terça-feira, 30 de dezembro de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - O Boteco de Zé Ameixa

Imagem gerada por IA


Em Jequitinhonha tem o bar de Zé Ameixa, ponto tradicional dos pinguços de plantão. O bar possui fregueses tradicionais e frequentes como Nicolau Cinzano.

Cinzano já tem sua mesa cativa, chegando sempre no início da noite. Pede sua cerveja e puxa assunto com o primeiro que aparecer.

Num desses dias, ele tomava sua cervejinha quando chega Pereirinha, também velho conhecido no local. Os dois começam a botar a prosa em dia, enquanto Zé Ameixa preparava uma "macaxeira". No meio do papo entram Heitorzinho e Neilton. Foram convidados a sentar e fazer parte do proseado.

Os quatro pareciam ter assunto para uma eternidade. Já tinham bebido uma grade de cerveja e mais um litro de cachaça. A prosa estava tão comprida que deixou Zé Ameixa com sono.

Zé Ameixa já estava acostumado com os quatro, ao ponto de fechar o boteco e deixá-los lá dentro. No outro dia só tinha o trabalho de contar as cervejas, os litros de pinga e anotar nas respectivas contas, pois eles eram de sua confiança.

Para não perder o costume, Zé Ameixa se despediu deles, fechou a porta e foi para casa.

Logo após a saída de Zé Ameixa, Nicolau Cinzano foi até o fundo do boteco pegar mais uma cerveja no congelador. Acabou encontrando os galos de briga de Zé dentro de um poleiro de madeira. Teve então a "brilhante idéia" de improvisar uma rinha no meio do boteco, cada um ficou com um galo, botando os quatro coitados para brigar entre si. Esse frejo varou toda madrugada.

De manhã, Zé Ameixa chega para arrumar o bar para o movimento de sábado, dia de feira. Abriu a porta e começou a ajeitar mesas e cadeiras. Foi olhar como estavam os quatro boêmios. Encontrou-os escornados sobre as mesas, mas levou um grande susto. Viu os seus galos de briga mortos e depenados por todos os lados. Pelo jeito o torneio de Cinzano não teve intervalo para descanso.

A raiva foi tanta que Zé Ameixa não se conformou com tamanha judiação. Tratou de acordar os boêmios com um grito que escutaram na rua. Eles levantaram cambaleando, dando tempo apenas de correr, pedindo ajuda, pois o homem mais parecia uma onça suçuarana.

Nicolau Cinzano e Pereirinha tiveram de vender muita galinha e leitão para cobrir o prejuízo. Boa parte dos salários de Neilton e Heitorzinho foram usados para saldar a brincadeira de mau gosto. Nunca mais ninguém se aventurou brincar de rinha, pois Zé Ameixa não ia deixar barato outra "proeza".

 

Conto extraído do livro “ Deixa que eu conto histórias do Jequitinhonha”, lançado em 2000, de Marco Antônio Pereira Botelho, natural de Belo Horizonte. 


Por




 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - O Boteco de Zé Ameixa

Imagem gerada por IA Em Jequitinhonha tem o bar de Zé Ameixa, ponto tradicional dos pinguços de plantão. O bar possui fregueses tradicionais...