sábado, 31 de julho de 2021

EscreVIVENDO - Clube Leia Mulheres Araçuaí-MG

 


Hoje nós vamos falar um pouco do Clube Leia Mulheres Araçuaí-MG, no médio Vale do Jequitinhonha.

Leia Mulheres é um projeto nacional, que surgiu em 2015, na cidade de São Paulo, através de Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques e está vinculado à proposta da escritora inglesa Joanna Walsh, que teve a iniciativa, simbolizada na hashtag #readwomen2014 (#leiamulheres2014).

 A proposta objetiva a leitura de mais escritoras, tendo em vista o mercado editorial ainda ser muito restrito e não possibilitar às mulheres o mesmo espaço dedicado aos homens. Os clubes são orientados pela coordenação nacional, clube de São Paulo-SP, a se reunirem uma vez por mês para discutir – de forma descontraída e não necessariamente acadêmica – algum livro de autoria feminina que deve ser lido previamente. Existem clubes em mais de 150 cidades brasileiras, tendo, também, um clube em Portugal, Alemanha e Suíça. A mediação é realizada por mulheres, mas os clubes são abertos para qualquer pessoa participar. Lê-se as obras de autoras de qualquer nacionalidade e gênero literário. Afinal, mulher escreve sobre tudo, embora os fundamentos sexistas e racistas da nossa sociedade, tenham nos ensinado que a literatura escrita por homens, sobretudo, brancos, é a universal.

Em Araçuaí, o nosso clube começou em agosto de 2019, e caminha para o seu segundo aniversário. Neste fim do segundo ano de existência, temos muito a comemorar: ganhamos uma projeção incrível no vale do Jequitinhonha, atraindo cada vez mais participantes de todas as partes do Brasil, o número de mediadoras e coordenadoras cresceu de uma forma linda, e temos procurado fortalecer a interlocução com as escritoras do Vale do Jequitinhonha e, por isso, lançamos a série Nossas Autoras, que será o tema da nossa coluna no próximo sábado.

Para participar do clube, é só acessar o nosso instagram @leiamulheresaracuai. Lá disponibilizamos o link para os encontros, que, neste período de pandemia, têm se dado de forma online.


AGENDA


Em breve mais detalhes e novidades


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quinta-feira, 29 de julho de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Escrevendo..

 

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No dia 25 de Julho, comemoramos o Dia Nacional do Escritor e da Escritora, se trata de um momento onde pensamos mais ainda sobre a nossa relação com a escrita. Escrever é uma tarefa que vai além de preencher papéis com palavras. Para que as palavras brotem, existe um processo, muitas vezes desconhecido que cada escritor ou escritora passou.

Acredito que escrever nunca é um ato despretensioso, há sempre uma razão que nos leva a escrever qualquer coisa, mesmo que seja para fazer um desabafo, à procura de um alívio momentâneo. No decorrer do processo, percebemos o quanto a escrita é um poderoso meio de expressão, onde podemos nos posicionar a respeito de diversos assuntos.

Costumo dizer... ”Escrever é como ter alguém disponível para te escutar quando você quiser”. Isto, pela liberdade que temos quando escrevemos. Com pouquíssimas pessoas, talvez com nenhuma, temos tanta intimidade, assim como temos com uma caneta e uma folha. Esta intimidade é uma das razões que me fez amar a escrita.

Além de tudo, escrevendo, podemos contribuir para que as nossas experiências de vida não sejam esquecidas e apagadas. Muitas pessoas podem não concordar, mas penso que todos e todas vivenciamos fatos interessantes que merecem ser divididos e compartilhados. Podemos aprender muito através do que outras pessoas escrevem, e podemos ensinar muito através do que escrevemos.

E você, como se relaciona com a escrita? Responda aqui abaixo nos comentários.

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quarta-feira, 28 de julho de 2021

OPINIÃO DO BLOG - Quando a idade é experiência

 

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O ser humano se construiu e se desenvolveu se juntando, se agrupando e formando famílias. Os laços estabelecidos firmaram como raízes no chão duro das regras e das adversidades. Essa semana celebramos o dia dos avós e dia idosos, instituído pelo querido Papa Francisco que faz um apelo para que estas pessoas sejam cuidadas.

São os pilares da nossa jornada, conteúdo da nossa história e alimento dos nossos sonhos. A casa do vovô e da vovó é o espaço do encontro, da partilha e do carinho. Raízes da nossa existência. Numa sociedade excludente e mesquinha com estes que tão bem serviram a vida, precisa se reinventar e se colocar como acolhida.

As várias raízes espalhadas pelo mundo, traz os avós como referência de família e de fonte de histórias.

As mãos finas tocam na vida dos que chegam e abençoam. As mãos calejadas são as memórias de uma construção firme e inabalável. As marcas no rosto mostram a dinâmica de uma vida que passa e dá espaço para o novo.

Os ensinamentos passados, as histórias contadas marcam a trajetória de tantas famílias erguidas no suor daqueles que nos precederam.

Tempo de abrir os olhos para este novo tempo, está nova fase da história. Cuidar dos que cuidaram de nós.

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terça-feira, 27 de julho de 2021

O ASSUNTO É? Mulheres negras na literatura

 



O dia 25 de Julho é dedicado às mulheres negras latino-americanas e caribenhas, data decidida em 1992 durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas, ocorrido em São Domingos. Nós, mulheres negras, compartilhamos uma história de resistência à opressão dos colonizadores brancos ao longo do tempo. Temos sobrevivido às inúmeras formas de violência às quais fomos submetidas pelos séculos, desde a diáspora forçada, aos estupros coloniais que forjaram as nações “mestiças”, conforme demonstra Sueli Carneiro em Enegrecendo o feminismo, até à eliminação por meio dos feminicídios, negação de direitos à saúde, água potável, moradia digna e educação. Hoje, quero falar sobre uma forma muito potente de resistência poética forjada pelas negras latino-americanas e caribenhas: a expressão literária  utilizada para narrar a nossa história. Chamar a atenção das leitoras e leitores para dois livros escritos por mulheres negras da América Latina e do Caribe. Eu, Tituba: Bruxa negra de Salém, escrito por Maryse Condé, e Um defeito de cor, escrito por Ana Maria Gonçalves. A arte é uma ferramenta muito potente de transformação social, daí a perseguição que ela sofre em países dominados por figuras autoritárias. A arte literária pode ser uma ferramenta para derrubar a casa grande, tomando emprestada a expressão usada pela feminista afroamericana Audre Lorde. É o que fazem Maryse Condé e Ana Maria Gonçalves através da produção literária. Conduzem-nos a uma viagem histórica ao passado colonial da América portuguesa, América inglesa e Caribe, por meio das personagens narradoras Tituba e Kehinde. A primeira, nascida em Barbados, relata sua vida desde as primeiras lembranças de infância, da brutalidade da escravidão e da violência vivida por sua
mãe, do estupro que resultou em seu nascimento e rejeição materna, dos amores e magias que a levam para o condado de Salém, não mais livre, mas como escrava, do fanatismo religioso dos puritanos que quase a levam à forca. Em toda a sua trajetória reconstruída no livro, Tituba é amparada pelas suas ancestrais já encantadas que sempre a orientam sobre as escolhas que deve fazer. É uma escrita muito potente que retira Tituba dos limbos da história, onde figura brevemente nos registros da época, e a coloca no centro dos acontecimentos, contando sua própria história. É o olhar da mulher negra sobre as sociedades coloniais, recontando uma história que foi narrada predominantemente pelos descendentes dos colonizadores brancos. Em Um defeito de cor,  Kehinde relata desde a infância no continente africano na feliz companhia da mãe, da irmã, da avó e do irmão, passado pelo seu aprisionamento em companhia da irmã gêmea, do horror da viagem no tumbeiro em companhia de centenas de pessoas de povos diferentes, bem como, da irmã e da avó que não chegam à colônia. A partir de seu desembarque, começa sua jornada na nova terra, sua luta pela sobrevivência na sociedade escravocrata. Através da narrativa da personagem, conhecemos as práticas religiosas dos Iorubás, relações sociais estabelecidas pelas pessoas negras na sociedade colonial, bem como as múltiplas estratégias de sobrevivência de nossas antepassadas. As irmandades religiosas, o culto dos Orixás e as relações afetivas foram âncoras que evitaram que as pessoas negras escravizadas ficassem à deriva numa sociedade tão violenta.  Essas duas obras podem ser descritas a partir da definição da magnífica escritora Conceição Evaristo, segundo a qual “não são histórias para ninar os da casa-grande e sim para incomodá-los nos seus sonos injustos”.

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segunda-feira, 26 de julho de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - Luciana Teixeira

 

Igreja Senhor da Boa Vida/Itira - Araçuaí/MG - Foto: Mira Mundim


            O ano de 2021 é o marco da comemoração aos 150 anos de emancipação política de Araçuaí. Neste movimento de comemorações, encontra-se espaço especial de uma mulher que atravessou um século e meio e se mantêm no cenário histórico da origem de Araçuaí.

            Graças ao francês Saint-Hilare, em sua viagem às províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, pesquisando sobre a flora, fauna gente e costumes, cujo percurso inicial foi do Rio de Janeiro, em 07 de setembro de 1816 e finalizando em 1822.

            Ele registra sobre uma de suas hospedagem, que celebra o marco da presença  de Luciana Teixeira, deixando prova de um legado, que fundamenta a existência de uma mulher diferente a sociedade daquela época:


Pousei na casa de Boa Vista, talvez a mais agradavelmente situada de todas as que até esse momento vira.. É construída sobre o cume de uma colina isolada, em baixo da qual deslizam com lentidão as águas límpidas do araçuaí, rio mais ou menos da largura do Loiret(...)

Boa Vista era a residência de uma velha mulata chamada Luciana Teixeira. Tendo sabido que eu viajava com passaporte do governo, essa boa mulher cumulou-me de atenções, e, pondo-se quase de joelhos, quis abraçar-me as coxas; mas compreende-se bem que recusei semelhante polidez.

Passei em boa Vista o dia de Pentecostes. Um sacerdote ali chegara, vindo de nove léguas  de distãncia, e todos os colonos da vizinhança se tinham reunido na habitação com os filhos e netos da hospedeira, para assistir o serviço divino.

(..) Minha hospedeira de boa Vista não quis aceitar nada de mim pelo que eu comi, nem mesmo pela forragem dos animais. Contentou-se em pedir–me um pouco de papel, e este mesmo, queria pagá-lo.(SAINT-HILARE,1975, página 238)

 

            O naturalista descreve sobre hábito dos habitantes, ressaltando sobre a postura dos homens á mesa, como se vestiam , comparando como homens do campo, porém mais acanhados e embaraçados, mas não cita nenhuma referência de hábitos ou posturas femininas.

            Uma pena! Porque se tivéssemos mais dados informados, conseguiríamos hoje, detalhar quanto à figura dessa mulher e saberíamos contextualizar a sua existência neste rincão do nordeste mineiro.

            Nas controvérsias em relação à Luciana Teixeira quanto ser ou não prostituta, não importa se foi fazendeira, canoeira, meretriz ou outra coisa. Importa a todos saberem que, foi uma mulher negra, destemida, forte e que certamente abalou as estribeiras do Padre Carlos  Pereira de Moura.

 

Referência:

SAINT-HILARE. A.Viagem pelas províncias do rio de Janeiro e Minas Gerais, Belo Horizonte.Itatiaia, 1975  

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sábado, 24 de julho de 2021

DIVERSO


A Ponte Japonesa (1899) Claude Monet


A literatura como ponte

Thaisa Silva Martins


Aqui e acolá.

Duas fases que se cruzam e ao mesmo tempo se separam.

A literatura as une.

Ela retirou-me de um lugar e me levou a outro. 

Ela reconecta o eu com a minha essência que se perdeu.

Ela revolucionou a minha vida, balançou estruturas e me refez Eu


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quinta-feira, 22 de julho de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Degustação

 


Vicentino Rodrigues de Oliveira é de Itinga, Vale do Jequitinhonha, no interior de Minas Gerais. Professor, vereador, músico, embora escreva e componha desde muito jovem, retratando, sobretudo, as belezas de seu povo e da Terra onde vive, despertou há pouco para os concursos literários. No último ano, ganhou alguns concursos regionais e nacionais, como o 14° Circuito de Literatura do Clesi – Clube dos Escritores de Ipatinga e a Antologia do Prêmio VIP da Editora Publisher. Lançou o livro Estradas de Chão, com o coletivo literário de Itinga, VOHEJAR.

 

No momento Degustação, Vicentino Rodrigues, de Itinga, nos mostra o seu premiado poema:

 

Corpo e Terra

Meu rosto é de pele grossa onde o suor traça atalhos e caminhos;

Meus olhos são como um rio cansado de desaguar;

Meus calos incomodam num aperto de mão;

As mesmas que talha a madeira, e molda o barro que prepara o chão

Meus pés são rachados feito o quente torrão

abre passagem para que nasça o broto

Sem sentir os furos do maroto

Meu falar talvez você não compreenda

Minha roupa não combina com a sua

Me olha com desconfiança da cabeça aos pés

Maltrapilho?

Malogrado?

Não seu moço!

Tudo depende do seu olhar

Meu corpo é feito dessa terra

Onde se nasce, cresce e morre.


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quarta-feira, 21 de julho de 2021

OPINIÃO DOS BLOG - Entre a dor e a esperança

 

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O mundo tem vivido sob uma angústia constante com tanta gente doente e isolada. Famílias aflitas em dor, sem viver e sem saber de fato o que acontece ali no interior dos hospitais. Choro e angústia é o cotidiano de tantas famílias que buscam na oração a esperança de poder abraçar mais uma vez seus entes queridos. Que de casa tem saído sem saber rumo ou sentido. Ou se ao menos vai voltar. Quanta luta o corpo trava contra a ação terrível do vírus. E, muita gente ainda não entendeu a dor de cada dia dos outros. Caixões com corpos saem aos montes e tudo velado e sem oportunidade de um último adeus a quem construiu com tanto amor o coletivo das famílias. Mães despedem de longe dos filhos. Pais, com voz embargada falam da saudade de esposa e filhos. O último abraço fora negado, a oração ofertada como homenagem ficou reduzida ou ausente. O povo se apegou em Deus; o mesmo que perdeu espaço na sociedade do ser. A religião tornou-se lugar de destaque nos espaços aflitos no coração dos humanos. Orar é a única chama que aquece a alma aflita de tantos que isolados dos que amam, lutam pelo novo sopro de vida. Refazer a vida, entender o viver. E esperar que o corpo reaja e se erga mediante ao caos. Esperar a nova ordem, onde as pessoas serão cuidadas pelos seus, que a certeza de cura seja a luz e que as pessoas aprendam a cuidar de si. O resultado foge por entre as dúvidas, a ciência dispara para aliviar a aflição o ser humano cheio de dor, a alma dilacerada, espera em Deus que é amor. A criação refeita com cada sopro de vida para dar novamente a vida aquele que esperou em Deus.


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terça-feira, 20 de julho de 2021

O ASSUNTO é? - Meio ambiente e direitos originários

 

Aldeia Cinta vermelha/Araçuaí - foto: Jô Pinto


É muito agradável estar num lugar com muitas árvores. A sensação de frescor, de ar puro, o som dos pássaros, do vento balançando as folhas. Cada árvore produz um som diferente, de acordo com a folhagem. Experimente se deitar sob uma árvore, de preferência das mais frondosas. Apenas esteja ali, respirando profundamente e ouvindo os sons ao redor.  Aos poucos se sentirá em conexão com a natureza. Observe a luz que atravessa a folhagem e os reflexos que provoca no tronco. Já experimentou abraçar uma árvore? É como se estivesse abraçando uma pessoa, cada espécie de árvore tem a casca com textura diferente, assim como as pessoas. Nas cascas das árvores, vive uma infinidade de insetos: besouros, formigas. Que o digam as pessoas que se aprofundam no estudo da Entomologia, se especializam em insetos, estudam seu modo de vida, hábitos e reprodução. São estudos muito importantes, pois investigam o papel destes pequenos seres no equilíbrio ecológico. Cada árvore, cada pássaro, cada inseto tem um papel importante na manutenção do equilíbrio ecológico. Certa feita, um amigo biólogo me disse que todos os seres, até os microscópicos, são importantes na dinâmica do planeta. O único ser que parece não ter função específica nesta dinâmica são os humanos. Bem, se somos seres desnecessários e o planeta pode continuar sem nossa presença, bem que poderíamos tentar atrapalhar menos. Penso que uma opção seria aprender a viver como os povos indígenas que habitam estas terras há centenas de anos sem provocar degradação ambiental.  Cada ano aumenta a devastação das florestas e do cerrado para expandir o lucro de uns poucos homens que exploram a monocultura, a pecuária extensiva e a mineração. Esses homens que lucram com a destruição, cada vez mais buscam aumentar sua representação na política institucional e assim aprovar leis de flexibilização da legislação ambiental e reduzir os direitos dos povos originários, como a PEC 490, que afeta os povos indígenas e sua luta histórica pelo direito aos seus territórios. Tais ataques não ameaçam apenas os povos originários que são irmanados à natureza; afetam toda a humanidade, visto que as consequências da destruição ambientam já se fazem sentir com o aquecimento global, as enchentes e outras tragédias ambientais. É tempo de adotarmos outra postura em relação à natureza, para além da apreciação do prazer de estar sob uma árvore, precisamos plantá-las e nos unir aos povos originários e demais povos tradicionais como os quilombolas, ribeirinhos,vazanteiros,  para defender nosso cerrado e florestas, nosso futuro e o das novas gerações.


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segunda-feira, 19 de julho de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - Centro Cultural Baptista Brazil

 

Centro Cultural Baptista Brazil – João Pedro Félix - 2020


O Sobrado, sem dúvida, representa um momento de maior prosperidade econômica, social, política e cultural de Felisburgo. É um legítimo modelo da implantação de novidades das tipologias arquitetônicas da época que surgiam para atender às demandas da sociedade e, nos tempos atuais, remete e revela um pouco da história do desenvolvimento da construção civil no Município. Também, nestes tempos, comporta atividades de cunho cultural, possibilitando a geração e fortalecimento do valor sociocultural.

O Sobrado, ao longo de sua história, segundos relatos populares, abrigou também um açougue no seu pavimento inferior.  Já foi uma Cantina Comunitária; a Biblioteca Pública Municipal; um Posto Telefônico da extinta TELEMIG e escritorios do IMA e SIAT. Desde a sua construção sofreu apenas duas intervenções maiores, mas que não comprometeram suas características originais. Foi reformado em 1970 e restaurado no ano 2000. 

Em outubro de 1990, com a criação do CCBB – Centro Cultural Baptista Brazil, pela então Secretária Municipal de Cultura Alice Pereira de Souza, o prédio foi destinado para ser sua Sede. O CCBB é um espaço público, aberto à visitação e pesquisa, que guarda um Minimuseu de grande valor histórico, com peças e documentos memoráveis dos antepassados de Felisburgo. Além das obras, objetos e documentos de Baptista Brazil, guarda obras de outros artistas importantes do Município: o Presépio e escuturas de Mestra Cirila; Quadros de Glória de Cássia e Jota Murta. Sem dúvida, é um pólo irradiador e gerador de cultura em todo o Município.


João Baptista Brazil Lopes de Figueiredo – Arquivo do Centro Cultural

João Baptista Brazil Lopes de Figueiredo, seu Patrono, nasceu a 10 de setembro de 1887, na cidade mineira de Diamantina. Era filho de família aristocrata tradicional, teve sua formação intelectual desenvolvida pela convivência num grupo de escritores mineiros que floresceu em Belo Horizonte, la pelos anos de 1908 e 1909. Estes jovens escritores respiravam o ar da nova capital, que caminhava nos horizontes claros do progresso e que despertava nos homens um desejo de vitória, um anseio de cultura, uma vontade de refazer tudo nos moldes de uma civilização nova. Foi num ambiente assim que se formou o poeta Baptista Brazil.

Mas, um dia Baptista Brazil partiu da cidade, da vida urbana agitada e transferiu-se da Capital para a cidade de Fortaleza, atual Pedra Azul, a convite do médico e também poeta Clemente Faria, onde abriram uma tipografia e uma fábrica de doces. Onde atuou intensamente na imprensa, criando os jornais “O Norte” e “O Rádio”. Após alguns anos, ele conheceu em uma viagem de negócios ao então Comercinho do Rubim do José Ferreira, aquela que seria sua esposa, Tiburçulina Gonçalves, carinhosamente chamada de Dona Iaiá, e após casar-se mudou definitivamente para a Fazenda de sua esposa que ele a denominou de Ramayana. Em terras felisburguenses foi um cidadão atuante, tanto como vereador por dois mandatos como também escritor deixando mais de vinte livros. Foi um dos mais ilustres moradores, com participação social e, inclusive, um dos benfeitores das obras de construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, inaugurada em 1956 (Ele faleceu alguns anos antes da inauguração). Baptista Brazil faleceu em 15 de setembro de 1951, aos 64 anos, e foi sepultado no cemitério da Fazenda Ramayana. Alguns anos depois, seus familiares construíram o túmulo e uma capela no local. Em 2010, seus restos mortais e de sua esposa Tiburçulina Gonçalves foram exumados e transferidos juntamente com o túmulo para o Cemitério Municipal de .

Postado Originalmente em 

https://educpoesia.blogspot.com/2020/07/predio-do-centro-cultural-baptista.html


quinta-feira, 15 de julho de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - São regras de educação elementar que a gente pratica naturalmente...


Comunidade Quilombola Córrego do Rocha - Foto: Jô Pinto


Estão preparados para o café?

— Que café?

— Ora. Vocês vão para o Vale.

— E lá produz café?

— Lá é interior de Minas. Não se pode negar uma tomada de café no interior de Minas.

— Que bobagem. É só explicar o motivo.

— Pode ser... eu prefiro não arriscar.

 

Estavam animosos para o trabalho. As referências de quem já havia visitado o Vale eram as melhores. Boa comida, sossego, simplicidade, paisagens bucólicas. E a hospitalidade... a incontestável hospitalidade do povo do Jequitinhonha. Foram horas de estrada da capital ao sertão mineiro. E mais a estrada de terra das comunidades rurais.

— Boa tarde. Estamos fazendo uma pesquisa...

— É do governo?

— Não.  É para nossa tese de mestrado.

— Cês aceita um café?

Os pesquisadores se entreolharam.

— Claro.

Quanta delicadeza naquela casa. Os estudantes ficaram surpresos com a limpeza e cuidado com que cada coisa era posta na pequena residência. E a hospitalidade era ainda mais aconchegante que o cheiro do café de fogão de lenha. Saíram da casa com as informações necessárias, uma carga de aprendizado, boas risadas e o coração aquecido. E deixaram para trás, naquelas pessoas esperançadas, a alegria de fazer parte do mundo.

— Que bacana esses minino vim conhecê a gente, né?

Próxima casa.

— Boa tarde. Nós somos estudantes de mestrado. Estamos fazendo uma pesquisa.

— É do governo?

— Não.

— Então, entra, que até acabei de coá um café.

Com o passar das horas o mormaço do dia e o Sol escaldante da estrada já refletiam algum cansaço nos pesquisadores. Estavam voltando por uma outra estradinha de pouca gente quando avistaram uma casinha mais embaixo, à direita, numa estrada vicinal.

— Boa tarde. Estamos fazendo uma pesquisa. Não tem nada com o governo. É para nosso trabalho na Universidade.

— Entra. Vô pegá um café.

— Precisa não, Dona...

— Ana.

— Ana é o nome de minha avó.

— Da vó de Jesus também.

— Verdade. Mas como eu tava dizendo. A senhora não precisa se preocupar...

— Num esquenta não que já tá coado.

— Sabe o que é, Dona Ana? Visitamos outras tantas casas, hoje. Tomamos café agorinha mesmo. Dessa vez, a gente não vai aceitar, não.

Dona Ana encarou os visitantes.

— Tá bom. Deixa eu falá, não vai dar pra atender ocês agora, por mode eu tá fazendo biscoito. 

— É bem rapidinho.

— É que eu num já terminei. Inda tem um cado pra assar, sabe?

— Sei. Há outras casas aqui por perto?

— Pegando o próximo galho pra direita, coisa de 300 metros, tem um vilarejo.

— Muitas casas?

— Lá pras 15, viu. Mas é perigoso cês num encontrá quem responde ocês, por mode que hoje é dia do terço de Santa Luzia. Tá todo mundo empenhado.

Respeitando também o cansaço, os colegas preferiram deixar pro outro dia. 

— Muito estranho esses rapaz... – Dona Ana murmurou e entrou para casa.

 

No pequeno vilarejo, o pessoal se reuniu para rezar o terço. No dia seguinte, os forasteiros voltavam animados, apesar de já terem experimentado a quentura do Sol que lhes esperava.

— Bom dia. Estamos fazendo uma pesquisa...

— Dia. Deixa eu te falá, a gente tá ocupado aqui cuidando dos animais.

— Não é nada do governo.

— Eu sei. É que tá apertado mesmo.

— Tudo bem.

Casa Seguinte.

— Eu tenho que arrancá umas raiz de mandioca...

Casa seguinte.

— Meu marido num tá. É ele que sabe responder essas coisas...

Casa seguinte.

— Bom dia.

— Bom dia. Desculpa, viu. Mas meu filho tá meio perrengado.

— Como?

— Tá difruçado.

— Perdão, não entendi.

— Perrengado, duicido, gripado.

— Ah! Sim. Mas são só umas perguntas.

— Num dá, seu moço.

— Tudo bem.

Os rapazes estranharam as negativas. Os vizinhos resmungavam.

 

— Onde já se viu? Bem que dona Ana, falou, esses povo é esquisito. Querendo que eu respondo os trem com o menino duicido.

— Mas é só difruço. O menino tá até malinando no terreiro.

— Eu, hein, inda mais que ês nem entende nada. Falei um lote de vez que o menino tava doente. Esse povo estranha nós. Dona Ana falou que nem café ês aceita.

— E Dona Ana conhece ês de onde?

— Ês passo lá ontem.

— Que será que ês qué?

— Eu num sei não. Capaz que qué inricá ni nossas costa. Ô dó. Aqui ês num toma uma nica. Vai ficá aí zanzando, que todo mundo já tomou tenência.

— Pois, ó ês voltando aí...

Se o Sol de outrora não foi capaz de abater a disposição dos pesquisadores, a falta de receptividade do vilarejo, mesmo na frescura da manhã, exauria suas forças. E ainda tinha a fome. Com tanto biscoito comido no dia anterior, há de se compreender que não tenham se preocupado com guarnições para a empreitada.

— O pessoal hoje tá bem ocupado, aqui.

— Ô, Seu Doutô, capaz que tá acochado o serviço mesmo. Amanhã é dia de feira.

— Não sou doutor. Não precisa de cerimônia. Será que enquanto sua esposa cuida do menino, o Senhor não poderia ajudar a gente?

— Oia, tá meio difícil...

— Então, será que o Senhor pode dar a gente ao menos um café? 

O casal se entreolhou.

— Café?

— É. Um cafezinho preto, só.

— Tá coado, Tina?

— Cabei de coá.

— Eita, o cheiro tá lá na cancela.

— Então, entra aí, os menino.

— Muito obrigado!

— Oia, eu posso até vê o que sei respondê aí desses trem, se num fô difícil, sabe como é, eu só fiz até a quarta série...

 

Herena

 

 

Agenda

16/07 19h – Tomando Conhecimento – Thaisa Martins entrevista DIANALUZ

Canal dos Poetas e Escritores do Vale no YouTube

 

 13/07 – Prosa Literária

Canal do Projeto Rádio Zói D’Água no YouTube

Por



 


MEMÓRIA CULTURAL - UM CASO DE AMOR NA ROTA BAHIA-MINAS

  Imagem: Internet   Seu maquinista! Diga lá, O que é que tem nesse lugar (...) Todo mundo é passageiro, Bota fogo seu foguista ...