O grito de Jesus no alto da cruz, abandonado e ensanguentado destaca a humanidade de cada um de nós. A nossa incapacidade de superar um sistema opressor e excludente.
O
próprio Cristo se sentindo abandonado, sendo Deus, nos propõe a viver a nossa
humanidade. Ali no alto do calcário, submetido a uma situação de desonra e
solidão, o humano Jesus, clama a uma estrutura maior e destaca nossa
fragilidade e nosso sofrimento.
E nós, clamar para quem? Quem nos ouvirá? O
alto do calvário, o pé da cruz é a grande guerra em que estamos submetidos,
abandonados por um governo irresponsável que nunca valorizou ou se colocou a
serviço de uma humanização. A morte desenfreada de tantos brasileiros e
brasileiras suspendidos no madeiro da indiferença e do descaso.
A
cada dia que passa o caos toma conta de canto do nosso país e a cegueira do ter
sobrepõe ao humano ser. Desfigurados pelo medo, pela lotação dos hospitais e da
falta de recursos o clamor reverbera e ninguém ouve e responde.
A
cruz é só um detalhe. A dor, a falta de informações e ar mata aos poucos os
milhares de brasileiros e brasileiras presos nas cruzes de leitos que não nos
cabem. O silêncio. O grande silêncio diante dos leitos com os corpos inertes
porque faltou ar. Diante dos caixões que aos montes descem à cova sem poder
velar.
Deus se experimenta humano para nós nos percebermos sagrados.
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