segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

MEMÓRIA CULTURAL - Para sempre Teuda Bara

Foto: Bob Sousa


Antes de entrar em cena, é tradição entre profissionais do teatro desejar e agradecer “merda” uns aos outros, costume que remonta ao período Elisabetano (1558–1625), quando o público se deslocava de carruagem para assistir às peças e, quanto mais cavalos presentes  e, portanto, mais dejetos nas ruas, maior era o sucesso da apresentação. O período Elisabetano, marcado pelo reinado da Rainha Elizabeth I, é considerado uma era de ouro de paz, prosperidade econômica e florescimento cultural, com destaque para o auge do Renascimento Inglês, a literatura de Shakespeare, o teatro comercial, a exploração marítima e o fortalecimento do anglicanismo. O teatro, por sua vez, sempre se afirmou como uma das mais reflexivas expressões artísticas, exigindo a presença física dos atores e o diálogo direto com o público, capaz de despertar reações humanas diversas, muitas vezes subversivas e perturbadoras.

No Brasil, a partir da década de 1960, o fazer teatral viveu um ápice criativo, duramente censurado durante a Ditadura Militar. Relatos de peças invadidas pela polícia, agressões e sequestros de atores eram comuns, mas, apesar da perseguição, o teatro assumiu papel fundamental na resistência cultural, comprometendo-se cada vez mais com questões sociais e políticas. Grupos como Teatro de Arena, Teatro Oficina e Opinião tornaram-se símbolos dessa luta contra a repressão.

Foi nesse contexto que se destacou a atriz mineira Teuda Bara, que faleceu em 25 de dezembro de 2025, aos 84 anos. Nascida em Belo Horizonte em 1941, filha de um major do Corpo de Bombeiros que também tocava trombone de vara e de uma enfermeira-cantora, Teuda nunca frequentou cursos formais de teatro. Formou-se em Ciências Sociais (Antropologia) pela UFMG em 1974, mas sua carreira nos palcos começou ainda no início dos anos 1970, quando abandonou os estudos acadêmicos para se dedicar integralmente à arte.

Em 1982, ao lado de Eduardo Moreira, Wanda Fernandes e Antônio Edson, fundou o Grupo Galpão, companhia originária do teatro de rua em Belo Horizonte. Os fundadores se conheceram em oficinas realizadas em Diamantina, durante o Festival de Inverno da UFMG, ministradas pelos alemães Kurt Bildstein e George Froscher, do Teatro Livre de Munique. Dessa experiência nasceu a ideia de criar o grupo, que se tornaria referência nacional e internacional. A trajetória de Teuda Bara foi marcada pela excelência artística, pela inovação e pelo compromisso com a cultura brasileira, inspirando inúmeros coletivos de artes cênicas no Vale do Jequitinhonha e em todo o país.

O teatro de grupo no Brasil se fortaleceu graças à dedicação de artistas como Teuda, cuja atuação incansável foi sempre permeada por humor, amor e respeito aos pares e ao público. Sua presença nos palcos deixou marcas profundas e inesquecíveis.

Assim, em nome das artes cênicas, fica nossa gratidão à estrela que iluminou gerações, porta voz da alegria e da liberdade : “Merda, Teuda Bara!”.


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