quinta-feira, 11 de março de 2021

DIÁRIO DE LEITURA - Lançamento dos livros “Jequitinhonha antologia poética I, II e III”







Em tempos tão difíceis uma boa notícia.

A Loope Editora, do Rio de Janeiro, estará relançando os livros Jequitinhonha Antologia Poética (1982) e Jequitinhonha Antologia Poética II (1985), dos poetas Gonzaga Medeiros, Jansen Chaves, José Machado, Tadeu Martins e Wesley Pioest, e lançando o novo livro “Jequitinhonha Antologia Poética III”.

Os autores Jansen Chaves e José Machado, já falecidos, foram substituídos, no terceiro livro, pelos seus conterrâneos poetas, Joaquim Celso Freire e Cláudio Bento.

Os três livros terão capa e ilustrações da saudosa artista plástica Marina Jardim e o terceiro livro terá prefácio de Thiago Machado, cuja dissertação de Mestrado teve como tema as Antologias Poéticas I e II.

O lançamento dos três livros acontecerá na data em que se comemora os 43 anos do Movimento Cultural do Vale do Jequitinhonha, iniciado com a criação do Jornal Geraes, em 16 de março de 1978.

Participarão da Live: Cláudio Bento, Gonzaga Medeiros, Joaquim Celso Freire, Tadeu Martins, Wesley Pioest, Maria Clara Rêgo (filha de Jansen Chaves), Thiago Machado (sobrinho de José Machado), Davi Botelho (filho de Marina Jardim) e Neilton Lima, diretor da Loope Editora.

Thiago Machado é quem nos diz:

Palmatória quebra dedo

Chicote deixa vergão

Cassetete quebra costela

Mas não quebra opinião

 

(versos de roda de Araçuaí)

 

A poesia escrita no Vale do Jequitinhonha, em especial, no Baixo Jequitinhonha, na década de oitenta, foi feita com muita opinião, como lembram os versos em epígrafe. A escolha para estudá-la não fora mero acaso e envolveu afeições familiares. Em 1994, aos quatorze anos, mudei-me para a cidade de Ouro Branco, região central do Estado, para cursar o ensino médio. Já gostava muito de literatura, mormente, poesia. E tive a oportunidade de conviver com meu tio José Machado de Mattos mais de perto por conta dessa mudança. Certo dia, ao confidenciá-lo que gostava de poesia, ele me disse que precisava ler os poetas do Vale antes mesmo de quaisquer outros escritores. Após dois dias, chegou na casa da minha avó com dois livros. Eram as antologias poéticas publicadas por ele, Tadeu Martins, Jansen Chaves, Gonzaga Medeiros e Wesley Pioest na década de oitenta. As palavras dele ainda ecoam: - “tome, são seus! São meus últimos exemplares! Se quer ler poesia, precisa ler os poetas do Vale!”.

Os livros ainda estão comigo e mudaram a minha vida. Por conta deles e da força do meu primo Felipe Gomes Machado, médico em Belo Horizonte, fiz vestibular e entrei para o curso de Letras/Português da Unimontes, na cidade de Montes Claros. Tinha pouco dinheiro e muita opinião. A mesma opinião que lia nos versos das antologias poéticas, envolvidas por uma mística literária destinada a chamar atenção para um Vale para além de condição de “miséria”. Estudei as duas primeiras antologias no meu TCC. E decidi redigir um projeto de mestrado sobre elas. Por conta da poesia do Vale, tornei-me mestre em Letras/Estudo Literários pela Unimontes estudando, justamente, as obras que recebi de presente na minha adolescência.

Hoje, sinto-me honrado em prefaciar esta terceira antologia poética do Vale do Jequitinhonha. Entretanto, antes de entrar no mérito da terceira obra, apresentarei um breve contexto sobre as duas antologias anteriores, objeto de meu estudo no mestrado. Em linhas gerais, acredito que o pesquisador interessado em desenvolver estudos sobre os movimentos da poesia brasileira contemporânea encontrará várias dificuldades para a realização deste tipo de pesquisa. No meu caso, tornaram-se ainda maiores quando escolhi como corpus as obras Jequitinhonha Antologia Poética e Jequitinhonha Antologia Poética II, publicadas pelos poetas Jansen Chaves, Tadeu Martins, José Machado, Wesley Pioest e Gonzaga Medeiros. As dificuldades derivavam do fato de os estudos sobre o Vale do Jequitinhonha, localizado no nordeste de Minas Gerais, serem bastante fragmentados e privilegiarem, basicamente, a história da região e suas manifestações artísticas e culturais. Há, nesses estudos, certa tendência à análise valorativa, justificada, provavelmente, pelos discursos que sempre relacionam o Vale à miséria. Há ainda grande uniformidade temática que envolve, sobretudo, a oralidade, o artesanato e as endemias. Desse modo, propus oferecer visão crítica diferente sobre o Vale do Jequitinhonha, privilegiando a literatura e, especificamente, a poesia da região.

Os livros Jequitinhonha Antologia Poética e Jequitinhonha Antologia Poética II foram publicados, respectivamente, nos anos de 1982 e 1985. Foram lançados, inicialmente, em Belo Horizonte. O da primeira antologia poética aconteceu na sede do Mobral e o da segunda, na Casa do Jornalista. Ambas contaram com a presença de filhos do Vale, artistas, intelectuais e jornalistas de Belo Horizonte. Houve divulgação nos jornais Estado de Minas, Diário da Tarde, Geraes, Nordeste de Minas, e no BIP do Banco do Brasil e no Boletim da Minascaixa. As obras foram lançadas ainda nas cidades mineiras de Teófilo Otoni, Almenara, Rubim, Jequitinhonha e Diamantina. Para o lançamento da primeira antologia, o poeta Wesley Pioest escreveu uma espécie de texto-convite em que apresentava ao público a poesia e os poetas do Vale:

 

A manhã chega ao Vale do Jequitinhonha, nas asas da poesia. E a terra acorda. E se ouve os primeiros murmúrios, canoas que descem o rio nas palavras dos homens. Dos quatro cantos do Vale, cinco cantos se apresentam. Cinco poetas cantam nas páginas de “Jequitinhonha – Antologia Poética” a cumplicidade que o amor reserva aos arautos do seu tempo. A terra envolvendo os poemas em mantos de sonho. A palavra mantendo seu vínculo ancestral com o destino obscuro das coisas do mundo. Sobretudo, mudá-las. O pacto do poeta. Vindo de Almenara, Gonzaga Medeiros revela a luta anunciada na voz de mãos firmes e largo coração. De São Pedro do Jequitinhonha, José Machado transborda o rio da esperança no escaler do lirismo. Wesley Pioest observa Rubim, debruçado na atmosfera enevoada da memória. De Itaobim, Jansen Chaves e Tadeu Martins desembaraçam um portentoso cordel de aventuras na paisagem interiorana. E, ainda, Olívio Araújo – que se integra à região para denunciar a poesia desses cantores irredutíveis no árduo e generoso ofício de amar sua terra. Entende-se “Jequitinhonha – Antologia Poética” como se do livro emergisse o Vale, naufragado no escuro esquecimento da miséria. Entende-se o canto obstinado dos poetas de uma terra afligida em dores. Como se essas dores fossem um parto: o parto da poesia. Parto de um livro. Parto da resistência digna de homens que vivem a sonhar continuamente seu tempo. Quando, no dia 20 de novembro, às 17:00 horas, o sol procurar abrigo na linha do horizonte, lançaremos “Jequitinhonha – Antologia Poética”, à Av. do Contorno, 4910, Serra, BH. E lá, juntamente com cantadores do Vale do Jequitinhonha e alunos da oficina de Teatro de BH, resistiremos à noite e anunciaremos a manhã vindoura que certamente acordará nos olhos do nosso povo.

 

Este texto-convite é o “grito de alarme” dos poetas do Vale contra o sistema excludente da sociedade capitalista. Além disso, há uma descrição panorâmica das intenções e das particularidades desses poetas. Trata-se de esforço inicial para apresentar as propostas do grupo aos seus interlocutores. Nessa apresentação, o poeta propõe um pacto, pelo uso da palavra poética, de amor à terra natal e de resistência aos discursos dominantes, silenciadores das vozes do Vale do Jequitinhonha.

Esperamos todos vocês nesta live, dia 16, terça-feira, às 19 horas, no link que será divulgado pela Loope Editora.

Texto divulgação Loope Editora

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