segunda-feira, 1 de junho de 2020

NARRATIVAS DO FESTIVALE - Por Tiburcim de Salinas


Festivale – um sonho real de 40 anos

Valdeci Paulo de Souza, mas conhecido como “Tiburcim” natural de Salinas, Jornalista e Diretor Geral na empresa Jornal Tribuna do Norte, agente cultural, produtor cultural e ex diretor executivo adjunto da FECAJE.








O ano de 1979 foi um dos anos mais marcantes na minha mundana vida. Depois de cinco anos em São Paulo, em plena ditadura militar um dito caipira do norte de Minas, impuro e numa outra realidade social chega na metropole para estudar e trabalhar, construir o sonho de ser diferente, ganhar dinheiro e fazer a vida como todos diziam.
Cursei o segundo grau em Sampa nos áureos anos de tempos escuros do golpe militar e todos vigiados, passei ali um duro aprendizado social e politico que provocou o meu retorno a Minas, passando por Belo Horizonte e retornando a Salinas, onde virei funcionário público dos correios, ativista social, politico e cultural, aliado a prática do futebol tornei “boleiro” amador disputando campeonatos em Salinas e cidade vizinhas,  o que levou a buscar alternativas sociais de envolvimento de jovens da nossa geração em novas ideias e projetos de vida.
Nesse tom de rever a história, costumes, cultura popular, crenças e vida de um lugar e região sempre marcadas pelas pequenas iniciativas e necessidades, aliado ao espírito e ação de abnegados, pioneiros de berço que buscam sempre novos caminhos para os sonhos e projetos de vida, nos envolvemos com a primeira iniciativa de cultura de massa que  foi o 1º Encontro de Musica de Itaobim, que intrinsicamente  trazia ali, o iluminado Tadeu Martins, a mecha  de um projeto que de devaneios e sonhos se tornou o embrião do renascimento e bandeira sociocultural de uma região marcada pelo esquecimento, que foi a cultura popular, mais tarde o Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, Festivale, que de fato, é um sonho real de 40 Anos, vivo e ainda contagiante..
Nesse projeto voluntarioso que é o Festivale, me orgulho de ser um dos pioneiros, participante, de ter vivido meia vida, da minha singela contribuição, e o impulso que a cultura teve na minha atividade cotidiana, de definição da profissão, de ampliação de amizades e ter conhecidos pessoas maravilhosas e diferentes, e talvez, o mais destacado, a participação e envolvimento num projeto de integração e desenvolvimento regional a partir da cultura. Foram muitas descobertas e o saldo é positivo, pois, avançamos em várias ações em Salinas com a criação do Centro Cultural, Cine Clube de Salinas, de correspondente do Jornal Geraes, e a realização de eventos com mostra de artistas e músicos regionais integrando a cidade a arte e cultura do vale.
Dentre as minhas participações e observância nos festivales os frutos ainda que tímidos são louváveis, e merecem destaque como o impulso dado a musica regional, a revelação e personificação de talentos musicais, artísticos, literários, do teatro, o folclore, o artesanato dando cara e identidade a região como referencia de uma cultura popular única em Minas.
Ilustram também a memória de todos os personagens, figuras pitorescas, personalidades que automaticamente se tornram ícones, ídolos e referencias no movimento como Saulo Laranjeira, Paulino Pedra Azul, Rubinho do Vale, Lima Junior, Valter Dias, Lira Marques, dona Isabel, Ulisses de Itinga, Seu Ulisses de Carai, Coral Trovadores do Vale, Lodonio Figueredo, Marcio Artesão, Zefa, Gonzaga Medeiros, Carlos Farias e Coral Lavadeiras de Almenara, Celia Mara, Pereira da Viola, Tadeu Martins, Tadeu Franco, Guilardo Veloso, Vilmar Oliveira, Chico Rey, Magela, João Lefu, Eros Januzi, Claudio Bento, Tiburcim, Jota Neris, Frei Chico e muitos outros, juntos a nova geração liderados por Marcos Gobira, Angela Freire, Dim Martins, Jô Pinto, Zé Augusto, Nilson, Luiz Santiago, Luciano Tanure, Nino Aras, que são resultados e criadores dessa nova realidade regional, a cultura popular como a mais importante expressão do Vale.
Destaco alguns festivales como marcantes e importantes na nossa participação e pequena contribuição na sua realização, e também pela beleza, organização e iniciativa num projeto de continuidade e preservação, o 1º Festivale de Itaobim, quando revelou a Minas uma nova cara do Vale do Jequitinhonha, o 6º e 23º Festivale em Salinas, 1985 e 2004, o 18º em Itinga, em 1998, o de Jordânia e Medina em 2013.
Nesses eventos tive participação direta na organização, com destaque para os festivales de Salinas, como resultado do nosso trabalho cultural na cidade. O de Itinga, que junto com o então presidente Marcos Gobira, conseguimos viabilizar os recursos. O de Jordania pela participação como diretor da Fecaje, jornalista e apoio na realização. Em Medina tive o orgulho de ser jurado no festival da canção, e ali também na programação criar o “Tibastur”, o projeto caravana da arte, prestigiando a história e arte local com visita a comunidades recheada com apresentações artístico-culturais.
Ressalto ainda o 18º Festivale de Itinga como um dos mais belos na organização, simplicidade do movimento, panorama e clima da linda cidade dividida pelo Rio Jequitinhonha e suas belas praias, o alto nível do festival da canção, o sinal de começo de um novo tempo no movimento, em especial, o envolvimento social da comunidade no evento.
A presença da TV Assembleia no evento, uma iniciativa nossa, produziu imagens e um vídeo que é um marco do documentário e registro do Festivale, editado pelo jornalista Marcio Metzker, que retrata em detalhes a beleza e encantamento do evento, que passo a todos essa rara oportunidade.
Então desse projeto de encontro comunicação, de música e ativismo na pequena Itaobim de 1979, surgiu não somente uma obra sociocultural de marca de uma região, de expressão viva e referência única de uma cultura popular rica, colorida, bela e representativa que é o Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, Festivale., cujas lembranças e fatos são documentos e histórias que merecem  o melhor registro e narrativa tal a riqueza de detalhes simbolizadas na liberdade, sem preconceito e de arte popular, mas que também apontou caminhos, trilhas, gente nova, conquistas sociais e uma nova modalidade de vida em toda região.
Como pioneiro, apreciado do movimento, agente cultural sugiro como propostas à preservação e consolidação desse projeto que trouxe junto com os sonhos uma nova realidade a região, a coordenação do movimento, a Fecaje, as seguintes questões a analisar como a elaboração de um plano de ação administrativo, de finanças, de projetos, de autosustentação como sócio contribuinte, produção e comercialização do material do festivale e cultura regional, buscar parceria com as prefeituras municipais como meta de ampliar a integração, criação de caravanas culturais, cadastro e registro de entidades regionais do movimento popular, produção de cds, documentários, souvenires, transformação da Fecaje numa ONG, profissionalizar gestores e criar quadro de funcionários com metas de fazer cultura gerando renda. È preciso o apoio do poder público, claro que sim. Mas é necessário de buscar solução de efetivar e institucionalizar o Projeto Festivale, e assim despregnar do “peleguismo publico” como única alternativa ao improviso, do voluntarismo, mas de financiamento e sobrevivência do movimento.
Como agente cultural me orgulho do rastro deixado, criei vários projetos em Salinas com eventos poéticos, literários, musicais e discussões, e no jornalismo tenho documentado quase 95% dos festivales, fui em 33 dos 37 realizados, feito reportagens especiais, e na carona do movimento nos referenciando e fincando raízes em todos os rincões do Vale.

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