Em tempos tão difíceis uma boa notícia.
A Loope Editora, do Rio de Janeiro,
estará relançando os livros Jequitinhonha
Antologia Poética (1982) e Jequitinhonha
Antologia Poética II (1985), dos poetas Gonzaga Medeiros, Jansen Chaves, José
Machado, Tadeu Martins e Wesley Pioest, e lançando o novo livro “Jequitinhonha Antologia Poética III”.
Os autores Jansen Chaves e José Machado,
já falecidos, foram substituídos, no terceiro livro, pelos seus conterrâneos
poetas, Joaquim Celso Freire e Cláudio Bento.
Os três livros terão capa e ilustrações
da saudosa artista plástica Marina Jardim e o terceiro livro terá prefácio de
Thiago Machado, cuja dissertação de Mestrado teve como tema as Antologias Poéticas
I e II.
O lançamento dos três livros acontecerá
na data em que se comemora os 43 anos do Movimento Cultural do Vale do
Jequitinhonha, iniciado com a criação do Jornal Geraes, em 16 de março de 1978.
Participarão
da Live: Cláudio Bento, Gonzaga Medeiros, Joaquim Celso Freire, Tadeu Martins,
Wesley Pioest, Maria Clara Rêgo (filha de Jansen Chaves), Thiago Machado
(sobrinho de José Machado), Davi Botelho (filho de Marina Jardim) e Neilton
Lima, diretor da Loope Editora.
Thiago
Machado é quem nos diz:
Palmatória quebra dedo
Chicote deixa vergão
Cassetete quebra costela
Mas não quebra opinião
(versos de roda de Araçuaí)
A poesia
escrita no Vale do Jequitinhonha, em especial, no Baixo Jequitinhonha, na
década de oitenta, foi feita com muita opinião, como lembram os versos em
epígrafe. A escolha para estudá-la não fora mero acaso e envolveu afeições
familiares. Em 1994, aos quatorze anos, mudei-me para a cidade de Ouro Branco,
região central do Estado, para cursar o ensino médio. Já gostava muito de
literatura, mormente, poesia. E tive a oportunidade de conviver com meu tio
José Machado de Mattos mais de perto por conta dessa mudança. Certo dia, ao
confidenciá-lo que gostava de poesia, ele me disse que precisava ler os poetas
do Vale antes mesmo de quaisquer outros escritores. Após dois dias, chegou na
casa da minha avó com dois livros. Eram as antologias poéticas publicadas por
ele, Tadeu Martins, Jansen Chaves, Gonzaga Medeiros e Wesley Pioest na década
de oitenta. As palavras dele ainda ecoam: - “tome, são seus! São meus últimos
exemplares! Se quer ler poesia, precisa ler os poetas do Vale!”.
Os
livros ainda estão comigo e mudaram a minha vida. Por conta deles e da força do
meu primo Felipe Gomes Machado, médico em Belo Horizonte, fiz vestibular e
entrei para o curso de Letras/Português da Unimontes, na cidade de Montes
Claros. Tinha pouco dinheiro e muita opinião. A mesma opinião que lia nos
versos das antologias poéticas, envolvidas por uma mística literária destinada
a chamar atenção para um Vale para além de condição de “miséria”. Estudei as
duas primeiras antologias no meu TCC. E decidi redigir um projeto de mestrado sobre
elas. Por conta da poesia do Vale, tornei-me mestre em Letras/Estudo Literários
pela Unimontes estudando, justamente, as obras que recebi de presente na minha
adolescência.
Hoje,
sinto-me honrado em prefaciar esta terceira antologia poética do Vale do Jequitinhonha.
Entretanto, antes de entrar no mérito da terceira obra, apresentarei um breve
contexto sobre as duas antologias anteriores, objeto de meu estudo no mestrado.
Em linhas gerais, acredito que o pesquisador interessado em desenvolver estudos
sobre os movimentos da poesia brasileira contemporânea encontrará várias
dificuldades para a realização deste tipo de pesquisa. No meu caso, tornaram-se ainda maiores quando escolhi como corpus
as obras Jequitinhonha Antologia Poética e Jequitinhonha Antologia Poética II,
publicadas pelos poetas Jansen Chaves, Tadeu Martins, José Machado, Wesley
Pioest e Gonzaga Medeiros. As dificuldades
derivavam do fato de os estudos sobre o Vale do
Jequitinhonha, localizado no nordeste de Minas Gerais, serem bastante fragmentados
e privilegiarem, basicamente, a história da região e suas manifestações
artísticas e culturais. Há, nesses estudos, certa tendência à análise
valorativa, justificada, provavelmente, pelos discursos que sempre relacionam o
Vale à miséria. Há ainda grande uniformidade temática que envolve, sobretudo, a
oralidade, o artesanato e as endemias. Desse
modo, propus oferecer visão crítica diferente sobre o Vale do Jequitinhonha,
privilegiando a literatura e, especificamente, a poesia da região.
Os livros Jequitinhonha Antologia
Poética e Jequitinhonha Antologia Poética II foram publicados, respectivamente,
nos anos de 1982 e 1985. Foram lançados,
inicialmente, em Belo Horizonte. O da primeira antologia poética aconteceu na
sede do Mobral e o da segunda, na Casa do Jornalista. Ambas contaram com a presença de filhos do Vale, artistas,
intelectuais e jornalistas de Belo Horizonte. Houve
divulgação nos jornais Estado de Minas, Diário da Tarde, Geraes, Nordeste de
Minas, e no BIP do Banco do Brasil e no Boletim da Minascaixa. As obras foram
lançadas ainda nas cidades mineiras de Teófilo Otoni, Almenara, Rubim,
Jequitinhonha e Diamantina. Para o lançamento da primeira antologia, o poeta
Wesley Pioest escreveu uma espécie de texto-convite em que apresentava ao público
a poesia e os poetas do Vale:
A
manhã chega ao Vale do Jequitinhonha, nas asas da poesia. E a terra acorda. E
se ouve os primeiros murmúrios, canoas que descem o rio nas palavras dos
homens. Dos quatro cantos do Vale, cinco cantos se apresentam. Cinco poetas
cantam nas páginas de “Jequitinhonha – Antologia Poética” a cumplicidade que o
amor reserva aos arautos do seu tempo. A terra envolvendo os poemas em mantos
de sonho. A palavra mantendo seu vínculo ancestral com o destino obscuro das
coisas do mundo. Sobretudo, mudá-las. O pacto do poeta. Vindo de Almenara,
Gonzaga Medeiros revela a luta anunciada na voz de mãos firmes e largo coração.
De São Pedro do Jequitinhonha, José Machado transborda o rio da esperança no
escaler do lirismo. Wesley Pioest observa Rubim, debruçado na atmosfera
enevoada da memória. De Itaobim, Jansen Chaves e Tadeu Martins desembaraçam um
portentoso cordel de aventuras na paisagem interiorana. E, ainda, Olívio Araújo
– que se integra à região para denunciar a poesia desses cantores irredutíveis
no árduo e generoso ofício de amar sua terra. Entende-se “Jequitinhonha –
Antologia Poética” como se do livro emergisse o Vale, naufragado no escuro
esquecimento da miséria. Entende-se o canto obstinado dos poetas de uma terra
afligida em dores. Como se essas dores fossem um parto: o parto da poesia.
Parto de um livro. Parto da resistência digna de homens que vivem a sonhar
continuamente seu tempo. Quando, no dia 20 de novembro, às 17:00 horas, o sol
procurar abrigo na linha do horizonte, lançaremos “Jequitinhonha – Antologia
Poética”, à Av. do Contorno, 4910, Serra, BH. E lá, juntamente com cantadores
do Vale do Jequitinhonha e alunos da oficina de Teatro de BH, resistiremos à
noite e anunciaremos a manhã vindoura que certamente acordará nos olhos do
nosso povo.
Este texto-convite é o “grito de alarme” dos
poetas do Vale contra o sistema excludente da sociedade capitalista. Além
disso, há uma descrição panorâmica das intenções e das particularidades desses
poetas. Trata-se de esforço inicial para apresentar as propostas do grupo aos
seus interlocutores. Nessa apresentação, o poeta propõe um pacto, pelo uso da
palavra poética, de amor à terra natal e de resistência aos discursos
dominantes, silenciadores das vozes do Vale do Jequitinhonha.
Esperamos todos vocês nesta live, dia 16,
terça-feira, às 19 horas, no link que será divulgado pela Loope Editora.
Texto divulgação Loope Editora
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