terça-feira, 16 de dezembro de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - O Vaqueiro Mateus

Cachoeira do Mateus - Foto: Jô Pinto

 

Ouvi essa história pela primeira vez, narrada pelo meu, em um dos muitos momentos que ele reunia, eu e minhas irmãs para contar causos.

Uma história passada na comunidade da Água Fria Fábrica, na cidade de Itinga/MG,  há mais de cento e cinquenta anos.

Na comunidade da Água Fria Fábrica, vivia um homem que se tornaria mito. O vaqueiro, figura rústica e folclórica, chamava-se Mateus. De rosto marcado pelo sol e mãos calejadas da lida, era conhecido por sua força bruta, sua rudeza e pela língua afiada que não poupava insultos nem aos homens, nem às feras.

Numa manhã abafada, Mateus conduzia o rebanho pelas colinas pedregosas da Água Fria, o som dos chocalhos ecoava pelo vale, quando de repente um boi se desgarrava da boiada. O animal, de olhar faiscante e movimentos desordenados, parecia tomado por uma fúria inexplicável. O vaqueiro, guardião da ordem, não podia permitir a dispersão. Sem pensar duas vezes, esporeou o cavalo e partiu em disparada atrás do boi rebelde.

O animal corria como se fugisse de forças invisíveis, ignorando os comandos do vaqueiro, Mateus, tomado pelo nervosismo e pela ignorância que lhe era costumeira, soltou um brado que ecoou pelas serras:

- Êta boi desgraçado! Te desconjuro, miserável! Tá com o capeta no couro! Por onde tu for, eu irei atrás, inté mesmo pras profundezas do inferno, boi do demônio!”

A perseguição se tornou uma luta de destino. Homem e animal desciam a serra em fúria, cegos pela disputa, até que o chão lhes faltou, sem perceber o precipício, ambos se lançaram no vazio. As pedras e as águas profundas do poço foram as únicas testemunhas da queda, o boi endiabrado e o vaqueiro de língua solta desapareceram nas profundezas, engolidos pelo silêncio sombrio.

Nunca mais se viu Mateus. Mas o povo da Água Fria guarda a crença de que sua alma não encontrou descanso, dizem que até hoje ele corre atrás do boi nas entranhas do inferno, e que em noites de lua cheia, quando o vento sopra forte pelas matas, é possível ouvir o canto distante do vaqueiro ecoando entre as árvores:

- “Êta boi desgraçado...!”

Assim nasceu a lenda do vaqueiro Mateus, um homem que desafiou o destino e se perdeu nas águas misteriosas da serra, tornando-se parte do imaginário popular do município de Itinga.

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