultura do Vale do Jequitinhonha.
 Antes do advento da internet e, consequentemente, dos meios sociais, Mata Verde ainda vivia os tempos do posto telefônico, que alguém ligava, deixava um recado e ficava à espera de um garoto que ia na casa do destinatário chamar para vir atender à ligação. Naquele tempo celular, internet, redes sociais e até mesmo o computador eram coisas de outro mundo. A preço de ouro o telefone fixo começava a chegar nas casas com melhores condições financeira. No badalado São João mataverdense de 2002 ouço falar que aconteceria a Noite Literária do Festivale, em Pedra Azul. Não hesitei em concluí um poema que rondava minha cabeça, intitulei de Alma Catinguera, que no ano seguinte daria nome ao meu 2º livro “independente”.Selei a inscrição no posto dos correios e dias depois tive a grande alegria de receber a notícia que o poema estava selecionado para a noite literária, que aconteceria numa quinta-feira, 25 de julho.
Naquela noite histórica tive a alegria do reencontro com Luís Santiago, Juarez Freitas e Wiliam Pinheiro. Ouvi nomes como: Cláudio Bento, Beth Guedes, Jô Pinto, Herena Barcelos, Neilton Lima, Aneuzimira Caldeira (Neca)... que eu nem fazia ideia que se tratava de grandes ícones da arte do Vale.
Fiz minha modesta apresentação de estreante e, para minha maior surpresa o poema sagrou-se vencedor daquela noite iluminada, dia do trabalhador rural, tema destacado no meu poema.
  O troféu, obra do artesão itinguense Ulisses Mendes, exibia um trabalhador rural crucificado que, por uma grande coincidência apresentava os trajes e utensílios iguais aos da minha caracterização. Daí  em diante fui me fazendo presente e identificando cada vez mais com o Festivale. Estive em várias edições, destaco de forma especial o Festivale de Salinas, em 2004, único que tive a alegria de estar presente a semana inteira.
Sempre que posso me faço presente, pois a segunda quinzena de julho, período em que geralmente acontece o Festivale, não somente a cidade anfitriã, mas todo o Vale do Jequitinhonha e os seus filhos, natos e adotivos, espalhados pelo mundo inteiro, respiram a arte nas suas mais diversas manifestações culturais. Eu diria que respirar o ar festivaleiro na sua essência, sua alma efervescente, é um prazer orgástico, algo indescritível que somente quem vivencia essa magia sabe o que é reencontrar velhos amigos, fazer novos, ver as apresentações de Gonzaga Medeiros e Tadeu Martins, cantar e ouvir canções memoráveis, apreciar e declamar poemas nas praças, se encantar com artesanatos, oficinas, tomar uma boa cachacinha – um jatobá, como bem exalta o meu amigo Cássio de Catuji – e se inspirar com as notáveis performances dos palcos, cantigas dos corais, Barraca Festivale, rodas de conversa e a arte saltitando com muita graça e gosto.
Já destacava muito bem o trovador popular, Rubinho do Vale, na canção FESTIVALE, quando este grande evento completava vinte anos de história com muita luta, paixão e resistência: “Meu coração bate forte de alegria quando vai chegando o dia da folia começar”. E viva o Festivale, esse respeitável senhor quarentão com muita memória e causos peculiares...

6 comentários:

  1. Sou Almir Galvão Farias, irmão do poéta Conquistense Dal Farias, compadre de Jota Neris e ex esposo da escritora Norbélia Neris, também membra da Academia Conquistense de Letras.
    Conheci Jota Neris na adolescência, o qual já apresentava um interesse pelas artes poética. Jota é um catingueiro nato que adora falar das coisas lá do sertão onde nasceu. No seu livro Alma Catingueira, ele retrata um pouco da região onde ele nasceu e cresceu, onde a caatinga é mostrada ao seu povo como um santuário de homens trabalhadores, plantadores de sonhos, muitas vezes vivendo num cenário de fartura de água e plantações, outras vezes as dificuldades de anos de secas e sol intenso que gera uma paisagem cinzenta. Foi neste contexto que nasceu Jota Neris, foi neste cenário que ele começou a escrever suas prosas e versos.
    Hoje, Jota Neris é um patrimônio vivo da cultura do Vale do Jiquitio ha, sobretudo das cidades de Mata Verde em Minas e Aracatu na Bahia.
    Parabéns poeta pela colaboração com a cultura desta região das Minas Gerais...

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    3. Jota Neris você em poucas palavras resumiu uma vida de dedicação a cultura, incentivo a leitura, e sem contar que incentivou a curiosidade de vários estudantes a escrita... Parabéns

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  2. Sou professor Jai Lebrão, amigo de Jota e sua esposa Alice. Compartilhamos do mesmo gosto cultural. Orgulhoso fico do meu colega/amigo poeta, pois seu talento não é comum em nosso meio. Tenho duas ilustrações em suas obras, onde fico lisonjeado pelos mesmos.

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  3. Meu nome é Valquiria Fonseca, sou de Montes Claros/MG e tive a grata satisfação de ser presenteada com o livro do J. Neris "Alma Catingueira" que depois me foi afamado. Busco insessantemente por outro exemplar. Por favor me dêem uma orientação. Livro maravilhoso, leitura prazerosa!

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