Estrada Com, Quilombola Mutuca/Cel.Murta/MG - Foto: Jô Pinto |
O silêncio é um exercício de
difícil aprendizado. Desde a infância, aprendemos a nos sentir incomodados com a
ausência de ruídos. Penso que o incômodo
se deve ao fato de que, ao silenciarmos, somos levados a ouvir nossos
pensamentos. E vivemos numa sociedade em que predomina a agitação, a
aceleração, a propaganda agitada. As pausas silenciosas possibilitam o
pensamento e o questionamento da lógica frenética do sistema capitalista, logo,
o silêncio inquieta, em razão da reflexão que ele suscita. Houve uma época de
minha vida em que falava mais do que atualmente (alguém pode perguntar: mas
será isso possível?) Digo que sim, falava aos borbotões, queria ocupar todos os
espaços de silêncio. As pessoas se sentiam cansadas diante de minha tagarelice,
era perceptível pelas suas expressões de impaciência. A verbalização
ininterrupta era resultado de ansiedade, falta de socialização e excesso de
timidez. Conversava muito tentando desviar a atenção das pessoas em relação a
mim. Parece pouco provável e até contraditório, mas muitas pessoas que
conversam exageradamente o fazem para
disfarçar o acanhamento. Hoje sou uma amante do silêncio, muito me agrada estar
a sós comigo mesma, com os pensamentos soltos. Acredito que não há maior
liberdade do que a de poder pensar. O silêncio nos ajuda a reorganizar a mente,
fazer escolhas, compreender como agir em cada situação, o que falar, quando
calar. Por isso que os monges se isolam
no alto de montanhas, em grutas ou ermidas, para assim alcançarem a sabedoria.
Por outro lado, só nos conhecemos em contato com o outro. Parecer bom estando
isolado da sociedade se torna mais fácil.
É em contato com o outro que aflora o que há de pior ou de melhor em nós.
Porém, nem todos conseguem ficar a sós consigo mesmo, penso mesmo que isso nem
é possível. Por sermos essencialmente
sociais, mesmo isolados estamos acompanhados de outros seres humanos, seja
lendo livros ou assistindo a filmes, ouvindo/cantando canções ou mesmo
pensando. Em todas essas experiências estamos em comunhão com outros seres
humanos, sejam nossos contemporâneos ou que nos precederam no tempo. E é nessas
trocas que nos humanizamos ao compartilhar a experiência desta viagem cósmica,
parafraseando o filósofo Ailton Krenak.
Por
Como diria Manoel, que não se incomode os passarinhos...
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