terça-feira, 13 de julho de 2021

O ASSUNTO É? O Silêncio

 

Estrada Com, Quilombola Mutuca/Cel.Murta/MG - Foto: Jô Pinto

O silêncio é um exercício de difícil aprendizado. Desde a infância, aprendemos a nos sentir incomodados com a ausência de ruídos.  Penso que o incômodo se deve ao fato de que, ao silenciarmos, somos levados a ouvir nossos pensamentos. E vivemos numa sociedade em que predomina a agitação, a aceleração, a propaganda agitada. As pausas silenciosas possibilitam o pensamento e o questionamento da lógica frenética do sistema capitalista, logo, o silêncio inquieta, em razão da reflexão que ele suscita. Houve uma época de minha vida em que falava mais do que atualmente (alguém pode perguntar: mas será isso possível?) Digo que sim, falava aos borbotões, queria ocupar todos os espaços de silêncio. As pessoas se sentiam cansadas diante de minha tagarelice, era perceptível pelas suas expressões de impaciência. A verbalização ininterrupta era resultado de ansiedade, falta de socialização e excesso de timidez. Conversava muito tentando desviar a atenção das pessoas em relação a mim. Parece pouco provável e até contraditório, mas muitas pessoas que conversam exageradamente  o fazem para disfarçar o acanhamento. Hoje sou uma amante do silêncio, muito me agrada estar a sós comigo mesma, com os pensamentos soltos. Acredito que não há maior liberdade do que a de poder pensar. O silêncio nos ajuda a reorganizar a mente, fazer escolhas, compreender como agir em cada situação, o que falar, quando calar.  Por isso que os monges se isolam no alto de montanhas, em grutas ou  ermidas, para assim alcançarem a sabedoria. Por outro lado, só nos conhecemos em contato com o outro. Parecer bom estando isolado da sociedade  se torna mais fácil. É em contato com o outro que aflora o que há de pior ou de melhor em nós. Porém, nem todos conseguem ficar a sós consigo mesmo, penso mesmo que isso nem é possível.  Por sermos essencialmente sociais, mesmo isolados estamos acompanhados de outros seres humanos, seja lendo livros ou assistindo a filmes, ouvindo/cantando canções ou mesmo pensando. Em todas essas experiências estamos em comunhão com outros seres humanos, sejam nossos contemporâneos ou que nos precederam no tempo. E é nessas trocas que nos humanizamos ao compartilhar a experiência desta viagem cósmica, parafraseando  o filósofo Ailton Krenak.

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