Ambição. A lenda da pedra de ouro do Vale do Jequitinhonha. Foto: Rolf Goerler. |
Esta é
uma adaptação do conto “A pedra de ouro”, oralmente transmitido pelo contador
Joaquim, de Minas Novas, e que faz parte do livro de Vera Lúcia Felício
Pereira, O artesão da memória no Vale do Jequitinhonha. (Editora UFMG, PUC
Minas, 1996).
A história a seguir
aconteceu lá pelas bandas do Vale do Jequitinhonha. Ali viviam, num pequeno
sítio, um viúvo e seus três filhos. A idade avançada impedia o senhor de
trabalhar e, por isso, os filhos cuidavam de todo o serviço da lavoura.
Tudo ocorria
bem, até o dia em que apareceu, lá na roça, um diabo disfarçado de homem, bem
aparecido. Ele cumprimentou os rapazes e, ao indagar o que estavam fazendo,
chamou-os de trouxas. Explicou que eles poderiam encontrar um trabalho melhor,
com mais benéficos, e que o pai poderia se virar sozinho.
O danado
mexeu com a cabeça dos garotos, que acabaram concordando que aquele serviço não
era para eles. Decidiram então ir embora, em busca de uma nova vida, sem ao
menos avisar o pobre pai.
Os irmãos
viajaram muito. E, certo dia, passando perto de uma mata, ouviram um chamado.
Era a voz de um homem, que dizia: “ Venham aqui se vocês quiserem ver o laço do
capeta!” Curiosos, os três entraram pela mata para ver o tal laço. E sabe quem
estava lá? O tal diabo disfarçado, aquele que os encorajou a deixar a lavoura.
O misterioso
senhor apontou para uma pedra no chão dizendo: “Olhem para esta grande pedra de
ouro. Aproveitem! Ela é de vocês! Se estivessem trabalhando na lavoura até
hoje, jamais teriam tanta riqueza! Fascinados, tentaram remover a pedra, mas o
esforço foi em vão. O desejo de ter a pedra era grande e, por isso, os irmãos
decidiram ir para a cidade mais próxima. Lá, comprariam cachaça, acreditando
que a bebida lhes daria forças para arrancá-la do chão. Mas, como deixá-la ali,
sozinha, desprotegida, correndo o risco de ser levada por outra pessoa? A
solução foi deixar um dos irmãos por lá, tomando conta da preciosidade.
A essa altura
da história, cada um dos rapazes, seduzidos pelo brilho do ouro, elaborou
planos para se desfazer dos demais e ter a riqueza somente para si. Dessa
forma, o que ficou tomando conta da pedra planejou matar os irmãos, enquanto um
dos jovens que seguiram para a cidade pediu que o outro comprasse uma bebida no
período em que ele estaria no mato para “amarrar o gato”.
Ao
retornar com a cachaça, o outro rapaz ofereceu-lhe a bebida. E este, não
sabendo que o líquido estava envenenado, deu dois goles e caiu morto. Logo após
o ocorrido, o irmão pegou a garrafa e seguiu novamente para a mata. Então, ele
foi surpreendido pelo outro, que, sem piedade, o matou. Agora, ele estava
sozinho e rico! Para comemorar a vitória, pegou a garrafa e, acreditando ter
sido o mais esperto, bebeu tudo, caindo duro feito uma pedra em seguida.
Publicado
primeiramente por Bárbara Ribeiro em 15/12/2018 no site:
https://www.ufmg.br/polojequitinhonha/2018/12/15/a-pedra-do-diabo/
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