sexta-feira, 19 de março de 2021

CONHECENDO O JEQUI - Capa Bode e Capa Jegue

 

Foto: Gilvan Gonçalves


Uma das histórias mais peculiares do município de Itinga é a história que envolve o bairro Porto Alegre e o Bairro do Centro e adjacentes, ambos os bairros ficam às margens do rio Jequitinhonha, o Porto Alegre à direita e o centro à esquerda, assim é contada esta história: Com a chegada dos primeiros habitantes no final do século XVIII, do lado esquerdo da margem do rio o qual foi povoado primeiro, do outro lado ficou apenas uma família cujo oficio era a criação de bodes e cabras.

Certo dia um rapaz atravessou o rio para caçar, não obtendo sucesso na empreitada, viu alguns bodes e não pensou duas vezes, abateu um dos animais, capando o bichinho e deixando apenas os testículos pendurados na cerca, seguiu a viagem, mas a família dona dos bodes ficou enfurecida, vieram até a margem do rio e começaram a esbravejar: "Bando de Vagabundos, tem razão, moram todos nessa "manga velha"! Era uma alusão ao lugar conhecido como "mangueiros dos lobatos" onde possuía muitos pés de mangas (lugar onde a cidade nasceu) só que do outro lado do rio começaram a zombar da família chamando-os de "capa bode", iniciou-se assim uma rivalidade secular.

Com o passar do tempo, no inicio do século XIX, foram chegando outros fazendeiros, depois vieram os canoeiros e tropeiros com seus comércios e assim várias casas se ergueram no lugarejo, entre elas, uma que chamava a atenção, era a casa onde moravam as prostitutas. Estas, durante muito tempo mediram forças com as prostitutas que moravam do outro lado do rio, as da "casa das sete portas”, disputa que acabou gerando o nome do lugarejo, tendo em vista que os homens que frequentavam os dois bordéis acabavam dizendo que as prostitutas do outro lado eram mais alegres do que as das "sete portas", assim o lugarejo passou a se chamar Porto Alegre.  Essa rivalidade entre as prostitutas e o episodio do bode castrado foi o prato feito para essa rivalidade perdurar ainda mais. Fato é que a cidade cresceu, e a rivalidade também entre os dois lados da cidade. 

As lavadeiras de roupa ficavam na beira do rio lavando as roupas e brigando, gritava uma: " bando de capa bode, vem pro lado de cá se vocês forem mulheres? " Retrucavam as outras: - “Divide o rio capa Jegue!”. Adotaram o nome capa jegue porque acreditavam que manga velha não era tão ofensivo, a briga das lavadeiras eram constantes, e a rivalidade entre os dois lados intermináveis, em tempos remotos ouve até troca de tiros de um lado contra o outro, isso sem contar as inúmeras brigas quando os jovens dos dois lados se encontraram nas festas ou em uma partida de futebol.

Com o passar do tempo essas rivalidades se amenizaram, porém a integração dos dois lados da cidade só se deu por completo com a construção da ponte, concluída em 2004 e no qual foi uma promessa do então pré-candidato a presidência da república, Lula, em sua primeira visita a Itinga, na caravana da cidadania.

A ponte foi um marco histórico para Itinga e serviu de unificação da cidade tornado-a uma só, com suas histórias de capa bode, capa jegue e mangas velhas....

Fonte: livro Memórias de Itinga de Jô Pinto

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3 comentários:

  1. É maravilhoso saber mais das nossas origens.
    Excelente trabalho Jô!

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  2. È uma pena que a tecnologia não consiga o exercício da leitura em maior dimensão. Este texto saído da oralidade, faz parte do contexto histórico da cidade. E que na atualidade, por causa da ponte, uma benfeitoria para o translado entre uma região e outra do município, colocou também uma pedra na contenda de ambos os lados.Parabéns!

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