Crônica. Pele escura
Otacilio Mendes – Itinga/MG
Que
raiva de ser preto. Era essa a ideia que tinha quando ainda adolescente tentava
compreender o mundo. Eu não era
otacilio, era aquele negrinho do alto do cruzeiro. Não conseguiam me ver como
um ser normal e com nome. E ainda brincavam com isso, que eu achava que era um
elogio, o negrinho do pastoreio. No fundo eu ficava feliz por se tratar de um
grande personagem da literatura, porém, não imaginava o grau de racismo
proferido naquele elogio. Não entendia o riso no final da frase dita. Quando me
despertei para a razão, deixei de ser besta, como diz o nosso povo, percebi o
quão discriminado eu era numa sociedade de negros. Já ouvi de mães de negros, a
expressão aquele negro para se referir a mim.
O racismo estrutural tem os pilares profundos e como eu na minha
inocência, tem milhões sendo elogiados no trabalho, na sociedade, na igreja,
nas escolas e em cada pedaço de chão que possam estar os negros. Hoje sei que
minha voz é forte o bastante como qualquer outra voz para gritar: chega! Vamos
viver a harmonia da humanidade onde o amor e a fraternidade andam juntas. Chega
de alimentar esta estrutura podre que faz sofrer no íntimo aqueles que já
sofreram na história. Ser negro é uma ligação direta com os trabalhos menos
remunerados. Fui numa palestra e como atrasou um pouco fiquei no meio da
plateia de professores e acabei me identificando para um professora e ela
imediatamente quis que a colega conhecesse o professor Otacilio. E a colega
passou um raio laiser de código de barras em todas a extensão do meu corpo e
disse: ah, é você o palestrante? Eu percebi que o detector dela era racista e
resolvi contar a minha história de vida naquela palestra. No final ela me pediu
desculpas com outro ato de racismo. "Menino" como você fala bem. O
orgulho é tanto em poder ter a pele escura, de ter visto o Brasil surgir com a
colaboração de tantos braços pretos e do suor da pele escura no processo de
construção. Hoje sei que a minha negritude agrada muito mais que desagrada, sei
que o negro tímido e discriminado, cresceu e se encheu da mais profunda razão e
se revestiu de fé. Percebi a importância de olhar para tudo com um olhar
racional, capaz de ajudar o racista a entender o mundo. Calar, nunca mais. Que
raiva que tenho quando vejo negros calados.
Parabéns pela perseverança, resiliência e resistência. Nada é tão nosso quanto nossos sonhos. Você é sem dúvidas um modelo de ser humano a ser seguido, um exemplo de humildade, um poço de bondade! Obrigado por ser meu conterrâneo Otacílio!
ResponderExcluirQue orgulho do senhor.não e só porquê e meu tio, mas sim pelo ser humano maravilhoso
ResponderExcluirque o senhor é..humilde inteligente bjs tio Otacílio mendes.. 🌻💜😘
"Nada na vida é por acaso,sempre há um porquê". Parabéns por esse ser tão lindo de alma bondosa.Gratidâo pela sua amizade.
ResponderExcluirParabéns! Aprendo muito com vc.
ResponderExcluirParabéns Otacílio! ótima reflexão.
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