terça-feira, 24 de junho de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - O Engenho

Imagem criada por IA



          Essa história foi contada pelo nosso amigo Eronilto Mendes, mas conhecido como Trabion, um poeta de primeira grandeza da cidade de Jacinto, no Baixo Jequi, mas ele é também um grande contador de causos. E como todo contador de causos, ele diz: Pode acreditar, não é mentira!

 

No meu tempo de criança era comum aqui na região onde moro até hoje, as pessoas fazerem rapaduras.

O meu pai mesmo tinha uma fábrica. Cultivou um canavial, montou um engenho, todo feito de madeira, não sei se você já teve oportunidade de ver um. Naquele tempo eram feitos à mão, num trabalho artesanal com muita perfeição. As moendas tinham umas cavas formando assim dentes que quando se juntavam as duas e ao serem puxadas por uma parelha de bois em movimento circular, rodavam-se uma em volta da outra se encaixando os dentes nas cavas uma da outra, e ali era colocada a cana para ser moída, retirando-se o caldo (garapa) pra fazer rapadura, só que não é isso que eu quero lhes contar, e sim um fato ocorrido com os bois que puxavam o engenho.

Um dia foram soltos no pasto, e quando o meu pai foi procurá-los para o trabalho, simplesmente eles tinham desaparecido sem deixar pistas. Foi um grande alvoroço, muita procura, perda de serviço, até que após uma semana, o meu pai encontrou-os num estado de fazer pena dentro da mata que tinha junto a pedra grande que tem aqui na fazenda.

 Os bois acostumaram com o barulho que o engenho fazia enquanto era puxado, e ao passar debaixo de uma grande árvore, onde em cima estava um upo de macacos guaridas, como são conhecidos por aqui, ouviram o barulho que eles faziam por estarem na época do acasalamento, os bois confundiram com o barulho do engenho e começaram a rodar em volta da árvore. Os guaribas vendo os bois em baixo, ficaram com medo de descer e continuaram a cantoria e os bois continuaram a rodar.

Quando meu pai Alvino, homem que nunca mentiu, viu aquela cena, ficou muito emocionado e até chorou. Calcula-se que os animais ficaram nesse ritual por volta de uns sete ou oito dias sem comer ou beber água.

Foi preciso amarrar os bois para serem retirados do local que estavam, e muitas pessoas foram visitar o lugar e constataram que tinham feito duas estradas de tanto os bois pisarem o chão dia e noite sem parar por uma semana.

Causo narrado por Trabion de Jacinto/MG


Por




 

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