Igreja Senhor da Boa Vida/Itira - Araçuaí/MG - Foto: Mira Mundim |
O ano de 2021 é o marco da comemoração aos
150 anos de emancipação política de Araçuaí. Neste movimento de comemorações,
encontra-se espaço especial de uma mulher que atravessou um século e meio e se
mantêm no cenário histórico da origem de Araçuaí.
Graças
ao francês Saint-Hilare, em sua viagem às províncias do Rio de Janeiro e Minas
Gerais, pesquisando sobre a flora, fauna gente e costumes, cujo percurso
inicial foi do Rio de Janeiro, em 07 de setembro de 1816 e finalizando em 1822.
Ele registra sobre uma de suas hospedagem, que celebra o marco da presença de Luciana Teixeira, deixando prova de um legado, que fundamenta a existência de uma mulher diferente a sociedade daquela época:
Pousei na casa de Boa
Vista, talvez a mais agradavelmente situada de todas as que até esse momento
vira.. É construída sobre o cume de uma colina isolada, em baixo da qual
deslizam com lentidão as águas límpidas do araçuaí, rio mais ou menos da
largura do Loiret(...)
Boa Vista era a
residência de uma velha mulata chamada Luciana Teixeira. Tendo sabido que eu
viajava com passaporte do governo, essa boa mulher cumulou-me de atenções, e,
pondo-se quase de joelhos, quis abraçar-me as coxas; mas compreende-se bem que
recusei semelhante polidez.
Passei em boa Vista o
dia de Pentecostes. Um sacerdote ali chegara, vindo de nove léguas de distãncia, e todos os colonos da vizinhança
se tinham reunido na habitação com os filhos e netos da hospedeira, para
assistir o serviço divino.
(..) Minha hospedeira
de boa Vista não quis aceitar nada de mim pelo que eu comi, nem mesmo pela
forragem dos animais. Contentou-se em pedir–me um pouco de papel, e este mesmo,
queria pagá-lo.(SAINT-HILARE,1975, página 238)
O
naturalista descreve sobre hábito dos habitantes, ressaltando sobre a postura
dos homens á mesa, como se vestiam , comparando como homens do campo, porém
mais acanhados e embaraçados, mas não cita nenhuma referência de hábitos ou
posturas femininas.
Uma
pena! Porque se tivéssemos mais dados informados, conseguiríamos hoje, detalhar
quanto à figura dessa mulher e saberíamos contextualizar a sua existência neste
rincão do nordeste mineiro.
Nas
controvérsias em relação à Luciana Teixeira quanto ser ou não prostituta, não
importa se foi fazendeira, canoeira, meretriz ou outra coisa. Importa a todos
saberem que, foi uma mulher negra, destemida, forte e que certamente abalou as
estribeiras do Padre Carlos Pereira de Moura.
Referência:
SAINT-HILARE. A.Viagem pelas províncias do
rio de Janeiro e Minas Gerais, Belo Horizonte.Itatiaia, 1975
Por
Muito bommm
ResponderExcluir"fazendeira, canoeira, meretriz"... Que importa? Luciana foi somente um ser humano. A cor da pele? A generosa cor de humanizadas Áfricas abraçando viajantes a margem do rio Loiret, em solo jequitinhonhense. Parabéns Ângela.
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