terça-feira, 9 de dezembro de 2025

CONTOS E CRÔNICAS DO JEQUI - Pedie dar-se-vos-a

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Foi o texto do sermão do velho pároco da aldeia de Moinhos.

Texto áureo que frisou várias vezes.

Terminada a Missa, quatro amigos inseparáveis sen. taram-se num banco, no adro da igreja. Comentavam os ensinamentos do cura. Aparentavam a mesma idade, aproximadamente dez anos.

Pedro conduziu a conversação:

 - Vocês acreditam que a gente ganha o que pede?

João docilmente respondeu:

-Creio piamente; o velho padre é incapaz de mentir

Jair o maior e mais bem trajado, sorriu sarcasticamente e disse:

- Meu pai é rico demais; dá-me tudo o quanto necessito

Francisco propôs pedirem a Deus o que mais desejassem e formulou cheio de fé, seu pedido:

- Desejo viajar, conhecer o mundo todo e viver em altas rodas.

Pedro acrescentou:

 - Senhor Deus, fazei-me um homem rico, fabulosa. mente rico.

João piedosamente levantou as mãos para os céus e disse:

Senhor, eu não sou digno, mas gostaria de ser um padre puro e santo como o da nossa aldeia.

Falou Jair:

Tenho tudo; não preciso pedir.

Despediram-se os garotos com o pacto de se reunirem trinta anos mais tarde, naquele local, à mesma hora

Separaram-se. Lançaram-se à luta. Lugares distantes e diversos.

Trinta anos mais tarde preparava-se a humilde aldeia para receber gente ilustre.

Cumprindo religiosamente o combinado, estavam eles no adro da igreja. Não quatro garotos mas quatro homens, na casa dos quarenta anos.

João o mais respeitável, falou primeiro:

- Sou Arcebispo de grande metrópole; pastor de milhares de almas. Projetou-me o Bom Deus, além das aspirações de tornar-me um modesto pároco..

Francisco elegante e risonho disse:

- Deus atendeu regiamente meu pedido. Conheço o mundo inteiro. Sou intérprete. Falo correntemente oito idiomas. Convivo com príncipes e diplomatas. Estou satisfeito

Pedro limpando os óculos continuou:

Amigos, sou o magnata das madeiras. Já não é fácil precisar o que possuo. Sinto-me feliz e grato a Deus.

Jair não apresentava bom aspecto. Terno torto, barba crescida, sapatos velhos. Cabisbaixo e alcoolizado, disse:

- Depois da morte de meu pai, perdi toda a minha fortuna no jogo. Hoje mendigo pelas ruas. Não nasci para o trabalho.

Entraram os quatro na igreja e fizeram uma prece ao falecido pároco o homem que inspirou a vitória que veio e há de vir, para todos os que creem no maravilhoso texto:

 "PEDI... E DAR-SE-VOS-A".

 

 

Extraído do livro “ Caminhos Estranhos, contos”  /1967 , de Carmelina Murta Glória, natural de Virgem da Lapa.


Por 



 

 

 


 

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