![]() |
| Foto: Bob Sousa |
Antes de entrar em cena, é tradição entre
profissionais do teatro desejar e agradecer “merda” uns aos outros, costume que
remonta ao período Elisabetano (1558–1625), quando o público se deslocava de
carruagem para assistir às peças e, quanto mais cavalos presentes e, portanto, mais dejetos nas ruas, maior era
o sucesso da apresentação. O período Elisabetano, marcado pelo reinado da
Rainha Elizabeth I, é considerado uma era de ouro de paz, prosperidade
econômica e florescimento cultural, com destaque para o auge do Renascimento
Inglês, a literatura de Shakespeare, o teatro comercial, a exploração marítima
e o fortalecimento do anglicanismo. O teatro, por sua vez, sempre se afirmou
como uma das mais reflexivas expressões artísticas, exigindo a presença física
dos atores e o diálogo direto com o público, capaz de despertar reações humanas
diversas, muitas vezes subversivas e perturbadoras.
|
No Brasil, a partir da década de 1960, o
fazer teatral viveu um ápice criativo, duramente censurado durante a Ditadura
Militar. Relatos de peças invadidas pela polícia, agressões e sequestros de
atores eram comuns, mas, apesar da perseguição, o teatro assumiu papel
fundamental na resistência cultural, comprometendo-se cada vez mais com
questões sociais e políticas. Grupos como Teatro de Arena, Teatro Oficina e
Opinião tornaram-se símbolos dessa luta contra a repressão. Foi nesse contexto que se destacou a atriz
mineira Teuda Bara, que faleceu em 25 de dezembro de 2025, aos 84 anos. Nascida
em Belo Horizonte em 1941, filha de um major do Corpo de Bombeiros que também
tocava trombone de vara e de uma enfermeira-cantora, Teuda nunca frequentou
cursos formais de teatro. Formou-se em Ciências Sociais (Antropologia) pela
UFMG em 1974, mas sua carreira nos palcos começou ainda no início dos anos
1970, quando abandonou os estudos acadêmicos para se dedicar integralmente à
arte. Em 1982, ao lado de Eduardo Moreira, Wanda
Fernandes e Antônio Edson, fundou o Grupo Galpão, companhia originária do
teatro de rua em Belo Horizonte. Os fundadores se conheceram em oficinas
realizadas em Diamantina, durante o Festival de Inverno da UFMG, ministradas
pelos alemães Kurt Bildstein e George Froscher, do Teatro Livre de Munique.
Dessa experiência nasceu a ideia de criar o grupo, que se tornaria referência
nacional e internacional. A trajetória de Teuda Bara foi marcada pela
excelência artística, pela inovação e pelo compromisso com a cultura
brasileira, inspirando inúmeros coletivos de artes cênicas no Vale do
Jequitinhonha e em todo o país. O teatro de grupo no Brasil se fortaleceu
graças à dedicação de artistas como Teuda, cuja atuação incansável foi sempre
permeada por humor, amor e respeito aos pares e ao público. Sua presença nos
palcos deixou marcas profundas e inesquecíveis. Assim, em nome das artes cênicas, fica
nossa gratidão à estrela que iluminou gerações, porta voz da alegria e da
liberdade : “Merda, Teuda Bara!”. Por |


Nenhum comentário:
Postar um comentário