segunda-feira, 26 de abril de 2021

MEMÓRIA CULTURAL - A pedra do diabo

 

Ambição. A lenda da pedra de ouro do Vale do Jequitinhonha. Foto: Rolf Goerler.

Esta é uma adaptação do conto “A pedra de ouro”, oralmente transmitido pelo contador Joaquim, de Minas Novas, e que faz parte do livro de Vera Lúcia Felício Pereira, O artesão da memória no Vale do Jequitinhonha. (Editora UFMG, PUC Minas, 1996).

 

A história a seguir aconteceu lá pelas bandas do Vale do Jequitinhonha. Ali viviam, num pequeno sítio, um viúvo e seus três filhos. A idade avançada impedia o senhor de trabalhar e, por isso, os filhos cuidavam de todo o serviço da lavoura.

Tudo ocorria bem, até o dia em que apareceu, lá na roça, um diabo disfarçado de homem, bem aparecido. Ele cumprimentou os rapazes e, ao indagar o que estavam fazendo, chamou-os de trouxas. Explicou que eles poderiam encontrar um trabalho melhor, com mais benéficos, e que o pai poderia se virar sozinho.

O danado mexeu com a cabeça dos garotos, que acabaram concordando que aquele serviço não era para eles. Decidiram então ir embora, em busca de uma nova vida, sem ao menos avisar o pobre pai.

Os irmãos viajaram muito. E, certo dia, passando perto de uma mata, ouviram um chamado. Era a voz de um homem, que dizia: “ Venham aqui se vocês quiserem ver o laço do capeta!” Curiosos, os três entraram pela mata para ver o tal laço. E sabe quem estava lá? O tal diabo disfarçado, aquele que os encorajou a deixar a lavoura.

O misterioso senhor apontou para uma pedra no chão dizendo: “Olhem para esta grande pedra de ouro. Aproveitem! Ela é de vocês! Se estivessem trabalhando na lavoura até hoje, jamais teriam tanta riqueza! Fascinados, tentaram remover a pedra, mas o esforço foi em vão. O desejo de ter a pedra era grande e, por isso, os irmãos decidiram ir para a cidade mais próxima. Lá, comprariam cachaça, acreditando que a bebida lhes daria forças para arrancá-la do chão. Mas, como deixá-la ali, sozinha, desprotegida, correndo o risco de ser levada por outra pessoa? A solução foi deixar um dos irmãos por lá, tomando conta da preciosidade.

A essa altura da história, cada um dos rapazes, seduzidos pelo brilho do ouro, elaborou planos para se desfazer dos demais e ter a riqueza somente para si. Dessa forma, o que ficou tomando conta da pedra planejou matar os irmãos, enquanto um dos jovens que seguiram para a cidade pediu que o outro comprasse uma bebida no período em que ele estaria no mato para “amarrar o gato”.

Ao retornar com a cachaça, o outro rapaz ofereceu-lhe a bebida. E este, não sabendo que o líquido estava envenenado, deu dois goles e caiu morto. Logo após o ocorrido, o irmão pegou a garrafa e seguiu novamente para a mata. Então, ele foi surpreendido pelo outro, que, sem piedade, o matou. Agora, ele estava sozinho e rico! Para comemorar a vitória, pegou a garrafa e, acreditando ter sido o mais esperto, bebeu tudo, caindo duro feito uma pedra em seguida.

 

Publicado primeiramente por Bárbara Ribeiro em 15/12/2018 no site:

 https://www.ufmg.br/polojequitinhonha/2018/12/15/a-pedra-do-diabo/

 

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