segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

MEMÓRIA CULTURAL - Trancista da Comunidade Alto Bravo

 




Maria Gabriela Gomes da Silva, é uma jovem de dezoito anos, órfã de mãe,  reside na comunidade rural de Alto Bravo (popularmente chamada de Bravo), município de Virgem da Lapa, com sua avó, aposentada, de oitenta e dois anos.

Ela aprendeu por meio de um vídeo na internet, criou gosto e decidiu convidar uma amiga para servir de cobaia, e desde então, não parou mais.

Percebeu que havia muitos tipos de tranças e com significados, só não sabia os nomes, mas já sabia fazer vários daqueles trançados que via. E cada vez mais foi ficando  encantada com tudo que lia. Desta forma passou a interessar ainda mais pelo assunto, e, aprendeu a colocar preço em seu trabalho, pois precisava de materiais e o tempo que desprendia, impedia de fazer os trabalhos domésticos.

Neste movimento descobriu que era possível ganhar uns trocados e ainda ajudar sua avó nas despesas da casa, porque atualmente sobrevivem com a lavoura de subsistência.Com o tempo não era mais um passatempo, mas geração de renda, à medida que as pessoas lhe procuravam, foi assim que se tornou trancista.

Estudante de escola pública, terminou recentemente o curso de Técnico de Agropecuária, na Escola Família Agroecológica de Araçuaí. Ao final do curso tinha de escolher uma experiência, que servisse de base para uma profissão real e assim encontrar soluções para problemas da vida produtiva. Ela não teve dúvida pela escolha de seu trabalho de projeto profissional do jovem-PPJ. Apresentou o projeto de trancista  como objetivo de  gerar renda , comercializar  produtos de forma ecológica e sustentável e ainda valorizar e potencializar a cultura afro, por meio das tranças africanas.

Este projeto  é  um instrumento pedagógico que  tem por objetivo geral encaminhar o jovem para a profissionalização do trabalho rural, no sentido de melhorar renda e a qualidade de vida da família, servir como facilitador para o encaminhamento do jovem para o mundo do trabalho e como um elemento de desenvolvimento econômico e social do meio rural.

Almeja aprofundar mais e melhor, aprimorando seus conhecimentos e técnicas de trançado africano. Segundo Maria Gabriela, há demanda desse trabalho, não apenas na sua comunidade, mas em toda região do Vale do Jequitinhonha, principalmente por haver o maior número de comunidades quilombolas reconhecidas pela Fundação Palmares.

Revela que a maioria de seus clientes solicitam as tranças Nagô. Quanto ao preço, diz que varia muito do tamanho, tipo, material e do lugar,mas , que o preço mínimo é de quinze reais em Virgem da Lapa.

Para desempenhar seu trabalho, precisa de alguns produtos e acessórios como: Pomada modeladora, creme de pentear, gel, elásticos de silicone, fios acetinados e outros.

            Ela ainda reitera que as tranças antigamente era  algo somente de pessoas negras e por mulheres, mas isso mudou, o trançado africano expandiu para todo mundo. O que antes expressava ser inferior, hoje é esteticamente bonito e acessível. Trata-se de empoderamento por meio do trançado e não importa ser homem ou mulher, importante é sentir-se bem e elegante. Além disso a pessoa negra tem sua auto estima revigorada e valorizada, enquanto que a pessoa branca se sente mais exuberante. Outro ponto importante é que muita gente está optando pela transição, quando decidem parar de utilizar produtos químicos que alisam os cabelos. E as tranças, elas fazem enquanto o cabelo cresce .

            Jovens como Maria Gabriela, estão buscando seus espaços e descobrindo nichos de mercado, que não haviam sido notificados, mas aos poucos se ocupam e logo transformam sonhos em realidades lucrativas, com consciência ambiental e valorização da arte e cultura afro-brasileira.

 


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