terça-feira, 4 de novembro de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - A arte Joaimense de Politicar

Imagem - IA

 

Em uma das minhas muitas viagens trabalhando como estagiária de comunicação de imprensa, pela Câmara Municipal de Ouro Preto, no projeto Câmara Itinerante, conheci um livro no qual o subtítulo parecia ter sido escrito por alguém de Joaíma. “Peripécias de um povo apaixonado por política”. E ainda tinha mais, Lidiane Malagone, a autora da obra, contava que o livro apresentava as dores e as delícias – já parafraseando Caetano –, do universo político das cidades interioranas. Com poucas páginas de leitura, consegui ver na história a forma joaimense de politicar, que parecia não tão mais singular.

E me debrucei naquela passagem de volta pra casa. Tudo isso enquanto fazia o meu horário de almoço em uma cantina da escola de Santa Rita de Ouro Preto. Estamos em março de 2020, ano que até então, está sendo marcado pela pandemia do novo Coronavírus. Mas, também é um ano de eleições municipais. E na cidade, já estamos em época de política, que é como falamos por aqui. O ano eleitoral em Joaíma é bem-vindo

pela maior parte da população. Sempre tem um fulano ou outro que diz: “Eu que não vou votar mais, toda eleição é essa mesma coisa”. Mas é só liberar a propaganda política e os comícios que o fulano já se caracteriza com as cores do candidato escolhido e pega uma bandeira para balançar. Aprende o jingle da campanha e pula ao som da trilha enquanto caminha junto com uma multidão atrás de um paredão de som imenso. Faz apostas altas e até discute com o melhor amigo e com a vizinha, argumentando o porquê do seu candidato ser a melhor escolha. Tenta até fazer conchavos para agregar à campanha do escolhido, juntando direitistas e esquerdistas. Tudo isso, e muito mais, durante os quase três meses de campanha eleitoral liberada pelo TSE. Que duram bem mais, na realidade do joaimense.

Talvez toda essa euforia não seja só animação política, mas também pelo fato de que a Prefeitura Municipal é uma das principais empregadoras da cidade, e muita gente projeta uma oportunidade de emprego quando se posiciona do lado de um candidato, vislumbrando a vitória e um cargo no município. A máquina pública é poderosa, e só em 2020 circularam por aqui exatos R$ 9.198.126,86, provenientes apenas de recursos transferidos para a cidade. A receita arrecadada no exercício de 2019 foi de R$ 42.518.730,00. Então, mesmo que alguns não saibam de boa parte desta dinheirama rolando pela cidade, ficam afoitos para conseguirem ao menos um salário mínimo ou continuar ganhando altos salários em seus cargos comissionados.

Essa é outra paixão que move a política joaimense, mas não é só por aqui. E, é claro, existem exceções. A arte de politicar começou, oficialmente, em 27/12/1948, com a emancipação política da cidade, que movimentou as lideranças locais em busca de nomes que pudessem representar Joaíma. Cinco meses depois, Francisco Costa e Dr. Armando Sena Kangussu foram os primeiros líderes do executivo municipal. E permaneceram até 30/03/1953, com a inversão dos seus cargos. Durante a administração, construíram pontes, reformaram o grupo escolar Manoel do Norte e instalaram a primeira turbina para a captação de água que abasteceu a cidade. Os feitos desse mandato ficaram marcados por, de acordo com pesquisas, não contarem com nenhuma verba ou subvenção do estado: tudo foi pago com recursos próprios. No ano de 1950, os pais do então prefeito comemoravam os seus 25 anos de casados e decidiram estender as celebrações da data a toda a cidade, com uma festança que durou oito dias. Além de ser conhecido por ser o primeiro prefeito da cidade e por possuir uma imponente sepultura na entra da do cemitério local, Seu Chico, como chamamos por aqui, era amigo de Juscelino Kubitschek.

Eles se conheceram na época dos estudos secundários e JK visitou Joaíma na sua peregrinação política quando concorria à Presidência da República, em 1955, no pleito do qual sairia vitorioso. Após os primeiros gestores da cidade, outros grandes nomes foram os seus sucessores. Depois de algum tempo começaram as disputas políticas na cidade. A primeira, mais concorrida, aconteceu em 1954, na qual foram escolhidos Dr. Antônio Gerônimo de Oliveira e Corinto Antônio da Cunha que, de acordo com as minhas pesquisas de campo e bibliográficas, foram grandes articuladores políticos da época. Já no desenvolvimento social, o 9° ocupante da cadeira na Prefeitura, Antônio Gomes Moreira, e seu vice, Argileu Alves Cunha, foram referência para a educação na região. No final de 1963, lançaram as bases para a criação do Ginásio Menor de Joaíma, que oferecia o antigo curso ginasial, levando o nome do seu idealizador. Moreira entraria mais uma vez na política, mas dessa vez como vice, em 1973, e novamente como prefeito, em 1977. E, por meio da Lei n° 1281 de 16/10/1995, foi criada a medalha “Professor Antônio Gomes” como forma de homenagear pessoas ou instituições que se destacaram no trabalho prestado à comunidade.

A entrega acontecia no dia 27 de dezembro, data comemorativa do aniversário de emancipação político-administrativa da cidade. Dentre as administrações, Joaíma começou a ganhar estruturas e instituições que compunham o conjunto de um município. E em meados de 1967 iniciou-se a construção do Hospital Municipal da cidade, com a ajuda de um grupo de mulheres. Dentre elas estava Antônia Grapiuna, bem articulada e muito conhecida na comunidade, que organizou movimentos para arrecadar fundos a serem doados ao local. A benfeitora foi homenageada tendo seu nome dado à instituição. Neste ano também foi realizada a primeira festa da cidade comemorando os seus 21 anos. Com o tempo, grupos políticos foram sendo forma dos. O primeiro foi chamado de “Panela’’.

 O grupo, organizado por Antônio Gomes Moreira, era composto por pessoas que detinham mais experiência política, tendo já ocupado cargos públicos ou possuindo parentesco próximo com pessoas que ocuparam ou ocupavam uma cadeira no executivo e legislativo da cidade. A chama da Panela ocupou liderança no município por mais de quarenta anos, iniciando em 1962 após o término do mandato do prefeito Domingo Ornelas (antigo PSD). A administração ficou marcada pelas grandes festas, cultura ativa e a pouca visibilidade para a zona rural e as 27 comunidades. Com o passar do tempo, deixaram de ser aceitos na cidade por uma parcela da população, que dizia que o grupo não favorecia os mais pobres ou os que se opunham à gestão. Não sendo contratados, mesmo com competências para os cargos ou para prestar pequenos serviços. Durante os mandatos do grupo, a oposição começou a surgir. Em 1988 foram eleitos vereadores Donizete Lemos (um dos nomes responsáveis por fundar o Partido dos Trabalhadores em Joaíma), Frederico Lemos e Eliana Lemos (tornando-se uma das primeiras mulheres na vereança).

Ambos faziam forte oposição ao então prefeito Roberto Grapiuna, inaugurando um novo momento político em Joaíma. Porém, só em 2005, que o primeiro candidato da oposição à Panela assumiu a cadeira de prefeito na cidade, após uma das disputas mais acirra das nas ruas, que terminou com uma diferença de 1.557 votos nas urnas. À época, eram 10.437 eleitores. Em 3 de outubro de 2004, os apoiadores do então prefeito vencedor, Flávio Botelho Leal e Frederico Franklin Murta Lemos, saíram pelas ruas da cidade entoando o jingle de campanha: “Não vamos deixar, não vamos deixar. Eles tão todos doidinhos pra mamar, êta bezerro duro de desmamar, mamaram tanto e querem continuar”, com os apoiadores batendo em panelas de pressão e quebrando panelas de barro, fazendo alusão à derrota do grupo que levava o nome dos objetos. Após oito anos de mandato, os governantes dividiram opiniões acerca de seu governo.

Foram criticados nos primeiros quatro anos, mas reeleitos para os próximos quatro. Seguindo a lei de apenas uma reeleição, os líderes deixaram a vaga para João Muqueca (PP), integrante da Panela, que concorreu com Donizete Lemos (PT), da oposição. No pleito de 2012, o petista, que já tinha uma trajetória na política local, saiu vitorioso, com 2.120 votos de diferença. No entanto, na eleição de 2016, o grupo da Panela retoma o poder na cidade. E agora, em 2020, ano eleitoral, disputa mais uma vez a cadeira do executivo, com o seu representante e atual prefeito Dauro Barreto e Nem Guariba.

E concorrem com eles, Abinaldo Botelho (Solidariedade), com uma visão mais popular e a professora, Jussara Grapiuna, marcando a história política da cidade como a primeira mulher a concorrer para o cargo de vice-prefeita. Essa campanha, em especial, está deixando os joaimenses ouriçados, tanto aqueles que não querem perder a “mamata”, quanto aqueles que esperam por mudanças no cenário social e político há um bom tempo. O desfecho, um caso à parte entre as muitas histórias de Joaíma, você lê no “adendo”, nas próximas páginas. Ao longo dos seus 72 anos de emancipação política, Joaíma já teve 22 prefeitos, alguns com mais de um mandato. E agora caminha para a escolha do seu vigésimo terceiro gestor. O município, o distrito e as 27 comunidades se envolvem de corpo e alma nas campanhas. Que já renderam boas e curiosas histórias. Em uma dessas, um jovem ficou com o rosto marcado por uma estrela gigante, do partido que ele representava, após ser pintado com tinta guache e ficar exposto longas horas em carros de som que rodava a cidade. Tudo isso, é claro, com o seu consentimento e após alguns dias a tatuagem solar desapareceu. Outra curiosidade é o estilo de marketing usado pelos candidatos, o nosso décimo primeiro prefeito se elegeu com uma faixa que trazia os dizeres: “Ruim por ruim, vote em Maurim”. Por aqui somos tomados pelo vírus do “politiqueiro”, encontramos a magia em um movimento maçante e desacreditado por alguns brasileiros.

Que é totalmente pretensioso, mas insistimos em ainda, sim, acreditar. Sem utopias. A política que pode intervir para melhorar a comunidade, para fazer as coisas que as pessoas precisam no seu dia a dia (independente de ideologia ou partido). Temos verbas e programas para garantir isso. E muita gente que precisa, por isso, ainda acreditamos. Em um ano de desgoverno federal, escândalos e desrespeitos ao cidadão, à saúde e à imprensa, o que devemos fazer é ainda acreditar que a nossa política pode ser melhor, e nos politizarmos, aprendermos a votar de forma mais coerente.

Quem desiste da política, de certa forma, perde uma parte do seu papel como cidadã ou cidadão. A paixão pelo movimento que te faz vestir as cores e sair gritando na rua clamando por mudança. Uma paixão avassaladora que te rouba três meses de vida, te dando mais fôlego pra debater sobre as propostas dos seus escolhi dos. E que, quando não correspondidas, tende mesmo a esfriar, passa pela crise dos três anos, até resultar no término no ano seguinte, sem nem chegar a uma reeleição e comemorar as bodas de madeira. É uma crônica sobre a minha cidade, mas aposto que, de certa forma, também se encaixa na sua, não é?

 

“A política é uma arte e só é válida quando tem como objetivo a função de partilha dos ideais, de sonhos e realizações comuns, a serviço da vida”. Emirani Quaresma (2007)

 

Texto extraído na integra de

MURTA. Ana Laura Grupiara. Joaíma (Re) conhecendo o Vale do Jequitinhonha. TCC ( Graduação em Jornalismo. Universidade de Ouro Preto, Mariana, 2021 (P.109)


Por




 

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

MEMÓRIA CULTURAL - Moço Araldo de Araçuaí


 

Ontem ‘  Dia dos Finados” foi instituído pela Igreja Católica na França no século X. Segundo as histórias, era tradição que, nesta data, os monges orassem pelos mortos, sobretudo pelos falecidos que eram esquecidos por seus familiares, por ordem do abade Odilo de Cluny.

A escolha do dia 2 de novembro como Dia dos Mortos foi realizada por suceder o Dia de Todos os Santos, celebrado no dia 1º de novembro.

No entanto, reza-se pelos finados ao menos desde o Império Romano, quando os mártires eram homenageados nas catacumbas em que eram sepultados.

Apesar dessa data ter sido instituída no século X, ela só foi oficializada pela igreja católica no ano de 1915 pelo Papa Bento XV. Desde então, todos os anos, o Papa reza uma missa em homenagem aos mortos. 

Outras religiões e culturas também homenageiam seus entes falecidos neste mesmo período com os mais variados rituais em países como: México, Guatemala, Japão, Espanha, etc.

Curiosamente resolvi narrar aqui uma história de Araçuaí, daquelas que posso dizer o milagre, sobre o santo, mas não posso dizer quem me contou, é sobre um rapaz chamado Aroldo.

 Este jovem devia sofrer de transtornos mentais, mas, pessoas com qualquer tipo de transtorno mental, não tinha nenhum tipo de tratamento ou apoio, nesta cidade. Muitos viviam pelas ruas ou trancados em suas casas, alguns até amarrados e o tratamento desumano por familiares e comunidade em geral.

Graças ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em Araçuaí, a partir de 1997 na gestão da prefeita Maria do Carmo Ferreira da Silva, bem como a fundação da APAE   em 1998, com os objetivos de abrir espaços e oportunidades para que, as pessoas com deficiências possam lutar por uma sociedade mais justa e igualitária, em que sejam reconhecidos como cidadãos.

Pena que Aroldo não teve tal sorte de ser acolhido nestes serviços e receber tratamento para seus transtornos mentais. Dizem, que ele vivia pelas ruas pedindo água, café amargo, pão e ovo. Mas como neste mundo tem gente de todo jeito, haviam pessoas maldosas que lhe ofertava pão com bastante pimenta. Pobre Aroldo! Sofreu muito nesta terra!

Mas algumas pessoas contam ainda que  costumam ir ao cemitério municipal para rezar por sua alma e pedir sua ajuda. Diferente daqueles que o maltrataram, dizem que costuma interceder pelos corações aflitos e que costumava visitar o Congá de Maria Conga.

Salve a estrela que ilumina!

Por





 

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - A arte Joaimense de Politicar

Imagem - IA   Em uma das minhas muitas viagens trabalhando como estagiária de comunicação de imprensa, pela Câmara Municipal de Ouro Preto...